quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

LUANDA: Eduardo dos Santos vai ser substituído pelo próprio filho

Eduardo dos Santos vai ser substituído pelo próprio filho - Marcolino Moco

Fonte: angola24horas
Divulgação: Planalto De Malanje Rio Capôpa
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Eduardo dos Santos vai ser substituído pelo próprio filho - Marcolino Moco
Pergunta: Neste congresso termos novidades em termos de sucessão do Presidente da República.
Marcolino Moco: Como sabe, eu fui sendo afastado da política activa, dentro do MPLA, pelos habituais golpes baixos, orquestrados pelo Presidente dos Santos e seus apoiantes, e nunca me interessei em regressar para esse campo, com base em rebaixamentos, que não é minha maneira de fazer política. Esta situação impede-me de saber o que se vai passar no Congresso anunciado. Mas tenho a sensação que nada acontecerá de especial, que vá ao encontro do que eu desejaria para o MPLA, que não passa necessariamente pelo simples problema da sucessão. Se estivesse atento veria que este problema até já está resolvido. Com os últimos acórdãos do Tribunal Constitucional (233 e 319/2013), com todo o tipo de manipulações a que dos Santos já nos habituou, com as declarações do Presidente nas entrevistas a SIC e uma TV brasileira, em que deixou bem vincado que afinal nem o camarada Vicente serve, é preciso estar muito distraído para não ver que, se o céu não cair, ele vai ser substituído pelo actual Presidente do Fundo Soberano de Angola que é um dos seus próprios filhos. Como de certeza me tem acompanhado, eu, para o que penso que seja bom para Angola e seus habitantes, estou mais interessado na mudança da natureza do regime, que já posso classificar de "monarquia absoluta" mal disfarçada na face de democracia republicana, do que na sucessão concreta do Presidente dos Santos, algo que não tira nem acrescenta nada, em si.
Pergunta:  Do seu ponto de vista, quais são os assuntos que poderão dominar o congresso.
Marcolino Moco: O grande problema começa no facto de que não há espaço para agendas que possam ser diferentes das agendas do Presidente, ou ao menos para discutir a agenda do Presidente, porque esta nem sequer é a que vem nos papéis. Alguns espertinhos ao me lerem vão dizer que estou a revelar segredos do partido. Não. Todos se lembram de como o Presidente virou publicamente a agenda do Partido e de todo o país, depois das eleições de 2008. Por outro lado, só vem para o Congresso quem aparentar que é apoiante muito fervoroso do Camarada Presidente, mesmo que este não tenha nenhum adversário pela frente. O esquema é mais ou menos o que existia no meu tempo. Mas há uma diferença enorme: naquele tempo discutiam-se agendas do Partido. Provavelmente, as últimas discussões neste formato terminaram no tempo em que o camarada João Lourenço era Secretário-Geral e depois foi "congelado". Também não me venham dizer que isso é segredo, nem espero que o camarada JL se incomode por eu dizer isso. Mas o descalabro começara antes, com a saída de Lopo do Nascimento, como Secretário-Geral, em 1998, com uma ala com que eu e o camarada França van-Dúnem fomos conotados, só porque tínhamos tido altos cargos na partido e no Estado. Quando o meu amigo me pediu esta entrevista, nem eu sabia que o Lopo ia despedir-se da política activa e em plena Assembleia Nacional. Sem pessimismo absolutamente nenhum, "é o fim da picada". Mas ele deixou uma mensagem oportuna aos jovens. "Fim da picada" é para a nossa geração escassa de renovadores, de que Lopo era líder natural, dentro do MPLA. Mas eu entendo que há coisas que cansam e ninguém de nós é eterno e ou insubstituível. As mudanças irão chegar, necessariamente, porque a situação é insustentável, mas não será nesse Congresso. Evidentemente tenho de descontar: não sou mago, para poder adivinhar o futuro. De resto, o meu pensamento e minhas propostas, mesmo que não passem nos meios de comunicação social de impacto, são bem conhecidas, dentro e fora país.
Pergunta:  Espera-se uma remodelação profunda a nível do Bureal Político? e do Comité Central?.
Marcolino Moco: Espera-se e muito grande (muitos risos). O camarada Bento Kangamba, se for absolvido pela "chata" justiça brasileira, ascenderá finalmente ao BP. Nem que seja necessário um aval da justiça portuguesa, a pedido das autoridades portuguesas. Se isso não acontecer, outros jovens e "velhos" turcos, verão finalmente o seu desejo de brilhar no meio desse lamaçal realizado. É esta a realidade de muitas as áfricas. Não somos os únicos. É esse combate que Lopo deixou para os mais jovens, no âmbito de um "novo pan-africanismo. Que Deus lhe deia saúde e força, para que mesmo de fora da política activa, possa ajudar, com a luz das suas ideias, que agora não terá mais razão de conter.
Marcolino Moco

LUANDA: Branqueamento de diamantes angolanos via Dubai enriqueceu elites e pagou derrota da UNITA



“Branqueamento” de diamantes angolanos via Dubai enriqueceu elites e “pagou” derrota da UNITA"

Fonte: Lusomonitor
Divulgação: Planalto De Malanje Rio Capôpa
“Branqueamento” de diamantes angolanos via Dubai enriqueceu elites e “pagou” derrota da UNITA"
O Dubai funcionou nos anos 1990 como um centro de “branqueamento” da origem dos diamantes angolanos, que pagaram o esforço de guerra que derrotou a UNITA, segundo investigação publicada dos jornalistas Khadija Sharife e John Grobler afirmam que no processo colaboraram o presidente e membros da elite angolana, que lucraram muitos milhões de dólares, tal como os negociantes de armas.
A investigação de Sharife e Grobler baseia-se em grande parte em dados recolhidos pelas autoridades europeias e norte-americanas, e algumas denúncias junto destas. O foco foi a comercializadora de diamantes Omega Diamonds, baseada na Bélgica, multada em quase 200 milhões pela União Europeia em 2013.
Cerca de 3,5 mil milhões de dólares de lucros do comércio de diamantes “simplesmente desapareceram” entre 2001 e 2008, segundo os investigadores belgas. Os jornalistas afirmam que as autoridades do Dubai “deliberadamente fecharam os olhos a práticas empresariais de evasão fiscal e sub-facturação – preferindo o termo optimização fiscal”. Mais ainda, a liderança do Dubai Multi-Commodities Center “parece ter ativamente bloqueado” o trabalho judicial.
Os lucros resultavam de um esquema simples, mas eficaz: a Omega comprava diamantes por “pouco ou nenhum dinheiro” em Angola e outros países africanos. Enviava-os para o Dubai, onde o sigilo legal e financeiro é garantido. Aqui eram misturados com pedras de outra origem e certificados como sendo de “origem mista”, segundo as regras do processo de Kimberley, que visava impedir diamantes de países em conflito de entrar no mercado.
Entrando no “sistema”, o seu valor multiplicava-se. O destino final das pedras era Antuérpia, onde eram vendidas. “O dinheiro arrecadado com estas vendas financiaria as contas bancárias pessoais da Omega e de muitas personagens corruptas que usavam no seu esquema tri-continental”, refere o artigo no World Policy Journal.
A “colaboração” ativa da elite angolana
A ascensão do Dubai ao grupo das capitais dos diamantes está diretamente relacionado com a guerra civil angolana. Segundo a investigação, em 1992, quando grande parte do país estava sob controlo da UNITA, o presidente José Eduardo dos Santos lançou um esforço de rearmamento.
Recorreu aos serviços dos mercenários sul-africanos da Executive Outcomes e também a armamento pesado – helicópteros de ataque e tecnologia de localização. Para isso, ligou-se a negociantes de armas e diamantes russo-israelitas, como Sylvain Goldberg, Pierre Falcone, Arkadi Gaydamak e Lev Leviev.
Para um país pobre como Angola na década de 1990, pagamentos de centenas de milhões de dólares em divisas seriam difíceis de fazer . Com o dinheiro dos diamantes, tudo era mais fácil.
Quando as forças do MPLA expulsam a UNITA da Lunda Norte e seus extensos campos diamantíferos, o presidente decreta que apenas a ASCORP, subsidiária da Omega em Angola, podia comprar e exportar diamantes. Aos baixos preços de compra pela Omega, o regime de Luanda “promoveu ativamente um sistema que roubaria ao próprio país de milhares de milhões dólares de receitas”, a favor da intermediária, referem.
As exportações diamantíferas de Angola ascendiam a 100 milhões de dólares por mês, entre 2001 e 2008. David Renous, antigo negociador de diamantes da Omega no Congo, afirmou às autoridades europeias e norte-americanas que as pedras estavam sub-avaliadas e que não eram declaradas nem em Angola nem na República Democrática do Congo, outra origem preferencial.
Segundo Renous, o esquema tinha a “cooperação de membros chave da elite angolana”, incluindo o presidente José Eduardo dos Santos. Servia ainda para compensar pelo menos um dos negociantes de armas, Gaydamak, pelo rearmamento das forças do MPLA entre 1992 e 1998, em violação de sanções da ONU, refere o relatório.
Gaydamak remeteu-se à posição de “parceiro silencioso no monopólio da Omega com o governo angolano”. Renous afirma que o sistema permitia ao negociante de armas, através do comércio de diamantes, “lavar” fora de Angola os seus lucros do tráfico de armas, enquanto gerava receitas substanciais para as suas subsidiárias.
Ironicamente, o processo de Kimberley foi criado para impedir que movimentos como a UNITA financiassem as suas atividades militares através dos diamantes. Mas foram estas pedras, e nalguns casos os mesmos mercenários e negociantes de armas, que contornaram o sistema para armar o MPLA e derrotar o movimento oposicionista.
Segundo o trabalho no World Policy Journal, a “ascensão meteórica” de Isabel dos Santos, filha do presidente angolano e recentemente considerada a primeira bilionária africana, está ligada a este sistema. Em particular, a uma empresa sua, TAIS, criada em 1997 na Suíça para comercializar diamantes.
Desde 2011, a Omega e o regime angolano, incluindo o presidente, militares e elite empresarial, contornaram potenciais obstáculos operando a partir de outros paraísos fiscais. Em Genebra conseguiram continuar operações comprando outras empresas como a De Grisogono, fundada pelo rei dos diamantes negros, Fawaz Gruosi
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