sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

LISBOA/LUANDA: A Investigação da Origem dos Fundos de Isabel dos Santos

A Investigação da Origem dos Fundos de Isabel dos Santos

Fonte: Makaangola.org/Rui Verde, doutor em Direito12 de Fevereiro de 2016

A bilionária Isabel dos Santos, filha do camarada presidente.
Janeiro passado, o semanário português Expresso publicou uma ampla reportagem acerca de Isabel dos Santos.
Trata-se de um trabalho muito interessante, não pelo seu conteúdo, genericamente conhecido, mas pelas várias mensagens mais ou menos subliminares que transmite. Por um lado, aparece-nos uma Isabel glamorosa, Isabel em festas de jet-set, Isabel a lavar o cabelo, Isabel com o cãozinho ao colo, Isabel em muitas e variadas poses. Como já se referiu noutra peça no Maka Angola, esta exposição deve fazer parte da estratégia de algum marqueteiro brasileiro ou seu aprendiz português para lançar Isabel dos Santos para a presidência da República de Angola, destacando a mulher moderna e cosmopolita, a empresária de sucesso que vai guiar o país para o século XXII.Em 
Contudo, o ponto fulcral da reportagem é o retorno à velha questão da origem dos fundos de Isabel dos Santos e da sua fortuna. Segundo os factos apresentados pelos seus consultores e aliados, é tudo absolutamente legal e transparente, até porque a sua estrutura societária foi elaborada por um dos maiores escritórios de advogados ingleses, a Clifford Chance, e em Portugal os supervisores juram a legalidade de todos os negócios e afirmam haver mecanismos de due dilligence em acção que foram observados.
De facto, perante a vastidão dos interesses e das actividades de Isabel – que continuam em expansão acelerada, agora em Luanda  –, é impossível analisá-los todos de forma integrada. Contudo, não há nada que o método cartesiano não permita, começando por distinguir aspectos muitos simples e depois seguindo o rasto. Porque, e este é um ponto essencial, face ao desenvolvimento de complexas estruturas jurídicas, o direito tem-se adaptado, criando formulações várias que deitam abaixo as tentativas de opacidade e permitem ir mais longe: por exemplo, figuras como a action in concert, desenvolvida no Código da City londrina, a imputação de direitos de voto consagrada nas directivas da União Europeia e vertida nas legislações alemã, francesa ou portuguesa, ou a Durchgriff germânica, que serve para desmascarar sociedades ou levantar a sua personalidade jurídica quando estas apenas são máscaras escondendo o verdadeiro interessado e actuante.
Estas considerações são importantes para se perceber que as várias sociedades que surgem no universo de Isabel dos Santos não passam, na sua maioria, de conchas vazias que apenas servem para a esconder, não tendo actividade real.
Estude-se o caso da participação de Isabel dos Santos no BPI (banco português, dono do BFA em Angola). A sociedade Santoro Finance – Prestação de Serviços SA tem uma participação directa de 18,58% no BPI. Por sua vez, a Santoro Finance é detida a 100% pela Santoro Financial Holdings SGPS. E a principal accionista desta Santoro Financial Holdings SGPS é Isabel dos Santos. Portanto, e como refere o Relatório e Contas do BPI, a participação no BPI é imputada, nos termos do artigo 20.º do Código dos Valores Mobiliários, justamente a Isabel dos Santos. Apesar de existirem duas Santoro, o facto é que a participação é claramente de Isabel dos Santos, com as consequências daí advenientes. É ainda possível verificar que a Santoro Financial Holdings é uma sociedade gestora de participações sociais não financeiras, com sede na Avenida da Liberdade, 190, 1-B, Lisboa, enquanto a Santoro Finance tem como objecto a prestação de serviços de consultadoria, designadamente de consultadoria económica, contabilística, marketing, publicidade e de direcção de empresas, a supervisão da prestação de serviços por terceiros e demais actividades conexas com tais serviços, sendo que no exercício da sua actividade social a sociedade pode participar no capital de outras sociedades, ainda que com natureza e objectos diversos do seu. A sede é na mesma morada da Santoro Financial Holdings.
O estranho aqui é que a SGPS mãe (Santoro Financial Holdings) é uma sociedade dedicada às participações não financeiras, quando na realidade a sua grande participação é numa empresa que detém… um banco. É contraditório. No mínimo, isto deveria levantar o sobrolho às adormecidas autoridades portuguesas.
Note-se, e aqui entramos no cerne da questão, que a compra da parcela do BPI ocorreu em 2008 e foi realizada ao Millennium BCP, que ao tempo vivia uma crise suscitada em parte por interesses angolanos, que na mesma altura, através da Sonangol, alcançavam 10%, tornando-se os maiores accionistas do próprio BCP. Repito: em 2008 Isabel dos Santos compra a parte do BCP no BPI, após a Sonangol se ter tornado a maior accionista do BCP. Refira-se também que o valor pago por Isabel dos Santos (embora acima do valor momentâneo de mercado) se traduziu numa menos-valia para o BCP. Outro facto: o primeiro-ministro de Portugal era José Sócrates.
Então, em 2008, o banco que acabava por estar controlado pelo pai, José Eduardo dos Santos, através da Sonangol (BCP), vende à filha (com uma menos-valia) as acções que tinha no banco BPI (aquele que domina o BFA em Angola), estando José Sócrates no poder. Este é o retrato da operação, e não outro.
Coloca-se então a pergunta: de onde veio o dinheiro da filha-princesa? Não foi certamente das actividades das Santoro 1 e 2, que são meras sociedades de participação e não tinham operações em curso de onde resultassem rendimentos regulares. Aliás, as Santoro foram criadas na mesma época precisamente para servirem como veículos de aquisição.
Que supervisão existiu por parte das autoridades portuguesas? Nenhuma. O que deveriam ter feito? Tudo. É que o argumento de que foi realizada a due dilligence e de que não haveria qualquer suspeita não é válido: este foi o tempo da Operação Furacão, que se deparou com fortes indícios de eventuais práticas suspeitas por parte de elementos ligados a Isabel dos Santos, e tudo isto foi amplamente noticiado na imprensa portuguesa. O problema terá sido outro: a dependência portuguesa do dinheiro de Angola, que fez com que todas as autoridades fechassem os olhos a estes movimentos.
Simultaneamente com tudo isto, em Angola, a Unitel – empresa em que Isabel dos Santos exerce um domínio de facto – adquiriu 49% do BFA, controlado pelo BPI.
Se repararmos bem, é tudo muito simples: trata-se de um movimento em pinça com vista ao controlo da banca portuguesa e angolana, que começou em 2008 com fundos sem proveniência clarificada.

MOÇAMBIQUE: Líder da Renamo Reaparece e Diz que Governa Seis Pravíncia em Março

Líder da Renamo reaparece e 

diz que governa seis 

províncias em Março

"Continuar a lutar pela democracia" é o objectivo de Afonso Dhlakama.

Líder da Renamo reaparece e diz que governa seis províncias em Março

O líder da Renamo recebeu quinta-feira um grupo de jornalistas numa base militar no sopé da serra da Gorongosa, centro de Moçambique, para acabar com especulações sobre o seu paradeiro e insistiu que governará seis províncias em Março.
Afonso Dhlakama reapareceu magro na base militar da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) de Sadjundjira, na Gorongosa, província de Sofala, onde ele afirmou ter chegado em Janeiro, após caminhar dois meses e meio desde a cidade da Beira, após o cerco à sua residência, a 9 de Outubro, numa operação policial de alegada entrega de armas em posse do maior partido de oposição
"O objectivo é, sem dúvida, continuar a lutar pela democracia", justificou Afonso Dhlakama ao grupo de jornalistas, entre os quais a Lusa, sobre o seu regresso a Sadjundjira, enquanto exibia a esteira, onde afirma dormir todas as noites.

LISBOA: Que Fez Angola Aos 468 Bilhões de Dólares do Petróleo?


Que fez Angola aos 468 biliões de dólares do petróleo? Lisboa – Com as prateleiras vazias em várias cidades do país e filas à porta de mercados e supermercados para comprar bens essenciais, é difícil de acreditar que Angola tenha encaixado 468 mil milhões de dólares durante o “boom” petrolífero dos últimos 13 anos. Muitos se perguntam agora: para onde foi este dinheiro?


Fonte: AM/Paulo Guilherme
12/02/2016
Enquanto o Jornal de Angola faz (quinta-feira) manchete com a aprovação de “Programas dirigidos para o aumento da produção na Agricultura e Indústria” – ilustrada com uma foto do presidente José Eduardo dos Santos, a realidade, fora de Luanda, parece ser mais complicada.

Segundo a DW África, a falta de alimentos está a “gerar desespero e revolta em Cabinda”. “O acesso aos produtos já é limitado e as filas para comprar alimentos aumentam diariamente.

Um vídeo partilhado nas redes sociais mostra um grupo de populares a invadir um estabelecimento para tentar obter alimentos básicos. Em Benguela, relatos de grupos de populares de madrugada à porta de armazéns. Mesmo a agência oficial Angop relata a escassez de produtos básicos, como arroz, fuba de milho, açúcar e óleo no Namibe. No Africa Monitor Intelligence, damos conta da escassez em muitos supermercados. Mesmo os de cadeias detidas por elementos da elite e/ou ligados a empresas de distribuição influentes.

Como pode um país que encaixou quase 500 mil milhões de dólares nos últimos anos estar a restringir importações para poupar divisas? Para onde foi o dinheiro?

"O sentimento geral em Angola é que o dinheiro do petróleo ou foi mal gasto ou foi gasto no estrangeiro, e que muito pouco contribuiu para criar postos de trabalho ou para o desenvolvimento de comunidades locais ", diz a antropóloga social Cristina Udelsmann Rodrigues, num artigo para o Instituto Africano Nórdico.

Os anos de crescimento económico após os acordos de paz de 2002 levaram à criação de “uma classe de novos ricos dispostos a gastar sua riqueza em carros de luxo, casamentos caros e viagens de compras para Europa e EUA”, refere o artigo do IAN.

Luanda passou a ser conhecida como a cidade mais cara do mundo para expatriados. Apesar de alguns investimentos na economia local, a crise de preços de petróleo em 2014 apanha o país totalmente dependente da indústria petrolífera. As receitas e as divisas começaram a escassear e os “kinguilas” (cambistas) devolta às ruas de Luanda trouxeram de volta memória do passado da guerra. Os bancos deixaram de emitir cartões de crédito para uso no exterior.

"A falta de moeda estrangeira está a afetar a todos em Angola de uma maneira ou outra. Os ricos têm parado viajar para o exterior, e os pobres têm dificuldade em comprar produtos importados como arroz, carne ou medicina em mercados locais como os preços sobem ", diz Udelsmann Rodrigues.

De um ponto de vista otimista, esta pode ser a oportunidade de que Angola precisava. Um choque que obriga o país a virar-se para a criação de riqueza fora do petróleo, diversificando a economia e gerando mais empregos.

Muitos angolanos “esperam que o financiamento internacional para o desenvolvimento, há muito em baixa, possa ser reactivado, uma vez que os líderes angolanos, humilhados pela recessão económica, podem não ser mais capazes de resistir a ofertas de ajuda do FMI e outros”.

Para Udelsmann Rodrigues, a crise é também uma lembrança da capacidade de a sociedade angolana se adaptar a novas realidades. "As pessoas se adaptam. Se uma fonte de renda desaparece, eles buscam diferentes maneiras de ganhar a vida".