quinta-feira, 29 de setembro de 2016

LUANDA: O Caso Dos Milhões Desaparecidos Do Fundo Soberano De Angola

O caso dos milhões desaparecidos do Fundo Soberano de Angola (FSDEA)

O caso dos milhões desaparecidos do Fundo Soberano de Angola (FSDEA)
Onde param os 486 milhões de dólares norte-americanos desaparecidos do Fundo Soberano de Angola (FSDEA). O buraco foi revelado pela própria entidade, liderada pelo filho do Presidente José Eduardo dos Santos.
Fonte: DW África
O Fundo Soberano de Angola (FSDEA), liderado por José Filomeno dos Santos, filho do presidente José Eduardo dos Santos, perdeu, em dois anos, 486 milhões de dólares norte-americanos (USD). A informação avançada pelo semanário angolano Expansão consta do relatório do próprio fundo, datado de 31 de Março deste ano. Mas só agora a notícia veio a público.
Aquando da sua criação, o FSDEA recebeu uma dotação inicial de USD cinco mil milhões, ao que se acrescentaram USD 46 milhões para despesas da organização e instalação, perfazendo um total de USD 5.046 milhões. Mas atualmente, o valor total dos ativos colocados à disposição pelo Governo ao fundo é de USD 4,56 mil milhões.
José Filomeno dos Santos ocupou a presidência do fundo em 2013 em substituição de Armando Manuel. Desde então têm vindo a aumentar as suspeitas de corrupção, alimentadas pela falta de transparência dos contratos. Estes beneficiam muitas empresas com relação direta com o presidente do Fundo. É o caso do grupo Quantum Global, acionista do Banco Kwanza Invest, fundado pelo próprio Filomeno dos Santos.
Transferências opacas e suspeitas
A Quantum Global é detentora de pouco mais de uma dezena de empresas que prestam serviços ao Fundo Soberano e que são presididas por Jean-Claude Bastos de Morais, um cidadão de nacionalidade suíça, considerado o testa-de-ferro de José Filomeno dos Santos.
No seu site, o Fundo Soberano diz que está empenhado em funcionar de forma transparente, responsável e em total conformidade com as leis e os regulamentos de Angola e dos países onde venha a fazer futuros investimentos. Mas muitos analistas dizem que a prática tem sido o oposto. No ano passado, uma investigação do jornalista angolano Rafael Marques dava conta de uma transferência de 100 milhões de dólares a uma empresa fantasma denominada Kijinga S.A. Agora constata-se um buraco de 486 milhões de dólares nas contas do fundo.
Em entrevista à DW África Rui Mangovo, diretor do Projeto Orçamento Participativo Angola e especialista em "democracia e governação” na Universidade de Coimbra, diz que o desaparecimento destes valores põe em causa o futuro de gerações vindouras: "É um Fundo que foi criado para dar alguma garantia futura ao país. Se esses valores desaparecem há que responsabilizar as pessoas que realmente estão à frente da gestão deste Fundo”. O analista acrescenta que "a perda de 486 milhões de dólares dos cofres” são muito preocupantes especialmente num país como Angola: "Nós temos problemas com a educação, saúde, temos uma situação de pobreza extrema em muitas localidades do país”, lembra.
O cinismo do Presidente
O consultor do Centro de Integridade Pública, Coque Mukuta considera que o que se está a passar é motivo para alarme: "Na verdade é gravíssimo o facto do Fundo Soberano não gozar de boa saúde, não gozar de boa segurança e garantias. É importante que o Fundo Soberano – o nosso fundo – mantenha a transparência e o ponto de equilibro na sua comunicação com os cidadãos. Porque senão vai parecer que os filhos do Presidente José Eduardo dos Santos podem, fazem e desfazem".
Apesar da gravidade, o também jornalista Mukuta, não acredita que haja consequências: "O Presidente é bastante cínico e não vai ligar ao que sai na imprensa sobre isso. Não creio que o desaparecimento deste dinheiro possa causar alguma pressão ao Presidente da República no sentido de exigir maior transparência ao seu filho".

O Intrigante Aplauso da Morte Em Angola

O APLAUSO DA MORTE

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As notícias das execuções extrajudiciais levadas a cabo a sangue-frio em Viana e reportadas pelo Maka Angolaforam recebidas com satisfação por parte da população.
Uns escreveram: “Irmãos, creio que esses bandidos que foram mortos também já tiraram Vida dos outros, só pagaram o que haviam cometido ao longo das suas caminhadas”. Outros: “Quem com ferro fere, com faca será ferido. É a lei da vida.” Ou ainda: “Estes indivíduos não merecem viver, não podemos desejar a morte de algum, mas estes caras devem morrem porque deus disse toda árvore que não dá boa fruta seja cortada.” (sic). Estes são alguns dos comentários à notícia.
No Maka Angola defende-se com veemência a liberdade de expressão, quer para defender as nossas posições, quer para discordar delas, e por isso não se oblitera a opinião de vários sectores da população que aplaudem as execuções levadas a cabo pela Polícia. Mas isto não significa que se concorde com essas opiniões. Elas representam um perigo de morte para todos nós, e demonstram que um governo que não cuida da economia, da educação e da saúde só merece aplauso quando mata os seus concidadãos. Isto é trágico.
O que distingue a civilização da barbárie é a existência de um modo de fazer as coisas segundo regras aceites. Antigamente, se uma pessoa matava outra, competia à família desta vingar-se e ir matar outra pessoa da primeira família. Estas atitudes desencadeavam uma espiral de violência que terminava na razia de aldeias e em centenas de mortos inocentes. Não havia regras. Era a força bruta. Ganhava o mais forte, o mais selvagem. A vida era, como escrevia o filósofo inglês Hobbes, brutal, curta, suja e desagradável. Nunca se sabia quando estaria alguém numa esquina com uma faca para nos matar, os nossos filhos eram trucidados na guerra, e as nossas filhas sistematicamente violadas.
A justiça, as regras e o processo judicial surgiram para evitar esta sequência de acontecimentos e criar uma sociedade agradável e pacífica. Aquele que comete crimes deve ser punido, mas de acordo com regras. Essas regras existem por duas razões: para que a sociedade não seja uma selva em que todos se matam uns aos outros e para que inocentes não sejam confundidos com culpados.
Estas matanças indiscriminadas do Serviço de Investigação Criminal e da Polícia Nacional não garantem de modo algum que apenas os culpados sejam mortos. Basta estar no lugar errado à hora errada.
Maka Angola publicou, a 4 de Junho de 2014, a história de um pacato cidadão, Manuel Samuel Tiago Contreiras, proveniente de Malange, que foi executado pelo Grupo Operativo da 32.ª Esquadra do Distrito do Kilamba Kiaixi. Manuel vinha a Luanda passar o fim-de-semana com o seu irmão mais velho, Tiago Manuel Contreiras, na altura subchefe do posto policial do Bairro Fubu. Manuel pediu boleia a um jovem conhecido, Gosmo Quicassa “Smith”, para levá-lo à paragem de autocarro, em Viana, onde deveria apanhar o transporte de regresso a Malange. Pararam antes em casa de um terceiro amigo, Damião Zua Neto “Dani”. Diante da casa de Dani, e na presença da sua família, os três foram fuzilados pelo referido grupo operativo. Smith foi cravejado com 14 balas.
A mãe de Dani, Helena Zua, viu e reconheceu como sendo o “Sr. Vasco” o operativo da Investigação Criminal do Grupo Operativo que executou os jovens.
Manuel Contreiras, membro do coro da Sé Catedral de Malange, era bastante religioso. Por ironia, o seu irmão Tiago, como subchefe do Posto Policial da Fubu, foi encarregado por um superior seu a efectuar a remoção dos corpos dos “três marginais” que tinham sido “abatidos”. Tiago Contreiras recusou-se, porque a área onde os jovens tinham sido mortos não era da sua jurisdição. Os assassinos compareceram no seu posto, viu-os a todos e reconheceu-os a todos. Só não sabia que tinham fuzilado também o seu irmão em plena luz do dia e com testemunhas. Os assassinos continuam impunes, e Tiago Contreiras foi castigado com uma transferência para um trabalho meramente administrativo, após ter sido ameaçado de expulsão.
Este é o problema de sancionar execuções policiais extrajudiciais. Sabe-se onde começam, não se sabe onde acabam. Depois de supostos bandidos, podem ser membros da oposição, críticos do regime e depois ajustes de contas internos entre os mandantes e os poderosos. Haverá sempre uma explicação para se legitimar assassínios, porque a “cultura de morte” é promovida pelo governo do presidente José Eduardo dos Santos e aplaudida por muitos cidadãos.
As Filipinas elegeram recentemente um presidente que defende a mesma postura e que autorizou a polícia a matar os traficantes de droga sem qualquer julgamento. O que se tem verificado é que a própria polícia livremente já admite que os cartéis de droga têm aproveitado a luz verde do presidente Rodrigo Duterte para matar rivais ou potenciais informadores. A impunidade da polícia tem resultado em que muitos agentes fora de serviço matam pessoas com quem tinham problemas pessoais ou de outro género e saíam impunes. No fundo, sente-se que há um grupo de pessoas que pode matar alguém e não ir para a
cadeia.
Os cidadãos que aceitam as execuções extrajudiciais estão disponíveis para correr esse risco: que um dia sejam eles ou os seus familiares a levar um tiro por desagradarem a um polícia, um agente do Serviço de Investigação Criminal ou a alguém com poder para contratar os seus serviços. Basta pensar na hipótese mais humana de todas. Um polícia cai de amores pela filha de um pacato cidadão. Não sendo correspondido, mata a rapariga alegando que ela era uma bandida. Qual a reacção possível, quando se concordou que a polícia podia e devia matar os bandidos? Este é o problema. Liberdade total para os lobos representa a morte das ovelhas.
Como referido, há uma segunda questão, tão grave como a primeira: a do papel do Estado. O presente regime angolano faliu. Faliu económica e eticamente. O velho acordo à “chinesa” assente na prosperidade económica em troca de um governo autoritário terminou.
Sobem os preços da alimentação, falta saúde, a educação não convence, as pessoas sentem-se desprotegidas e descontentes. A única coisa que o governo tem para oferecer são grupos operativos, sob comando do Serviço de Investigação Criminal, livre para matar sem julgamento. É irónico: o governo que teoricamente surge para proteger a vida, a liberdade e a felicidade das pessoas, no fim de contas, incentiva a morte.
O que o governo tem para oferecer à população é o fuzil carregado e a morte na ponta do cano. Segundo ainvestigação do Maka Angola, o ministro Ângelo Tavares tem responsabilidades directas nesta “política” de execuções extrajudiciais, sendo comparável a Duterte nas Filipinas ou a Goering, o alemão que liderou a polícia nazi e dizia: “Cada bala que sair de um revólver da Polícia é a minha bala.”
O mesmo se pode dizer de Ângelo Tavares – cada bala que sai da pistola de um agente do Serviço de Investigação Criminal é a sua bala