Por Alfredo Muvuma:
As especulações sobre a eventual preparação de José Filomeno dos Santos “Zenú”, como sucessor do seu pai, José Eduardo dos Santos “Zedú”, têm-se adensado nos últimos meses.
O que não é do conhecimento público é o modo como Zenú tem estado já a participar na gestão corrente de assuntos do Estado. Exemplo recente foi a nomeação, a 6 de Maio, de Armando Manuel, então assessor económico do presidente Zedú e presidente do Fundo Soberano de Angola, para o cargo de ministro das Finanças.
Inicialmente, Zenú propôs ao pai a nomeação de Armando Manuel para o cargo de presidente do Conselho de Administração da Sonangol. Fontes da presidência referiram ao Maka Angola que José Eduardo dos Santos declinou o pedido. Explicou ao filho a falta de capacidade técnica e arcaboiço político de Armando Manuel para gerir a complexa teia de engenharias financeiras, negócios e intrigas políticas da Sonangol.
Como compromisso, Zenú avançou, então, com a proposta de nomeação de Armando Manuel para ministro das Finanças, ao que o presidente concordou.
Um dos objectivos pretendidos por Zenú, com a indicação de Armando Manuel para PCA da Sonangol, seria o controlo da petrolífera nacional. O Fundo Soberano, actualmente presidido por Zenú, recebe a sua dotação orçamental da Sonangol. Por sua vez, esta empresa estatal já colocou à disposição do referido fundo o montante de US $5 biliões. O actual PCA da Sonangol, Francisco de Lemos, é referido como uma figura “complicada”, por Zenú, por requerer algumas explicações sobre certas transacções envolvendo a Sonangol ou fundos provenientes desta.
Mas no exercício das suas funções no Ministério das Finanças, através da qual a Sonangol deverá encaminhar as suas receitas, Armando Manuel cumpre já com o papel de ministro do Zenú e não do Zedú. É ao primeiro a quem presta contas, num acto de partilha de poder entre pai e filho.
Para garantir o seu poder pessoal, Armando Manuel tem estado a fazer constar ao seus altos funcionários que é um alto quadro dos Serviços de Inteligência e Segurança de Estado em missão de serviço no Ministério das Finanças. Na realidade, Armando Manuel actua como o primeiro ministro de Zenú, na transferência gradual de poder de pai para filho.
A ascensão de Zenú, como o filho eleito do presidente, tem sido marcada também nas cerimónias presidenciais, no palácio da Cidade Alta, onde frequentemente surge por detrás do pai e da primeira dama, acompanhado da sua esposa.
É também notada a decrescente influência de Tchizé dos Santos e de José Paulino dos Santos, filhos do chefe de Estado e de Milucha Abrantes, a actual presidente do Agência Nacional de Investimentos Privados (ANIP).
Recentemente, o antigo director do Instituto Nacional de Estradas de Angola (INEA), Joaquim Sebastião, manifestou-se disposto a oferecer US $30 milhões a uma das filhas do presidente, para que esta convencesse o seu pai a nomeá-lo ministro da Construção. A tentativa de corrupção de Joaquim Sebastião, que amassou uma fortuna superior a um bilião de dólares, enquanto director do INEA, foi um fracasso.
A entrada de Armando Manuel no Ministério das Finanças também significa o fim da influência da primeira-dama Ana Paula dos Santos, cujo cunhado, Carlos Lopes, exerceu as funções de ministro da pasta até Maio passado. Carlos Lopes é marido da irmã da primeira-dama, Artemísia Cristóvão de Lemos Lopes, que, por sua vez, exerce o cargo de sub-directora da direcção de Estatísticas do Banco Nacional de Angola.
Com o poder crescente de Zenú, o vice-presidente Manuel Vicente continuará a fazer o papel formal de candidato à sucessão, na qualidade de “lebre de corrida”.