sexta-feira, 11 de abril de 2014

SÃO PAULO: Vaginas criadas em laboratório são implantadas com sucesso

Vaginas criadas em laboratório são implantadas com sucesso

Para a criação dos órgãos, as próprias células das pacientes foram utilizadas
Fonte: MSN/Informação
Divulgação: Planalto De malanje Rio Capôpa
12.04.2014
Vaginas criadas em laboratório são implantadas com sucesso
"Imagem do molde da vagina"
Cientistas realizaram as primeiras cirurgias de implante de vagina criadas em laboratório. Os órgãos foram implantados com sucesso em quatro adolescentes que nasceram sem o canal vaginal. A pesquisa foi divulgada na quinta-feira, 10, na Lancet, uma publicação especializada em medicina.
"O estudo é mais um exemplo de como estratégias medicinais regenerativas podem ser aplicadas em uma variedade de tecidos e órgãos", afirmou Anthony Atala, diretor do Centro Médico Wake Forest Baptist, um instituto de medicina regenerativa dos Estados Unidos. Para a criação dos órgãos, as próprias células das meninas foram utilizadas.
Doença. Na época da cirurgia, entre junho de 2005 e outubro de 2008, as garotas que receberam os órgãos tinham entre 13 e 18 anos. Todas nasceram com a síndrome de Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser, uma doença rara em que a vagina e o útero estão no corpo ou não se desenvolvem.
Segundo os pesquisadores do estudo, o tratamento também pode ser aplicado a pacientes com câncer vaginal ou outras lesões na vagina.

LUANDA: Temer instabilidade em Angola é assumir falta de democrácia

Temer instabilidade em Angola é assumir falta de democracia
Fonte: LUSA
Divulgação: Planalto De Malanje Rio Capôpa
11 Abril 2014
      
 
O presidente do Bloco Democrático, partido angolano, afirmou hoje que temer a instabilidade no pós-José Eduardo dos Santos é assumir que Angola tem sido dirigida como "uma quitanda", porque "só há instabilidade quando os regimes não são democráticos".

"Só há o temor da instabilidade quando os países foram governados em regimes não democráticos. Quando alguém disser que teme a instabilidade no pós-Eduardo dos Santos está a assumir que o homem dirigiu o país como se fosse uma quitanda", disse Justino Pinto de Andrade, em entrevista à agência Lusa em Lisboa.

Questionado sobre as consequências de uma eventual saída do Presidente de Angola, o líder do Bloco Democrático (BD), partido da oposição, afirmou que a sua preocupação não é a saída de José Eduardo dos Santos, mas sim a sua permanência no poder.

"Já está lá há quase 40 anos. (...) Governou em partido único, num projeto de sociedade que foi rejeitado pela história, continua a governar agora fazendo uma transformação cosmética, mas é a mesma pessoa, com a mesma cultura e a mesma prática política do clientelismo dentro do partido e do país", disse.

"Já vivemos muitos anos sob um Presidente que foi ditador e agora tem uma máscara de democrata", acrescentou.

O líder do BD afirmou também que a discussão em torno da sucessão de José Eduardo dos Santos, após o Presidente angolano admitir, em entrevista a um canal brasileiro, que está há demasiado tempo no poder, prova a "ausência de cultura democrática" do chefe de Estado e revela que o seu partido tem "uma noção um bocadito ténue do que é democracia".

"O primeiro sinal é de falta de cultura democrática quando ele diz que vai propor o seu sucessor. Não é assim, não é uma monarquia partidária e muito menos uma monarquia no país", disse Justino Pinto de Andrade.

Sobre a realização de eleições autárquicas em Angola, que tem vindo a ser adiada pelas autoridades angolanas, Pinto de Andrade afirmou que é uma exigência de todos os partidos da oposição porque "um dos grandes males dos países que não são democráticos e que pretendem eventualmente ser democráticos é a forte concentração de poder".

"Nós em Angola temos uma forte concentração de poder num partido e, dentro desse partido, numa pessoa. O poder é concentrado no MPLA e super-concentrado no presidente do MPLA, que se transforma em Presidente da República", afirmou.

No entanto, o economista e professor na Universidade Católica de Angola afirmou que não se pode "fazer autarquias apenas por fazer".

"Temos de fazer eleições autárquicas com todas as situações devidamente estruturadas e pensadas para que as eleições e o poder autárquico não redundem num mal".

Isto porque, acusou, "o partido no poder tem alguma discricionariedade nos seus atos. Embora haja legislação, não há legislação autárquica completa, ainda há muito défice legislativo no domínio das autarquias".

Além disso, alertou, "haverá seguramente a tendência parta transformar as eleições autárquicas numa passeata do MPLA".

"Por aquilo que nós conhecemos do nosso adversário, não temos dúvidas de que ele fará tudo para transformar as eleições autárquicas numa passeata. É por isso também que há este adiamento, porque estão seguramente a procurar fazer mais uma vez a fraude prévia", acusou.

Inicialmente previstas para 2014, as eleições autárquicas angolanas não deverão realizar-se antes de 2015, segundo o ministro da Administração do Território, Bornito de Sousa. Embora o Governo insista que está em curso o processo autárquico, a oposição acusa o MPLA de falta de vontade política para realizar aquelas eleições.

Criado em 2010, o BD é herdeiro da extinta Frente para a Democracia (FpD) e pugna pela democracia e pela justiça social, sendo o seu objetivo maior "fazer de Angola uma potência económica de dimensão atlântica para enriquecer os angolanos", instaurando um regime de liberdade, num Estado Social de Direito, segundo



LUANDA: Unita avisa sobre instabilidade no país

Unita avisa sobre instabilidade no país

Galo Negro preocupado com "indiferença" do Presidente face ao assassinato de militantes seus
O Secretariado Executivo do Comité Permanente da Unita  advertiu ontem, 9, em Luanda que  a indiferença do Presidente da República face aos recentes assassinatos  dos seus militantes no Kwanza Sul “pode conduzir o país para uma situação de perigosa instabilidade”.

Em comunicado de imprensa, a direcção do principal partido da oposição angolana,  alega que a atitude de José Eduardo dos Santos “traduz o  encorajamento às práticas de intolerância política, ao assassinato de angolanos por causa das suas opções político-partidárias e  à impunidade”.

“O Secretariado Executivo do Comité Permanente da Unita observou que a intensificação de actos de intolerância é sustentada pelo ressurgimento das Brigadas Comunitárias de Vigilância – uma reedição da Organização de Defesa Popular (ODP), posteriormente designada 'Brigadas Populares de Vigilância' - advogadas pelo Presidente da República, no seu discurso proferido durante a última reunião do Comité Central do seu Partido”, refere o comunicado lido pelo seu porta-voz, Alcides Sakala.

A unita manifestou-se também preocupada com o que descreve por “tendência clara de regresso ao monolitismo”,  supostamente manifestada através de posicionamentos de destacados dirigentes do partido no poder, “com acentuadas práticas de exclusão sócio-política dos angolanos”, tendo apelado aos intelectuais e a figuras religiosas do país a denunciarem tais práticas.

A Unita diz-se igualmente preocupada, com a situação social e económica, que no seu entender, “continua a degradar-se, com o agravamento da miséria, do desemprego galopante, da quase inexistência de uma eficiente oferta de serviços de saúde e de educação apesar de discursos oficiais em contrário”.

O Secretariado Executivo do Comité Permanente da Unita afirma lamentar o facto de, alegadamente, alguns países estarem a privilegiar o que chama de  “comportamento mercantilista para com Angola”.

PARIS: Análises apontam que papiro que menciona mulher de Jesus não é falso

Análises apontam que papiro que menciona mulher de Jesus não é falso

Detalhe do papiro que menciona a existência da mulher de Jesus
Um pedaço de papiro antigo que contém uma menção à mulher de Jesus não é uma falsificação, de acordo com uma análise científica do controverso texto, declararam nesta quinta-feira pesquisadores americanos.
Acredita-se que o fragmento seja proveniente do Egito e contém escritos na língua copta, que afirmam: "Jesus disse-lhes: 'Minha esposa...'". Outra parte diz ainda: "Ela poderá ser minha discípula".
A descoberta do papiro, em 2012, provocou um rebuliço. Pelo fato de a tradição cristã afirmar que Jesus não era casado, o documento atiçou os debates sobre o celibato e o papel das mulheres na Igreja.
O jornal do Vaticano declarou que o papiro era uma farsa, juntamente com outros estudiosos, que duvidaram de sua autenticidade baseados em sua gramática pobre, texto borrado e origem incerta.
Nunca antes um evangelho se referiu a Jesus como casado, ou tendo mulheres como discípulos.
Mas uma nova análise científica do papiro e da tinta, bem como da escrita e da gramática, mostrou que o documento é antigo.
"Nenhuma evidência de fabricação moderna ('falsificação') foi encontrada", declarou a Harvard Divinity School em um comunicado.
O fragmento provavelmente remonta a uma data entre os séculos VI e IX, mas poderia ter sido escrito até mesmo no segundo século da Era Comum, segundo os resultados do estudo publicados na Harvard Theological Review.
A datação por radiocarbono do papiro e uma análise da tinta utilizando espectroscopia Micro-Raman foram realizadas por especialistas da Universidade de Columbia, da Universidade de Harvard e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).
"A equipe concluiu que a composição química do papiro e os padrões de oxidação são consistentes com papiros antigos, ao comparar o fragmento do Evangelho da Esposa de Jesus (Gospel of Jesus' Wife - GJW, em inglês) com um fragmento do Evangelho de João", declarou o estudo.
"O teste atual suporta, assim, a conclusão de que o papiro e a tinta do GJW são antigos", esclareceu.
Origem desconhecida
A origem do papiro é desconhecida. Karen King, historiadora da Harvard Divinity School, o recebeu de um colecionador - que pediu para permanecer anônimo - em 2012.
King, uma historiadora do cristianismo primitivo, declarou que a ciência mostrar que o papiro é antigo não prova que Jesus era casado.
"A questão principal do fragmento é afirmar que as mulheres que são mães e esposas podem ser discípulas de Jesus - um tema que foi muito debatido no início do cristianismo, num momento em que a virgindade celibatária se tornou cada vez mais valorizada", explicou King em um comunicado.
"Este fragmento do evangelho fornece uma razão para reconsiderar o que pensávamos que sabíamos, ao se perguntar o papel que as declarações sobre o estado civil de Jesus desempenharam historicamente nas controvérsias cristãs sobre casamento, celibato e família".
O fragmento mede quatro por oito centímetros.
King declarou que a data do documento - escrito séculos depois da morte de Jesus - significa que o autor não conhecia Jesus pessoalmente.
Sua aparência bruta e os erros gramaticais sugerem que o escritor tinha apenas uma educação elementar, acrescentou.
Leo Depuydt, professor de Egiptologia da Universidade Brown, escreveu um artigo, também publicado na Harvard Theological Review, descrevendo por que acredita que o documento é falso.
"O fragmento do papiro parece perfeito para um esquete do Monty Python" (famoso grupo de comediantes britânicos), declarou.
Ele apontou erros gramaticais e o fato de as palavras "minha esposa" parecerem ter sido enfatizadas em negrito, o que não é utilizado em outros textos coptas antigos.
"Como um estudante de copta convencido de que o fragmento é uma criação moderna, sou incapaz de fugir à impressão de que existe algo quase engraçado no uso das letras em negrito", escreveu.
King publicou uma refutação às críticas de Depuydt, dizendo que o fato de a tinta estar borrada era comum e que as letras abaixo de "minha esposa" eram ainda mais escuras.

LISBOA: Os grandes impérios financeiros de Angola foram construídos a custa do dinheiro dos contribuintes que se encontravam ao cuidado do estado

Os grandes impérios de Angola foram construídos à custa do Estado - Justino Pinto de Andrade

Fonte: Expresso.Sapo.pt
Divulgação: Planalto De malanje Rio capôpa
Os grandes impérios de Angola foram construídos à custa do Estado - Justino Pinto de Andrade
É legítimo desconfiar da origem das grandes fortunas angolanas, afirma, em entrevista ao Expresso, Justino Pinto de Andrade, professor universitário, comentador político e presidente do Bloco Democrático, um pequeno partido sem expressão parlamentar em Angola.
Aos 66 anos, Justino Pinto de Andrade, diretor da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica de Angola, comentador político e presidente do Bloco Democrático, um partido sem expressão parlamentar, assume-se do outro lado da barricada na luta pela democratização de Angola.
Não é o seu primeiro combate. Sobrinho de Mário Pinto de Andrade, presidente e fundador do MPLA-Movimento Popular de Libertação de Angola, participou ativamente ao lado do seu tio e de seu irmão Vicente na luta pela independência, acabando por ser preso em 1969 e enviado para o Tarrafal, Cabo Verde, de onde só viria a sair à data de libertação do campo, em 1 de maio de 1974. Estudante de Medicina por esses dias, a detenção fê-lo mudar de rumo.
"Os anos que passei detido em Cabo Verde permitiram-me perceber que o meu papel não era dentro de um hospital a fazer banco, operações e a dar consultas. Percebi que tinha muito mais valor e que me sentiria mais realizado numa intervenção mais abrangente. O quadro que se apresentava, e, sobretudo, o distanciamento com que eu passei a ver a sociedade a partir de Cabo Verde apelava a uma formação que me permitisse ter uma maior intervenção pública sem estar sujeito aos laços pessoais que a Medicina cria".
Depois da libertação forma-se em Economia, em Luanda, e haveria de voltar aos bancos da universidade da capital angolana para frequentar durante quatro anos o curso de Direito, "só mesmo por curiosidade. Queria saber aquilo que os juristas sabiam", contou ao Expresso.
Depois da independência, declarada em 11 de novembro de 1975, voltaria a ser detido, acabando por romper definitivamente com o MPLA.
"Na minha família temos uma cultura de liberdade muito grande e procuramos não confundir as relações familiares com a política. Fomos educados a respeitarmo-nos uns aos outros", diz, para logo acrescentar: "O meu irmão Vicente esteve sempre comigo em todos os combates políticos desde a independência. E agora bati com a porta, e com estrondo, e o meu irmão acha que deve continuar lá. Prefiro não fazer de conta. Prefiro mesmo estar deste lado da barricada. Acho muito mais saudável o indivíduo quando rompe, romper mesmo. E eu rompi."
De passagem por Portugal para dar uma conferência na Universidade do Porto, analisa em entrevista ao Expresso o estado da democracia angolana e da liberdade de expressão bem como as relações económicas e políticas entre os dois países, seis meses passados sobre a última crise, em outubro do ano passado.
Portugal está a ser "desleal" com Angola quando investiga judicialmente altas figuras do Estado angolano, tal como escreveu em novembro do ano passado o "Jornal de Angola"?
Não. As investigações têm a ver com a Justiça, não são questões que tenham a ver com os partidos políticos. A Justiça é feita para os cidadãos comuns e também para os políticos. Se os políticos são suspeitos de ter cometido alguma infração, penso que a Justiça não se deve intimidar porque caso contrário deixa de ser Justiça para todos e passa a ser só para alguns. Neste caso concreto, importa ver se há razões bastantes que justifiquem essa investigação e isso compete às próprias autoridades judiciais e não aos políticos. Se há uma interferência política que os coloque acima da Justiça é o descrédito para própria Justiça e para o país. Quando a Justiça portuguesa investiga alguém, em princípio é porque há suspeitas do cometimento de algum ilícito, mas por vezes, alguns políticos supõe de que a Justiça é apenas para os cidadãos e não para eles próprios. Daí que, quando são objeto de alguma investigação reagem ignorando que são os próprios políticos que elaboram as leis, supostamente com caráter universal e abstrato.
Quem é que mais perdeu com o adensar das relações entre os dois países?
Penso que não houve até agora desenvolvimentos negativos para ambos os lados. As relações entre Angola e Portugal continuam. Os portugueses que estão em Angola continuam a trabalhar, até porque são necessários. Mas houve, de facto, o temor de represálias contra eventuais interesses portugueses, só que é preciso não esquecer que, se há portugueses em Angola, também há angolanos em Portugal. Hoje, a situação está um pouco invertida e há maior necessidade por parte dos portugueses de emigrarem para Angola para trabalhar, mas há alguns anos era o contrário. Criou-se aquela imagem de que estávamos em risco de desencadear um conflito social, mas não me parece que tenha acontecido.
Em entrevista à SIC, em junho do ano passado, o Presidente José Eduardo dos Santos disse que as relações com Portugal não estavam isentas de "problemas", mas que decorriam num "quadro de amizade e grande compreensão" apesar de haver "reminiscências do passado bastante localizadas". A quem é que, em sua opinião, se refere o Presidente do seu país?
Não sei. Talvez a ele próprio. Esqueceu-se que as relações entre Angola e Portugal envolvem pessoas. Tanto quanto sei, há também personalidades angolanas que têm aplicações financeiras em Portugal. Na altura em que essas personalidades fazem as suas aplicações financeiras em Portugal não estão a estabelecer uma relação entre colonizado e colonizador, mas sim uma relação entre quem tem poupanças e necessidade de aplicá-las e quem tem necessidade de absorver essas poupanças. Nessa altura, as pessoas esquecem-se da relação colonizado-colonizador, mas quando se gera algum conflito que ponha em causa a imagem dos decisores então vão ao fundo do baú buscar uma velha relação que existiu, mas que temos de fazer todo o possível por relativizá-la. Não nos vamos manter prisioneiros para todo o sempre de uma relação que já pertence ao passado. Hoje, os portugueses quando vão para Angola não vão como colonizadores. Penso também que os interesses angolanos quando se instalam aqui em Portugal não o fazem como interesses colonizados, mas como interesses de cidadãos que têm recursos que procuram rentabilizá-los fora do país.
O que poderá acontecer na relação entre Portugal e Angola se o Ministério Público português decidisse acusar os tais altos dirigentes angolanos?
Não sei de que são acusadas essas personalidades, penso que têm a  ver com eventuais ilícitos económicos. Mas se alguém cometeu algum ilícito deve ser responsabilizado por isso e não estar a aprisionar um país inteiro a eventuais ilícitos praticados por algumas personalidades angolanas. Se fosse um cidadão comum angolano a cometer um ilícito desses, naturalmente que as autoridades portugueses teriam toda a liberdade para investigar e acusar, mas tratando-se de cidadãos com responsabilidades políticas elevadas não parece que seja justo que sejam isentados das suas próprias responsabilidades. Os nossos políticos é que têm de cuidar de proteger a sua imagem não cometendo ilícitos fora do país, porque se o fazer têm de se sujeitar à justiça desses países.
A "mão invisível" do regime
No seu blogue denunciou recentemente a estratégia seguida por Luanda para impedir uma manifestação de vendedores ambulantes e o desaparecimento de dois ativistas. O aparelho de Estado angolano é politicamente intolerante e não respeita a diferença?
É uma herança da história de Angola. Quem manda hoje em Angola ou é fisicamente alguém que esteve vinculado àquele poder totalitário do passado, que não tinha nenhuma máscara de pluralidade, mas atualmente tem uma cobertura externa de pluralidade mas culturalmente são a mesma coisa. Se olharmos para as práticas dos principais atores do poder atual vê-mos que não têm muita diferença em relação ao que foi o poder de partido único. O que prevalece no subconsciente dessas pessoas é a cultura da intolerância. Estas pessoas não são diferentes, procuram apenas adaptar-se o mínimo possível às novas circunstância. Fizeram uma aparente abertura, mas do ponto de vista da sua formação política e cultural são precisamente a mesma coisa. De tal maneira que reagem como reagiam no passado.
Em julho de 2012 - a um mês das eleições gerais de agosto - a rádio Ecclesia, emissora católica de Angola, onde tinha uma crónica semanal e fazia análise de imprensa, rescindiu o contrato que tinha com o senhor há mais de dez anos por alegada falta de imparcialidade. É presidente do Bloco Democrático mas o seu partido até estava legalmente impedido de ir a votos. Na altura disse que já estava à espera e que foi afastado por uma "mão invisível". A quem pertence essa "mão invisível"?
Acho que ainda continua invisível [sorri com ironia] porque ninguém assumiu a responsabilidade desse ato. É evidente que essa mão invisível tem de ter uma forte relação com o poder. Infelizmente, ainda ninguém teve a coragem de assumir a responsabilidade daquele ato que foi um ato reprovado por todos aqueles que sabiam da forma imparcial como fazia os meus comentários. Além disso, este argumento da pertença a um partido político não faz sentido. Aqui em Portugal, os responsáveis políticos e económicos fazem análise política, comentários, escrevem artigos, são grandes atores mediáticos e isso faz parte da vida democrática. Infelizmente, em Angola, a ideia que prevalece não é essa. Os atores que têm de estar no palco são os atores do regime. Esses têm todo o espaço. Se houver um qualquer ato que não valha coisa alguma são capazes de perder na televisão vinte minutos com imagens de um ator terciário do regime e temos de engolir a figura durante esse tempo e no final perguntarmo-nos o que estivemos a ver, para concluir que não era nada. Infelizmente, os responsáveis da rádio sujeitaram-se àquele ditame e eu democraticamente percebi que tinha mesmo de ser assim. Aliás, eu já estava à espera tal como disse na altura. Estava apenas a fazer o jogo, a ver quando é que ia acontecer e com que descaramentos iriam apresentar os seus argumentos.
A Igreja Católica está ao lado do regime?
Não está muito longe. Notam-se diversas tendências. A igreja também é constituída por homens. Acredito que no seio da própria igreja há quem concorde com esses atos e quem esteja em desacordo.
"Fazer oposição tem custos elevadíssimos"
Há algum tempo afirmou que a democracia tem os chamados custos da negociação, mas que as ditaduras ainda têm custos mais elevados porque "até um louco pode governar". Em Angola evitam-se os custos da democracia?
As pessoas só podem perceber os custos da democracia quando querem, efetivamente, fazer democracia. Em democracia há momentos em que se fazem algumas cedências em troca de alguns ganhos eventuais. Não me parece que seja essa a posição que, de uma forma geral,  prevalece em Angola. O partido do Governo tem a propensão de ganhar tudo e deixar apenas um espaço imaginário para as outras forças. É por isso, quando se trata de Angola, não faz sentido falar em democracia mas em projeto democrático.
Quando é que esse projeto estará concluído?
Vai ser necessário muito trabalho e muita coragem de todos os atores, não só aqueles que estão no poder, mas também aqueles que estão na oposição. Se todos fizermos os nosso trabalho poderemos reduzir o espaço, mas se não nos empenharmos devidamente claro que esse espaço será muito dilatado e com muitos sacrifícios também.
Até onde é que podem ir esses sacrifícios?
Há sacrifícios que, por vezes, até custam a saúde e a vida. Temos casos em que as pessoas perderam a vida por causa da sua vontade de viver em liberdade. Infelizmente ainda acontece isto. Outros perdem a saúde, são violentados, são agredidos. Enquanto não houver uma vitória clara da democracia teremos sempre este tipo de custos.
O senhor que foi preso pelos regimes totalitários de Portugal, antes do 25 de Abril, e de Angola, depois da Independência, até onde é que está disponível a ir para ver esse projeto democrático concluído?
Enquanto tiver força vou dar o meu contributo. Não faço isto para ter benefícios pessoais, mas para cumprir os meus desígnios, que não passaram apenas pela Independência de Angola, caso contrário já tinha parado há muito tempo. O meu desígnio manter-se-á até que eu tenha a perceção de uma sociedade mais aberta, mais livre, mais democrática, mas também tenho a certeza absoluta de que tudo isso não será feito numa única geração e com um conjunto restrito de pessoas.
Disse recentemente que os angolanos "cresceram numa cultura em que o silêncio é a alma do negócio" e que é "melhor silenciar para não ser punido". Quem fala em Angola leva?
Se disser aquilo que não interessa tem grande probabilidade de levar e leva de várias maneiras. Não é apenas a agressão física. Os angolanos [que falam] são impedidos de ter acesso a bens e benefícios que de outra forma teriam. Isso é inquestionável. Não vale a pena pensarmos que fazer oposição não tem custos. Tem custos elevadíssimos. Por isso mesmo, muitas pessoas passam uma imagem de militância no regime para poder ficar salvaguardado de eventuais danos, pelo facto de não concordar com o Governo.
Angola está a precisar de um 25 de Abril?
O 25 de Abril foi um golpe militar que desencadeou numa revolução. No contexto português justificava-se, até porque os militares que protagonizaram esse levantamento tinham um programa democrático para Portugal. Felizmente, esse programa democrático realizou-se. Nada garante que um levantamento militar em Angola aponte para o desenvolvimento democrático. Além disso, a situação de pobreza e de miséria das populações é de tal maneira grande que uma convulsão de caráter militar pode conduzir-nos a uma perda de controlo sobre a sociedade e degenerar em morticínios. Não nos podemos esquecer que vivemos estes anos todos em guerra. Há muita gente militarizada e traumas que podem desencadear vinganças. Os golpes militares não são uma solução porque só podem redundar em benefícios quando os atores têm a perceção dos resultados dos seus atos e, sobretudo, quando têm projetos para acelerar as transformações sociais. Um golpe militar para substituir o atual ditador por um outro ditador, penso que é perigoso. Este tipo de golpes desgasta sempre as elites. As grandes vítimas dos golpes militares, por vezes, nem é o povo, são as elites, porque são elas os alvos mais fáceis.
"Associação mafiosa"
Em Portugal há um sentimento de desconfiança em relação à origem do dinheiro angolano. É legítimo esse sentimento de desconfiança em relação ao investimento angolano em Portugal?
Penso que sim. Há toda a legitimidade em pensar-se que esse dinheiro não foi ganho com o suor do rosto. Que nós saibamos, essas pessoas não eram ricas e muito menos empreendedoras. São fortunas que foram feitas a partir do tráfico de influências ou da própria subtração de recursos públicos. Quando a origem do dinheiro é essa é evidente que quem observa tem toda a legitimidade para desconfiar. Não me parece que a história do nosso país tenha sido capaz de gerar tamanhas riquezas pessoais e familiares como aquelas que hoje se veem. De um modo geral são fortunas resultantes do tráfico de influências e da subtração de recursos públicos. Não tenhamos dúvidas sobre isso. É evidente que poderá hoje haver um ou outro indivíduo que tem recursos fruto de algum empreendedorismo, mas os grandes impérios económico-financeiros de Angola foram construídos à custa do poder de Estado.
Segundo a Agência Nacional de Investimento Privado de Angola em 2013, Portugal  investiu mais de 78,7 milhões de dólares em Angola, metade dos quais na indústria transformadora (47%), com especial destaque para o investimento da Sumol+Compal na província de Kwuanza Norte (29 milhões de dólares). O tipo de investimento português em Angola é aquele que mais interessa aos angolanos?
O investidor, quando investe, em princípio tem o cuidado de perceber se o seu investimento será rentabilizado. Se aquela é a melhor forma de aplicar a sua poupança. Esta é a função do investidor, que não tem de pensar no bem-estar do consumidor. Quem tem a responsabilidade de pensar no bem-estar do recetor do investimento é o Governo angolano. Ele é que deve separar o trigo do joio. Ver se um dado investimento é, ou não, prioritário, se está bem localizado.
Em 2013, a China foi o quarto maior investidor estrangeiro em Angola, com 76,4 milhões de dólares. O que é que, em seu entender, procuram os chineses em Angola?
Os chineses procuram o mesmo que qualquer investidor: rentabilizar os seus investimentos. Uma coisa é o investimento chinês, outra é o financiamento chinês para investimentos em Angola. Por vezes, confunde-se o financiamento com o investimento. Penso que quando o Estado angolano vai à China buscar financiamentos é para a realização de investimentos em Angola que podem ser feitos ou por empresas chinesas ou por empresas locais ou até por parcerias entre empresários locais e empresários chineses. As pessoas de uma forma geral confundem o financiamento com o investimento. O valor que referiu, até pode ser que seja mesmo investimento chinês. Hoje olhamos para as empresas chinesas em Angola e pensamos que são empresas públicas chinesas que vieram realizar obras em Angola a pedido das entidades angolanas. Mas já me apercebi que muitos daqueles investimentos são mesmo privados chineses. Não me repugna nada que o investimento seja chinês, americano ou  britânico. O investimento que nos interessa é o bom investimento. Aquele que é gerador de rendimento e de riqueza para Angola mas não aquele investimento que, aparentemente, vai gerar produtos e serviços para Angola mas que na realidade se vai completar como uma forma de associação mafiosa com interesses locais. Parece-me que em alguns casos haverá esse tipo de associação mafiosa entre interesses chineses ou outros e interesses angolanos. De tal maneira que, os chamados "investidores armados" dão cobertura aos interesses estrangeiros protegendo-os graças ao poder de Estado que também possuem. A maior partes destes ditos empresários angolanos são também agentes públicos, são agentes políticos, são responsáveis do Estado.
Em outubro do ano passado, na sequência da crise diplomática entre Lisboa e Luanda o "Jornal de Angola" publicou uma série de editoriais. Num deles, a 16 de outubro, afirma-se que Portugal é um "país em crise profunda e, por isso, muito sensível às relações com o mundo exterior, de onde vêm as ajudas". Como é que a crise portuguesa é vista de Luanda?
Esse tipo de leitura é de colonizado frustrado, vingativo que só pensa: Agora chegou a nossa vez. Não é disso que necessitamos. Temos de olha para a antiga potência colonial apenas como antiga potência colonial. E como um parceiro atual. Mais nada. É evidente que a relação do passado deixou os seus vestígios, a história não se apaga de um momento para o outro, mas certo tipo de editoriais só refletem a frustração que está na cabeça de algumas pessoas que pensam que são independentes mas que não são porque mantêm o cordão umbilical ao passado colonial. Isso é um reflexo do colonialismo mental que existe na cabeça de quem escreve esse tipo de editoriais. Hoje, do meu ponto de vista, Portugal é tão parceiro como os Estados Unidos, o Brasil, a Inglaterra ou a França. As pessoas estão-se a esquecer que a Inglaterra e a França também foram potências coloniais de outros colonizados. Mas relacionamo-nos com eles como se nunca tivesse havido colonialismo e quando se trata da relação com Portugal vamos ao fundo do baú buscar o velho chavão colonial.

LUANDA: Pax Angola - Uma estranha celebração

Pax Angolana - Uma estranha celebração

Fonte: A Capital
Divulgação: Planalto De malanje Rio Capôpa
11.04.2014                                                                                                                               
Pax Angolana - Uma estranha celebração
Doze anos depois das armas se terem calado e  com duas eleições em cima, já começa a ficar difícil falar apenas em “ganhos da paz”, como se a intenção fosse lembrar ao cidadão a cada minuto que passa, qualquer coisa de extraordinário para relativizar dificuldades ou ampliar realizações.
O que temos hoje de falar é do desempenho do Governo ao nível da execução do OGE, numa altura em a guerra efectivamente já deixou de ser argumento, como no passado acontecia, para justificar incumprimentos e outras incompetências.
Mais do que falar em dividendos da paz, às vezes fica-se com a impressão que o que se pretende é retirar dividendos políticos da paz, com a agravante de se apresentar o calar das armas, como sendo apenas a conquista de uma das forças (e do seu líder) que esteve envolvida na guerra fratricida.
Tem-se perdido assim a oportunidade de celebrar a paz na perspectiva da pacificação dos espíritos que tarda em afirmar-se definitivamente, pois a estratégia que prevalece é efectivamente a da retirada de dividendos políticos, o que não tem contribuído para termos uma Angola melhor, mais confiante no futuro e sem as angustias que ainda nos assaltam como se estivéssemos sempre a espera de um cataclismo qualquer.
A reconciliação nacional, a tolerância política e a coabitação pacífica na diferença deviam ser hoje três “ganhos da paz” já perfeitamente consolidados, porque apenas dependem de nós mesmos, sem necessidade de parceiros estrangeiros.
A realidade não nos diz isso, sendo hoje Angola um país onde ainda se questionam valores básicos ao nível dos direitos humanos.
É evidente que o fim do devastador conflito militar continua a ser um decisivo marco de viragem, uma referência política da maior importância na história de Angola, que deve ser anualmente destacada e que merecidamente tem hoje a dignidade de feriado nacional.
Falar dos “ganhos da paz” anualmente é um exercício que faria maior sentido e teria um outro impacto, mais estruturante na própria reconstrução do tecido social se fosse possível reunir todos os angolanos à volta da mesma ideia/conceito.
Por razões óbvias, este ainda não é o caso, começando pelos dois signatários da paz definitiva que não se conseguem entender neste mínimo denominador comum, doze anos depois dos seus generais terem trocado o forte abraço no Palácio dos  Congressos.
Penso que com a realização das primeiras eleições de 2008, mais do que falar em “ganhos da paz”, entramos na fase da normalização constitucional e da responsabilização do governo pelas promessas feitas.
Também penso que num país tão vasto como Angola e tão destruído que foi ao nível de todas das suas infraestruturas, a paz por si só não faria milagres, se não houvessem recursos financeiros disponíveis para dar inicio a todas as obras em curso e já concluídas.
Como é evidente sem ovos não se fazem omeletes.
Com todas as infelicidades que já nos açoitaram, Angola teve grande a sorte de ter sido bafejada por uma “comoditie” chamada petróleo, graças a qual os recursos financeiros têm estado literalmente a chover e a resolver parte dos problemas causadas pela guerra.
De outra forma, sem a exploração intensiva deste generoso recurso que a todos os angolanos pertence, estaríamos hoje, certamente, aqui a fazer um outro balanço, bem menos volumoso, do ponto de vista das obras públicas já erguidas, mas não só.Angola12anosPazCapital
Como sempre tenho dito não é possível fazer balanços sérios sem números globais.
É o que nos falta saber para depois comparar, se com tais recursos já injectados na economia se podia fazer mais ou menos.
Comparar também com outras realidades fora das nossas fronteiras.
Pelas minhas estimativas não tenho qualquer dúvida em concluir que com os recursos já aplicados hoje teríamos outros ganhos muito mais expressivos do ponto de vista social do que aqueles que nos são apresentados ou que somos capazes de ver.
Não tenho muitas dúvidas em concluir que os “ganhos da paz” hoje seriam outros mais de acordo com as  verdadeiras prioridades do país, se no plano democrático o nosso xadrez partidário fosse  mais equilibrado, o que proporcionaria um outro espaço de negociação do próprio modelo de desenvolvimento que está a ser seguido e que quanto a mim não corresponde ao perfil que o país necessita, com permanentes investimentos públicos em projectos produtivos de duvidosa consistência.
Não tenho também qualquer dúvidas em concluir que a corrupção institucionalizada tem sido actualmente o maior “inimigo da paz” por ser o principal desviador dos recursos públicos, que a serem aplicados devidamente dariam a Angola uma outra paisagem bem mais sorridente, bem mais pacífica, para além do calar das armas.
Ouvimos falar muito da necessidade de sermos sempre mais ambiciosos.
No caso do nosso país a ambição maior de todos os angolanos até por razões estratégicas, devia ser  erradicação da pobreza e das suas consequências.
Digamos que em 12 anos de paz e com os recursos que Angola possui, o país poderia estar hoje bem melhor do ponto de vista sócio-económico, sobretudo com outros níveis de pobreza bem mais aceitáveis e já com esta vergonhosa exclusão social/miséria posta fora de combate.
Reginaldo Silva