Rafael Marques acusa Presidente José Eduardo dos Santos de nepotismo
Fonte: LUSA
O jornalista e ativista angolano Rafael Marques acusou o Presidente José Eduardo dos Santos de nepotismo no início de uma conferência sobre Angola realizada em Washington.
A conferência “Perspetivas sobre a Transparência, Direitos Humanos e Sociedade Civil em Angola”, organizada na capital norte-americana pelo National Endowment for Democracy (NED), reúniu o subsecretário adjunto para os Assuntos Africanos do Departamento de Estado norte-americano; o embaixador itinerante da República de Angola, António Luvualu de Carvalho; o embaixador Princeton Lyman, conselheiro do presidente dos Estados Unidos e Rafael Marques.
Referindo-se à situação económica do país, Rafael Marques disse que as normas de transparência e de boa governança foram substituídas pelo “nepotismo” dando como exemplos os “recentes concursos” atribuídos a Isabel dos Santos, filha do chefe de Estado, para as obras de reconstrução da cidade de Luanda, companhia petrolífera estatal Sonangol, assim como o contrato para a construção da marginal sul da capital angolana.
“Isto é o que eu chamo de ‘transparência da pilhagem'”, considerou Rafael Marques referindo-se aos contratos da empresária Isabel dos Santos.
Por outro lado, afirmou que “o inexperiente José Filomeno dos Santos, o filho de 36 anos do Presidente, trata do Fundo Soberano de Angola como se fosse um recreio”.
De acordo com Rafael Marques, as contas do Estado indicam que Angola conseguiu dividendos equivalentes a “954 mil dólares” (860 mil euros) relativos às diferentes participações que Angola detém em 37 empresas (privadas e pública), além da Sonangol.
“Dos investimentos que o governo fez em 11 multinacionais como a Chevron, British Petroleum, Abbot Laboratories e a Dow Chemical Company, as contas do Estado reportaram lucros de 110 mil dólares (99 mil euros). Estes exemplos indicam que o governo anda a brincar com a sorte”, afirmou o autor do livro “Diamantes de Sangue”.
Rafael Marques queixa-se ainda da falta de poderes parlamentares em questões de regulação e transparência recordando que em 2013 o Tribunal Constitucional decidiu que a Assembleia Nacional não tem poderes legais para “vigiar” o Executivo.
O jornalista explicou também que, entre 2003 e 2013, os lucros do petróleo angolano atingiram os 450 mil milhões de dólares (405 mil milhões de euros) fazendo de Angola uma dos dez países com um crescimento económico mais rápido do mundo.
“O que o governo fez com o dinheiro do petróleo continua a ser uma questão central” afirmou ainda Rafael Marques sublinhando que “pouco mais de dez por cento” do valor correspondente aos lucros do petróleo foram aplicados em projetos de reconstrução nacional.
Como consequência da crise provocada pela baixa do preço do crude, as novas taxas de câmbio em relação ao dólar e a pouca diversidade da economia, o país, frisou, encontra-se numa situação difícil, verificando-se um “aumento da pobreza” e mesmo falta de alimentos em algumas zonas de Angola.
Para Rafael Marques, as quebras verificadas no setor imobiliário e as posições de alguns bancos sobre as restrições aos movimentos de capitais são também sinais indicativos da atual crise económica angolana.
“A economia estava ancorada apenas no petróleo. O colapso causou uma crise nas finanças públicas e desorientação das políticas económicas”, disse ainda Rafael Marques sobre a situação económica em Angola.