sexta-feira, 4 de abril de 2014

LUANDA: A Aceleração do MPLA e a desaceleração do País - Por Rafael Marques

A Aceleração do MPLA e a Desaceleração do País
Por Rafael Marques de Morais 
Fonte: Maka Angola
Divulgação: Planalto De Malanje Rio Capôpa
 03 de Abril, 2014
O Bureau Político (BP) do MPLA apreciou, a 31 de Março, o programa do seu governo de aceleração da diversificação da economia nacional e produziu uma recomendação especial: o governo deve formar os quadros necessários à sua implementação. Há, no entanto, uma contradição que importa analisar.

Aceleração. Comecemos por aqui. A 12 de Fevereiro de 2009, o presidente José Eduardo dos Santos disse: “É necessário acelerar a diversificação económica, realizando e promovendo investimentos noutros domínios da produção.”

Passados quatro anos, a ideia da aceleração da política de promoção e diversificação da economia foi integrada no Plano Nacional de Desenvolvimento de 2013 a 2017, que se encontra já em execução desde o ano passado. Tem sido, ao que parece, uma aceleração bastante lenta.

Como prioridades para a diversificação da economia, o referido plano contempla a promoção da competitividade e a coordenação entre investimentos públicos e privados.

Para o governo, a viabilidade do referido programa de diversificação assenta na estruturação de um sector privado e empresarial angolano forte. Por isso inclui no seu projecto a “promoção do empreendedorismo e do desenvolvimento do sector privado nacional”.

A contradição fundamental assenta, em primeira instância, na centralização e concentração cada vez maiores do poder. Essa centralização, conforme argumento na minha tese sobre “A Transparência do Saque em Angola”, passou da esfera do Estado para o domínio privado do presidente e do seu séquito preferencial. Como consequência, produziu-se uma fusão dos interesses do Estado com os interesses privados dos dirigentes, ao ponto de se tornarem indistintos entre si.

É por via dessa fusão que se institucionalizou a duplicidade de funções dos próprios dirigentes que, em simultâneo, assumem o papel de principais empresários e investidores nacionais. Os interesses nacionais passaram a ser governados pela agenda privada dos dirigentes/empresários.

A separação entre os cofres do Estado e os bolsos dos dirigentes também foi eliminada por via da unificação.

Essa promiscuidade é avessa a qualquer tipo de competitividade. Caso paradigmático é o sector das telecomunicações. A Movicel, que se afirmava como uma das maiores empresas estatais, foi privatizada em 2009, a favor dos dirigentes. Hoje, a UNITEL e a Movicel, cujos sócios são dirigentes, familiares e o próprio Estado, formam um duopólio que lhes permite assaltar as bolsas dos cidadãos pelos serviços deficitários de telefonia móvel que prestam a preços exorbitantes.

De um modo geral, os cidadãos angolanos, fora da órbita do poder, não têm a liberdade de iniciativa privada ao ponto de se constituírem numa mais-valia para a economia nacional. A menos que sejam arregimentados, é-lhes tolhida a criatividade, a ambição e a perspectiva de expansão de negócios.

Já se tornou institucional, em sectores-chave da economia, como os petróleos, os dirigentes impingirem as suas empresas de fachada, na qualidade de sócias, como condição sine qua non para a abertura do mercado angolano a investidores estrangeiros.

Outro ponto interessante da nota do BP é o seu encorajamento ao executivo para “implementar o referido programa com rigor e firmeza, de modo a diminuir a dependência da economia nacional do sector petrolífero”.

Para o efeito, o BP “recomendou uma atenção especial à formação de quadros para o provimento de funcionários qualificados necessários ao programa”.

Na sua declaração política, a bancada parlamentar do MPLA sustentou, em Novembro passado, que a aprovação do Orçamento Geral do Estado de 2014 é a continuidade do Plano Nacional de Desenvolvimento.

Aqui reside a confusão. Primeiro, o chefe do governo, que apresentou o plano ao BP, é o presidente do MPLA, José Eduardo dos Santos. Quem pede rigor e firmeza a quem? Ou é apenas uma questão de retórica? Dos Santos pede rigor e firmeza a si próprio?

Segundo, como se podem formar quadros em tempo útil para serem engajados num programa acelerado de diversificação da economia? Os quadros a que o MPLA se refere, em princípio, devem ser de formação superior. Um curso universitário tem um tempo mínimo de quatro anos e não se pode esperar que, após a formação, esses quadros estejam preparados, profissionalmente, para tão ingente desafio.

Outro grande problema ao nível da profissionalização dos quadros tem a ver com os comités de especialidade do MPLA. O cartão de militante desse partido e a venalidade têm tido primazia sobre a capacidade profissional e de liderança dos quadros na sua colocação ao nível da administração do Estado. Não se vislumbram quaisquer iniciativas tendentes a despartidarizar a administração do Estado.

A nomeação de Kundi Paihama para governador do Huambo é, aliás, prova bastante da ideologia do presidente. O Huambo foi, em tempos, o segundo parque industrial do país e, para além de instigar o terror e promover o açambarcamento, Paihama não tem capacidade para revitalizar a província. Já devia ter sido reformado aos 70 anos. Apesar de haver já muitos jovens bem formados, o MPLA continua a apostar na velha guarda, despida de visão e de ideias inovadoras para o país.

Acima de tudo, o MPLA e o seu presidente devem acelerar a moralização da administração do Estado, aplicando, com rigor, a separação entre os seus interesses privados e os do Estado.

De seguida, também deve ser acelerada a devolução de poderes. A estrutura da economia só mudará com a descentralização e desconcentração de poderes por via de reformas profundas no aparelho de Estado. Só assim será possível estabelecer a separação efectiva de poderes entre o legislativo, o executivo e o judicial, bem como o exercício dos freios e contrapesos para a garantia da fiscalização dos actos do governo.

Na realidade, tudo isto será apenas possível na era pós-Dos Santos. O presidente José Eduardo dos Santos é o principal entrave às reformas que se impõem no país.

LISBOA: Jornalista Mário Crespo denuncia ligações da imprensa ao poder angolano

Jornalista Mário Crespo denuncia ligações da Imprensa ao poder angolano

Fonte: SIC Noticias/Esquerda
Divulgação: Planalto De Malanje rio Capôpa
Jornalista Mário Crespo denuncia ligações da Imprensa ao poder angolano
O jornalista Mário Crespo diz que levou "algum tempo a compreender" o seu "despedimento", concluindo que terá sido por "inconformismo editorial". E queixa-se de pressões para afastar vozes incómodas a Eduardo dos Santos no Jornal das Nove da SIC-Notícias.
Afastado da apresentação do Jornal das Nove da SIC, Mário Crespo lança suspeitas sobre as pressões do regime de Luanda sobre a informação do grupo de Balsemão.
As declarações do jornalista veterano, que viu o seu contrato não ser renovado há poucos meses, após ter dado entrada com o pedido de reforma, foram feitas num debate sobre os 40 anos do 25 de Abril em Loures, noticia a edição desta sexta-feira do Correio da Manhã.
"Perdi o meu posto por inconformismo editorial", explica o jornalista que ainda tem contrato com a SIC até ao fim de maio, mas que foi afastado da apresentação do Jornal da Nove na SIC-Notícias há poucas semanas. "Não prolongaram o meu contrato apesar de eu poder continuar",  revela agora o pivô do Jornal da Nove. Na sua intervenção de despedida do programa (ver vídeo), Mário Crespo tinha deixado no ar a ideia de que não o abandonava de livre vontade, sublinhando que "gostava de ficar até ao 25 de Abril". Mas só agora veio acrescentar alguns elementos que no seu entender podem estar relacionados com o afastamento.
"Tive uma carta do diretor de informação da SIC a proibir-me de levar o Rafael Marques ao meu jornal", denunciou Mário Crespo, referindo-se ao jornalista e ativista dos direitos humanos em Angola, que chegou a ser perseguido na justiça portuguesa por um grupo de generais angolanos ligados à extração de diamantes, denunciados no livro "Diamantes de Sangue: Tortura e Corrupção em Angola". Contactado pelo Correio da Manhã, Alcides Vieira negou esta acusação.
Mário Crespo revelou agora ter recusado por várias vezes incluir "reportagens muito bondosas sobre Angola" no Jornal das Nove, dizendo também estranhar a publicação de reportagens semelhantes no semanário Expresso. E questionou a venda de cerca de um quarto do capital da Impresa - o grupo dirigido por Francisco Pinto Balsemão - que estavam nas mãos da Ongoing e foram parar a "fundos privados que ninguém sabe quem são".
Correspondente da SIC em Israel aceitou encomenda do governo para melhorar imagem do país junto dos católicos
Um dos trabalhos jornalísticos mais polémicos sobre Angola na SIC foi a entrevista feita pelo jornalista luso-israelita Henrique Cymerman a José Eduardo dos Santos no ano passado em Luanda, por encomenda de uma televisão de Israel e retransmitida em Portugal no canal de Balsemão. Nos dias que seguiram choveram críticas à "operação de lavagem da imagem" do regime, com o presidente angolano a discorrer sem contraditório sobre o combate à corrupção e a eliminação da pobreza em Angola.
No mês passado, Henrique Cymerman - que é correspondente da SIC em Israel - também esteve debaixo de fogo dos seus colegas jornalistas, por ter aceite uma encomenda do governo de Telavive para fazer uma série de reportagens sobre a visita do papa Francisco a Israel, prevista para maio, material que será posteriormente usado para divulgar e promover a imagem daquele país no mundo católico, com versões em português, espanhol e inglês.
O jornalista nascido em Portugal vai receber mais de 60 mil euros para produzir estas reportagens publicitárias para o governo israelita, que o escolheu por ajuste direto. Questionado sobre a existência de problemas éticos, Cymerman disse ao jornal Haaretz não haver qualquer razão para recusar a encomenda do governo, acrescentando ver com bons olhos a possibilidade de fortalecer as relações entre o papa e Israel.
Esquerd
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PARIS: Jornal Francês "LE MONDE" acusa Portugal de ser "cúmplice" do Regime angolano

Jornal Françês "Le Monde" acusa Portugal de ser "cúmplice" do regime angolano

Fonte: Expresso
Divulgação: Planalto De Malanje Rio Capôpa
Jornal Françês "Le Monde" acusa Portugal de ser "cúmplice" de regime angolano
Num artigo publicado quarta-feira, o "Le Monde" expõe os negócios que o Estado português tem feito e os investimentos que tem aceite de países africanos como a Guiné-Equatorial e Angola.
Com o título "Os fundos vindos de Angola semeiam confusão em Portugal", a edição em papel de quarta-feira do diário francês "Le Monde" publica um artigo dedicado às trocas comerciais entre Portugal e Angola, no momento em que, em Bruxelas, se reúnem os dirigentes de nove dezenas de países dos dois continentes, na IV cimeira União Europeia-África.
O artigo identifica o esforço da União Europeia em aproveitar a ocasião para se impor à rivalidade comercial da China e centra-se nos negócios que Portugal se esforça por realizar nas suas ex-colónias, de modo a contribuir para a revitalização "da sua economia fatigada pela crise e pela austeridade".
Usa para tal a visita de Estado do primeiro-ministro Passos Coelho a Moçambique (26 e 27 de março), país que o "Le Monde" classifica como tendo "grande dotação de gás" e com o qual Portugal acaba de assinar 16 acordos comerciais.
A Guiné-Equatorial é dada como exemplo das concessões que o Governo português está disposto a fazer. O jornal francês cita a disponibilidade manifestada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, para que aquele país adira à Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), apesar de essa hipótese ter sido excluída em 2012, em nome do respeito pelos direitos humanos.
"É sobretudo a Angola que Portugal abre os seus braços", lê-se a seguir ao subtítulo com a citação do jornalista Rafael Marques: "Portugal transforma-se numa máquina de lavar dinheiro roubado ao povo angolano".
O jornal descreve ainda em breves linhas o esquema de influência do Presidente angolano e da família Dos Santos, chamando a Portugal "cúmplice" de "um regime que despreza o seu povo".
E aflora ainda o caso de "tratamento especial" a Manuel Vicente, número dois do Estado angolano, que foi objeto de pedidos de desculpa por parte de Rui Machete.
Express
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