Forbes: BES Angola, um banco ao serviço de “um dos regimes mais corruptos do mundo”
Fonte: Revista Forbes
Divulgação: Planalto De Malanje Rio Capôpa
14 Agosto 2014
Num artigo publicado pela Forbes, Frances Coppola frisa que o BESA é dominado pela elite política angolana. Qualquer que seja a solução encontrada para a crise desta instituição bancária, "o clã presidencial sairá protegido". Crédito de 3,3 mil milhões de euros cedido pelo BES ao BESA foi transferido para o Novo Banco. A garantia soberana do Estado Angolano de cerca de 4 mil milhões de euros foi revogada.
Foto do site Maka Angola.
“Como se ser arrasado por um conglomerado familiar corrupto não bastasse, o sitiado Banco Espírito Santo de Portugal (BES) está agora a enfrentar perdas adicionais devido ao fracasso da sua subsidiária angolana”, avança Frances Coppola num artigo publicado na Forbes.
Lembrando que o BES detém 55% do segundo maior banco de Angola, o Banco Espírito Santo Angola (BESA), Coppola refere que, nos últimos anos, o banco angolano “tornou-se criticamente dependente do BES para o financiamento, devido ao seu rácio empréstimos/depósitos extremamente elevado e à deterioração da sua carteira de empréstimos”. “Quando o Grupo Espírito Santo (GES) colapsou, o BES tinha não só uma participação, mas também uma exposição creditícia ao BESA de cerca de 3 mil milhões de euros”, acrescenta.
“O regime angolano está entre os mais corruptos no mundo e o seu povo entre os mais pobres”
“Face a esta situação, o investimento português em Angola tem sentido”, avança a autora, sublinhando, contudo, que “o regime angolano está entre os mais corruptos no mundo e o seu povo entre os mais pobres”, sendo que “40% dos habitantes vive com menos de 2 dólares por dia e a maioria tem pouco acesso a água corrente, saneamento ou eletricidade”.
BESA responde aos interesses da elite política angolana
Segundo Frances Coppola, “o BESA é, sem dúvida, um 'parceiro do Estado', mas não porque tem investido de forma produtiva na economia angolana”. O BESA responde aos interesses da elite política angolana. Conforme denunciou o jornalista Rafael Marques, grande parte da carteira de crédito do BESA é composta por empréstimos aos interesses políticos angolanos, muitos deles diretamente ligados à família dos Santos.
Na realidade, no caso da crise do BESA, é muito improvável que os acionistas do banco venham a ser prejudicados seja qual for a solução avançada pelo Banco Nacional de Angola.
“Praticamente tudo em Angola é detido direta ou indiretamente pela horda presidencial – a família dos Santos, o vice presidente Manuel Vicente, o chefe da Casa Militar do presidente, General Manuel Helder Vieira Dias Junior (Kopelipa) e o General Leopoldino Fragoso do Nascimento (Dino). O BESA não é exceção”, frisa Coppola.
Segundo explica a autora, em dezembro de 2009, o BES vendeu uma participação de 24% do BESA à angolana Portmill Investimentos e Telecomunicações, que era originalmente detida pelo triunvirato Dino, Kopelipa e Manuel Vicente. Em junho de 2009, estes venderam as suas participações ao tenente coronel Leonardo Lidinikeni, oficial da escolta presidencial e subordinado direto de Kopelipa.
Não se sabe como Lidinikeni conseguiu reunir a quantia necessária para esta compra, contudo, Rafael Marques sugere que o BESA pode ter-lhe concedido, ou ao triunvirato, um empréstimo para esse efeito.
Outros 19% foram vendidos pelo BES, ainda em 2004, ao Grupo Geni, que, alegadamente, é parcialmente detido, ou, pelo menos é controlado, pela filha do presidente angolano, Isabel dos Santos.
“Então, 43% do BESA poderão ser detidos ou controlados pela horda presidencial. Acabar com a participação de um banco Português no BESA é uma coisa. Mas acabar com as participações da horda presidencial é outra completamente diferente”, lê-se no artigo publicado na Forbes.
"Os interesses do clã presidencial no BESA provavelmente serão protegidos. E os seus empréstimos também. Será que alguém realmente acha que os 'conselheiros' nomeados para resolver o balanço do BESA terão autorização para destruir a rede incestuosa de empréstimos e investimentos políticos que unem não só o sistema bancário angolano como também todas as suas grandes indústrias? Dificilmente. Os empréstimos vão sobreviver, como também sobreviverão os proprietários. E o povo angolano, ainda que chocantemente pobre, vai pagar”, escreve Frances Coppola.
A autora, que escreve sobre banca, finanças e economia, frisa ainda que “há uma característica interessante para nesta história”.
“De acordo com Rafael Marques de Morais, a venda de parte da participação do BES à Portmill em 2011 foi duvidosa, mesmo para os padrões angolanos. Desde então, o banco tem, de facto, vindo a lavar dinheiro saqueado do Estado angolano pelo seu exército. Ricardo Espírito Santo Salgado foi o homem responsável pela venda da participação do BES à Portmill.
Ele está agora sob investigação pela polícia portuguesa por suspeita de lavagem de dinheiro e evasão fiscal centrada numa gestora de recursos suíça, a Akoya, de que o ex-CEO da BESA, Álvaro Sobrinho, é membro da administração. O próprio Sobrinho, enquanto CEO do BESA, foi objeto de uma investigação inconclusiva de lavagem de dinheiro em 2011. Nenhuma investigação deste tipo deverá vir a ocorrer no lado angolano, é claro: mas talvez um homem nessa teia de mentiras e corrupção venha, eventualmente, a ser levado à justiça”, remata Coppola.
Crédito cedido pelo BES ao BESA foi transferido para o Novo Banco
Em resposta a um pedido de esclarecimento por parte da agência Lusa, o Banco de Portugal (BdP) explicou que, apesar de a participação do BES no BESA ter ficado no 'bad bank', decidiu "transferir os créditos concedidos a esta filial para o Novo Banco, embora totalmente provisionados".
O BdP esclarece, contudo, que "a provisão total destes créditos constitui apenas uma medida de prudência e não reflete, de forma alguma, uma ausência de expectativa de recuperação do crédito concedido".
Segundo avança a entidade liderada por Carlos Costa, nos últimos tempos, antes sequer de ter sido delineado o resgate do BES, existiu uma "forte interação entre as Autoridades de Portugal e de Angola", com o Banco de Portugal a ter assumido a "expectativa de que a situação do BESA seria clarificada no curto prazo e sem impacto material no Banco Espírito Santo, S.A.".
Na altura, o BESA contava com uma garantia soberana do Estado Angolano de 5,7 mil milhões de dólares (cerca de 4 mil milhões de euros) para fazer face a incumprimentos em créditos.
No entanto, nos últimos dias, foi noticiado que a garantia concedida pelo próprio presidente José Eduardo dos Santos foi revogada, tendo ainda o Banco Nacional de Angola decicido intervir no BESA, impondo medidas de saneamento..
Neste contexto, o BES pode vir a ter de assumir perdas com incumprimentos no BESA devido à participação (maioritária) que ali detém.
Foto do site Maka Angola.
“Como se ser arrasado por um conglomerado familiar corrupto não bastasse, o sitiado Banco Espírito Santo de Portugal (BES) está agora a enfrentar perdas adicionais devido ao fracasso da sua subsidiária angolana”, avança Frances Coppola num artigo publicado na Forbes.
Lembrando que o BES detém 55% do segundo maior banco de Angola, o Banco Espírito Santo Angola (BESA), Coppola refere que, nos últimos anos, o banco angolano “tornou-se criticamente dependente do BES para o financiamento, devido ao seu rácio empréstimos/depósitos extremamente elevado e à deterioração da sua carteira de empréstimos”. “Quando o Grupo Espírito Santo (GES) colapsou, o BES tinha não só uma participação, mas também uma exposição creditícia ao BESA de cerca de 3 mil milhões de euros”, acrescenta.
“O regime angolano está entre os mais corruptos no mundo e o seu povo entre os mais pobres”
“Face a esta situação, o investimento português em Angola tem sentido”, avança a autora, sublinhando, contudo, que “o regime angolano está entre os mais corruptos no mundo e o seu povo entre os mais pobres”, sendo que “40% dos habitantes vive com menos de 2 dólares por dia e a maioria tem pouco acesso a água corrente, saneamento ou eletricidade”.
BESA responde aos interesses da elite política angolana
Segundo Frances Coppola, “o BESA é, sem dúvida, um 'parceiro do Estado', mas não porque tem investido de forma produtiva na economia angolana”. O BESA responde aos interesses da elite política angolana. Conforme denunciou o jornalista Rafael Marques, grande parte da carteira de crédito do BESA é composta por empréstimos aos interesses políticos angolanos, muitos deles diretamente ligados à família dos Santos.
Na realidade, no caso da crise do BESA, é muito improvável que os acionistas do banco venham a ser prejudicados seja qual for a solução avançada pelo Banco Nacional de Angola.
“Praticamente tudo em Angola é detido direta ou indiretamente pela horda presidencial – a família dos Santos, o vice presidente Manuel Vicente, o chefe da Casa Militar do presidente, General Manuel Helder Vieira Dias Junior (Kopelipa) e o General Leopoldino Fragoso do Nascimento (Dino). O BESA não é exceção”, frisa Coppola.
Segundo explica a autora, em dezembro de 2009, o BES vendeu uma participação de 24% do BESA à angolana Portmill Investimentos e Telecomunicações, que era originalmente detida pelo triunvirato Dino, Kopelipa e Manuel Vicente. Em junho de 2009, estes venderam as suas participações ao tenente coronel Leonardo Lidinikeni, oficial da escolta presidencial e subordinado direto de Kopelipa.
Não se sabe como Lidinikeni conseguiu reunir a quantia necessária para esta compra, contudo, Rafael Marques sugere que o BESA pode ter-lhe concedido, ou ao triunvirato, um empréstimo para esse efeito.
Outros 19% foram vendidos pelo BES, ainda em 2004, ao Grupo Geni, que, alegadamente, é parcialmente detido, ou, pelo menos é controlado, pela filha do presidente angolano, Isabel dos Santos.
“Então, 43% do BESA poderão ser detidos ou controlados pela horda presidencial. Acabar com a participação de um banco Português no BESA é uma coisa. Mas acabar com as participações da horda presidencial é outra completamente diferente”, lê-se no artigo publicado na Forbes.
"Os interesses do clã presidencial no BESA provavelmente serão protegidos. E os seus empréstimos também. Será que alguém realmente acha que os 'conselheiros' nomeados para resolver o balanço do BESA terão autorização para destruir a rede incestuosa de empréstimos e investimentos políticos que unem não só o sistema bancário angolano como também todas as suas grandes indústrias? Dificilmente. Os empréstimos vão sobreviver, como também sobreviverão os proprietários. E o povo angolano, ainda que chocantemente pobre, vai pagar”, escreve Frances Coppola.
A autora, que escreve sobre banca, finanças e economia, frisa ainda que “há uma característica interessante para nesta história”.
“De acordo com Rafael Marques de Morais, a venda de parte da participação do BES à Portmill em 2011 foi duvidosa, mesmo para os padrões angolanos. Desde então, o banco tem, de facto, vindo a lavar dinheiro saqueado do Estado angolano pelo seu exército. Ricardo Espírito Santo Salgado foi o homem responsável pela venda da participação do BES à Portmill.
Ele está agora sob investigação pela polícia portuguesa por suspeita de lavagem de dinheiro e evasão fiscal centrada numa gestora de recursos suíça, a Akoya, de que o ex-CEO da BESA, Álvaro Sobrinho, é membro da administração. O próprio Sobrinho, enquanto CEO do BESA, foi objeto de uma investigação inconclusiva de lavagem de dinheiro em 2011. Nenhuma investigação deste tipo deverá vir a ocorrer no lado angolano, é claro: mas talvez um homem nessa teia de mentiras e corrupção venha, eventualmente, a ser levado à justiça”, remata Coppola.
Crédito cedido pelo BES ao BESA foi transferido para o Novo Banco
Em resposta a um pedido de esclarecimento por parte da agência Lusa, o Banco de Portugal (BdP) explicou que, apesar de a participação do BES no BESA ter ficado no 'bad bank', decidiu "transferir os créditos concedidos a esta filial para o Novo Banco, embora totalmente provisionados".
O BdP esclarece, contudo, que "a provisão total destes créditos constitui apenas uma medida de prudência e não reflete, de forma alguma, uma ausência de expectativa de recuperação do crédito concedido".
Segundo avança a entidade liderada por Carlos Costa, nos últimos tempos, antes sequer de ter sido delineado o resgate do BES, existiu uma "forte interação entre as Autoridades de Portugal e de Angola", com o Banco de Portugal a ter assumido a "expectativa de que a situação do BESA seria clarificada no curto prazo e sem impacto material no Banco Espírito Santo, S.A.".
Na altura, o BESA contava com uma garantia soberana do Estado Angolano de 5,7 mil milhões de dólares (cerca de 4 mil milhões de euros) para fazer face a incumprimentos em créditos.
No entanto, nos últimos dias, foi noticiado que a garantia concedida pelo próprio presidente José Eduardo dos Santos foi revogada, tendo ainda o Banco Nacional de Angola decicido intervir no BESA, impondo medidas de saneamento..
Neste contexto, o BES pode vir a ter de assumir perdas com incumprimentos no BESA devido à participação (maioritária) que ali detém.