De um Outubro eleitoral para um Novembro celebrante! - Eugénio Costa Almeida
Lisboa - As duas últimas semanas de Outubro foram prenhes em eleições gerais em vários países, três dos quais e pelas variadíssimas razões, poderá ter uma maior ou menos impacto nas nossas relações diplomáticas.
Fonte: NJ
Divulgação: Planalto De Malanje Rio Capôpa
06/11/2014
No Uruguai o presidente “pé-descalço” Pepe (Jose Mujica, de nome próprio, cujo mandato termina em Março de 2015) deverá ser substituído por um destes dois mais projectados candidatos: Tabaré Vázquez (já foi presidente entre 2005 e 2010, que concorre pela coligação de Mujica, a Frente Amplia); e Luis Lacalle Pou (candidato pelo Partido Nacional (PN), também conhecido como partido Blanco). Na prática Vázquez quer imitar o PT e a “coligação” Lula/Dilma. Há ainda a hipóteses, ainda que remota – quando lerem este texto já se saberá em definitivo quem foi o mais votado – de haver um possível terceiro potencial candidato, o Pedro Bordaberry, do Partido Colorado, que governou o país durante a maior parte da sua moderna história política; está prevista uma segunda volta que, a acontecer, será a 30 de Novembro.
Na Tunísia, as eleições do passado dia 26 de Outubro (excepto as de Moçambique foram todas nesta data) trouxeram uma alteração política interessante. Os islamitas do partido Ennahada (até agora o partido maioritário) foram derrotados pelos moderados e laicos do partido Nidaa Toune que terá conquistado a maioria (mas não absoluta, pelo que terá de fazer coligações) do Parlamento. O Ennahada não só já reconheceu a derrota como admitiu – pouco normal no nosso continente – a perda substancial dos anteriores 68 deputados que detinha. Uma boa lição de democracia que se saúda…
Na Ucrânia as eleições legislativas trouxeram uma enorme dor de cabeça aos europeus e aos russos. Estes dizem que aceitam o escrutínio apurado. Aqueles, porque a maioria dos ucranianos dispersaram-se pelos três maiores partidos, todos pró-europeus e pró-união europeia. Mada de mais se este próximo fim-de-semana, primeiros dias de Novembro, não fossem ocorrer eleições nas partes auto-separadas do Leste e eleições antecipadamente reconhecidas pelos russos, o que “minar”, como acusam as autoridades de Kiev, as expectativas de uma bonança abertas pelo cessar-fogo acordado em Setembro.
Ora sabendo-se que nós ganhámos um assento, ainda que não-permanente, no Conselho de Segurança das Nações Unidas – o que se saúda – e que vamos entrar neste grande areópago internacional em Janeiro próximo, teremos uma palavra a dizer no “conflito” que naturalmente, irá emergir destas eleições não aprovadas nem sancionadas pela comunidade internacional. Teremos de dirimir os interesses das nossas ancestrais relações com os russos e os interesses da comunidade internacional, nomeadamente, os interesses euro-ocidentais muito particulares…
Finalmente duas eleições importantes por razões diversas.
As eleições moçambicanas, ocorridas já há mais de duas semanas (a15 de Outubro), e que só agora – no momento em que estou a escrever – estão a oficializar os respectivos editais eleitorais.
O partido do poder, Frelimo e o seu candidato presidencial, Filipe Nyusi, conquistaram cerca de 57% dos votos válidos nas eleições gerais, muito menos do que seriam expectável mas ainda assim, neles incluídos alguns valores que se vieram a verificar fraudulentos (conforme fotograficamente provados pelo portal “Macua de Moçambique” (macua.org) em momento próprio). A fraude apresentada neste portal foi igualmente reportada pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) que terá demitido e expulsa uma delegada principal da Frelimo por manipulação de dados eleitorais numa secção de voto. No caso apresentado pelo “Macua” vê-se na foto que Nyusi teria conseguido mais votos que os eleitores inscritos além de haver – enão poucos – nos outros dois candidatos.
Os dois candidatos em questão foram Afonso Dhlakama, da Renamo, obteve 36% e Daviz Simango, do MDM, que não foi além dos 7%.
Já os respectivos partidos, na sua corrida para o parlamento moçambicano, tiveram variações substanciais face ao escrutínio anterior. A Frelimo perdeu cerca de 49 assentos (fica com 142 deputados correspondendo a 57,06%, menos que o seu candidato presidencial), enquanto a Renamo (com 89 assentos e 33,84%) e o MDM (conquistou 19 deputados correspondentes a 9,1%) ganham respetivamente 38 e 11 deputados.
Sabendo-se que houve, uma vez mais, alguns constrangimentos nas eleições de Moçambique – denunciadas, em alguns casos até pela própria CNE –, não deixa de ser surpreendente que, também uma vez mais, os observadores digam que tudo decorreu lindamente e sobre carris. Isto só descredibiliza o sistema eleitoral africano. Há a velha tendência de olhar para uma árvore como se da floresta se tratasse; e nós temos o velho hábito de dizer sempre “sim a tudo” aos nossos amigos…
Já o Brasil a reeleição de Dilma Rousseff apesar de renhida com Aécio Neves, do PSDB, era previsível e esperada.
É certo que havia a vontade de “Mudança” como ficou provado nas variações das sondagens e nos distúrbios do pré-Mundial (e durante este). Também é verdade que Dilma na sua primeira declaração disse que o país e o sistema político brasileiro careciam de uma mudança e substancial.
Ora a senhora “presidenta” Dilma, ao contrário do seu concorrente não é tão próxima de África como foi o seu predecessor, Lula da Silva – que se prevê possa vir, de novo, e por vontade de muitos, a ser o novo próximo inquilino do Palácio do Planalto, dentro de 5 anos –, conforme se viu neste seu primeiro consulado. Só a vimos próxima de áfrica quando dos BRICS. Como descendente búlgara, Dilma é, apesar da sua reconhecida militância contra a ditadura conservadora – chegou a ser presa e torturada – uma dirigente mais europeizada e mais próxima dos governos latino-americanos.
Se olharmos bem as relações com os africanos estão na dependência de terceiros. Talvez neste turno alguma coisa mude.
E aqui Angola poderá ter uma voz mais activa e importante nas relações entre Brasil e África. O Brasil – e Dilma – querem ver colocado o país no Conselho de Segurança como membro-permanente. E sem África nunca o conseguirá!
Acaba o mês de Outubro e entra o mês de Novembro.
O mês de muitos factos que se saúdam: o mês da cidade de Maputo (a 10); o mês dos 25 anos da queda do “Muro de Berlim” (a 9 de Novembro era derrubada a última pedra num enlaço que teve o seu início um mês antes – era o fim da chamada “guerra-fria”); é o mês da nossa Dipanda e, finalmente, para mim, há 58 anos, no mesmo dia que as forças soviéticas entravam em Budapeste (Hungria) para iniciar o abafamento da revolta húngara anti-soviética (terminaria a 11 de Novembro de 1956, ou seja, uma semana depois), surgia este vosso amigo – espero – na belíssima cidade do Lobito onde os flamingos voltaram a dizer: presente!
Para Angola o meu obrigado por tudo o que já me deste e que ainda me dás.
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