HOMENAGEM AO JOÃO VIEIRA DIAS VAN-DUNEM PELO SEU PASSAMENTO
FÍSICO
Ninguém me apresentou João Van-Dunem, conheci-o aquando da
sua chegada a casa da reclusão vindo de Cuba com mais dois cambas então
estudantes em Cuba.
João van-Dunem encontrou-me já preso e fez morada na minha
cela onde estava igualmente o Amadeu das Neves o grande (Dedé).
Convivemos cerca de um ano e meio na casa da Reclusão e
separamo-nos aquando da minha transferência para a cadeia da contra
inteligência na policia militar La para as bandas do ex-R I-20, para ficar a
disposição da Comissão Militar de Inquérito chefiada na altura pelos então primeiro tenente Carmelino e pelo segundo tenente Cristiano hoje presidente do Supremo tribunal
de Justiça.
Voltei a encontrar o JVD em Lisboa e mais tarde em Londres
na casa do Abdul Zobaida um moçambicano amigo de Angola ligado ao desporto e
mais tarde encontrei-o com um amigo meu Antônio de Figueiredo jornalista da BBC
e do The Guardian Inglês.
Com o JVD os meus encontros eram marcados sempre pela
despedida, porem sempre foram os nossos encontros regados de boa disposição bom
papo e a alegria de estarmos vivos e esperançosos de um melhor futuro para os
angolanos numa Angola livre.
Nos últimos anos perdi o contato com JVD, mas, acredito que nele não se alteraram os
ideais que defendíamos e que nos levaram a cadeia.
De JVD tenho as melhores recordações passadas na cadeia, e
recordo-me com alegria as muitas conversas mantidas sem tabus na cela C do
corredor 1 mantidos abertamente sem tabus.
Amigo JVD, conversaremos novamente no nosso próximo encontro
na terra do porvir! Sim, nos encontraremos La, porquanto sou igualmente um
passageiro com hora marcada para partir um dia destes de um ano qualquer para
eternidade, a passagem já esta garantida, pois, sou também um humilde mortal, e
como tal, terei de viajar futuramente para a terra do nosso grande Deus.
Companheiro JVD acredita que, o país por quem lutamos, um
dia deixara de ser apenas um sonho.
Dorme em Paz camarada meu e que o Senhor Jesus te receba e cuide
de ti lá na glória.
Raul Diniz