quarta-feira, 29 de maio de 2013

LISBOA: Abel Chivukuvuku na primeira pessoa acusa Portugal de conivência na lavagem de dinheiro angolano.

Líder do terceiro partido angolano diz que investimentos em Portugal servem para lavar dinheiro

Afirmação de Abel Chivukuvuku segue-se a declaração feita na semana passada por presidente da UNITA, de que autoridades portuguesas devem “questionar a origem” do dinheiro aplicado no país.
Chivukuvuku, em primeiro plano, na campanha eleitoral de 2012 SIPHIWE SIBEKO/REUTERS-ARQUIVO
Reedição Radz balumuka
www.planaltodemalangeriocapopa.blogspot.com
Os investimentos de Angola em Portugal servem para lavar dinheiro, acusou Abel Chivukuvuku, líder da coligação Convergência Ampla de Salvação de Angola (CASA-CE).
“Nós encorajamos o investimento recíproco. O que apenas consideramos negativo é quando Portugal quase se torna uma espécie de refúgio de capitais ilícitos. Ilícitos de Angola para Portugal”, disse, esta quarta-feira, em Luanda.
O líder da coligação, terceira maior força política angolana, falava numa conferência de imprensa em que apresentou o balanço da digressão que uma delegação da CASA-CE efectuou este mês a Portugal e a outros países europeus e Estados Unidos, para contactos políticos.
“É público, é sabido, que as relações entre países têm muitas dimensões: políticas, sociais, culturais ou económicas. Obviamente que Portugal e Angola devem aprofundar as relações económicas e crescimento do investimento recíproco para o bem dos dois países”, defendeu. O que não está certo, para Abel Chivukuvuku, é que os múltiplos investimentos de cidadãos angolanos em Portugal configurem uma lavagem de dinheiro obtido ilicitamente.
“Se fossem capitais lícitos, ganhos normalmente com trabalho, honestidade e seriedade, seria benéfico e positivo, mas quando se torna espaço de branqueamento de capitais ilícitos, já é negativo”, acusou, referindo que o mesmo não se passa com outros países. Instado a identificar quais os investimentos a que se refere, Abel Chivukuvukui declinou, referindo apenas que são públicos. “São do conhecimento público. Basta pesquisar na comunicação social internacional”, afirmou.   
Na semana passada,  Isaías Samakuva, líder da UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), principal partido da oposição em Angola, disse em Lisboa que é “responsabilidade” das autoridades portuguesas “questionar a origem” do dinheiro de investimentos angolanos em Portugal. “Pelo que se conta, são histórias do dia-a-dia, pelo menos em Angola, esse dinheiro vem em malas, em aviões que aterram em Lisboa, e são descarregadas sem que ninguém diga alguma coisa. É verdade?... Não é verdade?...”, perguntou numa entrevista à SIC Notícias.

 

O MPLA deu sumiço ao ativista Emílio Catumbela no dia 27 de maio de 2013, quando participava de uma vigília em Luanda. Os advogados contratados pela família não sabem para onde a policia afeta ao regime terá levado o jovem raptado. Note-se que com este desaparecimento elevam para três o numero de pessoas cujo regime é totalmente o único responsável pelo sucedido.


Advogados não sabem onde está jovem levado pela polícia numa vigília em Luanda

Chama-se Emiliano Catumbela, faz parte do Movimento Revolucionário que contesta o poder angolano e quis assinalar o 1.º aniversário do desaparecimento de dois colegas do movimento com uma vigília.
Jovens organizaram vigília na capital de Angola 
miguel madeira
redição: radz bALUMUKA
www.planaltodemalangeriocapopa.blogspot.com
Os advogados do jovem detido na vigília pacífica de segunda-feira em Luanda não sabiam, ao princípio da tarde desta quarta-feira, onde ele se encontrava. Emiliano Catumbela foi levado pela polícia há dois dias quando se encontrava ma vigília realizada no Largo da Independência, na capital angolana, e nesta quarta-feira devia ser presente a um procurador, sob acusação de ofensas corporais contra a polícia nessa manifestação pacífica.

“O detido não está nas cadeias do Comando Provincial da Polícia Nacional nem na Procuradoria-Geral da República”, disse ao PÚBLICO o advogado Salvador Pereira, presidente da Associação Mãos Livres e um dos dois advogados do jovem. Desde terça-feira que o advogado tenta visitar Emiliano Catumbela.

“Não sabemos onde ele está”, acentua. A Procuradoria-Geral da República devolveu o processo e exigiu a presença do detido. E no Comando Provincial da Polícia Nacional disseram que o jovem não se encontrava. “Alguma coisa não está a ser esclarecida mas acreditamos que o jovem esteja bem”, continua o advogado. Emiliano Catumbela devia ter tido acesso imediato a um advogado e não teve, acrescenta.

O jovem é membro do Movimento Revolucionário, que reúne jovens que contestam, desde 2011, o poder de José Eduardo dos Santos através de manifestações pacíficas, algumas reprimidas pela polícia. O mesmo movimento que organizou esta vigília onde vários testemunhos dão conta de espancamentos a jovens e violência policial, que a polícia justifica com ofensas aos seus próprios agentes. Os manifestantes desmentem.

Pelo menos dez manifestantes foram detidos e depois libertados. Um teve alta na terça-feira à noite da clinica onde deu entrada com ferimentos. Os colegas do movimento dizem que foi vítima de violência policial. Chama-se Raúl Lino. “Mandela” é o seu nome de luta.

Raptados sem deixar rasto
A vigília terá juntado poucas centenas de pessoas, diz ao PÚBLICO Adolfo Campos, do movimento que continua a exigir a saída de José Eduardo dos Santos, “por excesso de tempo no poder” (34 anos) e “má-governação”. Desta vez, porém, era mais importante lembrar os dois jovens desaparecidos há exactamente um ano – Alves Kamulingue, de 30 anos, e Isaías Cassule, de 34 anos, eram activistas do Movimento Revolucionário e foram raptados sem deixar rasto. Além disso, o movimento não queria deixar passar em branco o aniversário do 27 de Maio de 1977 – quando dezenas de milhares de pessoas desapareceram na repressão contra a acção do movimento fraccionista de Nito Alves e José Van Dunem, acusado de tentar derrubar o então Presidente Agostinho Neto.

Depois de a polícia dispersar a vigília, o advogado angolano David Mendes andou de esquadra em esquadra à procura dos detidos. Momentos antes, testemunhara a presença de “uma centena de agentes da polícia, a cavalo ou com cães, e elementos da polícia anti-terror, assistidos por helicópteros”.

A polícia montou uma barreira que impedia a passagem de grupos de jovens que iam chegando, conta o advogado, que chegou ao local quando começaram as detenções. “Até à meia-noite, uma grande área em redor esteve sob a  vigilância da polícia canina e da polícia anti-terror.”

Jovens foram levados em grupos pequenos
A Polícia Nacional não diz quantas pessoas deteve. E justifica a acção policial contra os manifestantes, através dum comunicado citado pela Lusa. Nele explica que foi "forçada a intervir para persuadir um pequeno ajuntamento de jovens no Largo da Independência", que pretendiam realizar "uma vigília não autorizada pelo Governo Provincial" e acusa os presentes de "arremessaram pedras e outros objectos” contra os agentes, justificando assim a necessidade de “recolhê-los, em viaturas” e “dispersá-los em outros locais".

Foram levados separadamente em grupos pequenos e dispersos, confirma David Mendes. O objectivo, considera o advogado, era dispersá-los para “que não houvesse forma de saber quantos foram detidos” no total.

Nesta vigília em Luanda, a “concentração de meios policiais” acima do que seria previsível explica-se, segundo o advogado angolano David Mendes, pelo simbolismo da data: 27 de Maio de 1977.

O ano passado, Alves Kamulingue, de 30 anos, foi raptado na baixa de Luanda, quando se dirigia para uma manifestação de antigos combatentes que reclamavam o pagamento de pensões em atraso. Era ele mesmo antigo militar e membro do Movimento Revolucionario que, pelo menos desde o início de 2011, contesta o poder de José Eduardo dos Santos.

Dois dias depois, a 29 de Maio, desaparecia o seu colega Isaías Cassule, de 34 anos. Um e outro continuam desaparecidos. Os familiares não têm qualquer informação da polícia. Amigos e colegas do Movimento Revolucionário têm poucas esperanças que estejam vivos. “Estamos a exigir que sejam entregues à família para um enterro condigno”, diz Adolfo Campos, uma das vozes do movimento que acredita que os dois foram levados, nesse dia, pela polícia, que nega tê-lo feito.