Não sei se quem tem este interesse vê de facto muito bem os tais corações escondidos, pois neste tipo de abordagem, mais do que nunca, cada cara é mesmo uma cara.
Quanto ao coração logo se verá.
Não tenho, porém, muitas dúvidas em concluir que, pela avaliação da cara ou do rosto de uma determinada pessoa, se podem chegar a outras conclusões mais ou menos definitivas sobre a sua personalidade.
Desde logo acho que é mais difícil chegar a tais conclusões com as pessoas que são consideradas mais bonitas, sobretudo no que toca às mulheres e às crianças mais crescidinhas.
Com as pessoas tidas como sendo menos bafejadas pela formosura, os ditos feios, as hipóteses de acertar de quem analisa parecem ter mais hipóteses de sucesso.
Grosso modo há quem diga que os corações retorcidos/maus fígados tem mais probabilidades de casarem em total comunhão de bens com os rostos menos dotados pela natureza/mais antipáticos.
Indo mais directamente ao assunto, a regra geral a estabelecer seria que as pessoas feias têm mais sorte de ser más por natureza, enquanto as bonitas jogam no campo oposto, fazendo o papel das boazinhas da fita.
Como é evidente este maniqueísmo não funciona com este tipo de relacionamento, não sendo possível, por conseguinte, estabelecer a rigor uma relação de causa/efeito entre a fácies de cada um de nós e os sentimentos que trazemos no coração.
A beleza normalmente costuma rimar com a bondade, mas sabe-se que esta convergência não acontece de forma linear com o ser humano, daí que continue a prevalecer o postulado mais antigo que terá nascido com a própria humanidade, quando ainda não havia espelhos, segundo o qual, quem vê caras não vê corações, por ser o mais cauteloso/prudente.
Na altura das cavernas, por não haver espelhos à venda na loja mais próxima, acredito que o problema era bem mais complicado até para se estabelecerem as inevitáveis comparações para se saber quem era o mais bonito ou o mais feio no seio do grupo.
O desafio, contudo, hoje nesta passeata é tentar ver os corações através das caras o que eu acho que é bem possível sobretudo com algumas caras mais expressivas do ponto de vista das feições, sejam elas mais ou menos bafejadas pelas divindades que fazem a gestão das nossas bochechas, narizes e olhos, para efeitos de distribuição dos nossos pergaminhos visuais de acordo com os padrões de cada etnia.
Aparentemente os rostos mais bonitos são menos perscrutáveis do ponto de vista da sua identificação imediata com a maldade ou a bondade.
Há, entretanto, algumas mulheres formosas que devido a um tique qualquer que exibem, não me deixam muita margem para dúvidas quanto ao potencial negativo que possuem, ou seja, quanto à sua capacidade de fazer e desfazer, sem pestanejarem um segundo.
Aqui este tipo de acção está, obviamente, conotado com a perfídia e com a sua determinação de esfolarem quem se lhes tentar atravessar no caminho.
Quando vejo este tipo de rosto, lembro-me sempre daquele filme sobre as bonecas assassinas.
Caso me fosse possível confirmar este tipo de percepção junto das próprias, acredito que a minha taxa de sucesso seria bastante elevada.
Em relação aos homens há um tipo de rosto que me inspira de imediato uma reacção epidérmica no âmbito da causa/efeito.
É o rosto típico do sacana/canalha a caminho do vale tudo, até arrancar olhos, na maior das calmas.
Ao longo dos anos que levo nos ombros e que já me começam a pesar um bocado na estrutura psico-somática, tenho-me deparado com este “protótipo facial”, que acaba por ser atípico, porque não tem um padrão que seja fácil de identificar.
De facto tenho-me deparado, sobretudo entre os angolanos, com este tipo de “cara nada legal”, em relação ao qual as minhas dúvidas são muito poucas quanto à existência mais abaixo de um coração potencialmente destrutivo a todos os níveis.
Nesta mesma lógica a minha grande curiosidade é saber o que é que as pessoas que não me conhecem pensam de mim, depois de terem tomado contacto com a minha “chipala”.
Como acho, modéstia à parte, que sou uma pessoa mais ou menos mal encarada, só de imaginar os resultados deste tipo de observação até me causa arrepios.
A nossa cara tem sempre de traduzir alguma coisa para quem nos observa, havendo efectivamente alguma possibilidade de acertarmos em cheio na “mouche”, apenas com base nesta “auditoria externa” a que todos estamos sujeitos quer queiramos, quer não.
De acordo com todo este empirismo que, com a vossa benevolência, por aqui desfilou ao ritmo de uma intensa subjectividade, talvez conclua deixando no ar uma interrogação.
Em termos estatísticos, entre feios, bonitos e atípicos, quem é que tem mais probabilidades de ter um coração realmente mau como as cobras?