terça-feira, 18 de julho de 2017

LUANDA: João Melo: O Fiel Escudeiro Do Outro João, O Presidencial

João Melo: O fiel escudeiro do outro João, o presidencial

18/ de Julho de 2017

João Melo:  O fiel escudeiro do outro João, o presidencial
João Melo além de profeta é igualmente soldado do regime para todo tipo de serviço sobretudo, no de engessar a verdade do momento politico que o país vive. Essa é a razão explicativa que leva o politico JM não ter vontade de capacitar-se para entender que esse MPLA actual não é benigno e muito menos representa o todo da nossa militância. Cada vez mais fica evidenciado a existência de um fosso que separa o povo dessa cambada de gatunos que se diz governo.
Por Raúl Diniz
Tenho plena convicção que somente João Melo não conseguiu discernir que o MPLA tem surfado por turbulentas ondas corrosivas da corrupção a mais de 42 anos. Essa situação comprova a necessidade do MPLA ter que virar a pagina, caso não vire a pagina, a pagina vira sem ele.
Por outro lado, não faz sentido nenhum o deputado João Melo colocar toda militância na mesma situação inépcia da bajulação inconsumível em que ele próprio se encontra enlambuzado.
Entendo que é difícil um politico profissional como JM entender que os ventos mudaram de direcção e agora sopram forte na direcção errada a que segue a ditadura corrupta conduzida pelo MPLA
 A maior parte dos experts formadores de opinião foi surpreendida e ficou mesmo pasma com a dinâmica farsante do texto horripilante de João Melo de apoio ao candidato do MPLA João Lourenço, escrito recentemente pelo não menos horripilante escritor, jornalista e deputado profissional João Melo do MPLA.
Não é pecado o João Melo sonhar e ter o beneplácito desejo de fazer de João Lourenço uma grande liderança da mudança, mas, essa inverdade de mudança desejada por JM residi apenas na mente do deputado. A realidade demonstra claramente o contrario da afirmação de JM e indica que o poder ficando nas mãos de João Lourenço o país estacionará numa incógnita gravosa para os angolanos.
Em síntese, o texto escrito por João Melo não passa de uma mise in scéne intencionalmente mal elaborada que serve apenas para bajular o herdeiro patrimonial de Eduardo dos Santos.
O deputado JM disse também que João Lourenço significava a mudança de rumo politico para o país. Sinceramente, que afirmação mais sem graça. Afinal que força politica tem João Lourenço no xadrez politico nacional, para realizar qualquer tipo de mudança? Por acaso João Melo espera de todos cidadãos angolanos diga amem a João Lourenço?
Não vai ser possível qualquer angolano obedecer cegamente alguém que só é candidato a cadeira de presidente, porque o ditador decidiu escolhe-lo.  JM e todos angolano inteligente sabe que João Lourenço não é um candidato fraco, desactualizado e inconsequente.
Na verdade, JL é um candidato anti povo, sem historia e sem autoridade moral e força politica que o dignifique como presidencial. Aliás, o candidato do MPLA não traz vigor algum ao processo eleitoral, que justifique aprova-lo como o candidato da mudança por estar completamente amordaçado e amarrado à vontade politica de Eduardo dos Santos seu chefe e padrinho politico.
É preciso não esquecer que o processo eleitoral é totalmente inviável por ser convertido em uma abrupta fraude. É preciso lembrar a esses políticos anémicos desnutridos e apologistas da bajulação como JM, que o índice populacional de angolanos é de 29 milhões, porem, somente 9 milhões estão aptos a votar segundo o ministério conduzido pelo candidato a vice-presidente Bornito de Sousa, essa conta artificial de BS representa apenas 039% do total da população angolana.
Por si só, esse número retira qualquer legitimidade ao processo eleitoral em curso por estar completamente viciado. Como pode haver legitimação qualificável num processo eleitoral, quando apenas 0,39% da população vai votos?
Camarada JM, o nosso MPLA encontra-se a tempo demais na UTI é preciso retira-lo dessa situação embaraçosa, O partido está tomado por gatunos que o deixaram num estado avançado de putrefacção politica. O (M) está no caminho errado, e tem errado muito feio, a continuar assim, o seu fim será irreversível
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LUANDA: Eleições: O Ponto De Viragem Em Angola

ELEIÇÕES: O PONTO DE VIRAGEM EM ANGOLA


Estamos a um mês das eleições. Depois de 38 anos com José Eduardo dos Santos a ocupar o cargo de presidente-ditador de Angola, este é naturalmente um momento histórico.
As eleições são uma oportunidade para mobilizar e consciencializar os cidadãos angolanos. São um potencial ponto de viragem rumo a uma sociedade mais crítica e participativa, em que os cidadãos contribuam para construir um Estado de direito democrático.
O contexto político-militar
Enquanto a campanha decorre, vivemos num clima político-militar muito peculiar, com forças que pressionam para preservar os poderes e a corrupção no País.
Neste momento, temos um presidente que, segundo informações da família, passa a maior parte do seu tempo em Barcelona, a ver televisão. Ao que tudo indica, Dos Santos terá perdido a capacidade da fala, uma vez não se pronuncia publicamente desde finais de Abril passado.
Independentemente de todas as incapacidades que o aflijam em resultado da doença e/ou da idade, José Eduardo dos Santos mantém-se em funções. Em circunstâncias de saúde física e mental que desconhecemos (uma vez que deixou de falar em público), o presidente tem vindo a assinar decretos e a enviar propostas legislativas à Assembleia Nacional no sentido de acautelar o seu poder pós-presidencial, os interesses da sua família e do seu grupo de influência. O objectivo é simples: manter o Estado angolano refém do clã Dos Santos, Kopelipas e quejandos, bem como garantir que o próximo presidente seja uma simples marioneta ao seu dispor.
Não é de estranhar o recente distanciamento do Tribunal Constitucional em relação aos excessos presidenciais. O suicídio político de um homem em fim de carreira apenas arrasta os fanáticos e os que não conseguem sobreviver politicamente sem a sua protecção. Pela primeira vez, de forma clara e inequívoca, o Tribunal Constitucional decidiu que o presidente usurpou uma competência exclusiva da Assembleia Nacional e declarou a inconstitucionalidade do decreto presidencial sobre as ONGs.
Todavia, lembremos que o presidente do Tribunal Constitucional, Rui Ferreira, antigo assessor presidencial, tem o seu mandato expirado desde 2015. O mesmo se passa com o presidente do Tribunal de Contas, António Magalhães, cujo mandato terminou em 2008, e continua no cargo.
Temos um vice-presidente de Angola, o Manuel Vicente, que foi constituído réu em Portugal, por crimes de corrupção activa e branqueamento de capitais. Este réu é candidato a deputado do MPLA e não há qualquer esclarecimento sobre o assunto por parte do Tribunal Constitucional.
Temos um presidente da Assembleia Nacional, Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó”, entretido a gastar 78 milhões de dólares na compra de viaturas para os deputados. Nandó é um “micheiro”. A dignidade dos dirigentes angolanos resume-se aos bens de luxo à sua disposição. Há muito perderam o conceito de servir a sociedade, os cidadãos que os legitimam, se alguma vez o tiveram. Não há um único deputado, nem mesmo da oposição, que em protesto tenha vindo a público afirmar que não receberá uma viatura que custa a escandalosa quantia de mais de 300 mil dólares.
E temos João Lourenço, o homem que o regime escolheu para suceder a José Eduardo dos Santos e para manter o statu quo. As contradições no discurso de João Lourenço avolumam-se. Se por um lado afirma que vai trabalhar em “perfeita harmonia” com José Eduardo dos Santos, ao mesmo tempo propagandeia que vai combater a corrupção. É como ser um polícia com a missão de combater a máfia e, ao mesmo tempo, afilhado de estimação do “padrinho”. Neste particular, das três, uma: João Lourenço está a enganar o eleitorado; está a enganar-se a si próprio; está a enganar o presidente José Eduardo dos Santos.
Sobre o seu posicionamento, há que não perder de vista que, enquanto ministro da Defesa, o general João Lourenço nada tem feito para garantir a dignificação dos soldados angolanos, que são a maior garantia de manutenção e segurança do poder do MPLA. Os soldados ganham 25 mil kwanzas por mês e são mantidos em condições de servidão sub-humana.
Com armamento à disposição, com generais multimilionários fortemente unidos entre si, dispondo de soldados servis e ignorantes, o exército ao serviço do MPLA pode parecer forte e firme. Mas as Forças Armadas Angolanas são uma espada de Dâmocles sobre a cabeça do regime, e sofrem de uma profunda desconexão entre a liderança e a base.
João Lourenço não é um homem de mudança, de ideias inovadoras, de coragem para servir os angolanos, mas um conservador do regime, empoderado para manter o MPLA como força de opressão e de saque.
Pelo meio, temos uma oposição com chefes que andam em bicos de pés para estarem bem com Deus e com o Diabo, com o povo e com o poder. Nem sequer aproveitam as redes sociais, onde sobretudo a juventude vai demonstrando cada vez mais sentido crítico, de partilha de informação e de denúncia das malfeitorias do regime, com um sentido de humor extraordinário.
Esse humor também tem superado a falta de visão e de liderança da oposição. Com tudo a seu favor para galvanizar a sociedade, para mostrar uma saída segura do actual inferno e conduzir o povo à liberdade, a oposição perde cada oportunidade.
O académico camaronês Achille Mbembe nota, no seu trabalho sobre o pós-colonialismo em África, como vários regimes africanos adoptaram uma série de políticas sociais que dão continuidade ao imaginário colonial. Esse imaginário assenta na “possibilidade de exercer um poder ilimitado sobre cada indivíduo”. A sua análise ajuda a compreender o modo como o MPLA e o seu líder se têm excedido na subjugação do seu próprio povo, desrespeitando-o e negando-lhe os seus direitos e liberdades.
Para manter a ordem e aumentar a provisão de mercadorias, o poder colonial subjugou os valores políticos, sociais e éticos à produção. Para garantir a supremacia da produção, os principais incentivos eram a violência e a corrupção, bem como uma série de punições para todo o tipo de ofensas, destinadas a garantir que o colonizado obedecia à estrutura de poder como “um escravo ao seu senhor”.
O MPLA adaptou essa visão colonial aos seus intentos e ao seu contexto. Querendo manter a ordem e o poder, dispensou a necessidade de produção, uma vez que o petróleo requer mão-de-obra mínima e representa hoje mais de 95 por cento das receitas em divisas. Enquanto o poder colonial saqueava para alimentar o império, o poder do MPLA saqueia para alimentar os seus dirigentes e os interesses estrangeiros que contribuem para a sua manutenção no poder, para o enriquecimento ilícito e a para a protecção dos bens roubados.
Temos dirigentes desumanos, temos um povo desumanizado, temos uma pobreza desumana. Temos um governo que actua como um gatuno armado, e uma população que actua como vítima fácil.
Então, o que mudará com as eleições?
O Contexto Económico
Generais Leopoldino do Nascimento, Kopelipa, Presidente JES, e Manuel Vicente, o quarteto que controla a economia política.
A seguir às eleições, provavelmente em Dezembro, o governo deverá proceder à desvalorização do kwanza e ao aumento do preço dos combustíveis. Haverá um aumento da inflação e um encarecimento dos bens essenciais. O poder de compra do cidadão comum baixará consideravelmente.
Por essa altura, devido à escassez de divisas para a importação, começarão a faltar novamente os bens de primeira necessidade. A situação económica agravar-se-á. Porquê?
O petróleo, a nossa maior riqueza natural e o motor da economia, está nas mãos da filha de José Eduardo dos Santos.
Há dias, Isabel dos Santos anunciou resultados tão positivos em seis meses de gestão, que pouco depois veio à superfície, nas redes sociais, a escassez de combustível nas províncias, particularmente em Huíla, Bié e Huambo, onde as pessoas tiveram de pernoitar junto às bombas de combustível para receberem um racionamento de cinco litros por pessoa.
Isabel dos Santos é tão competente a dirigir a Sonangol como a engajar-se em disputas de sanzala nas redes sociais. É aqui que a chamada princesa do saque passa grande parte do seu tempo a exibir sorrisos, a mostrar que trabalha através de fotos dos seus encontros tanto com celebridades como com executivos internacionais.
A situação da Sonangol é agravada pela falta de diversificação da economia do País. Os devedores do BPC são um bom exemplo de como os fundos públicos supostamente destinados a apoiar o empresariado nacional têm sido usados simplesmente para transformar proxenetas do MPLA – como Bento Kangamba, que recebeu um crédito de mais de 300 milhões de dólares – em multimilionários, sem que nada façam pela economia. Vejamos: Monteiro Kapunga, deputado do MPLA, , recebeu perto de 700 milhões de dólares em crédito do BPC! O que fez ele com o dinheiro? Certamente nunca o pagará ao banco e ainda renovará o seu mandato de deputado do MPLA; Elias Chimuco, também deputado do MPLA, recebeu um empréstimo de 435 milhões de dólares, sem que haja indícios de que os vá restituir. No entanto, Chimuco renovará o seu mandato de deputado.
São mais de cinco biliões de dólares – apenas do BPC – nos bolsos dos homens do MPLA e ninguém está preso, nem sequer há investigação. Pelo contrário, há ameaças de sanções criminais, mas contra quem tenha vazado a informação.
João Lourenço falou em coabitação perfeita com José Eduardo dos Santos, o que significa manter-lhe os filhos – respectivamente, Isabel dos Santos e José Filomeno dos Santos – como presidentes da Sonangol e do Fundo Soberano de Angola. José Filomeno, para além de ter desbaratado os cinco biliões do Fundo Soberano com o seu amigo Jean-Claude Bastos de Morais, também faz parte do saque do BPC, de onde levou 324 milhões de dólares.
A dita coabitação também significa manter os privilégios económicos da elite. Como sabemos, esses interesses dependem do saque, da corrupção e do controlo exclusivo da economia política, estrangulando qualquer ideia de diversificação económica e, consequentemente, de distribuição equitativa dos recursos nacionais.
A distribuição equitativa é tão importante quanto a diversificação. A África do Sul deve servir-nos de lição. Vinte e três anos depois do fim do apartheid, os dirigentes do ANC têm-se revelado incapazes de resolver a extrema iniquidade na distribuição da riqueza, envolvendo-se ou sendo cúmplices no aumento da corrupção nos mais elevados níveis do poder. Esse comportamento deu origem às maiores tensões sociais registadas nas últimas décadas, que têm sido evidenciadas com protestos estudantis sobre os serviços sociais e a luta contra a corrupção, sobretudo personificada no seu presidente Jacob Zuma.
Em Angola, as crescentes reivindicações no sector da justiça, que este mês conduziram a greves históricas no Tribunal Supremo e na Procuradoria-Geral da República, são apenas uma demonstração do que será o próximo ano.
Ou o novo presidente rompe imediatamente, após a tomada de poder, com a privatização do Estado efectuada por José Eduardo dos Santos, ou então terá de enfrentar as consequências da bancarrota do regime. Não haverá dinheiro para “acalmar” a profunda insatisfação económico-social dos cidadãos.
João Lourenço, que já sabe que vai ser o próximo presidente – tal é o valor das eleições! – tem de iniciar um processo célere de investigação e recuperação do património público nas mãos da família presidencial, Kopelipas, Vicentes e outros. Só assim dará sinais inequívocos de que haverá mudanças capazes de frenar o movimento de reivindicações que se avizinham dentro do próprio regime.
É esta a prova de fogo da liderança de João Lourenço: recuperar o património público roubado aos angolanos. Não interessam os discursos para agradar ao povo e aos americanos. Como diziam os velhos romanos, facta, non verba. Factos, não palavras.
É preciso aproveitar este momento histórico. As mudanças em Angola passam por uma maior assunção da responsabilidade individual de cada angolano perante o Estado. O Estado somos todos nós. O regime é o MPLA, o governo é do MPLA, a oposição é a UNITA, CASA-CE, FNLA, PRS e outros partidos, mas o Estado é a soma integral de todos os angolanos. É a soma maior da vontade dos angolanos que poderá mudar o curso da nossa história.
O futuro de Angola não depende da eleição de João Lourenço, Samakuva ou Chivukuvuku, mas da vontade de todos os angolanos, e passa por uma maior reivindicação dos direitos de cidadania e pelo exercício pleno dos correspondentes deveres.
Todos, um mais um, têm de exercer os seus direitos nas repartições, nos tribunais, nos ministérios, nas esquadras de polícia, nas ruas, no campo e na cidade.
Basta de miséria, basta de exploração, basta de mentiras.
É tempo do grito do Ipiranga angolano: “Liberdade e Vida!”

LUANDA: Tribunal Constitucional Desautoriza Dos Santos

TRIBUNAL CONSTITUCIONAL DESAUTORIZA DOS SANTOS


Em Abril de 2015 tínhamos alertado no Maka Angola para a aberração jurídica que era o Decreto Presidencial n.º 74/15, de 24 de Março que impunha um regime putinesco (Putin) ao funcionamento em Angola das ONGs (Organizações Não Governamentais).
Esse Decreto era mais uma forma do regime controlar o pensamento e a expressão livres. Escrevíamos “O decreto presidencial angolano detém uma série de mecanismos que tornam praticamente impossível o trabalho independente e imparcial, enquanto representantes da sociedade civil, por parte das ONG”.
Muito bem andou a Ordem dos Advogados de Angola ao exercer as suas prerrogativas legais e requerer ao Tribunal Constitucional a apreciação da inconstitucionalidade dessa norma jurídica.
O primeiro ponto alegado pela Ordem junto do Tribunal Constitucional era que o Decreto extravasava o âmbito da competência do Presidente da República porque este estava a legislar em matéria de direitos fundamentais que é da exclusiva competência da Assembleia Nacional. Dito de outro modo, o Presidente estaria a tratar de matéria que não lhe dizia respeito e em que estava proibido de interferir.
A 5 de Julho de 2017, no processo n.º 550-C/2017 o Tribunal Constitucional proferiu o Acórdão n.º 447/2017 em que dá razão à Ordem dos Advogados e declara o referido Decreto Presidencial inconstitucional porque a matéria tratada nele é da competência da Assembleia Nacional e não do Presidente da República.
Este é um marco histórico, depois de anos e anos a ser deferente face ao Presidente da República, o Tribunal Constitucional assume frontalmente que este violou a Constituição e se imiscuiu em matérias para as quais não tinha competência.
Todos nós sabemos que esta é a prática corrente do PR: um desrespeito generalizado pelas formulações constitucionais e legais. Basta pensar nas adjudicações de empreitadas de grandes obras públicas aos seus filhos sem qualquer procedimento de contratação pública, que temos denunciado sistematicamente.
Agora, o Tribunal Constitucional parece com este julgamento colocar um ponto final no “imperialismo jurídico” da Presidência da República.
A argumentação do Tribunal é muito simples. De acordo com a Constituição, artigo 120.º, l) o Presidente tem poder regulamentar, quer isto dizer que pode emitir normas jurídicas, mas estas têm que ser desenvolvimentos de leis. Não pode emitir normas jurídicas que na prática tratem de novos assuntos ou mudem aquilo que está nas leis.
Ora no caso vertente, existia uma Lei, aprovada pela Assembleia Nacional, a Lei das Associações Privadas. Acontece que o Decreto Presidencial vai versar sobre essa matéria mas contém matéria diferente e nova. E isso não pode acontecer. O Presidente pode desenvolver, explicitar ou concretizar a Lei, mas não pode mudá-la ou criar ele próprio normas novas, afirma o Tribunal Constitucional. E isso, assevera está vedado ao Presidente, enumerando em detalhe os pontos do Decreto de José Eduardo dos Santos que mudam ou vão além da Lei da Assembleia Nacional.
E remata de forma incisiva “O que se questiona é a forma de fazê-lo [mudar a lei das associações privadas]. Não pode ser por via de um regulamento do Poder Executivo. Tem que ser por via de uma lei do Poder Legislativo, porque legislar em matéria de liberdades fundamentais (como é o caso da liberdade de associação), e de associações (como é o caso das ONGs) é reserva absoluta de competência legislativa da Assembleia Nacional (alíneas a,b, c e l) do artigo 164.º da CRA.
Assim, o Tribunal Constitucional não tem dúvidas em declarar a inconstitucionalidade orgânica [por ter sido feito pelo órgão errado – o Presidente da República] do Decreto Presidencial.
Do ponto de vista legal, este Acórdão é uma afirmação da separação de poderes e da necessidade de se respeitarem os “checks and balances” (freios e contra-pesos) existentes na Constituição Angolana.
Do ponto de vista político, fica-nos uma dúvida.
O Tribunal Constitucional não se tem pautado, no passado, por uma jurisprudência afirmativa da Constituição, optando geralmente, embora com excepções, por uma atitude deferente face ao poder político.
Manifestamente, poderá ser inédito este “bater o pé” directamente ao Presidente desta forma. Não temos memória de tal ter acontecido, embora só uma pesquisa aos vários Acórdãos do Tribunal Constitucional possa confirmar ou não esta asserção.
O que explicará esta assertividade do Tribunal Constitucional?
Um reflexo da opinião pública generalizada de que este Presidente e os seus desmandos chegaram ao fim e que é preciso “pôr ordem na casa”?
Ou estamos perante um adicional condicionamento ao novo Presidente a ser eleito a 23 de Agosto, avisando-o que doravante vai ser vigiado intensivamente pelo Tribunal, não podendo exercer de facto, a mesma presidência “imperial” que José Eduardo dos Santos exerceu?
Não acreditamos que esta decisão seja inocente do ponto de vista político.
É um reflexo dos ventos de mudança que sopram em Angola.

LUANDA: Sindika Dokolo Condenado A 12 Meses De Prisão Em Kinshasa

SINDIKA DOKOLO CONDENADO A 12 MESES DE PRISÃO EM KINSHASA


Sindika Dokolo e o seu irmão Luzolo acabam de ser condenados a 12 meses de prisão efectiva e ao pagamento de indemnizações no valor USD $15.000 no caso referente à sucessão de Kusuamina, que foi julgado no Tribunal de Paz de Kinshasa / Assossa em 4 de Julho de 2017 Os irmãos Dokolo foram condenados por falsificação de documentos e uso de documentos falsificados para lesar a herança de Kusuamina, privando os seus herdeiros de desfrutarem das suas propriedades através da sua empresa, a Sokidet.
Após a morte do pai, Yvonne Kusuamina, gerente legal da Sokidet Sarl, tinha tomado medidas legais para recuperar os seus bens, então saqueados por desconhecidos. As propriedades originais de Kusuamina englobavam mais de seis casas comerciais e terrenos espalhados por toda a cidade de Kinshasa. Hoje, um desses terrenos, localizado na 12 ème Rue Industrielle em Limete, está dividido em mais de 30 parcelas, onde se construíram moradias opulentas.
Os inquéritos efectuados a pedido dos herdeiros Kusuamina conduziram a Sindika Dokolo e seu irmão Luzolo Dokolo. Estes afirmavam que possuíam um título de propriedade obtido numa transacção feita com a Sokidet, da qual, no entanto, não há memória.
Um relatório de investigação judicial de 14 de Março de 2014 informa que, de facto, os irmãos Dokolo tinham registado os certificados dos lotes em disputa nos seus respectivos nomes, embora na ausência total de qualquer processo formal e legal que os tornasse proprietários do imóvel.
Para o conseguirem, começaram por anunciar a suposta perda dos títulos de propriedade do imóvel, conseguindo assim obter uma segunda via em nome da Sokidet Sarl.
Desta sociedade foram feitas transferências dos títulos de propriedade para os irmãos Dokolo, em virtude da venda que teriam concluído com Sokidet, mas da qual que nem a empresa, nem as autoridades competentes do Estado possuem qualquer vestígio.
O caso instaurado pelos herdeiros Kusuamina pôs a descoberto uma vasta fraude, um caso de burla típico dos que aparecem nos tribunais de Kinshasa.
Entretanto, Sindika já reagiu, afirmando que “Kabila fez com que fosse condenado a um ano de prisão”. Acusa assim o presidente do Congo e aliado (ainda será?) de JES de ser responsável pela sentença condenatória.
Provavelmente, Sindika pensa que os tribunais congoleses são iguais aos angolanos, onde as sentenças são decididas pelo presidente da República. Contudo, a história contada no tribunal do Congo tem bastante lógica e coerência, e não parece daqueles absurdos que surgem nos tribunais angolanos…