quinta-feira, 25 de maio de 2017

LUANDA: O Cliente (MPLA) Tem Sempre Razão e Paga Bem Para Isso

O CLIENTE (MPLA) TEM SEMPRE RAZÃO E PAGA BEM PARA ISSO


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A Comissão Nacional Eleitoral (CNE) angolana considerou hoje como legítimo o processo de selecção e adjudicação da contratação de duas empresas, velhas conhecidas do MPLA, para prestar serviços nas eleições gerais de 23 de Agosto, contrariando (conforme “ordens superiores”) as críticas dos partidos da oposição.

Aposição foi expressa pela porta-voz da CNE, Júlia Ferreira, no final de uma reunião plenária extraordinária para apreciar, entre outros temas, o concurso de contratação simplificada para o fornecimento da solução tecnológica e para a escolha da empresa que irá fazer a gestão e a produção dos cadernos eleitorais e o fornecimento do sistema de informação do eleitor e o credenciamento dos agentes eleitorais.
Os partidos da oposição com assento parlamentar têm colocado em causa todo o processo de selecção e adjudicação das empresas SINFIC (Portugal) e INDRA (Espanha), feito pela CNE, alegando que as mesmas “já participaram nas fraudes de 2008 e 2012”, num negócio que será superior, em 2017, a 200 milhões de euros.
Júlia Ferreira referiu que a CNE procurou encontrar o equilíbrio entre o estabelecido pela Lei dos Concursos Públicos e a Lei Orgânica sobre as Eleições Gerais, tendo o cuidado de respeitar todas as questões de aspecto técnico.
A responsável avançou ainda que a CNE procurou buscar “consensos” e “equilíbrios” na apreciação aos cadernos de encargos, “uma peça importante dos concursos públicos”, levando “várias vezes à reapreciação do plenário da CNE”.
Acrescentou que as matérias inseridas nos cadernos de encargos “não são acabadas”, podendo, em função das deliberações do plenário da CNE, serem feitas adendas aos procedimentos contratuais.
“Da nossa parte não nos parece razoável que se suscite ainda questões do ponto de vista técnico, jurídico e legal, em relação à forma como foi conduzido, à forma como foi tratado, à forma como esta comissão de avaliação desempenhou o seu trabalho, desempenhou o seu papel, sempre homologada, orientada com aquilo que foi a apreciação e reapreciação do plenário da CNE”, frisou.
A porta-voz da CNE ressaltou que o trabalho da comissão de avaliação não foi isolado, mesmo a Lei dos Concursos Públicos dando “alguma folga” para a tomada de decisões de algumas questões, levando também à apreciação do plenário da CNE.
“E esse foi um gesto bem conseguido, nós fizemos isso e os membros da CNE debruçaram-se sobre estas matérias a nível do plenário, voltaram a fazer alguns aportes, estas matérias foram conformadas, efectivamente da nossa parte parece-nos que não pode haver legitimidade para que se ponha em causa a eficácia jurídica de todo o trabalho que foi produzido até agora”, criticou.
Segundo Júlia Ferreira, a CNE vai continuar a dar os passos subsequentes, consagrados na lei, que “em nenhuma das situações se coloca em causa a estabilidade e a lisura e a transparência do processo eleitoral”.
Ainda hoje, os quatro partidos da oposição angolana com assento parlamentar, UNITA, CASA-CE, PRS e FNLA, convocaram a imprensa para denunciar, em conjunto, uma suposta “ilegalidade” da CNE ao pretender adjudicar serviços às duas empresas fora dos prazos legais para apresentação das propostas, referindo que a lei determina que nestas situações “é obrigatório dar início a um novo procedimento no prazo máximo de seis meses”.

Amigos para (todas) as ocasiões

Em Agosto de 2012 a empresa de tecnologia espanhola INDRA recusou-se a comentar as declarações da UNITA sobre a sua contratação para o processo eleitoral em Angola, afirmando que a sua participação no acto eleitoral é puramente “técnica e tecnológica”.
A INDRA tinha, tem e terá toda a razão enquanto a CNE for apenas uma filial do MPLA . Desde logo porque sabe que dólares é algo que o regime do MPLA tem de sobra, pouco importando o resto. E, como sempre, o cliente tem sempre razão. Então quando “fabrica” dólares em doses industriais… nada mais conta.
A INDRA diz que tem no seu currículo dezenas de processos eleitorais que já conduziu em vários países, incluindo Portugal e Espanha. Não sabemos se isso e abonatório, mas meter no mesmo cesto as eleições portuguesas e as angolanas é o mesmo que meter um elefante no buraco de uma agulha.
“Não entramos em temas políticos. Em Angola estamos a fazer apenas desenvolvimento técnico e tecnológico”, afirmou em 2012 uma fonte da INDRA, em resposta às acusações da UNITA de falta de transparência da Comissão Nacional Eleitoral.
A Indra, apesar de saber que Angola (ainda) não é um Estado de Direito Democrático, explica que “ganhou o concurso público convocado pela Comissão Nacional Eleitoral de Angola para realizar o escrutínio e fornecer o material eleitoral das eleições gerais”.
“A INDRA foi seleccionada por contar com a proposta mais alinhada com as necessidades do organismo eleitoral”, referiu a empresa, recordando “a experiência do projecto realizado nas eleições legislativas de 2008”.
Pois é. E é aqui que a hiena deixa de chorar e passa a cantar o hino do MPLA.
Para as eleições de 2008, entre o material desenhado, produzido, transportado, armazenado e distribuído pela INDRA em todo o território angolano encontravam-se, diz a empresa: “13.000 Kits eleitorais, 26 milhões de cédulas, 65.000 urnas de votação, 54.000 cabines de votação, incluindo cabines para portadores de necessidades especiais, 108.000 latas de tinta indelével e 8.500 PDAs para o controlo e informação ao eleitor”.
“O projecto – para o qual cerca de 8 milhões de eleitores haviam sido chamados a votar, contando com mais de 12.200 colégios de votação – implicou o desenvolvimento de sistemas de transmissão de dados, o processamento, a totalização e a difusão de resultados, ao mesmo tempo em que presumiu o emprego de infra-estruturas de Tecnologias de Informação, o desenvolvimento de software, a formação do pessoal local e o transporte do material eleitoral directamente da Espanha para Angola, para o qual foram fretados mais de 10 aviões Boeing 747”, afirmou também a INDRA.
Ora, por falha (obviamente involuntária) nos equipamentos de controlo das autoridades angolanas, quase todos comprados em contrabando, o governo de Eduardo dos Santos referiu que apenas tinham sido comprados 10 milhões e 350 mil boletins de votos.
Tratou-se pois de um ligeiro e involuntário engano do regime angolano. Isto porque, fazendo fé na mais recente mega manifestação de apoio a José Eduardo dos Santos, Angola tinha em 2008 bem mais (mas muito mais) do que vinte milhões de habitantes.
Ora se, de facto, todos esses milhões votam no MPLA e ainda há alguns votos residuais nos outros partidos, obviamente que a encomenda foi de 26 milhões de votos. Não há, portanto, razões para pôr em dúvida a honorabilidade da CNE e do regime, sendo que as duas organizações (uma só, na prática) são constituídas por cidadãos impolutos.
Ninguém, nem mesmo a UNITA, duvida que a INDRA responde com toda a eficiência tecnológica às necessidades de cada regime. Isso só prova, aliás, que o MPLA tem toda a razão em escolher a INDRA. E a INDRA não está preocupada se as eleições são livres ou, até, se um regime que tem como presidente alguém que está há 38 anos no poder sem nunca ter sido nominalmente eleito tem alguma espécie de legitimidade democrática e legal.
É certo que a CNE, sucursal eleitoral do MPLA, garante que o processo eleitoral está a ser preparado “com lisura, transparência, com vista à consolidação da ainda jovem democracia”, por isso manifesta a sua “preocupação face às notícias veiculadas”, que “põem em causa a legalidade das deliberações tomadas pelo plenário”.
A transparência é tanta, tal como em 2008 e em 2012, que até os mortos vão votar (desde que o façam no MPLA), é tanta que também vão repetir-se os casos em que em alguns círculos eleitorais vão aparecer mais votos do que eleitores inscritos.

LUANDA: Só a UNITA é Responsável Por Todos os Massacres

SÓ A UNITA É RESPONSÁVEL 
POR TODOS OS MASSACRES


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Em plena campanha eleitoral de 2012 em Angola, o MPLA defendeu que a UNITA deveria pedir desculpas a algumas famílias devido ao que fez no passado. É aceitável que quem esteja sempre a falar do passado deva perder um olho. Mas também é ainda mais aceitável que quem esquece o passado deve perder os dois olhos.

No dia 4 de Agosto de 2012, na Emissora Católica, o secretário para os Assuntos Políticos do MPLA em Luanda, Norberto Garcia, virou-se para o passado no ataque à UNITA. É natural. Desde logo porque, como bem sabem os angolanos, o MPLA nunca – mas nunca – fez mal ao Povo.
Nunca. Aliás, nos massacres de há 40 anos (27 de Maio de 1977) os milhares e milhares de angolanos do MPLA que foram mortos pelo… MPLA não eram Povo. Eram uma subespécie.
Como todo o mundo sabe e nunca deve ser esquecido, tudo o que de mal se passou, passa ou passará em Angola é culpa da UNITA. Desde logo porque – como está provado pelos cientistas do MPLA – as balas das FALA (Galo Negro) matavam apenas civis e as das FAPLA/FAA (MPLA) só acertavam nos militares inimigos.
Além disso, como também é sabido, as bombas lançadas pela Força Aérea do MPLA só atingiam alvos inimigos e nunca estruturas civis. É dos livros.
Mas há mais factos que dão razão às teses do MPLA, reiteradas ano após ano. Todos sabem que a UNITA é que foi responsável pelos cerca de 80 mil angolanos torturados e assassinados em todo o país depois dos acontecimentos de 27 de Maio de 1977, acusados de serem apoiantes de Nito Alves ou opositores ao regime.
E só por ter um espírito reconciliador, democrático e benemérito é que o MPLA, seguindo ordens superiores de Eduardo dos Santos, não referiu que a UNITA foi também responsável pelo massacre de Luanda que visou o seu próprio aniquilamento e de cidadãos Ovimbundus e Bakongos, onde morreram 50 mil angolanos, entre os quais o vice-presidente da UNITA, Jeremias Kalandula Chitunda, o secretário-geral, Adolosi Paulo Mango Alicerces, o representante na CCPM, Elias Salupeto Pena, e o chefe dos Serviços Administrativos em Luanda, Eliseu Sapitango Chimbili.
E foi esse mesmo filantrópico espírito que evitou que o MPLA dissesse os nomes de alguns angolanos que, esses sim, representam o povo angolano. A saber, entre muitos outros: Lúcio Lara, Iko Carreira, Costa Andrade (Ndunduma), Henriques Santos (Onanbwe), Luís dos Passos da Silva Cardoso, Ludy Kissassunda, Luís Neto (Xietu), Manuel Pacavira, Beto Van-Dunem, Beto Caputo, Carlos Jorge, Tito Peliganga, Eduardo Veloso, Tony Marta, Agostinho Neto.
Como evitou que falasse dos que não são angolanos, mas apenas oportunistas e criminosos. A saber, entre outros: Alda Sachiango, Isaías Samakuva, Alcides Sakala, Jeremias Chitunda, Adolosi Paulo Mango Alicerces, Elias Salupeto Pena, Jonas Savimbi, António Dembo ou Arlindo Pena “Ben Ben”.
Mas, apesar desta postura, o MPLA tem na manga muitas outras provas. Um dia destes vai provar que o massacre do Pica-Pau em que, no dia 4 de Junho de 1975, perto de 300 crianças e jovens, na maioria órfãos, foram assassinados e os seus corpos mutilados no Comité de Paz da UNITA em Luanda… foram obra da UNITA.
Como irá provar que o massacre da Ponte do rio Kwanza, em que no dia 12 de Julho de 1975, 700 militantes da UNITA foram barbaramente assassinados, perto do Dondo (Província do Kwanza Norte), perante a passividade das forças militares portuguesas que garantiam a sua protecção, foi obra da UNITA.
Mas a lista é interminável. Entre 1978 e 1986, centenas de angolanos foram fuzilados publicamente, nas praças e estádios das cidades de Angola, uma prática iniciada no dia 3 de Dezembro de 1978 na Praça da Revolução no Lobito, com o fuzilamento de 5 patriotas e que teve o seu auge a 25 de Agosto de 1980, com o fuzilamento de 15 angolanos no Campo da Revolução em Luanda. Responsável? A UNITA.
Foi, aliás, a aviação da UNITA que, em Junho de 1994, bombardeou e destruiu Escola de Waku Kungo (Província do Kwanza Sul), tendo morto mais de 150 crianças e professores, que, entre Janeiro de 1993 e Novembro de 1994, bombardeou indiscriminadamente a cidade do Huambo, a Missão Evangélica do Kaluquembe e a Missão Católica do Kuvango, tendo morto mais de 3.000 civis.

quarta-feira, 24 de maio de 2017

LUANDA: Operação de Encobrimento Corre Mal

Operação de encobrimento corre mal

Fonte: Correio Angolense
Reedição: Planalto de Malanje Rio Capopa
Operação de encobrimento corre mal

Não havia, desde há quase quatro décadas, um embarque do Presidente não testemunhado pela TPA e outra imprensa pública. Foi aí que o rigor da confidencialidade começou a ruir
Não há dúvidas de que a deslocação do Presidente da República à Espanha, a 1 de Maio, foi concebida para ser uma operação de carácter inteiramente confidencial e apenas conhecida nos seus aspectos mais convenientes, como era a sua ausência do país: mais nada! Além disso, nada era licito dizer no seio da “entourage”.
O Correio Angolense não entra em especulações ao ponto de supor o que quer que seja que tenha estado na origem de tão ríspidas disposições, mas a verdade é que essa foi a primeira vez, desde que iniciaram os périplos presidenciais de José Eduardo dos Santos - há cerca de quatro décadas -, que um embarque não foi testemunhado pela TPA e outra imprensa pública. Foi aí que o rigor dessa operação começou a falhar.  
Para remediar a ausência no aeroporto, no noticiário das 20h00 a TPA usou, sem disso advertir os telespectadores, imagens de arquivo para animar a notícia do anúncio da viagem. Nessas imagens, apresentadas como se tivessem sido captadas naquele dia, sobressaia, entre outras pessoas, o governador de Luanda, Higino Carneiro.
Higino Carneiro teve de beliscar-se para ter a certeza que ele era aquele que assistia ao noticiário da TPA em sua casa e não aquele que aparecia nas imagens a despedir-se do PR
Em casa, a assistir ao telejornal, o governador de Luanda não conseguiu disfarçar grande apreensão, ao ver-se passar num acto no qual não esteve presente. Diz quem presenciou o embaraçoso momento que Higino Carneiro chegou ao ponto de beliscar partes do corpo para ter a certeza de que assistia ao noticiário da televisão a partir de um sofá da sua de estar. E que aquele que passava nas imagens da TPA seria, na melhor das hipóteses, um sósia que partilhava com ele muitas similitudes, nomeadamente na indumentária.
Assustado, Higino Carneiro pegou o telefone e contou o “filme” a pessoas chegadas. Para surpresa dele, as pessoas com quem falou, todas elas membros do Governo, lhe relataram o mesmo, ou seja, que também elas “estiveram” no aeroporto a despedir-se do PR, quando, ate porque era feriado, quase ninguém arredou o pé de casa.
Foi a partir desse episódio, que agora é contado de boca em boca, que o plano de encobrimento do estado em que o PR embarcou para a Espanha começou a ir de mal a pior.
Ficou a saber-se, desde então, que não só as imagens que testemunhavam um José Eduardo dos Santos bem-disposto de receber cumprimentos de despedida vinham de um arquivo já meio poeirento, como também começaram a multiplicar-se as indagações públicas sobre a verdade em torno da saúde do Presidente.
Ninguém dos círculos oficiais se prontificou a trazer a público os argumentos para o secretismo em torno da saúde do Presidente, o que foi deixado para a filha primogénita, a quem se reconhecem todas as credenciais, menos a de falar em nome da instituição presidencial.
Desfeitos os argumentos de Isabel dos Santos e sem outro remédio que não fosse reconhecer uma má avaliação do estado de alma e da evolução da postura cidadã de grande parte da população angolana, a “estrutura” - como é chamado no seu seio o ramo secreto do aparelho de coerção angolano - levará agora uns penosos anos, até uma comissão multidisciplinar concluir que não houveram desenvolvimentos excepcionais no descambar da operação de encobrimento, que não fossem os sentimentos de cidadania e de patriotismo que ligam os angolanos à instituição presidencial.
Correio Angolens
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LUANDA: Doença de José Eduardo dos Santos Abala Regime

Doença de José Eduardo dos Santos abala regime

Fonte: Angola24horas
Reedição: Planalto de Malanje Rio Capopa
Doença de José Eduardo dos Santos abala regime
A dois meses de deixar o poder, o Presidente José Eduardo dos Santos está fragilizado e enfrenta o colapso financeiro do país
Vítima de um acidente vascular isquémico, o Presidente Eduardo dos Santos foi obrigado esta semana a conceder poderes a Manuel Vicente, o número dois do regime, para dirigir o Conselho de Ministros.
Esta decisão, inédita em 38 anos de poder eduardista, terá sido precipitada pelo facto de ter sofrido a mais grave “crise prostática” desde que, há mais de 20 anos, foi submetido a tratamento no Brasil, dizem analistas.
Evacuado de emergência para Barcelona há duas semanas, Eduardo dos Santos ficou temporariamente incapacitado para dirigir alguns dossiês e terá sido aconselhado a tomar aquela decisão.
Angola ficou em “suspense” e não havia certeza para nada. A dois meses de abandonar o Palácio da Cidade Alta, José Eduardo dos Santos, com 74 anos de idade, deixou em cima da mesa uma proposta para ser caucionada pela futura liderança do país. Trata-se da nomeação das novas chefias militares, que não terá sido bem acolhida em certos círculos políticos...
E deixou também o país em estado de “coma” financeiro. Se tudo já andava aos solavancos, passou a literalmente parado.
A crise de recursos financeiros para assuntos correntes atingiu uma estagnação de tal magnitude, que o Ministério da Economia deixou até de ter em caixa dinheiro para manutenção dos aparelhos de ar condicionado. Segundo uma fonte do Ministério das Finanças, não há hoje certeza de que possa haver verbas para pagar a dívida pública...
“No estado em que estava, o Presidente não tinha outra saída senão dar poderes ao vice-presidente para tentar por a máquina a funcionar”, confidenciou ao Expresso um membro da direção do MPLA.
“A doença não escolhe o estatuto das pessoas”, desabafou um deputado do partido no Governo, que pediu anonimato.
O agravamento do estado de saúde do Presidente, guardado a sete chaves pelos serviços de informação angolanos, segundo apurou o Expresso junto de uma fonte afeta ao seu pessoal médico, terá obrigado o Presidente a recorrer aos serviços de médicos cubanos a trabalhar na Clínica Multiperfil. Antes disso, fora visto a ser submetido a exames específicos no Centro de Imagiologia presidencial da Clínica Girassol durante os quais terá sofrido uma lipotimia.
Não era a primeira recaída de Eduardo dos Santos depois de, há seis meses, ter desmaiado durante o óbito do seu irmão mais velho Avelino dos Santos. Na altura, tinha interrompido o tratamento médico que já estava a fazer em Barcelona. Mais recentemente, uma reunião do Conselho de Ministros foi cancelada por indisponibilidade do Presidente e o facto nunca tornado público.
O secretismo que envolveu esta sua nova deslocação à capital catalã, depois de uma recaída nos aposentos do Palácio da Cidade Alta, acabaria por provocar um vendaval de especulações e boatos sem paralelo na vida política angolana.
Este clima de apreensão agravou-se ainda mais após se ter descoberto e tornado público que as imagens difundidas pela Televisão Pública de Angola (TPA) da partida do chefe de Estado para Barcelona no aeroporto militar eram imagens de arquivo. “A trapalhada é tal que já nem sabem manipular”, disse ao Expresso Graça Campos, diretor do portal ‘Correio Angolense’
“Estes dez dias de incertezas abalaram Angola”, diz a professora universitária Filomena Martinho, que chegou a temer o pior ao ser confrontada com o desencontro de informações e de contrainformações.
O pior terá já passado. O Expresso apurou que os filhos de Eduardo dos Santos, que tinham ido a Barcelona visitar o pai, já se encontram de volta a Luanda.
A cultura do secretismo das autoridades na gestão pública deste dossiê é que provocaram danos à imagem do regime. Considerado por diversos analistas como sendo a principal causa do incómodo clima político instalado, ao MPLA estão agora a ser atribuídas as principais responsabilidades pela onda de alarmismo que sacudiu a sociedade angolana nos últimos dias.
“Em comunicação é sempre melhor a antecipação do que a reação. A viagem do Presidente, qualquer que tenha sido o motivo, deveria ter sido oficialmente comunicada aos cidadãos para diminuir a possibilidade de desinformação”, disse ao Expresso João Melo, jornalista e deputado do MPLA.
“Angola vive um período de transição e o Governo, que tem de esperar desestabilização por parte dos seus adversários, esteve mais uma vez mal na abordagem deste tema”, concluiu aquele especialista em comunicação e marketing.

LUANDA: Todos Diferentes? Não. Todos São Muito Iguaiszinhos

TODOS DIFERENTES? NÃO. 
TODOS (BEM) IGUAIZINHOS


todos

Já temos as listas! E agora que as temos, podemos ver o quão idênticas elas são. Uns dizem-se ser de esquerda, alguns do centro, outros de centro-esquerda, e ainda outros de centro-direita. Quando perguntamos aos militantes, ainda que do topo, qual o espectro político do seu partido, a maioria nem sabe dizer. E não o sabem porque, na verdade, são partidos sem definição.

Por Sedrick de Carvalho
Então, podemos partir para outra pergunta: o que acham da forma como o actual presidente da República, José Eduardo dos Santos, introduz os seus filhos na vida política pública e partidária?
“É um abuso. O senhor presidente desrespeita tudo e todos. Nepotismo puro”, dizem os membros dos partidos na oposição, e até mesmo militantes do partido governante-autoritário. Pronto! Estamos entendidos!
E agora que as listas dos candidatos a deputados foram divulgadas pelo Tribunal Constitucional – quando deveriam ser os partidos a fazer -, já podemos conversar mais sobre a forma de introdução de familiares dos dirigentes partidários nas respectivas organizações política e instituições públicas.
Fizemos uma leitura por todas as listas, mas destacamos três, ainda que a terceira – do MPLA – não mereça tanta consideração por ser uma contradição se fosse de outra forma.
A Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE) parece ter o caso mais flagrante de tentativa de introdução massiva de familiares no aparelho do Estado, concretamente na Assembleia Nacional. Pai, mãe, filho e irmão. Uma família completa numa lista.
Trata-se do presidente da coligação, Abel Chivukuvuku, número 1 da lista, a esposa do presidente, Maria Victória Ferreira Chivukuvuku, no nono lugar, Américo Kolonha Chivukuvuku, em 15º, irmão, e Samuel Pedro Catumbela Chivukuvuku, no 47º lugar, filho do presidente.
A coligação reforçou-se com as entradas do Bloco Democrático (BD) e Partido Democrático para o Progresso e Aliança Nacional de Angola (PDP-ANA), mas, notemos, o presidente do BD aparece em 11º lugar, dois lugares depois do ocupado pela esposa do cabeça de lista. Mau sinal, pensamos. Colocar o líder duma organização parceira numa posição mais abaixo para dar lugar a familiar é mau prenúncio, e isto certamente gera descontentamento no seio dos recém-chegados à organização.
Frisamos a família Chivukuvuku, mas percebemos que há três Kerlan, dois Tito e Mendes de Carvalho na lista. Os principais membros com esses sobrenomes são vice-presidentes do partido.
Na União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) também há candidatos por parentesco. Os três Kopumi saltam à vista quando lemos a lista do Galo Negro – nomeadamente, Mihaela Ezsébet Neto Webba Kopumi e Celênia Njolela Kopumi, respectivamente números 17 e 162 da lista nacional, enquanto Alcibiades Sebastião Efraim Elavoko Kopumi é o cabeça de lista do ciclo provincial da Huíla, este esposo da candidata 17. Em seguida, Albertina Ngolo e o pai Eugénio Antonino Ngolo «Manuvakola», Adriano Sapiñala e o pai Samuel Chiwale.
Que exemplo se pretende passar à sociedade com essa relação familiar nas listas para ocupar cargos públicos, ainda mais quando se diz que o que se pretende como objectivo final é ser governo?
Suponhamos que as eleições não fossem uma simulação e a CASA-CE chegasse ao poder, e, por imperativo normativo, Abel Chivukuvuku passasse a ser presidente da República… Os seus familiares-deputados teriam a ousadia de o questionar nos dias em que o presidente-esposo-pai-e-irmão fosse ao parlamento prestar esclarecimentos na qualidade de chefe do governo? Ou, ainda mais grave, seriam livres para votar uma moção de condenação exigindo investigação judicial contra o presidente-esposo-pai-e-irmão?
Para além dessas interrogações, a nossa preocupação reside sobretudo na mensagem que se está a transmitir ao povo. Os angolanos, maioritariamente, não compreendem a diferença entre um sobado e uma República, pois o actual governo deliberadamente causa esta confusão. E os partidos na oposição devem preocupar-se em demonstrar que política não é sinónimo de promiscuidade e que partidos não são sociedades comerciais, apesar de lhes ser aplicado a lei das sociedades comerciais em alguns casos.
Muito menos estamos a questionar o mérito dessas pessoas, longe disso. Sabemos que alguns familiares-integrantes dessas listas são militantes activos nas respectivas organizações. Estamos preocupados com a perpetuação da ideia repugnante segundo a qual é necessário ser família de algum dirigente para constar das listas de deputados ou ocupar cargos ao nível governativo.
Surgirão vários argumentos em defesa da inserção de famílias inteiras nas listas, e não vão faltar comparações com os Kennedys, Roosevelts, os Soares ou os Mugabes e os Obiangs. Por essa via, os defensores do nepotismo terão de desdizer tudo o que disseram sobre a nomeação de Isabel dos Santos para PCA da SONANGOL, Filomeno dos Santos para PCA do Fundo Soberano, ou Welwitchia dos Santos e José dos Santos «Coreon Du» como gestores do canal 2 da TPA. Simples!
Uns ainda terão o descaramento de dizer que não há comparação possível por serem organismos públicos e que o pai os nomeou nas vestes de presidente da República e não do partido. A Assembleia da República é também um órgão público e soberano e que, constitucionalmente, reveste-se de maior importância comparando com as empresas salientadas.
Vejamos, já agora, o despacho do presidente da Assembleia Nacional que autoriza a compra de viaturas Lexus LX 570, modelo saído este ano, para os deputados que entrarão brevemente, e outros que se manterão. Tão logo ingresse no hemiciclo, o deputado passa a conduzir carro cujo valor o trabalhador de base nunca juntará ao longo da sua vida de trabalho, cidadão que entretanto nem conhece o nome e rosto do representante, ou seja, o representante que não o representa.
Por decência até, os grupos parlamentares deveriam emitir declarações a negar essas viaturas, apresentando como proposta a aquisição de carros modestos, e descartando a necessidade de atribuir-se carros aos actuais deputados por já os terem. Mas aqui é onde reside o verdadeiro combate contra a pobreza, ou seja, um combate contra os pobres que denunciam o nepotismo e o mal uso do erário, colocando os pobres numa lista de personae non gratae.

LUANDA: Espectro da Derrota Põe MPLA de Dedo no Gatilho

ESPECTRO DA DERROTA PÕE 
MPLA DE DEDO NO GATILHO


guerra

O dia 23 de Agosto está próximo. Os especialistas (muitos são portugueses) contratados pelo regime angolano dizem a Eduardo dos Santos e a João Lourenço que a vitória eleitoral não está garantida. O MPLA começa a ficar nervoso e procura soluções radicais. Iremos assistir a uma reedição da estratégia seguida em 2012?

Por Norberto Hossi
Pouco antes das eleições de 2012, em várias províncias, nomeadamente Benguela e Kwanza Sul, a população começou a debandar para as matas temendo, como diziam, o regresso da guerra.
Mas, afinal, quem falava em guerra? O próprio regime que estava então a movimentar as Forças Armadas Angolanas (FAA) por todo o país, justificando com uma normal movimentação de efectivos. A população não acreditava. E era isso mesmo que o MPLA pretendia.
Na capital mas com repercussão nacional, Bento Bento, dirigente do MPLA pedia aos militantes do seu partido para que controlassem “milimetricamente” todas as acções da oposição, em especial da UNITA, para não serem “surpreendidos”.
De acordo com o então primeiro secretário de Luanda do MPLA, a oposição liderada pela UNITA decidira enveredar por “manifestações violentas e hostis, provocando vítimas, inventando vítimas, incentivando à desobediência civil, greves e tumultos, provocando esquadras e agentes e patrulhas da polícia com pedras, garrafas e paus”.
Era caso para dizer: Que bandidos são estes tipos da oposição. E então quando Bento Bento descobrir que Alcides Sakala, Lukamba Gato, Isaías Samakuva e Abílio Camalata Numa tinham em casa um arsenal de Kalashnikov, mísseis Stinguer e Avenger, órgãos Staline, katyushas, tanques Merkava e muito mais…
Dizia Bento Bento que a direcção do MPLA “tinha dados da inteligência (informações) nas suas mãos que apontam que a UNITA estava prestes a levar a cabo um plano B”. Tinha? Será que agora não tem?
Este plano previa, segundo os etílicos delírios de Bento Bento, “uma insurreição a nível nacional, tipo Líbia, Egipto e Tunísia”, sendo as províncias de Luanda, Huambo, Huíla, Benguela e Uíge as visadas. Aí estava o espírito da guerra, tão querido ao MPLA.
Sempre que no horizonte se vislumbra, mesmo que seja uma hipótese remota, ténue e embrionária, a possibilidade de alguma mudança, o regime dá logo sinais preocupantes quanto ao medo de perder as eleições e de ver a UNITA (ou a CASA-CE) a governar o país.
Para além do domínio quase total dos meios mediáticos, tanto nacionais como estrangeiros, o MPLA sempre apostou forte numa estratégia que tem dado bons resultados. Isto é, no clima de terror e de intimidação.
No início de 2008, notícias de Angola diziam que, no Moxico, “indivíduos alegadamente nativos criaram um corpo militar que diz lutar pela independência”.
Disparate? Não, de modo algum. Aliás, um dia destes vamos ver por aí Kundi Paihama, Bento Bento ou Luvualu de Carvalho, afirmar que todos aqueles que têm, tiveram, ou pensam ter qualquer tipo de armas são terroristas da UNITA.
E, na ausência de melhor motivo para aniquilar os adversários que, segundo o regime, são isso sim inimigos, o MPLA poderá sempre jogar a cartada, tão do agrado das potências internacionais que incendeiam muitos países africanos, de que há o perigo de terrorismo ou do regresso à guerra civil.
Se no passado, pelo sim e pelo não, falaram de gente armada no Moxico, agora deverão juntar o Bié ou o Huambo.
Kundi Paihama, um dos maiores especialistas de Eduardo dos Santos nesta matéria, não tardará – se assim for conveniente – a redescobrir mais uns tantos exércitos espalhados pelas terras onde a UNITA tem mais influência política, para além de já ter dito que quem falar contra o MPLA vai para a cadeia, certamente comer farelo.
Tal como mandam os manuais, o MPLA começa a subir o dramatismo para, paralelamente às enxurradas de propaganda, prevenir os angolanos de que ou ganha ou será o fim do mundo.
Além disso, nos areópagos internacionais vai deixando a mensagem de que ainda existem por todo o país bandos armados, ou a armar-se, que precisam de ser neutralizados.
Aliás, como também dizem os manuais marxistas, se for preciso o MPLA até sabe como armar uns tantos dos seus “paihamas” para criar a confusão mais útil. E, como também todos sabemos, em caso de dúvida a UNITA será culpada até prova em contrário.
Numa entrevista à LAC – Luanda Antena Comercial, no dia 12 de Fevereiro de 2008, o então ministro da Defesa, Kundi Paihama, levantou a suspeita de que a UNITA mantinha armas escondidas e que alguns dos seus dirigentes tinham o objectivo de voltar à guerra.
Kundi Paihama, ao seu melhor estilo, esclareceu, contudo, que os antigos militares do MPLA, “se têm armas”, não é para “fazer mal a ninguém” mas sim “para ir à caça”. Ora aí está. Tudo bons rapazes.
Quanto aos antigos militares da UNITA, Kundi Paihama disse que a conversa era outra e lembrou que mais cedo ou mais tarde vai ser preciso falar sobre este assunto. Se calhar é agora a altura.
Na entrevista à LAC, Kundi Paihama disse textualmente: “Ainda hoje se está a descobrir esconderijos de armas”.
O regime reedita em 2017, obviamente numa versão acrescentada e melhorada, as linhas estratégicas do seu plano de 2008 e de 2012.
“A situação interna não transparece em bons augúrios para o MPLA, devido a várias manobras propagandísticas por parte dos partidos da oposição e de cidadãos independentes apostados em incriminar o Partido no Poder para fazer vingar as suas posições mercenárias junto da população civil e das chancelarias e comunidade internacional”, lia-se na versão de 2008.
Na de 2012 manteve-se o conteúdo e só a embalagem mudou qualquer coisa. Pouca coisa, aliás. Na de 2017 apenas deixou de aparecer a chipala de José Eduardo dos Santos.
No terreno está a onda propagandística sobre a UNITA e a CASA-CE e os seus dirigentes nos órgãos de comunicação social, relacionados com a descoberta de novos paióis de armamento nas províncias.
Para além da apertada vigilância sobre os dirigentes da cúpula da UNITA (incluindo escutas telefónicas), foram reactivadas as células-mortas de informadores no interior do Galo Negro, bem como as Brigadas Populares de Vigilância nos bairros de Luanda e nas capitais provinciais, as quais podem contar – se for necessário – com armamento ligeiro.
Afinal, na História recente (desde 1975) do regime angolano, nada se perde e tudo se transforma para que os mesmos continuem a ser donos do poder e, é claro, de Angola.

LUANDA: Ministro Português Sem Vergonha Mas Com Desmedida Lata

MINISTRO SEM VERGONHA 
MAS COM DESMEDIDA LATA


silvinha

O ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Augusto Santos Silva, sustentou hoje que a Europa tem “culpas a expiar” por “desatenção recente” com África, defendendo uma maior cooperação entre os dois continentes para resolver problemas como as migrações. Se a hipocrisia deste ministro (e de uma forma geral de todos os governos portugueses) pagasse impostos, certamente que Portugal teria as suas contas públicas em ordem.

“Épreciso mais cooperação entre a Europa e África, é preciso mais proximidade entre a Europa e a África. Quem tem culpas a expiar nesta relação, por desatenção recente, não é África, mas sim a Europa”, disse hoje Augusto Santos Silva, intervindo como convidado de honra na comemoração do Dia de África (25 de Maio), organizada pelo corpo diplomático africano em Portugal.
Actualmente, acrescentou Augusto Santos Silva, os europeus têm “uma enorme responsabilidade adicional”. Têm sim senhor. Mas Portugal tem tantos, mas tantos, telhados de vidro (veja-se, por exemplo, o seu relacionamento com o regime de Angola) que deveria estar quietinho e caladinho.
“Com a perspectiva de alguma viragem na política norte-americana quanto ao multilateralismo e às grandes agendas comuns, do clima ao desenvolvimento, a Europa tem a responsabilidade acrescida de liderar essas agendas”, sustentou o ministro, quase como se fosse Portugal uma virgem santa e não, como é, uma prostituta rainha dos mais putrefactos bordéis.
A agenda para o desenvolvimento sustentável das Nações Unidas (agenda 2030) “casa-se bem com a agenda 2063 da União Africana” e as duas regiões partilham das mesmas preocupações sobre as alterações climáticas.
“Só é possível resolvermos alguns dos nossos problemas europeus, por exemplo o das migrações, se pedirmos ajuda – insisto, se pedirmos ajuda -, a África. Só há uma maneira: sermos parceiros em projectos comuns”, considerou Santos Silva, esquecendo-se de assumir que pouco, ou nada, interessa se os países africanos são liderados por dirigentes corruptos e esclavagistas.
Portugal, acrescentou Santos Silva, “entende que a sua responsabilidade, como ponte que é entre África e Europa, é ajudar a Europa a compreender tudo isto”, ou seja, “situar a Europa do lado do futuro, ou seja, a Europa tem de estar situada do lado de África”. Lindo. Quase parece um poema concorrente aos jogos florais da Internacional Socialistas.
O chefe da diplomacia portuguesa advogou a necessidade de a Europa ter “mais consciência de quão importante é a parceria com África”, mas reconheceu que há avanços nesta matéria, exemplificando que a relação com os africanos foram os temas escolhidos pelas presidências italiana e alemã do G7 e do G20, respectivamente.
“Esta consciência de que África é um parceiro essencial do ponto de vista económico, político, da segurança, estratégico, é hoje muito mais clara na Europa”, referiu o ministro português, servil acólito – embora disfarçado – do regime despótico do seu camarada José Eduardo dos Santos.
Portugal, afirmou, reconhece a “riqueza de África como um mercado económico e uma economia global”, mas isso mesmo “sabe a China, sabe a Índia, sabe a América” e “a União Europeia deveria saber melhor”.
Santos Silva justificou por isso que os portugueses têm procurado convencer a Europa a “regressar a África, não da forma como a explorou durante séculos, mas como um parceiro”. Como anedota não está mal.

Portugal e o regime do MPLA (Angola é outra coisa)

beija-maoOministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Augusto Santos Silva, que – segundo as suas próprias palavras – “foi mandatado pelo Presidente José Eduardo dos Santos”, afirmou no dia 22 de Fevereiro que o Governo português continua a preparar a visita do primeiro-ministro a Angola, então prevista para esta Primavera, depois de Luanda ter adiado a deslocação da ministra da Justiça, que deveria ter começado nesse dia.
“Os preparativos para a visita do primeiro-ministro, da parte portuguesa, continuam normalmente. Nós apresentámos várias datas possíveis para a visita se realizar e esperamos uma resposta das autoridades angolanas”, disse aos jornalistas Augusto Santos Silva.
Recorde-se que o ministro português veio a despacho a Luanda, entre 10 e 12 de Fevereiro, para reforçar a cooperação bilateral e preparar uma visita de António Costa. Entenda-se o significado político da expressão “reforçar a cooperação bilateral”: aumentar o índice de bajulação e subserviência em relação ao regime do MPLA.
Questionado na altura se havia alguma reserva do Governo angolano sobre a eventual visita do primeiro-ministro português, Santos Silva respondeu: “Não me parece que haja aqui qualquer reserva, mas veremos”. Aliás, se houver, o problema resolve-se aumentando os decibéis da bajulação e, ainda, arranjando maneira de arquivar todos os processos judiciais que envolvam altos dignitários do regime.
O chefe da diplomacia português sublinhou depois que a cooperação entre Lisboa e Luanda “chegou a um patamar que pede e justifica uma visita ao mais alto nível”.
“No caso de Angola, dada a natureza executiva das questões em causa, parece que faz sentido haver uma visita do primeiro-ministro português. As autoridades angolanas concordam com esta avaliação e portanto sustentam que a próxima visita seja ao mais alto nível. Aliás, o meu colega dos Negócios Estrangeiros, Georges Chikoti, já anunciou isso em Portugal no ano passado”, disse Santos Silva.
Neste momento, os dois países procuram encontrar “as datas mais convenientes para as duas partes”, acrescentou o ministro português tentando tapar o sol com uma peneira de modo a que as datas ocultem o real motivo de todas estas questões: a acusação de corrupção activa ao vice-presidente de Angola, Manuel Vicente.
Sobre o adiamento, ainda sem nova data, da visita da ministra da Justiça portuguesa, Francisca Van Dúnem, o chefe da diplomacia portuguesa referiu que Portugal e Angola procurarão reagendar esta deslocação. Simples, não é? Era se nós fôssemos todos o que Augusto Santos Silva pensa que somos: matumbos.
Questionado sobre qual foi a explicação do Governo angolano, Augusto Santos Silva respondeu: “A justificação apresentada foi a necessidade de reponderar nova data”. Portugal vai também reponderar… a bem da nação, como dizia António de Oliveira Salazar.
Interrogado sobre se esta decisão do executivo de Luanda poderia estar ligada à acusação do vice-Presidente angolano, Manuel Vicente, pelo Ministério Público português, no âmbito da “Operação Fizz”, relacionada com corrupção e branqueamento de capitais, o ministro sublinhou a separação entre poder executivo e judicial.
“Do ponto de vista das autoridades portuguesas, os planos são completamente diferentes”, disse. Pois é. Mas em Angola, sob a superior e divina orientação de sua majestade o rei José Eduardo dos Santos, não há separação entre o poder executivo e o judicial. Não há agora como nunca houve nos últimos 42 anos.