Eduardo dos Santos vai ser substituído pelo próprio filho - Marcolino Moco
Fonte: angola24horas
Divulgação: Planalto De Malanje Rio Capôpa
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Pergunta: Neste congresso termos novidades em termos de sucessão do Presidente da República.
Marcolino Moco: Como sabe, eu fui sendo afastado da política activa, dentro do MPLA, pelos habituais golpes baixos, orquestrados pelo Presidente dos Santos e seus apoiantes, e nunca me interessei em regressar para esse campo, com base em rebaixamentos, que não é minha maneira de fazer política. Esta situação impede-me de saber o que se vai passar no Congresso anunciado. Mas tenho a sensação que nada acontecerá de especial, que vá ao encontro do que eu desejaria para o MPLA, que não passa necessariamente pelo simples problema da sucessão. Se estivesse atento veria que este problema até já está resolvido. Com os últimos acórdãos do Tribunal Constitucional (233 e 319/2013), com todo o tipo de manipulações a que dos Santos já nos habituou, com as declarações do Presidente nas entrevistas a SIC e uma TV brasileira, em que deixou bem vincado que afinal nem o camarada Vicente serve, é preciso estar muito distraído para não ver que, se o céu não cair, ele vai ser substituído pelo actual Presidente do Fundo Soberano de Angola que é um dos seus próprios filhos. Como de certeza me tem acompanhado, eu, para o que penso que seja bom para Angola e seus habitantes, estou mais interessado na mudança da natureza do regime, que já posso classificar de "monarquia absoluta" mal disfarçada na face de democracia republicana, do que na sucessão concreta do Presidente dos Santos, algo que não tira nem acrescenta nada, em si.
Pergunta: Do seu ponto de vista, quais são os assuntos que poderão dominar o congresso.
Marcolino Moco: O grande problema começa no facto de que não há espaço para agendas que possam ser diferentes das agendas do Presidente, ou ao menos para discutir a agenda do Presidente, porque esta nem sequer é a que vem nos papéis. Alguns espertinhos ao me lerem vão dizer que estou a revelar segredos do partido. Não. Todos se lembram de como o Presidente virou publicamente a agenda do Partido e de todo o país, depois das eleições de 2008. Por outro lado, só vem para o Congresso quem aparentar que é apoiante muito fervoroso do Camarada Presidente, mesmo que este não tenha nenhum adversário pela frente. O esquema é mais ou menos o que existia no meu tempo. Mas há uma diferença enorme: naquele tempo discutiam-se agendas do Partido. Provavelmente, as últimas discussões neste formato terminaram no tempo em que o camarada João Lourenço era Secretário-Geral e depois foi "congelado". Também não me venham dizer que isso é segredo, nem espero que o camarada JL se incomode por eu dizer isso. Mas o descalabro começara antes, com a saída de Lopo do Nascimento, como Secretário-Geral, em 1998, com uma ala com que eu e o camarada França van-Dúnem fomos conotados, só porque tínhamos tido altos cargos na partido e no Estado. Quando o meu amigo me pediu esta entrevista, nem eu sabia que o Lopo ia despedir-se da política activa e em plena Assembleia Nacional. Sem pessimismo absolutamente nenhum, "é o fim da picada". Mas ele deixou uma mensagem oportuna aos jovens. "Fim da picada" é para a nossa geração escassa de renovadores, de que Lopo era líder natural, dentro do MPLA. Mas eu entendo que há coisas que cansam e ninguém de nós é eterno e ou insubstituível. As mudanças irão chegar, necessariamente, porque a situação é insustentável, mas não será nesse Congresso. Evidentemente tenho de descontar: não sou mago, para poder adivinhar o futuro. De resto, o meu pensamento e minhas propostas, mesmo que não passem nos meios de comunicação social de impacto, são bem conhecidas, dentro e fora país.
Pergunta: Espera-se uma remodelação profunda a nível do Bureal Político? e do Comité Central?.
Marcolino Moco: Espera-se e muito grande (muitos risos). O camarada Bento Kangamba, se for absolvido pela "chata" justiça brasileira, ascenderá finalmente ao BP. Nem que seja necessário um aval da justiça portuguesa, a pedido das autoridades portuguesas. Se isso não acontecer, outros jovens e "velhos" turcos, verão finalmente o seu desejo de brilhar no meio desse lamaçal realizado. É esta a realidade de muitas as áfricas. Não somos os únicos. É esse combate que Lopo deixou para os mais jovens, no âmbito de um "novo pan-africanismo. Que Deus lhe deia saúde e força, para que mesmo de fora da política activa, possa ajudar, com a luz das suas ideias, que agora não terá mais razão de conter.
Marcolino Moco