SONANGOL: MAU NEGÓCIO NO HOUSTON EXPRESS
O Houston Express, como é conhecido nos Estados Unidos da América o voo de ligação entre Luanda e Houston, representa em média para a Sonangol, desde finais do ano passado, perdas mensais no valor de US $2.5 milhões. Ou seja, é um descalabro que representa uma perda anual de US $30 milhões para a petrolífera nacional, que detém 50 por cento da empresa de aviação, através da sua subsidiária, a SonAir.
Por sua vez, a Blue Oshen, uma criação do universo empresarial do triunvirato presidencial (Manuel Vicente e generais Kopelipa e Leopoldino Fragoso do Nascimento), é proprietária de 40% do capital, sendo uma espécie de “parceiro sanguessuga”. A US Africa Aviation, criada pelo primeiro embaixador dos Estados Unidos em Angola, o finado Edmund DeJarnette, detém 10% do capital.
O Houston Express, operado pela Atlas Air, tem ao seus dispor dois Boeing 747-400 adquiridos pela Sonangol. Assegura dois voos directos semanais, e é o único serviço directo de transporte de passageiros e carga entre Angola e os Estados Unidos da América. O acesso a estes voos está exclusivamente reservado às empresas que sejam membros do United States Africa Energy Association (USAEA), principalmente as multinacionais petrolíferas. Excepcionalmente, os bolseiros da Sonangol também podem usar os serviços.
Actualmente, quer a subsidiária da SonAir nos Estados Unidos da América, a Sonair USA, quer a USAEA, são dirigidas pelo herdeiro de Edmund DeJarnette, Ned DeJarnette.
No seu currículo, Ned refere que, enquanto director-geral da USAEA, a sua tarefa é “gerir e incrementar o número de membros da USAEA; prestar assistência à Sonair, S.A., o agente da USAEA, na promoção e venda para o seu voo entre Houston e Luanda, Angola”. Convenientemente, no mesmo currículo, Ned não explica o conflito de interesses com a sua posição de presidente e director-geral da SonAir USA, cargo acerca do qual não especifica as funções que desempenha.
A actual administração da Sonangol, exercida por Isabel dos Santos, a filha do presidente JES, ainda não elaborou qualquer medida para estancar a sangria do Houston Express. Relativamente à SonAir, Isabel dos Santos tem estado apenas ocupada com o desmantelamento da rede criada por Manuel Vicente, fora do trio presidencial, para sorver fundos através de participações societárias em empresas de prestação de serviços à SonAir.
Para amortecer os danos, a 29 de Agosto passado a Houston Express reduziu os voos semanais de três para dois. A crise do petróleo e a consequente redução de passageiros afectou também as companhias áreas internacionais. A espanhola Iberia suspendeu a sua ligação a Angola em Junho passado, e a Air France também reduziu a sua frequência para um voo semanal. Por sua vez, a TAP reclama que o Estado angolano lhe deve mais de US $60 milhões (50 milhões de euros) e, em Junho passado, reduziu de dez para oito o número de ligações semanais a Angola, e considera mesmo reduzir ainda mais ou cancelar a rota em caso de agravamento da dívida.
Entretanto, para o Estado angolano, manter a Houston Express, agravando assim o prejuízo brutal para os cofres da Sonangol, apresenta aparentes benefícios políticos e para o círculo presidencial: mantém a ilusão de uma ligação directa para os Estados Unidos, sob seu controlo, e os proventos do triunvirato presidencial, também conhecido nos círculos do poder como o “trio maravilha”.
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