Partidos desvalorizam declarações do Presidente sobre sucessão
Divulgação: Planalto De Malanje Rio Capôpa
O Bloco Democrático (BD) e o Partido Popular (PP), partidos extraparlamentares que anunciaram ontem a sua unificação, minimizaram o reconhecimento feito por José Eduardo dos Santos de que está há "demasiado" tempo no cargo.
A reacção à entrevista concedida pelo Chefe de Estado angolano à estação brasileira de televisão TVBand foi feita por Justino Pinto de Andrade, líder do BD, e por David Mendes, presidente do PP, à margem da cerimónia de assinatura de um acordo que une desde hoje as suas forças políticas.
Segundo Justino Pinto de Andrade, "seria mais simpático se ele declarasse junto do seu partido, dentro do seu partido, que se ia embora e que os seus militantes, dos seis milhões de militantes, quem quisesse concorrer a presidente do MPLA concorresse desde que obedecesse a certos critérios, isso é que era democrático".
Para o líder do BD, o facto de José Eduardo dos Santos falar em sucessão demonstra "falta de cultura democrática" do Presidente da República e do MPLA, partido no poder.
"Fico muito triste, conheço muitas pessoas que são do MPLA, que não percebem a falta de cultura democrática do seu próprio presidente, que diz 'a minha sucessão'. Nas monarquias é que há sucessões", disse Justino Pinto de Andrade.
Por sua vez, o líder do PP desvalorizou o anúncio, salientando que "as palavras de José Eduardo dos Santos não são para ser memorizadas".
"Porque se ele fosse sério faria uma declaração quando esteve no parlamento e diria 'eu acredito que estou a mais na governação e daqui a três, cinco anos vou largar'. Aí teria no mínimo a formalidade. Agora essas entrevistas que são pagas, pagam para passar num canal, desculpa, eu não acredito nele", frisou.
Na entrevista, transmitida no passado dia 26 de outubro, questionado se não acha que já está há muito tempo no poder, José Eduardo dos Santos reconheceu que sim e, num registo invulgar, foi mais longe que a pergunta e disse que há "demasiado" tempo.
Ainda à volta do tema da sua sucessão, José Eduardo dos Santos respondeu que a questão está a ser debatida no seio do MPLA, para o que estão a ser "ensaiados vários modelos".
Relativamente à unificação destas duas forças políticas, que nunca concorreram a eleições, cerca de um ano depois de negociações, Justino Pinto de Andrade referiu que essa união visa a criação de "um corpo político forte e coeso, capaz de resistir aos grandes abalos próprios da actividade política.
"Temos a obrigação de contrariar a tendência da dispersão e da autofagia das oposições. Essa dispersão e autofagia só nos enfraquecem e diminuem as possibilidades de futuros êxitos", sublinhou o líder do BD, sigla de referência do partido.
Por seu turno, David Mendes disse que o PP aceitou juntar-se ao BD por representar aquilo que o seu partido pretende igualmente atingir "liberdade".
"Uma liberdade efectiva, acabarmos com a ditadura, acabarmos com o medo, e não são poucas as vezes que dizemos, ainda que isso custe as nossas vidas", disse David Mendes.
Lusa / Novo Jorna
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