quinta-feira, 15 de março de 2018

LUANDA: Tentativa de Assassinato do Vice-Presidente: A ficção

TENTATIVA DE ASSASSINATO DO VICE-PRESIDENTE: A FICÇÃO DO SIC


O que leva o presidente da República João Lourenço a permitir que o seu governo, nos primeiros meses de mandato, seja conspurcado com “inventonas” de tentativa de assassinato do seu vice-presidente? O que leva o mesmo presidente a permitir o uso contínuo da catana como instrumento oficial de tortura da Polícia Nacional e do Serviço de Investigação Criminal (SIC)? Porque permite a tortura, que é inconstitucional? O que leva ainda o presidente a permitir que o sistema judicial, sobretudo o SIC, seja tão desumano e especializado em forjar provas absurdas e a encarcerar inocentes? Por que razão permite João Lourenço o envolvimento impune de efectivos da Casa de Segurança num acto de tortura?
Passemos aos factos. Cinco cidadãos, detidos há mais de um mês no Estabelecimento Prisional de Viana, são acusados de tentativa de assassinato do vice-presidente Bornito de Sousa. A acusação é tecida a partir de uma discussão banal sobre o estacionamento da viatura em que seguiam. Ora, os cinco cidadãos acabaram torturados de forma bárbara, tendo sido filmados com provas ridículas e obrigados a assinar confissões sob ameaças de morte.
O vice-presidente Bornito de Sousa é jurista e professor de Direito.
Quem são os cinco “comandos”?
A 3 de Fevereiro passado, o pedreiro e ladrilhador Pedro Afonso Miguel “Bebé”, de 34 anos, natural do Uíge, pediu boleia ao seu vizinho Baião Conceição Mendonça, de 55 anos, técnico de contabilidade.
Pedro Afonso Miguel, segundo o seu depoimento ao Maka Angola, tinha uma proposta de trabalho pontual no Condomínio Jardim de Rosas, na zona do Camama, em Luanda, frente ao Instituto de Ciências Policiais. Partiram do Cassequel Cantinton, onde vivem, na viatura Mitsubishi L200.
Já a caminho, Baião Mendonça falou ao telefone com um conterrâneo seu de Malanje, o electricista Morais Joaquim Muxibi, de 52 anos, com quem trabalhou na delegação provincial da Construção, em Malanje.
Muxibi regressava do Talatona, onde fizera um biscate pontual, uma vez que é trabalhador por conta própria. Aperaltado com uma gravata, o electricista, testemunha de Jeová, iria primeiro ao culto, num local próximo da sua nova casa, no bairro da Calemba II. “O Baião tinha o desejo de conhecer a minha nova casa. Combinámos um encontro na rotunda da Camama. Explicou-me que antes iríamos juntos deixar o vizinho dele no Condomínio Jardim de Rosas e depois seguiríamos para a Calemba”, conta Muxibi.
Já próximos do Jardim de Rosas, Baião Mendonça avistou outro conterrâneo seu, o pedreiro Domingos João Caputo, de 39 anos. Este último estava acompanhado pelo seu colega pedreiro Nelito Cambari Tunguno, natural do Kwanza-Sul. Regressavam de uma obra nas redondezas, onde trabalhavam.
“O senhor Baião parou para cumprimentar o seu amigo Caputo e perguntou-nos para onde íamos. Dissemos que íamos ao Camama. Ele ofereceu-nos boleia. Disse que também estava a caminho do Camama, mas que antes tinha de deixar um amigo no Jardim de Rosas”, explica Nelito Tunguno.
O pedreiro Pedro Afonso Miguel “Bébé”.
O Jardim de Rosas
Perto das 17h00, Baião Mendonça entrou no condomínio, tendo cumprido os protocolos de entrada, com o registo da viatura, identificação e telefonema de confirmação junto do anfitrião.
“O mais velho Baião não conseguia encontrar a rua, conforme as explicações que nos deram. Então, preferiu parar. Estacionou o carro onde havia lugar e pediu-me para ligar ao Sr. Manuel (o anfitrião no condomínio), para ir buscar-nos onde estávamos”, conta Pedro Miguel.
Mal estacionaram, um indivíduo engravatado bateu à porta do motorista. “Perguntou-nos se sabíamos onde tínhamos estacionado. O Sr. Baião respondeu que não havia ali cones ou sinalização”, diz Pedro Miguel.
Baião Mendonça explica: “Como não havia entendimento entre mim e o segurança, pedi-lhe que chamasse a polícia, para ver quem tinha razão. Eu tinha estacionado o carro na via pública e havia mais cinco carros estacionados na mesma faixa.”
Os agentes da Polícia Nacional, do posto policial do Bom Sucesso, acorreram ao local e encontraram os cinco dentro da viatura. Nenhum deles tinha saído do carro até à chegada da polícia.
Para esclarecimento da situação, Pedro Miguel ligou ao seu contacto no Jardim de Rosas, para que ele viesse e explicasse a situação aos agentes da Polícia Nacional. Durante esse telefonema, “a polícia começou a insultar o senhor, a chamar-lhe filho da puta que põe bandidos dentro do condomínio para fazer assaltos”.
“A polícia ameaçou o senhor Manuel, o nosso contacto, para que ele não comparecesse no local”, relata o detido.
Os agentes da Polícia Nacional ordenaram aos ocupantes que saíssem da viatura e algemaram-nos. Revistaram o carro e encontraram “uma bateria de automóvel, uma tesoura e sacos de plástico novos”, de acordo com os entrevistados. Foram todos levados para a esquadra.
O electricista Morais Joaquim Muxibi.
A tortura
No posto policial do Bom Sucesso, depois de um breve aquecimento com tabefes e pontapés, os guardas passaram à tortura. Pedro Miguel descreve: “Fizeram-me de avião. Algemaram-me os pulsos aos tornozelos, nas costas, e levantavam-me pelas algemas, esticando os braços, o peito e as pernas por trás. Depois apanhei com a catana nas costas e nas nádegas. Nem dava para contar, com a dor. Apanhei mais de vinte vezes. Depois de uma hora de tortura, fui colocado na cela.”
Domingos João Caputo explica que, já no posto policial, foram informados de que tinham estacionado a viatura frente à residência privada do vice-presidente Bornito de Sousa.
“Os polícias disseram-nos que, pela falta de respeito, por termos estacionado frente à casa do vice-presidente, tínhamos mesmo de apanhar porrada”, denuncia Caputo. “Eu fui o primeiro a levar tabefes. Mas a tortura mesmo de verdade foi depois das 22h00.”
Segundo Pedro Miguel, já passava das 22h00 quando os seus algozes regressaram e retiraram os detidos da cela, passando a nova sessão de tortura. “Vinham com uma arma Kalashnikov enferrujada, sem carregador, e começaram a torturar-nos outra vez no sistema do ‘avião’ e com surra de catana nas costas e nas nádegas.”
Também algemado à maneira do “avião”, Caputo descreve: “Apanhei mais de trinta vezes com o lado da catana nas nádegas. Eu já não gritava. Já não sentia dores. Só dizia para me matarem e que o meu crime era ter apanhado boleia.”
De acordo com este depoimento, a comandante da unidade policial, sub-inspectora Cátia Bonifácio, que assistia à tortura, ordenou o seu fim. “Os subordinados continuaram a bater, dizendo que nós, os ‘malandros’, tínhamos de descobrir quem era o dono da arma encontrada por eles no esgoto do condomínio”, prossegue Caputo.
Baião Mendonça descreve a violência dos agentes policiais, que não se limitou à “tortura do avião” e ao uso da catana, prosseguindo com pontapés no rosto: “Fiquei lesionado com tanta porrada, e fiquei com sangue nos olhos durante algum tempo.”
Também Morais Muxibi foi fustigado mais de vinte vezes nas nádegas com o lado da catana, “esmurrado na cara e pontapeado em todo o lado”.
Nelito Tunguno sofreu castigo idêntico, além da já referida “tortura do avião”: “Eles [os polícias bárbaros] não queriam saber da verdade. Quanto mais falávamos a verdade, mais nos torturavam.”
“Quando a comandante viu que a tortura era demais, ordenou aos seus subordinados que parassem, para não sermos mortos ali”, revela Pedro Miguel.
O contabilista Baião Mendonça.
A invenção das provas
Baião Mendonça descreve o seu espanto quando, já depois das 22h00, viu chegarem os agentes policiais, para os tirarem da cela. “Disseram-nos que encontraram uma arma no esgoto. A arma nem sequer tinha carregador e estava toda enferrujada. Depois, criaram uma nova versão e afirmaram ter encontrado a arma na viatura. Traziam mais uma faca e um macete [tipo de martelo]”, conta.
Caputo corrobora: “A arma estava seca. E onde é que havia esgoto aberto no condomínio para lá termos deitado a arma, se nem sequer conseguimos dar conta da casa para onde nos dirigíamos?”
Morais Muxibi acrescenta que os agentes da Polícia Nacional e do SIC “inventaram depois que havia um sexto homem entre nós, que fugiu com o carregador”.
As fotografias
Munidos das “provas” forjadas, e depois da sessão de tortura, os agentes da autoridade passaram então à sessão fotográfica dos suspeitos empunhando as “armas” usadas para o “ataque” ao vice-presidente Bornito de Sousa.
Quem descreve o infortúnio de Baião Mendonça é Pedro Miguel “Bebé”: “Como a tortura era demais, o mais velho aceitou pegar na arma para que o fotografassem assim. O mais velho, por questionar, continuou a ser torturado.”
“Os agentes deram-me a segurar a mesma catana – deles – com que me torturaram, para a fotografia. Essa era a minha arma do crime contra o vice-presidente”, continua Pedro Miguel.
Morais Muxibi também não escapou à encenação: usando o saco onde haviam colocado a bateria encontrada na viatura, “os polícias puseram lá dentro a arma que tinham dado primeiro ao Baião para segurar, e assim me fotografaram”.
Quando chegou a sua vez, conta Domingos Caputo: “Obrigaram-me a segurar um martelo, como prova do instrumento que eu levava para atacar o vice-presidente. E fotografaram-me assim. Eu não tinha como recusar, depois de tanta tortura. A surra com a catana foi demasiada.”
Já Nelito Tunguno foi obrigado a segurar a resma de sacos de plástico (às riscas azuis e transparentes, normalmente usado nas padarias para a venda de pão) para as provas fotográficas. “Os polícias diziam que os sacos seriam usados para tapar o rosto dos familiares do vice-presidente antes de lhes fazermos mal”, afirma.
“A comandante [sub-inspectora Cátia Bonifácio] estava presente, vestida à civil, de bubú, a assistir à sessão de fotografias e à sessão de tortura seguinte”, acrescenta Caputo.
Estamos, então, perante um filme típico do laboratório de imaginação do SIC e da Polícia Nacional. O enredo? Três pedreiros, um electricista e um técnico de contabilidade ameaçam a segurança do Estado, levando a cabo uma tentativa de assassinato do vice-presidente. Quais comandos rambos, só precisam de uma arma enferrujada sem carregador, de uma catana, de um martelo, de uma sacola e de sacos de plástico.
Em 2015, um grupo de 15 jovens que debatiam um manual de não-violência, numa livraria, foram detidos em flagrante discussão e depois acusados pelo então procurador-geral, general João Maria de Sousa, de tentativa de golpe de Estado e de assassinato do então presidente José Eduardo dos Santos. Também neste caso a acusação formal consistia no guião de um filme bem à moda do estado securitário do MPLA: os jovens queimariam pneus junto do palácio presidencial, para assim afugentarem o presidente com o fumo, e então tomariam o poder.
Soldados presidenciais e contra-inteligência militar
Na manhã seguinte, compareceram na unidade seis militares fardados, que se identificaram como pertencendo à Casa de Segurança do presidente da República e da Contra-Inteligência Militar.
“Os militares acusaram-nos de termos tentado assassinar o vice-presidente Bornito de Sousa. Gritavam: Querem matar o nosso vice-presidente!”, explica Pedro Miguel.
“Um dos soldados pôs-me à parte e prometeu ajudar-me caso lhe contasse a verdade. Quando comecei a falar a verdade, ele espancou-me, porque eu não dizia o que ele queria ouvir”, afirma Domingos Caputo.
Nessa altura, segundo Baião Mendonça, os agentes policiais exibiram mais uma prova: “Trouxeram um carregador para a arma que diziam ser nossa. No dia anterior, perguntámos como seria possível realizar uma acção com uma arma sem carregador?”
Os cinco detidos foram então transportados numa carrinha GMC, usada apenas pela Unidade de Guarda Presidencial (UGP).
Nelito Tunguno acrescenta um pormenor que seria caricato, se a situação não fosse trágica: “Os homens da UGP tiraram-nos fotografias e colocaram no Facebook.” Mas o pior foi a seguir: “Puseram-nos deitados debaixo dos bancos e levaram-nos para o Comando de Divisão da Polícia Nacional no Talatona. No trajecto, pisavam-nos com as botas na cabeça, nas costelas, em todo o corpo. Davam-nos socos, chapadas e pontapés.”
Domingos João Caputo sente de um modo diferente a humilhação infligida pelos militares da Casa de Segurança do presidente, já que tem um passado militar, ao serviço das Forças Armadas Angolanas (FAA): “Em 1998, com o 18.º Regimento, combati em Boma, Matadi e Muanda, na República Democrática do Congo. Em 1999, estive nas frentes de batalha do Lunji, Catabola, Nharea e Chipepa. Saí da tropa em 2000, depois de ter sido ferido em combate e evacuado para Luanda. Agora sou tratado como um animal.”
O pedreiro Nelito Cambari Tunguno.
Confissão à moda do SIC
Mas os relatos de tortura e maus tratos não ficam por aqui: já no Comando de Divisão da Polícia Nacional no Talatona, os militares continuaram a pontapear os detidos, a esmurrá-los e a esbofeteá-los. Pedro Miguel conta: “Diziam-nos: ‘falem a verdade e vos libertaremos.’ Exigiam a nossa confissão, como se tivéssemos mesmo tentado assassinar o vice-presidente.”
Segundo as vítimas, os militares só puseram fim à pancadaria quando o comandante da unidade chegou ao local.
Domingos Caputo afirma: “Eu assinei a minha confissão sem ter lido, como o investigador do SIC exigia. Aquilo foi uma boa tortura. Não dava para recusar mesmo. Eu tinha medo de morrer. O investigador do SIC, o clarinho e forte, disse-nos que nos meteria numa cadeia envenenada para morrermos ali.”
Morais Muxibi também confessa a sua fraqueza: “Eu tinha medo de morrer. Assinei a confissão sem ler. A tortura, mesmo ali na Divisão do Talatona, com os procuradores por perto, era demais.”
“À porrada, também assinei. Tinha medo. Nem sei como estamos aqui vivos, na cadeia. Esses homens mentem e matam”, declara Nelito Tunguno.
Depois de ter sido interrogado, Baião Mendonça pediu ao investigador do SIC para ler as suas declarações antes de assinar. Eis o que aconteceu: “Assim começou a minha grande tortura, ali mesmo na Divisão da Polícia Nacional no Talatona. Levei tanta pancada na cabeça, de vários agentes, que perdi os sentidos. Recusei-me a assinar. Acabei por não assinar nada. O investigador rasgou a informação que tinha produzido como sendo minha. Finalmente, fomos ouvidos pelo procurador [José Rodrigues] Cambuta, que formalizou a nossa detenção.”
O pedreiro Domingos Caputo.
A versão oficiosa
Fonte próxima de Bornito de Sousa esclarece ao Maka Angola que o vice-presidente se encontrava em visita privada a Portugal no dia do suposto ataque. “Quando ouvimos falar de atentado pelas redes sociais, inicialmente pensámos que o atentado tivesse acontecido em Portugal, onde ele estava. Ele nem sequer vive lá [no Jardim de Rosas]. Tem essa residência e vai lá de vez em quando, esporadicamente”, afirma a fonte.
E prossegue: “O assunto está a ser tratado pelo SIC e procurámos tomar contacto com a situação. Segundo o relato da polícia, um dos seguranças do vice-presidente interpelou um dos indivíduos e estes puseram-se em fuga. O segurança apercebeu-se de que havia algo estranho e foi buscar a arma. Os homens [os cinco] foram interceptados já na portaria do condomínio. Isso ocorreu às 22h00. Essa é a versão que temos. Contactámos o Ministério do Interior e a Polícia Nacional, e apresentaram-nos essa versão. Até hoje, estamos expectantes para ver como o SIC está a investigar o assunto. Deve ser o SIC a esclarecer o que aconteceu. É estranho que um grupo de pedreiros tenha ido trabalhar no condomínio àquela hora.”
No entanto, vejamos, conforme explicação inicial dos detidos, foram levados para a esquadra antes das 18h00, o que desmente a versão do Ministério do Interior e da Polícia Nacional.
Mesmo assim, a fonte ligada a Bornito de Sousa manifesta-se surpreendida diante da informação de que os cinco detidos foram barbaramente torturados com catanas e pancada pelas autoridades policiais e do SIC.
“Não há, do gabinete do vice-presidente, qualquer actividade que preencha essa postura. Alguém, para justificar um excesso, algum comportamento inadequado, fez isso. O vice-presidente não tem esse comportamento. É muito simples e nada tem a ver com truculências”, afirma a fonte.
Uma outra fonte do executivo limita-se a dizer que a acusação “é fantasiosa”. “Ouvimos falar e não nos metemos nisso. Não temos rigorosamente nada a ver com esse assunto.”
Reacções
Um general, sob anonimato, manifesta-se agastado pela forma como se extrapolou “um mal-entendido por causa de um estacionamento”. Sublinha que “essas acusações só envergonham o Estado angolano, sobretudo a classe de generais que habitam no condomínio. Os acusados nem sabiam quem habita aí”.
“Se o vice-presidente estivesse no condomínio, esses homens nem sequer teriam tido permissão para entrar. Ele não vive lá sequer. Temos de deixar de inventar essas confusões”, assevera o general.
Sem rodeios, os familiares dos detidos também se pronunciam:
“O meu pai é testemunha de Jeová há muitos anos. Ele nem sequer aceita tocar numa arma. Durante mais de dez anos, até 2015, trabalhou como encarregado de electricistas na Griner”, explica Estêvão Morais, filho de Morais Muxibi.
Por sua vez, José Miguel, irmão de Pedro Miguel “Bebé”, é peremptório em afirmar “a falsidade da acusação”: “O meu irmão nunca foi militar para atentar contra um alto mandatário da nação. Como poderia fazê-lo sem treino militar, sem nenhum domínio de armas, sem nada? Um atentado a esse nível teria de envolver generais.”
“Eu vivo com o meu irmão. Temos uma relação muito aberta e ele nunca teve uma arma em casa. Como ele iria atacar a casa do vice-presidente com um martelo ou uma catana na mão, com toda a segurança que ele tem?”, questiona Felipe, irmão de Domingos Caputo. “Nos filmes há montagens, efeitos especiais. A realidade não é assim.”
Como pode então o SIC esclarecer, com seriedade e transparência, esse caso em que forjou provas com recurso ao seu método privilegiado e inconstitucional de investigação, a tortura com catana?
Os pedreiros, transformados em “comandos”, continuam detidos. É esta a justiça da nova era de João Lourenço?

LUANDA: A Estória Começa Assim...

A ESTÓRIA COMEÇA ASSIM…


A estória começa assim: Era uma vez um João muito bem domesticado, assimilado pelos patrões da corrupção e, depois de muito ter rastejado, conseguiu finalmente um tacho como Ministro da governação.

Por Domingos Kambunji
Há alguns meses decorreu em Luanda uma enorme palhaçada que alguns defensores do socialismo cleptocrático, como é o caso do João, cognominaram de Congresso do MPLA. Nessa palhaçada o “Querido Líder”, Zédu dos Santos, foi eleito com 99.6% dos votos. Não consta que o João, muito bem domesticado e assimilado pelos patrões da corrupção, fizesse parte dos 0.4% que tentaram criticar esse cortejo carnavalesco.
Passados que foram alguns, não muitos, meses a claque de que faz parte o João quer-nos demonstrar que em Angola tudo o que há de mau foi provocado pelo eleito com 99.6% da grande palhaçada.
Ainda não há muitos meses, no tempo dos 99.6%, um grupo de angolanos quis organizar uma manifestação a favor da defesa da democracia e dos direitos humanos. Essa manifestação foi brutalmente reprimida pelos tutores do João defensor do socialismo cleptocrático.
O João defensor do socialismo cleptocrático “vestiu apressadamente a farda do MPLA, apertou os atacadores do sapatos, afivelou o cinto, para não lhe caírem as calças, e veio numa enorme correria para a rua gritar”, numa crónica publicada no Jornal de Angola, órgão da propaganda oficial do socialismo cleptocrático, apresentando-se como “intelectual” defensor de uma contramanifestação, do tipo das que são organizadas pelo Kim Jong-un da “Correia da Morte”.
Há já alguns anos, jovens adultos, Cassule e Camulingue e Ganga, entre muitos outros, foram assassinados, em obediência às “ordens superiores” dos kapangas do governo apoiado pelo João defensor do socialismo cleptocrático. Passados já vários anos, as famílias desses mártires ainda não foram indemnizadas pelos danos causados pelo grupo dos 99.6 %, do qual o João, defensor do socialismo cleptocrático, faz parte. O João mantém-se calado, demasiadamente surdo e mudo, cobarde e cumplicemente indiferente perante uma tão grande injustiça.
Já há algum tempo, não muito, uma criança pobre, o Rufino António, foi assassinada pelos cangaceiros ao serviço do grupo dos 99.6%, quando revelou uma enorme aflição por estarem a derrubar a casa pobre dos seus pais pobres. Passado tanto tempo os criminosos e os patrões dos criminosos continuam em liberdade sem serem julgados. O João mantém-se calado, demasiadamente surdo e mudo, cobarde e cumplicemente indiferente perante uma tão grande injustiça.
Há algum tempo iniciou-se em Portugal o processo para o julgamento de Manuel Vicente, que demonstra sinais exteriores de riqueza impossíveis de adquirir através de uma remuneração honesta na Sonangol, apenas possíveis através do peculato. O João defensor do socialismo cleptocrático “vestiu apressadamente a farda do MPLA, apertou os atacadores do sapatos, afivelou o cinto, para não lhe caírem as calças, e veio numa enorme correria para a rua gritar”, numa crónica, defendendo que os tribunais angolanos são competentes para julgar o potencial corrupto.
O MPLA andou muito atarefado a rascunhar a Lei da Legalização da Roubalheira dos Grandes Ladrões, no tempo dos 99.6%, pomposamente designada por lei do repatriamento de capitais. O João manteve-se calado, demasiadamente surdo e mudo, cobarde e cúmplice perante uma tão grande injustiça nojenta.
No início desta semana estava planeado o início do julgamento do Rafael Marques, por ter desmascarado o “ex-Porcariador Geral da Reipública” em actividades de corrupção. Essa palhaçada foi adiada. O João defensor do socialismo cleptocrático mantém-se calado, demasiadamente surdo e mudo, cobarde e cumplicemente indiferente perante uma tão grande palhaçada.
Anteriormente a estratégia era diferente, era necessário demonstrar que o João, defensor do socialismo cleptocrático, fazia parte do grupo dos 99.6%. Agora a estratégia é tentar demonstrar que não fez parte do grupo dos 99.6% até ao dia em que o novo “Querido Líder” seja eleito, no próximo Congresso da Palhaçada, com 99.999%.

LUANDA: Rafael Marques volta para Julgamento Dia 19

RAFAEL MARQUES REGRESSA 
(PARA “JULGAMENTO”) DIA 19


O julgamento (ver-se-á se merece assim ser chamado) do jornalista angolano Rafael Marques, acusado dos “crimes de injúrias e ultraje a órgão de soberania”, foi reagendado para o dia 19 deste mês, disse hoje fonte ligada ao processo.

Ainformação foi avançada por Horácio Junjuvili, advogado de defesa de Rafael Marques, que deverá ser julgado (ou apenas vítima de mais uma palhaçada em cenário judicial) devido a um artigo publicado em Outubro de 2016, no seu portal de investigação jornalística “Maka Angola”, em que levanta suspeitas de corrupção contra o então Procurador-Geral da República, general João Maria de Sousa.
No artigo, o jornalista e activista denuncia o negócio ilícito, realizado pelo ex-PGR de Angola, envolvendo um terreno de três hectares em Porto Amboim, província do Cuanza Sul, para a construção de um condomínio residencial.
O jornalista disse à imprensa, após um primeiro adiamento do julgamento a pedido da acusação, que vai reafirmar em tribunal “a corrupção do ex-Procurador-Geral da República e provar em tribunal que é corrupto”.
“Como é que eu, tendo denunciado um caso de corrupção, sou acusado de cometer crimes contra a segurança do Estado? Isto é um abuso!”, considerou Rafael Marques. Seria de facto um abuso se, neste como noutros casos, estivessem a falar do verdadeiro Estado de Direito.
Na terça-feira, instado pela Lusa a comentar o processo, João Maria de Sousa disse que pretende ver em tribunal “até onde chega a coragem” do jornalista Rafael Marques, que o acusou de ser corrupto.
“Vamos ver até onde é que chega a coragem, até porque uma coisa são as convicções que determinada pessoa tem e outra coisa é a realidade factual e jurídica relacionada com a questão”, disse o general João Maria de Sousa.
Segundo João Maria de Sousa, o caso tem a ver com a sua intenção de adquirir os direitos de superfície de uma determinada parcela de terreno na província do Cuanza Sul, que “enquanto cidadão, como qualquer outro cidadão, tem direito”.
Não é verdade. Enquanto Procurador-Geral da República, João Maria de Sousa não é “como qualquer outro cidadão”. O PGR violou o “princípio da dedicação exclusiva” estabelecido pela Constituição angolana e que impediria (de estivéssemos no tal Estado de Direito) que os magistrados judiciais e do MP exerçam outras funções públicas ou privadas, excepto as de docência e de investigação científica de natureza jurídica.
Diz o Artigo 187 (Estatuto) da Constituição no seu ponto 4: “Os magistrados do Ministério Público estão sujeitos às mesmas incompatibilidades e impedimentos dos magistrados judiciais de grau 67 correspondente, usufruindo de estatuto remuneratório adequado à função e à exclusividade do seu exercício.”
A acusação não consegue desmentir que João Maria de Sousa não comprou o tal terreno. O que dizem agora é que ele não pagou os emolumentos e portanto o terreno já não é dele. Esta explicação, constatação ou tese de defesa não altera o âmago do problema. O problema não é se o ex-PGR continuava com o terreno ou não, o problema é que adquiriu o terreno de forma ilegal.
João Maria de Sousa questionou a razão de o jornalista “de repente” lhe atribuir o “título de corrupto, pelo facto de ter requerido aquele espaço”.
O magistrado afirmou que neste processo, que envolve ainda um outro jornalista angolano, Mariano Brás, por ter republicado o mesmo artigo no seu jornal “O Crime”, está apenas a defender o seu bom nome, a sua honra e dignidade.

LUANDA: Milagre" Bispos Voltam a Pensar Pela Própria Cabeça

“MILAGRE”. BISPOS VOLTAM A 
PENSAR PELA PRÓPRIA CABEÇA


Os bispos da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) manifestaram-se hoje indignados com o “quadro deplorável de degradação” da saúde no país, lamentando a “escandalosa e gritante” falta de medicamentos e a “desumanidade endémica” nos hospitais.

Pelos vistos, provavelmente graças à interferência de Jorge Mário Bergoglio que terá metido uma cunha ao Papa Francisco, os bispos voltaram a ter a capacidade de pensar pela própria cabeça e, dessa forma, darem voz a quem a não tem. Milagre? Talvez.
A declaração dos bispos católicos foi hoje feita pelo vice-presidente da CEAST, José Manuel Imbamba, numa conferência de imprensa de balanço da primeira assembleia plenária anual, que decorreu de 8 a 14 de Março, na província do Namibe.
Para a CEAST, que ainda assim (perante o espectro de uma compulsiva “exoneração”) saúda o anúncio do Governo sobre o recrutamento de novos médicos, enfermeiros e outro pessoal para o sector da saúde, o actual quadro sanitário do país abre espaço para “muitos charlatães extorquirem e explorarem os pobres”.
Provavelmente a CEAST não reparou que “muitos charlatães que extorquem e exploram os pobres” integram os mais altos cargos públicos do país, gozando de uma abjecta impunidade e de uma não menos abjecta imunidade.
“Lamentamos ainda a facilidade com que produtos impróprios para o consumo humano entram no país e recomendamos para o efeito maior rapidez na correcção desses males, assim como renovamos o compromisso de manter viva a cooperação através da Cáritas”, disse José Manuel Imbamba.
No comunicado de imprensa, apresentado pelo também porta-voz da CEAST, os bispos angolanos congratularam-se com o levantamento da proibição da extensão do sinal da Rádio Ecclesia, emissora católica de Angola, em todo o país, feito pelo Presidente angolano, João Lourenço.
“E pelos novos anúncios referentes à reforma do projecto de construção da basílica da Muxima e das negociações para o Acordo-quadro entre a República de Angola e a Santa Sé”, adiantou.
Os bispos angolanos encorajam igualmente João Lourenço a “prosseguir no caminho da reforma do Estado”, para que todos os angolanos primem pela dignidade, honra e nobreza de espírito, fazendo com que as assimetrias regionais desapareçam, a cultura da justiça se fazendo se afirme e os bens de todos a todos beneficiem”.
Durante esta primeira assembleia plenária anual, que também serviu para a abertura do jubileu dos 50 anos da CEAST, os bispos católicos procederam ainda à plantação de árvores no deserto do Namibe, com vista a travar a desflorestação naquela localidade.
“E para que a busca desenfreada e egoísta do dinheiro e do lucro fácil não matem a natureza e a biodiversidade. Daí que recomendamos maior vigilância na luta contra os malfeitores do meio ambiente”, argumentou.
Na ocasião, o arcebispo de Saurimo condenou ainda o surgimento estranho pelo país de “ceitas cristãs e anticatólicas” que no seu entender transportam mensagens que constituem em “autênticas e graves ameaças à unidade, harmonia e integridade das famílias”.
“Pelo que, os bispos solicitam e a apelam aos órgãos competentes para que assumam as suas responsabilidades legais a fim de porem cobro nesta situação”, alertou.

Que a voz do Povo seja a voz de Deus

“Muitos governantes que têm grandes carros, numerosas amantes, muita riqueza roubada ao povo, são aparentemente reluzentes mas estão podres por dentro”. Esta foi e é, por muito que nos custe, a realidade do nosso país.
Alguém da CEAST, do Governo, da Assembleia Nacional etc. se recorda, por exemplo, o que D. José de Queirós Alves, arcebispo do Huambo, afirmou em Julho de 2012 na comuna de Chilata, município do Longonjo, a propósito das eleições?
O prelado referiu que o povo angolano tinha muitas soluções para construir uma sociedade feliz e criar um ambiente de liberdade onde cada um devia escolher quem entender.
“Temos de humanizar este tempo das eleições, onde cada um apresenta as suas ideias. Temos de mostrar que somos um povo rico, com muitas soluções para a construção de uma sociedade feliz, criar um ambiente de liberdade. É tempo de riqueza e não de luta ou de murros”, frisou.
”Em Angola, a administração da justiça é muito lenta e os mais pobres continuam a ser os que menos acesso têm aos tribunais”, afirmou em 2009 (nada de substancial mudou até agora), no mais elementar cumprimento do seu dever, D. José de Queirós Alves, em conversa com o então Procurador-Geral da República, general João Maria Moreira de Sousa.
D. José de Queirós Alves admitia também (tudo continua na mesma) que ainda subsiste no país uma mentalidade em que o poder económico se sobrepõe à justiça.
O arcebispo pediu maior esforço dos órgãos de justiça no sentido das pessoas se sentirem cada vez mais defendidas e seguras: “O vosso trabalho é difícil, precisam ter atenção muito grande na solução dos vários problemas de pessoas sem força, mas com razão”.
Importa ainda recordar, a bem dos que não têm força mas têm razão, que numa entrevista ao jornal “O Diabo”, em 21 de Março de 2006 (doze anos depois tudo continua na mesma), D. José de Queirós Alves disse que “o povo vive miseravelmente enquanto o grupo ligado ao poder vive muito, muito bem”.
Nessa mesma entrevista ao Jornalista João Naia, o arcebispo do Huambo considerou a má distribuição das receitas públicas como uma das causas da “situação social muito vulnerável” que se vive Angola.
D. Queirós Alves disse então que, “falta transparência aos políticos na gestão dos fundos” e denunciou que “os que têm contacto com o poder e com os grandes negócios vivem bem”, enquanto a grande massa populacional faz parte da “classe dos miseráveis”.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

LUANDA: Porque Há Perdão Para os Que Roubaram Dinheiro Publico?

Porque há perdão aos que roubaram dinheiro públicos ? - Paulo Alves

Lisboa  - Se Há Perdão para os que Roubaram Dinheiros Públicos Deve Haver Também Perdão Fiscal para as Empresas Nacionais Prejudicadas Pelo Estado em Consequência da Crise Económica ?
Fonte: Club-k.net
Reedição: Planalto de Malanje Rio Capopa-Blog Cidadania
Porque não Perdão Fiscal para as Empresas Nacionais Prejudicadas?
A pretensão do Estado Angolano perdoar os prevaricadores que se apoderaram indevidamente de dinheiros públicos e os transferiram para o estrangeiro, caso repatriem voluntariamente estes capitais para o país, é discriminatória na perspectiva fiscal. Ao menos que, concorrentemente, o Estado promova um perdão fiscal aos contribuintes, que no decurso das suas operações, como consequência do ambiente macroeconómico muito pouco favorável aos negócios caíram em incumprimentos fiscais.

Pois bem, se o Estado está disposto a perdoar quem roubou o dinheiro dos angolanos, depois fraudulentamente o transferiu para o estrangeiro, sem pagar os impostos correspondentes, como se pode entender o Estado não perdoar as empresas que empurrou para o descalabro? Parece contra-senso exigir um segundo perdão fiscal, num momento particularmente difícil das contas públicas. Mas, face ao perdão anunciado, é justo que o Estado reveja a situação dos empreendedores nacionais, que se debatem com enormes dificuldades, muitas delas, precipitadas pelas políticas económicas, pouco conseguidas, do Estado. 
Ao longo destes últimos 4 anos, o Estado Angolano não pagou aos fornecedores e prestadores de serviços, tendo acumulado avultadas somas em dívida. Face ao avolumar da mesma e incapacidade de a liquidar, o Estado Angolano decidiu paga-la através de títulos da dívida pública (obrigações de Tesouro), cujas datas de maturidade rondam os 2 à 7 anos. Em muitos casos a dívida liquidada foi contraída há 5 anos, quando um dólar americano valia 98 Kwanzas, passados 4 anos, com a desvalorização da moeda nacional, o Estado arrogantemente, impôs o seu poder de império, não aceitando a actualização das dívidas, empurrando os credores para uma situação muito difícil. Muitas dessas empresas estão hoje numa situação de falência técnica.

Os decisores de política económica em Angola terão que compreender que a economia é uma engrenagem que deve funcionar de forma compassada, é como uma orquestra, todos têm que dominar as notas musicais. Numa transacção comercial, a despesa de um agente é receita do outro, ao mesmo tempo, o passivo de um é activo de outro. Quando um dos agentes deixa de honrar o seu compromisso, interrompe o ciclo das transacções e bloqueia todo processo. A economia é no fundo a multiplicidade destas transacções. O Estado ao ter falhado o pagamento das suas obrigações às empresas, interrompeu o ciclo das transacções, desembocando num efeito contágio, que estrangula a economia nacional.

Assim, em Angola, o Estado foi responsável pela morte de milhares de empresas que investiram os seus parcos recursos nos contratos livremente estabelecidos entre agentes económicos, pois o Estado, é também um agente económico. A cadeia de contágio directa e indirecta é enorme. Tem, por conseguinte, o Estado a obrigação moral de viabilizar estas empresas, concedendo um perdão fiscal, antes de perdoar aqueles que de forma dolosa, aproveitaram-se dos cargos que ocupam ou ocuparam no aparelho administrativo do estado e transferiam milhões para o estrangeiro.

Disse recentemente um comentarista, com quem, estou plenamente de acordo: os actos de corrupção cometidos em Angola, não requerem inteligência especial, são feitos as claras. Os nossos endinheirados, usando o termo do escritor Moçambicano Mia Couto, abocanharam as fortunas as claras, se os órgãos competentes da administração da justiça tivessem o mínimo interesse, já teriam enjaulado centenas, assim salvássemos o país da hecatombe em que se encontra.

Nesta conformidade, descordo com a afirmação do Presidente da República, quando afirma que não se trata de uma cruzada contra os ricos do país! É que em Angola temos, de facto, muito poucos ricos. Seguindo a linha de pensamento de Mia Couto, “Rico é quem possui meios de produção. Rico é quem gera dinheiro, dá emprego”. Já o Endinheirado, segundo ainda Mia Couto, é quem simplesmente tem dinheiro. Ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele. A verdade é esta: são demasiado pobres os nossos “ricos” (…).

Angola tem muitos endinheirados, que acumularam fortunas através de esquemas, aproveitamentos, ou até mesmo apropriação de fundos públicos! Terão estes um tratamento diferenciado do que aqueles que foram empurrados na situação de incumprimentos fiscais por culpa do próprio Estado?

Entre os vários aspectos que o novo Governo, liderado pelo Presidente João Lourenço, deve priorizar é melhorar o cultivo da seriedade do agente económico Estado, para sementar a confiança, condição sine quanone, para a redinamização das relações comerciais entre os agentes económicos, profundamente abaladas por incumprimentos por parte do Estado. O contrato e a propriedade de bens são os sustentáculos da economia capitalista. Portanto, o desrespeito dos contratos por parte do Estado induziu uma disrupção total na engrenagem do funcionamento da economia. Por conseguinte, se há clemência para os que roubaram dinheiro, deve haver também perdão fiscal no período em referência para as empresas. Se é para recomeçar, deve o Estado também olhar para aqueles que prejudicou.