Viúva de Arafat diz tentou divorciar-se “centenas de vezes”
Suha dá entrevista a jornal turco falando da "vida em isolamento" que viveu durante o seu casamento com Yasser Arafat.
A viúva de Arafat, Suha, disse que tentou separar-se do marido “centenas de vezes”. O casamento com o histórico líder palestiniano “foi um grande erro e lamento-o”, disse.
Suha conheceu Arafat através da sua mãe, uma importante jornalista e activista. Os dois casaram-se, em segredo, em Tunes em 1990, quando Suha tinha 27 anos e Arafat 61. Ela, uma cristã criada em Nablus e Ramallah, converteu-se ao islão. Suha contou agora ao jornal turco Sabah que a mãe se tinha oposto ao casamento. “Mais tarde percebi porquê. Se eu soubesse o que iria passar, não teria casado com ele. É verdade que ele era um grande líder, mas eu estava só”.
As razões eram a segurança: “Tinha de ter cuidado nas minhas conversas telefónicas por causa das escutas, e estávamos sempre a mudar de um lado para o outro”, contou. “A minha identidade foi destruída.”
Cinco anos após o casamento, nasceu a única filha do casal, Zahwa. Em 1994, o casal deixa a Tunísia, quando Arafat põe fim a 27 anos de exílio e regressa a Gaza, e a partir daí vivem ora em Gaza ora em Ramallah, na Cisjordânia.
“Eu sei que muitas mulheres queriam casar com ele, mas ele só me quis a mim. Foi o meu destino”, diz. “Tentei deixá-lo centenas de vezes, mas ele não me deixava. Toda a gente sabe como ele não me deixava.”
Mas Suha disse ainda que ainda que a vida com Arafat tenha sido difícil, “a minha vida sem ele é ainda mais difícil”.
Suha não viveu, no entanto, com Arafat até à morte deste em 2004. Em 2001, Suha e a filha Zahwa mudam-se para Paris, e em 2005, para Tunes, onde Suha é investigada por corrupção. Actualmente, vive em Malta com uma pensão de 10 mil euros mensais para si e para a filha, dada pela Autoridade Palestiniana. "Isso está documentado", disse nesta entrevista ao jornal turco.
Muitos palestinianos suspeitam que Suha tenha ficado com muito dinheiro da Autoridade Palestiniana controlado por Arafat após a morte do líder.
Suha é uma figura imprevisível e envolvida muitas vezes em polémicas. Quando se encontrou com Hillary Clinton em 1999, por exemplo, acusou publicamente os israelitas de serem responsáveis por cancros dos palestinianos, envenenando-os com químicos colocados nas águas de Gaza.
A última vez que esteve na ribalta foi quando veio a público uma investigação da estação de televisão Al-Jazira sobre a possível causa da morte de Arafat, com base em pertences do palestiniano entregues a um instituto de investigação suíço. Descobriu-se que tinham vestígios de polónio-210, uma substância radioactiva. Quando Arafat foi levado da Muqata para o hospital francês em que acabou por morrer, Suha veio acusar responsáveis da Autoridade Palestiniana de conspirarem contra ele e de o quererem “enterrar vivo”.