quinta-feira, 5 de abril de 2018

LUANDA: Festejemos a Paz Irmãos, Mesmo Com a Barriga Vazia

FESTEJEMOS IRMÃOS. MESMO 
COM A BARRIGA SEMPRE VAZIA

O Bureau Político do MPLA, partido no poder desde 1975, enalteceu a importância de José Eduardo dos Santos no alcance da paz em Angola, cujo 16º aniversário se assinala hoje e pela primeira vez sem o antigo chefe de Estado em funções, que ocupou durante 38 anos sem nunca ter sido nominalmente eleito.

“Honra seja dada ao arquitecto da paz, camarada José Eduardo dos Santos, presidente do MPLA, que, nos momentos mais adversos da história recente de Angola, soube manter a serenidade, impondo a vitória do bem sobre o mal e, desta forma, propiciar, com o seu alto sentido patriótico e aglutinador, uma genuína reconciliação entre irmãos, outrora desavindos”, lê-se na mensagem do partido, a propósito da comemoração do 4 de Abril.
As comemorações oficiais do dia da Paz e da Reconciliação Nacional, 16 anos após a assinatura, em Luena, província do Moxico, dos acordos entre as forças governamentais e da UNITA, decorrem hoje em Malanje, com o acto central a ser orientado pelo vice-Presidente da República, Bornito de Sousa.
Ausente do país em viagem privada, João Lourenço, Presidente da República desde 2017, não participa nas comemorações deste ano.
José Eduardo dos Santos, Presidente entre 1979 e 2017, mantém-se na presidência do MPLA, enquanto João Lourenço, chefe de Estado, é seu vice-presidente no partido, situação que alguns militantes descrevem como sendo de bicefalia no poder.
O conflito em Angola terminou após a morte, em combate, no Leste de Angola, a 22 de Fevereiro de 2002, de Jonas Savimbi, líder histórico e fundador da UNITA.
Durante praticamente três décadas, morreram cerca de meio milhão de angolanos, entre militares e civis, devido ao conflito armado.
“Angola é hoje, para bem dos seus filhos, uma Nação em paz e reconciliada, que não pretende voltar a trilhar os caminhos do ódio e da violência, onde cada cidadão deve ser um agente activo da tolerância e do amor ao próximo, para que nela seja construída uma sociedade de bem-estar, de progresso social e de desenvolvimento sustentável”, lê-se na mensagem do MPLA a propósito do dia da Paz.
Acrescenta que a consolidação da paz e da reconciliação nacional “são premissas fundamentais de toda a acção prática do MPLA”, que “continuará a bater-se pelo aprofundamento da inclusão política e social, para que Angola cresça de modo equilibrado, harmonioso e com equidade”.
Na mensagem, o Bureau Político escreve ainda que “reafirma a sua total confiança e encorajamento” a João Lourenço, “a quem o povo angolano depositou, por via do voto, confiança para fortalecer o Estado democrático de direito, diversificar a economia e melhorar a qualidade de vida dos cidadãos”.

Festejemos irmãos, mesmo de barriga vazia

OMPLA, com o seu brilhantismo habitual, diz que os angolanos são capazes de reconstruir o país, de criar condições para erradicar a pobreza e de promover o desenvolvimento e o bem-estar social.
Os angolanos são, sim senhor, capazes de tudo isso. Pena é que o regime não os ajude. Já lá vão 16 anos de paz total e, feitas as contas, poucos continuam a ter cada vez mais milhões e, é claro, milhões continuam a ter cada vez menos.
A constatação propagandística do MPLA, partido no poder desde 11 de Novembro de 1975, insere-se naquilo a que se convencionou chamar o Dia da Paz e da Reconciliação Nacional e que hoje se assinala.
O MPLA exorta os seus militantes, simpatizantes e amigos e todo os angolanos a transformarem as comemorações do 4 de Abril numa “verdadeira jornada de reflexão e de júbilo”.
Que o regime esteja em júbilo (assinala desde logo a rendição da UNITA) ainda vá que não vá. No entanto, aos angolanos resta eventualmente reflectir… de barriga vazia. E, exactamente por termos 20 milhões de pobres, é que o regime espera que as reflexões dos angolanos não sejam muito profundas.
Reflectir sobre o estado actual de Angola é lembrar que hoje, como ontem e certamente como amanhã, apenas um quarto da população tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade; que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos.
Reflectir sobre o estado actual de Angola é lembrar que 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos.
Reflectir sobre o estado actual de Angola é lembrar que a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolano; que 80% do Produto Interno Bruto é produzido por estrangeiros; que mais de 90% da riqueza nacional privada é subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população; que 70% das exportações angolanas de petróleo tem origem em Cabinda.
Reflectir sobre o estado actual de Angola é lembrar que o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.
O MPLA pede aos angolanos que fortifiquem os laços de união em prol da busca de consensos para o futuro do país, a consolidação da unidade nacional e o aprofundamento do processo democrático em curso.
Essa do aprofundamento do processo democrático em curso é mesmo brilhante. Aliás, nem sequer haveria necessidade de o aprofundar. Basta ver que, por exemplo, o presidente da República, José Eduardo dos Santos, esteve no poder há 32 anos sem nunca ter sido eleito e que João Lourenço foi “eleito” devido a carradas de batota que a máquina do MPLA/Estado colocou ao seu serviço.
“A paz tem permitido ao nosso povo o usufruto do direito à segurança, à tranquilidade, à estabilidade e à livre circulação em todo o território nacional e tem facilitado o processo de reconstrução e de criação de infra-estruturas para o desenvolvimento, o que tem sido constatado, de forma entusiasta, por todos os de boa-fé, cientes de que a paz veio para ficar e de que o futuro será infinitamente melhor do que o passado”, lê-se numa das muitas declarações que, ao longo dos últimos 16 anos, a máquina propagandística do regime produziu e divulgou por todos os cantos e esquinas.
Pois é. Tudo isso é visto, sentido, apoiado e reconhecido pelo menos por 70 por cento da população que, recorde-se, continua na miséria.
“O processo de reconciliação nacional, que continua a decorrer de forma sólida, não obstante as inúmeras tentativas de o dificultar, permite que os angolanos acreditem no futuro e tem constituído um factor importante para a consolidação da economia e o seu notado crescimento, viabilizando o processo de reconstrução nacional e a paulatina melhoria das condições de vida do nosso povo”, sublinhava em 2011 o Secretariado do Bureau Político do MPLA.
O MPLA, o regime, José Eduardo dos Santos, João Lourenço (são tudo sinónimos) não diz mas, importa reconhecê-lo, as “inúmeras tentativas de dificultar” todo o processo fazem com que, no mínimo, o MPLA precise aí de mais uns 30 anos para tornar o país num Estado de Direito.

LUANDA: Semear Para Colher? Colher Para Semear?

SEMEAR PARA COLHER?
COLHER PARA SEMEAR?    


Angola vai (ou diz que vai) implementar durante quatro anos um projecto de recuperação agrícola nas províncias do sul afectadas pelas alterações climáticas, com o apoiado pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), agência especializada das Nações Unidas.

Oprojecto ARP, de acordo com informação do Ministério da Agricultura e Florestas de Angola, está avaliado em 7,6 milhões de dólares (6,2 milhões de euros) e junta-se a um outro, SAMAP, de desenvolvimento da agricultura familiar e comercialização, de 38,8 milhões de dólares (31,6 milhões de euros), a realizar durante cinco anos.
Ambos os projectos têm lançamento previsto para quinta-feira, em Luanda, na presença do presidente do FIDA, Gilbert Houngbo, que inicia nesse dia, e até sexta-feira, uma visita a Angola.
“A ideia é discutir investimentos em comunidades rurais a fim de melhorar a segurança alimentar e proporcionar oportunidades de emprego para jovens rurais”, explicou a fonte do FIDA.
Segundo a informação do FIDA, o projecto ARP destina-se a abordar os problemas de segurança alimentar em Angola, “que foram agravados pelos repetidos eventos climáticos”, como El Niño (secas) e La Niña (inundações), nas áreas visadas, no sul.
Recorda que, em Angola, o sector da agricultura contribui em média com apenas 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, mas emprega 44% da população.
Além disso, “mais de metade dos pobres” de Angola vivem nas áreas rurais e “dependem exclusivamente da agricultura para a sua subsistência”, com os jovens dessas áreas mais remotas a enfrentarem o “duplo desafio” de querer explorar oportunidades alternativas de subsistência além da agricultura e pesca artesanal, tendo, ao mesmo tempo, “pouco treinamento formal para ingressar no mercado de trabalho”.
“A agricultura e a agro-indústria têm grande potencial para proporcionar empregos e meios de subsistência,” afirma o presidente do FIDA.
“Precisamos proporcionar investimento e apoio para ajudar os jovens a encontrar empregos. O empoderamento dos jovens rurais pode ser um catalisador para concretizar a agenda global de desenvolvimento e precisamos da energia, força e criatividade dos jovens para impulsionar a transformação rural e construir sistemas de alimentação sustentáveis”, acrescenta Gilbert Houngbo, que deverá reunir-se em Luanda com o Presidente João Lourenço e outros membros do Governo.
Desde 1991, o FIDA já financiou sete programas e projectos de desenvolvimento rural em Angola, beneficiando directamente 268.600 famílias rurais, num investimento total de 147,3 milhões de dólares (120 milhões de euros), dos quais 82 milhões de dólares (66,8 milhões de euros) garantidos pelo Fundo.
Criado em 1977, o FIDA tem como objectivo da erradicação da fome e da pobreza no mundo.

Teses presidenciais para a agricultura

OPresidente João Lourenço diz que a diversificação da economia passa necessariamente por um maior investimento na agricultura, quer em recursos técnicos, tecnológicos e de infra-estruturas. Não descobriu a pólvora, mas usou-a para fazer fogo-de-artifício.
Pela enésima vez vemos o MPLA (no poder há 42 anos) dizer que “é importante a necessidade de uma contínua oposta na mulher rural, garantindo o seu acesso à terra, à formação, ao crédito e às pequenas tecnologias de produção e transformação das colheitas”.
Segundo o regime, o lançamento do ano agrícola 2017-2018, presidido pelo Presidente da Republica, João Lourenço, mostrou que a agricultura representa uma prova inequívoca da prioridade que esta matéria ocupa na agenda do governo, na perspectiva de contribuir para a melhoria das condições de vida das famílias rurais.
Tal como o seu novo colega das Finanças, também o novo ministro da Agricultura, Marcos Nhunga, descobriu a pólvora que, por sua vez, fora inventada pelo seu antecessor, Afonso Pedro Canga, que por sua vez…
Então, como grande novidade, Marcos Nhunga, apela à participação activa dos intervenientes no sector agrário para o processo de diversificação da economia, tendo em vista melhorar as condições de vida da população.
Originalidade não falta. O ministro da Agricultura, ao falar na cerimónia da sua apresentação, disse que o facto de o país estar a atravessar um momento de crise financeira, precisa-se buscar força e inteligência para concretizar os objectivos que o país se propõe, a criação das melhores condições de vida. Quem diria?
De acordo com o governante, deve-se prestar atenção especial a todos os quadros desta área e moralizá-los, de modo a trabalhar mais para o cumprimento dos objectivos traçados.
Marcos Nhunga diz que deve haver maior motivação a nível dos quadros do Ministério, um diálogo interno e permanente nos órgãos internos, assim como com os empresários, para que todos se revejam nos programas deste sector.
Marcos Nhunga, referiu ainda que o sector da agricultura é chamado para arranjar soluções. Apelou aos membros do Ministério a não se aproveitar das respectivas funções para a resolução dos problemas pessoais. Boa!
“Vamos pautar por uma gestão rigorosa e transparente para que os poucos e parcos recursos que forem arrecadados possam ser aplicados para o alcance dos objectivos traçados”, disse Marcos Nhunga, acrescentando que deve ver união e todos os que trabalham para a mesma causa.
No passado dia 11 de Outubro iniciou-se um novo ano agrícola que foi marcado por um discurso do Presidente João Lourenço, no município do Cachiungo, província do Huambo, perante milhares de pessoas.
Nessa mesma altura, no Cuanza Norte os agricultores manifestaram o seu apoio ao Presidente, lembrando que não tinham catanas, enxadas, limas, ancinhos, machados, sachos etc..
Também os camponeses do município da Cameia, província do Moxico, estão solidários e dizem que vão deixar de produzir arroz na presente campanha agrícola, por falta de máquinas de descasque do cereal.
Acrescentaram que a decisão se devia ao facto de as 23 toneladas produzidas na última época continuarem nos armazéns do município por falta de máquinas…
João Lourenço exortou o sector agrícola a colocar o país a “produzir a comida de que precisa”, estimulando a produção em grande escala, para acabar com a importação de alimentos e produtos agrícolas. Por outras palavras, realçou o fracasso da anterior, e da anterior, e da anterior, governação do MPLA e de José Eduardo dos Santos.
“Vamos fazer tudo que está ao nosso alcance para não importar alimentos, porque temos capacidade de produzir comida, temos de ser nós a produzir a comida que precisamos, bem como exportar e angariar divisas com o excedente”, afirmou João Lourenço.
Na sua intervenção, João Lourenço enfatizou que é chegada a hora de “semear para depois colher” (pelos vistos até agora o regime colhia antes de… semear), de forma a tirar maior proveito da terra, ao ponto de produzir bens alimentares não só para o próprio consumo, mas também para exportação.
João Lourenço garantiu que o Governo vai manter a aposta na agricultura como uma das principais apostas como alternativa ao sector petrolífero no processo de diversificação da economia nacional, apesar de dificuldades como a escassez de sementes, adubo e de instrumentos de trabalho.
Nesse sentido, a prioridade vai para a captação de investimento para o país, que permita a produção nacional de insumos agrícolas, mas também para o aumento da produção de cereais como milho, soja, feijão, de forma a potenciar igualmente a pecuária, com a auto-suficiência alimentar para o gado.
Números governamentais recentes indicam que mais de dois milhões de famílias angolanas vivem da agricultura, sector que emprega no país 2,4 milhões de pessoas e que conta com 13.000 explorações empresariais.
O país tem uma disponibilidade de 35 milhões de hectares de terras aráveis para a prática da agricultura, sobre uma superfície cultivada de cinco milhões de hectares (14%), além de uma faixa irrigável de sete milhões de hectares, metade dos quais ainda de exploração tradicional.
Angola tem uma rede hidrográfica constituída por 47 bacias e com um potencial hídrico estimado em 140 mil milhões de metros cúbicos.
Ou seja, Angola tem tudo o que precisa. Tudo não é bem. Falta-lhe ter políticos que vivam para servir e não para se servir.

quinta-feira, 15 de março de 2018

LUANDA: Em Pauta: Reentrada de Fernando Miala e a Maka rija Entre Saturnino e Isabel Marcam Agenda Nacional


EM PAUTA: REENTRADA DE FERNANDO MIALA E A MAKA RIJA ENTRE SATURNINO E ISABEL, MARCAM A AGENDA NACIONAL
 As frequentes manifestações silenciadas de desagrado popular contra o governo, além de triviais têm contornos perigosamente alarmantes. A situação é demasiado conflitante, e poderá perigar a frágil paz social estabelecida.  Os angolanos convivem de perto com um estado de degradação social cada vez pior em qualidade e quantitativamente de maior dimensão. Os senhores donos da riqueza angolana querem estrangular o mercado financeiro interno angolano de varias maneiras, eles não desistirão fácil, e tudo fazem para alcançar as suas pretensões e estrangular o fragilizado sistema financeiro angolano. Esse enfoque demonstra que a riqueza acumulada ilicitamente jamais retornará a Angola.
MPLA CONNECTION (III)
O financismo corporativo corrupto angolano é perigoso, e fortemente activo, por isso estreitou facilmente laços fortes com o grande capital português, dentre outros estados estrangeiros já identificados, que serviram e servem ainda de placa giratória para a extracção ilegal do capital exportado para o exterior.
Esse grupo de delinquentes bem conhecidos, não desistirão fácil, e tentarão por todos os meios apagar o rasto do dinheiro branqueado e colocado no circuito financeiro internacional sitiados em offshores.
Assim sendo, não se pode negar as virulentas birras entre antiga PCA da SONANGOL, Isabel dos Santos e o actual PCA Fernando Saturnino, que de modo geral intrigaram a comunidade inteligente da sociedade civil activa organizada.
O comportamento dessas duas figuras de relevo do sistema politico-financeiro angolano, demonstram ter uma total falta de princípios éticos, morais e profissionais. É verdade que o país está numa verdadeira encruzilhada, onde duas facões se digladiam vis a vis pelo controle da presidência do MPLA.
A entra da em cena de Fernando Garcia Miala na novíssima presidência, pode vir a desanuviar esse obscuro quadro de insegurança institucional prevalecente no sistema financeiro do Angola.
O passado de Fernando Miala fala por si só, não precisará com toda certeza de qualquer vanguardismo opinativo justificável do que motivou a reentrada desse general do regime, no concerto dos serviços de inteligência e segurança interna e externa de Angola.
Para afinar a parábola do gato escondido com rabo de fora, Miala não é de perto nem de longe nenhum traidor da causa do povo. Dessa vez João Lourenço procedeu coerentemente e acertou em cheio, é preciso assegurar a protecção da coisa pública e torpedear veemente a devassa informativa irresponsável, comandada pelos que se sentem órfãos no actual quadro politico institucional.
João Lourenço se quiser o apoio de todos nós terá de mudar rapidamente os conselheiros que dispõe e proceder com urgência a uma remodelação governamental e nomear novos quadros na direcção da SONANGOL, ENDIAMA, e, em outras empresas nucleares que o país dispõe. O quadro degradante que Angola atravessa, permite a remodelação do governo.
No passado todos angolano minimamente atento tomou conhecimento dos atropelos praticados contra o General Fernando Miala, a entourage de arautos defensores da presidência de JES na altura, fizeram sair informações descabidas sem qualquer fundamento, acusando MIALA de preparar uma tentativa de golpe de estado, debalde.
Miala tem consciência do que ele representa para a comunidade da intelligentsia nacional e internacional, FM é tão só o maior espião visível, que um dia Angola produziu.
Esse é o mais forte atributo que levou a mobilização dos seus algozes, que de maneira irracional promoveram as intrigas palacianas que originaram a perseguição sistémica de que foi alvo.
 Essa adjetas figuras do regime promoveram o seu enclausuramento e rapidamente se sucederam nos lugares outrora ocupados por Fernando Garcia Miala. Sem medo de errar, posso afirmar, que dessa vez o presidente da republica agiu rápido e acertadamente, como deve sempre operar um chefe de estado.
É importante que o partido entenda em definitivo, que o MPLA não é nem nunca foi o povo, e, muito menos o povo é o MPLA.
O MPLA vai ter que crescer rápido e terá que perder a puberdade, deixar o estado permanente de imaturidade adolescente e amadurecer. O partido de JES e JL vai ter que escolher entre viver eternamente a utopia ou encarar em definitivo a dura realidade vivenciada em Angola.
O estado hoje está completamente aparelhado, é importante que o MPLA se afaste do estado e desista de continuar a subjuga-lo. Está mais que comprovado que o aparelhamento do estado estimula a corrupção, enfraquece o próprio governo e o torna disfuncional. O regime angolano faliu, não é mais possível conviver com essa desordem político-administrativa reinante.
O capitalismo selvagem incrementado pelo MPLA, não pode continuar a ser o principal activo desenvolvimentista, nem pode o estado continuar como o único operador económico, e maior empresário do país. Após a saída do presidente JES do poder executivo, não faz sentido nenhum continuar a impedir a participação da sociedade no debate central da economia e da distribuição da riqueza.
 Faz-se necessário desconstruir a “financeirização” absurda da economia herdada do estado ditatorial do passado recente.
 De contrario essa confusão tornar-se-á relevante e ajudará a desmoronar a ambientação politica de si já demasiado degradada. Por outro lado, nota-se a existência de uma luta interna entre duas alas do “M” pelo controle da presidência do MPLA. De um lado está o grupo maioritário adeptos de JES e também o mais forte, e do outro os aderentes de João Lourenço ciosos em adquirir o controlo do partido.
O país precisa de um presidente com transito entre a militância e essa com o povo. Um presidente com visão politica e com poder argumentativo sério aceitável, que possua uma tenaz capacidade de interlocução viável com a sociedade politica inteligente activa organizada, e com a população em geral, sem esquecer a capacidade de dialogo sincero com as oposições dentro e fora do MPLA.
Os angolanos merecem ter um presidente que zele e cuide do seu povo, em simultâneo Angola quer um líder que impeça que o dinheiro publico roubado não continue a viajar na bagagem da impunidade.
Hoje conhece-se melhor o que quer dizer partido-estado, isso é nada mais do que uma confraria de impiedosos ladrões corruptos, que agem a escala mundial com a ajuda do governo português, de cidadãos estrangeiros indesejáveis, que operam livremente a partir de Luanda com o beneplácito da cidade alta.
Essa corja de dilaceradores do erário publico utiliza a banca controlada pela Isabel dos Santos, para as sua rotativas acções criminosas e negociatas milionárias ilícitas. O roubo se processa em Luanda, mas, a lavagem de dinheiro é realizada em Portugal como beneplácito apoio tácito do regime da terra de Camões.
Não existe duvida que o MPLA é de facto uma organização criminosa despótica e espiritualmente miserável.
 Trata-se de uma organização sinuosa que se julga acima de tudo e todos, comportam-se como deus vidente, mas não passam de vagabundos que se sentem com o direito de desconstruir a verdade do soberano povo e leva-lo a pensar pequeno e erradamente.
Aguardam-se alterações substanciais no modo e estilo de governar, sobretudo, com tecnocratas capazes, incorruptiveis e que representem todas as camadas sociais envolvidas na transformação do país.




LUANDA: Tentativa de Assassinato do Vice-Presidente: A ficção

TENTATIVA DE ASSASSINATO DO VICE-PRESIDENTE: A FICÇÃO DO SIC


O que leva o presidente da República João Lourenço a permitir que o seu governo, nos primeiros meses de mandato, seja conspurcado com “inventonas” de tentativa de assassinato do seu vice-presidente? O que leva o mesmo presidente a permitir o uso contínuo da catana como instrumento oficial de tortura da Polícia Nacional e do Serviço de Investigação Criminal (SIC)? Porque permite a tortura, que é inconstitucional? O que leva ainda o presidente a permitir que o sistema judicial, sobretudo o SIC, seja tão desumano e especializado em forjar provas absurdas e a encarcerar inocentes? Por que razão permite João Lourenço o envolvimento impune de efectivos da Casa de Segurança num acto de tortura?
Passemos aos factos. Cinco cidadãos, detidos há mais de um mês no Estabelecimento Prisional de Viana, são acusados de tentativa de assassinato do vice-presidente Bornito de Sousa. A acusação é tecida a partir de uma discussão banal sobre o estacionamento da viatura em que seguiam. Ora, os cinco cidadãos acabaram torturados de forma bárbara, tendo sido filmados com provas ridículas e obrigados a assinar confissões sob ameaças de morte.
O vice-presidente Bornito de Sousa é jurista e professor de Direito.
Quem são os cinco “comandos”?
A 3 de Fevereiro passado, o pedreiro e ladrilhador Pedro Afonso Miguel “Bebé”, de 34 anos, natural do Uíge, pediu boleia ao seu vizinho Baião Conceição Mendonça, de 55 anos, técnico de contabilidade.
Pedro Afonso Miguel, segundo o seu depoimento ao Maka Angola, tinha uma proposta de trabalho pontual no Condomínio Jardim de Rosas, na zona do Camama, em Luanda, frente ao Instituto de Ciências Policiais. Partiram do Cassequel Cantinton, onde vivem, na viatura Mitsubishi L200.
Já a caminho, Baião Mendonça falou ao telefone com um conterrâneo seu de Malanje, o electricista Morais Joaquim Muxibi, de 52 anos, com quem trabalhou na delegação provincial da Construção, em Malanje.
Muxibi regressava do Talatona, onde fizera um biscate pontual, uma vez que é trabalhador por conta própria. Aperaltado com uma gravata, o electricista, testemunha de Jeová, iria primeiro ao culto, num local próximo da sua nova casa, no bairro da Calemba II. “O Baião tinha o desejo de conhecer a minha nova casa. Combinámos um encontro na rotunda da Camama. Explicou-me que antes iríamos juntos deixar o vizinho dele no Condomínio Jardim de Rosas e depois seguiríamos para a Calemba”, conta Muxibi.
Já próximos do Jardim de Rosas, Baião Mendonça avistou outro conterrâneo seu, o pedreiro Domingos João Caputo, de 39 anos. Este último estava acompanhado pelo seu colega pedreiro Nelito Cambari Tunguno, natural do Kwanza-Sul. Regressavam de uma obra nas redondezas, onde trabalhavam.
“O senhor Baião parou para cumprimentar o seu amigo Caputo e perguntou-nos para onde íamos. Dissemos que íamos ao Camama. Ele ofereceu-nos boleia. Disse que também estava a caminho do Camama, mas que antes tinha de deixar um amigo no Jardim de Rosas”, explica Nelito Tunguno.
O pedreiro Pedro Afonso Miguel “Bébé”.
O Jardim de Rosas
Perto das 17h00, Baião Mendonça entrou no condomínio, tendo cumprido os protocolos de entrada, com o registo da viatura, identificação e telefonema de confirmação junto do anfitrião.
“O mais velho Baião não conseguia encontrar a rua, conforme as explicações que nos deram. Então, preferiu parar. Estacionou o carro onde havia lugar e pediu-me para ligar ao Sr. Manuel (o anfitrião no condomínio), para ir buscar-nos onde estávamos”, conta Pedro Miguel.
Mal estacionaram, um indivíduo engravatado bateu à porta do motorista. “Perguntou-nos se sabíamos onde tínhamos estacionado. O Sr. Baião respondeu que não havia ali cones ou sinalização”, diz Pedro Miguel.
Baião Mendonça explica: “Como não havia entendimento entre mim e o segurança, pedi-lhe que chamasse a polícia, para ver quem tinha razão. Eu tinha estacionado o carro na via pública e havia mais cinco carros estacionados na mesma faixa.”
Os agentes da Polícia Nacional, do posto policial do Bom Sucesso, acorreram ao local e encontraram os cinco dentro da viatura. Nenhum deles tinha saído do carro até à chegada da polícia.
Para esclarecimento da situação, Pedro Miguel ligou ao seu contacto no Jardim de Rosas, para que ele viesse e explicasse a situação aos agentes da Polícia Nacional. Durante esse telefonema, “a polícia começou a insultar o senhor, a chamar-lhe filho da puta que põe bandidos dentro do condomínio para fazer assaltos”.
“A polícia ameaçou o senhor Manuel, o nosso contacto, para que ele não comparecesse no local”, relata o detido.
Os agentes da Polícia Nacional ordenaram aos ocupantes que saíssem da viatura e algemaram-nos. Revistaram o carro e encontraram “uma bateria de automóvel, uma tesoura e sacos de plástico novos”, de acordo com os entrevistados. Foram todos levados para a esquadra.
O electricista Morais Joaquim Muxibi.
A tortura
No posto policial do Bom Sucesso, depois de um breve aquecimento com tabefes e pontapés, os guardas passaram à tortura. Pedro Miguel descreve: “Fizeram-me de avião. Algemaram-me os pulsos aos tornozelos, nas costas, e levantavam-me pelas algemas, esticando os braços, o peito e as pernas por trás. Depois apanhei com a catana nas costas e nas nádegas. Nem dava para contar, com a dor. Apanhei mais de vinte vezes. Depois de uma hora de tortura, fui colocado na cela.”
Domingos João Caputo explica que, já no posto policial, foram informados de que tinham estacionado a viatura frente à residência privada do vice-presidente Bornito de Sousa.
“Os polícias disseram-nos que, pela falta de respeito, por termos estacionado frente à casa do vice-presidente, tínhamos mesmo de apanhar porrada”, denuncia Caputo. “Eu fui o primeiro a levar tabefes. Mas a tortura mesmo de verdade foi depois das 22h00.”
Segundo Pedro Miguel, já passava das 22h00 quando os seus algozes regressaram e retiraram os detidos da cela, passando a nova sessão de tortura. “Vinham com uma arma Kalashnikov enferrujada, sem carregador, e começaram a torturar-nos outra vez no sistema do ‘avião’ e com surra de catana nas costas e nas nádegas.”
Também algemado à maneira do “avião”, Caputo descreve: “Apanhei mais de trinta vezes com o lado da catana nas nádegas. Eu já não gritava. Já não sentia dores. Só dizia para me matarem e que o meu crime era ter apanhado boleia.”
De acordo com este depoimento, a comandante da unidade policial, sub-inspectora Cátia Bonifácio, que assistia à tortura, ordenou o seu fim. “Os subordinados continuaram a bater, dizendo que nós, os ‘malandros’, tínhamos de descobrir quem era o dono da arma encontrada por eles no esgoto do condomínio”, prossegue Caputo.
Baião Mendonça descreve a violência dos agentes policiais, que não se limitou à “tortura do avião” e ao uso da catana, prosseguindo com pontapés no rosto: “Fiquei lesionado com tanta porrada, e fiquei com sangue nos olhos durante algum tempo.”
Também Morais Muxibi foi fustigado mais de vinte vezes nas nádegas com o lado da catana, “esmurrado na cara e pontapeado em todo o lado”.
Nelito Tunguno sofreu castigo idêntico, além da já referida “tortura do avião”: “Eles [os polícias bárbaros] não queriam saber da verdade. Quanto mais falávamos a verdade, mais nos torturavam.”
“Quando a comandante viu que a tortura era demais, ordenou aos seus subordinados que parassem, para não sermos mortos ali”, revela Pedro Miguel.
O contabilista Baião Mendonça.
A invenção das provas
Baião Mendonça descreve o seu espanto quando, já depois das 22h00, viu chegarem os agentes policiais, para os tirarem da cela. “Disseram-nos que encontraram uma arma no esgoto. A arma nem sequer tinha carregador e estava toda enferrujada. Depois, criaram uma nova versão e afirmaram ter encontrado a arma na viatura. Traziam mais uma faca e um macete [tipo de martelo]”, conta.
Caputo corrobora: “A arma estava seca. E onde é que havia esgoto aberto no condomínio para lá termos deitado a arma, se nem sequer conseguimos dar conta da casa para onde nos dirigíamos?”
Morais Muxibi acrescenta que os agentes da Polícia Nacional e do SIC “inventaram depois que havia um sexto homem entre nós, que fugiu com o carregador”.
As fotografias
Munidos das “provas” forjadas, e depois da sessão de tortura, os agentes da autoridade passaram então à sessão fotográfica dos suspeitos empunhando as “armas” usadas para o “ataque” ao vice-presidente Bornito de Sousa.
Quem descreve o infortúnio de Baião Mendonça é Pedro Miguel “Bebé”: “Como a tortura era demais, o mais velho aceitou pegar na arma para que o fotografassem assim. O mais velho, por questionar, continuou a ser torturado.”
“Os agentes deram-me a segurar a mesma catana – deles – com que me torturaram, para a fotografia. Essa era a minha arma do crime contra o vice-presidente”, continua Pedro Miguel.
Morais Muxibi também não escapou à encenação: usando o saco onde haviam colocado a bateria encontrada na viatura, “os polícias puseram lá dentro a arma que tinham dado primeiro ao Baião para segurar, e assim me fotografaram”.
Quando chegou a sua vez, conta Domingos Caputo: “Obrigaram-me a segurar um martelo, como prova do instrumento que eu levava para atacar o vice-presidente. E fotografaram-me assim. Eu não tinha como recusar, depois de tanta tortura. A surra com a catana foi demasiada.”
Já Nelito Tunguno foi obrigado a segurar a resma de sacos de plástico (às riscas azuis e transparentes, normalmente usado nas padarias para a venda de pão) para as provas fotográficas. “Os polícias diziam que os sacos seriam usados para tapar o rosto dos familiares do vice-presidente antes de lhes fazermos mal”, afirma.
“A comandante [sub-inspectora Cátia Bonifácio] estava presente, vestida à civil, de bubú, a assistir à sessão de fotografias e à sessão de tortura seguinte”, acrescenta Caputo.
Estamos, então, perante um filme típico do laboratório de imaginação do SIC e da Polícia Nacional. O enredo? Três pedreiros, um electricista e um técnico de contabilidade ameaçam a segurança do Estado, levando a cabo uma tentativa de assassinato do vice-presidente. Quais comandos rambos, só precisam de uma arma enferrujada sem carregador, de uma catana, de um martelo, de uma sacola e de sacos de plástico.
Em 2015, um grupo de 15 jovens que debatiam um manual de não-violência, numa livraria, foram detidos em flagrante discussão e depois acusados pelo então procurador-geral, general João Maria de Sousa, de tentativa de golpe de Estado e de assassinato do então presidente José Eduardo dos Santos. Também neste caso a acusação formal consistia no guião de um filme bem à moda do estado securitário do MPLA: os jovens queimariam pneus junto do palácio presidencial, para assim afugentarem o presidente com o fumo, e então tomariam o poder.
Soldados presidenciais e contra-inteligência militar
Na manhã seguinte, compareceram na unidade seis militares fardados, que se identificaram como pertencendo à Casa de Segurança do presidente da República e da Contra-Inteligência Militar.
“Os militares acusaram-nos de termos tentado assassinar o vice-presidente Bornito de Sousa. Gritavam: Querem matar o nosso vice-presidente!”, explica Pedro Miguel.
“Um dos soldados pôs-me à parte e prometeu ajudar-me caso lhe contasse a verdade. Quando comecei a falar a verdade, ele espancou-me, porque eu não dizia o que ele queria ouvir”, afirma Domingos Caputo.
Nessa altura, segundo Baião Mendonça, os agentes policiais exibiram mais uma prova: “Trouxeram um carregador para a arma que diziam ser nossa. No dia anterior, perguntámos como seria possível realizar uma acção com uma arma sem carregador?”
Os cinco detidos foram então transportados numa carrinha GMC, usada apenas pela Unidade de Guarda Presidencial (UGP).
Nelito Tunguno acrescenta um pormenor que seria caricato, se a situação não fosse trágica: “Os homens da UGP tiraram-nos fotografias e colocaram no Facebook.” Mas o pior foi a seguir: “Puseram-nos deitados debaixo dos bancos e levaram-nos para o Comando de Divisão da Polícia Nacional no Talatona. No trajecto, pisavam-nos com as botas na cabeça, nas costelas, em todo o corpo. Davam-nos socos, chapadas e pontapés.”
Domingos João Caputo sente de um modo diferente a humilhação infligida pelos militares da Casa de Segurança do presidente, já que tem um passado militar, ao serviço das Forças Armadas Angolanas (FAA): “Em 1998, com o 18.º Regimento, combati em Boma, Matadi e Muanda, na República Democrática do Congo. Em 1999, estive nas frentes de batalha do Lunji, Catabola, Nharea e Chipepa. Saí da tropa em 2000, depois de ter sido ferido em combate e evacuado para Luanda. Agora sou tratado como um animal.”
O pedreiro Nelito Cambari Tunguno.
Confissão à moda do SIC
Mas os relatos de tortura e maus tratos não ficam por aqui: já no Comando de Divisão da Polícia Nacional no Talatona, os militares continuaram a pontapear os detidos, a esmurrá-los e a esbofeteá-los. Pedro Miguel conta: “Diziam-nos: ‘falem a verdade e vos libertaremos.’ Exigiam a nossa confissão, como se tivéssemos mesmo tentado assassinar o vice-presidente.”
Segundo as vítimas, os militares só puseram fim à pancadaria quando o comandante da unidade chegou ao local.
Domingos Caputo afirma: “Eu assinei a minha confissão sem ter lido, como o investigador do SIC exigia. Aquilo foi uma boa tortura. Não dava para recusar mesmo. Eu tinha medo de morrer. O investigador do SIC, o clarinho e forte, disse-nos que nos meteria numa cadeia envenenada para morrermos ali.”
Morais Muxibi também confessa a sua fraqueza: “Eu tinha medo de morrer. Assinei a confissão sem ler. A tortura, mesmo ali na Divisão do Talatona, com os procuradores por perto, era demais.”
“À porrada, também assinei. Tinha medo. Nem sei como estamos aqui vivos, na cadeia. Esses homens mentem e matam”, declara Nelito Tunguno.
Depois de ter sido interrogado, Baião Mendonça pediu ao investigador do SIC para ler as suas declarações antes de assinar. Eis o que aconteceu: “Assim começou a minha grande tortura, ali mesmo na Divisão da Polícia Nacional no Talatona. Levei tanta pancada na cabeça, de vários agentes, que perdi os sentidos. Recusei-me a assinar. Acabei por não assinar nada. O investigador rasgou a informação que tinha produzido como sendo minha. Finalmente, fomos ouvidos pelo procurador [José Rodrigues] Cambuta, que formalizou a nossa detenção.”
O pedreiro Domingos Caputo.
A versão oficiosa
Fonte próxima de Bornito de Sousa esclarece ao Maka Angola que o vice-presidente se encontrava em visita privada a Portugal no dia do suposto ataque. “Quando ouvimos falar de atentado pelas redes sociais, inicialmente pensámos que o atentado tivesse acontecido em Portugal, onde ele estava. Ele nem sequer vive lá [no Jardim de Rosas]. Tem essa residência e vai lá de vez em quando, esporadicamente”, afirma a fonte.
E prossegue: “O assunto está a ser tratado pelo SIC e procurámos tomar contacto com a situação. Segundo o relato da polícia, um dos seguranças do vice-presidente interpelou um dos indivíduos e estes puseram-se em fuga. O segurança apercebeu-se de que havia algo estranho e foi buscar a arma. Os homens [os cinco] foram interceptados já na portaria do condomínio. Isso ocorreu às 22h00. Essa é a versão que temos. Contactámos o Ministério do Interior e a Polícia Nacional, e apresentaram-nos essa versão. Até hoje, estamos expectantes para ver como o SIC está a investigar o assunto. Deve ser o SIC a esclarecer o que aconteceu. É estranho que um grupo de pedreiros tenha ido trabalhar no condomínio àquela hora.”
No entanto, vejamos, conforme explicação inicial dos detidos, foram levados para a esquadra antes das 18h00, o que desmente a versão do Ministério do Interior e da Polícia Nacional.
Mesmo assim, a fonte ligada a Bornito de Sousa manifesta-se surpreendida diante da informação de que os cinco detidos foram barbaramente torturados com catanas e pancada pelas autoridades policiais e do SIC.
“Não há, do gabinete do vice-presidente, qualquer actividade que preencha essa postura. Alguém, para justificar um excesso, algum comportamento inadequado, fez isso. O vice-presidente não tem esse comportamento. É muito simples e nada tem a ver com truculências”, afirma a fonte.
Uma outra fonte do executivo limita-se a dizer que a acusação “é fantasiosa”. “Ouvimos falar e não nos metemos nisso. Não temos rigorosamente nada a ver com esse assunto.”
Reacções
Um general, sob anonimato, manifesta-se agastado pela forma como se extrapolou “um mal-entendido por causa de um estacionamento”. Sublinha que “essas acusações só envergonham o Estado angolano, sobretudo a classe de generais que habitam no condomínio. Os acusados nem sabiam quem habita aí”.
“Se o vice-presidente estivesse no condomínio, esses homens nem sequer teriam tido permissão para entrar. Ele não vive lá sequer. Temos de deixar de inventar essas confusões”, assevera o general.
Sem rodeios, os familiares dos detidos também se pronunciam:
“O meu pai é testemunha de Jeová há muitos anos. Ele nem sequer aceita tocar numa arma. Durante mais de dez anos, até 2015, trabalhou como encarregado de electricistas na Griner”, explica Estêvão Morais, filho de Morais Muxibi.
Por sua vez, José Miguel, irmão de Pedro Miguel “Bebé”, é peremptório em afirmar “a falsidade da acusação”: “O meu irmão nunca foi militar para atentar contra um alto mandatário da nação. Como poderia fazê-lo sem treino militar, sem nenhum domínio de armas, sem nada? Um atentado a esse nível teria de envolver generais.”
“Eu vivo com o meu irmão. Temos uma relação muito aberta e ele nunca teve uma arma em casa. Como ele iria atacar a casa do vice-presidente com um martelo ou uma catana na mão, com toda a segurança que ele tem?”, questiona Felipe, irmão de Domingos Caputo. “Nos filmes há montagens, efeitos especiais. A realidade não é assim.”
Como pode então o SIC esclarecer, com seriedade e transparência, esse caso em que forjou provas com recurso ao seu método privilegiado e inconstitucional de investigação, a tortura com catana?
Os pedreiros, transformados em “comandos”, continuam detidos. É esta a justiça da nova era de João Lourenço?