ISABEL DOS SANTOS QUER BILIÕES DE DÓLARES DO ESTADO
A gestão errática da Sonangol pela filha primogénita do presidente José Eduardo dos Santos, Isabel dos Santos, tem encaminhado a petrolífera nacional para o descalabro. A sua gestão é feita por controlo remoto, através de consultores portugueses que não têm conhecimento do sector petrolífero. Mas a fachada começa a ruir.
A 17 de Maio passado, Isabel dos Santos foi ao gabinete do ministro das Finanças, Archer Mangueira, pedir uma dotação de três biliões de dólares para resgatar a Sonangol da situação de falência em que se encontra.
Segundo fonte ligada à consultoria portuguesa que administra a Sonangol em nome de Isabel dos Santos, o ministro informou a presidente do Conselho de Administração que, de momento, o Estado não tem disponibilidade financeira para socorrê-la.
Desde a sua nomeação, Isabel dos Santos tem encontrado dificuldades em obter crédito no mercado financeiro internacional devido à promiscuidade dos seus negócios privados com os da Sonangol, que dirige. A sua imagem como empresária tornou-se tóxica no mercado internacional.
Os consultores portugueses temem que o poder de Isabel dos Santos se esfarele em breve, tomando boa nota de que o ministro lhe sugeriu com firmeza que fosse pedir o dinheiro ao seu pai-presidente.
José Eduardo dos Santos pode determinar o recurso às reservas do Estado para satisfazer os caprichos da filha e resgatar a sua imagem de gestora. O presidente regressou ontem de Barcelona, onde esteve em tratamento médico durante quase um mês, e deverá intervir nos próximos dias sobre o assunto. Depois das eleições de Agosto, o chefe de Estado e do Executivo abandona finalmente a Presidência.
As anteriormente fontes notam que nem as ameaças de Isabel dos Santos a Archer Mangueira sobre as consequências de este lhe ter negado o pedido demoveram o ministro.
O anterior ministro das Finanças, Armando Manuel, foi demitido, muito por conta da sua resistência em aceder a um pedido de fundos por parte do segundo filho do presidente, José Filomeno dos Santos, de quem era muito amigo e protegido.
Entretanto, na sede do MPLA propaga-se um desconforto cada vez maior em relação à gestão de Isabel dos Santos. A direcção do MPLA recebeu uma queixa de um grupo de empresas ligadas a altas figuras do partido contra a anulação do processo de licitação dos blocos de petróleo, em 2015, em que os mesmos participaram.
Os visados demandam uma indemnização de 80 milhões de dólares, alegadamente pelos danos causados aos vencedores, que tiveram de investir na licitação.
Segundo fonte do MPLA, a direcção do partido dirigido por José Eduardo dos Santos pediu que Isabel dos Santos comparecesse na sua sede para dar explicações sobre o assunto, mas esta recusou-se.
Há duas semanas, perante a recusa de Isabel dos Santos, o MPLA convocou o Conselho de Administração da Sonangol para prestar esclarecimentos, mas os seus membros também se recusaram, por falta de autorização de Isabel dos Santos.
Para evitar o choque directo com figuras do MPLA, Isabel dos Santos demandou que o administrador executivo da Sonangol, Paulino Jerónimo, assumisse a anulação da licitação, tendo este assinado a ordem.
Entre as empresas afectadas pela anulação da licitação, encontram-se as operadoras Somoil (Bacia do Congo, COM 1), que tem o secretário de Estado dos Petróleos, Aníbal Silva, entre os accionistas; a Simples Oil (Bacia do Kwanza, KON 6), que tem como testa-de-ferro Alberto Jorge de Jesus Mendes, coordenador do Fórum Angolano de Jovens Empreendedores (FAJE), secretário do Comité Nacional da JMPLA para Estudos e Análises Económicas e filho de Isalino Mendes, um veterano do MPLA. Por sua vez, a Sunshine (Bacia do Congo, COM 6 e Bacia do Kwanza KON 5) é controlada por Muadi Efani, filho do ex-ministro dos Petróleos Desidério Costa e veterano do MPLA; enquanto a Soconinfa (Bacia do Kwanza, KON 17) tem Ginga Isabel Neto Costa e Almeida, também filha de Desidério Costa, como uma das accionistas.
Entre os afectados do Bureau Político do MPLA constam o candidato a vice-presidente, Bornito de Sousa, e Roberto de Almeida, através da Poliedro (bloco COM 6); assim como Pitra Neto e Carlos Feijó, através do Grupo Gema (Bacia do Kwanza, blocos KON 8 e KON 19).
A licitação teve como objectivo promover as empresas nacionais e, para além da elite do MPLA, a própria Isabel dos Santos e a restante família do presidente também faziam parte da lista de beneficiários. A Isoil, empresa privada de Isabel dos Santos, acabou como parceira da Sonangol Pesquisa & Produção, de que é presidente da Comissão Executiva, nos bloco Kon 9 e Kon 17, na Bacia do Kwanza.
Por seu lado, a irmã do presidente e tia de Isabel, Marta dos Santos “Mana Marta”, entrou como parceira da sobrinha nos blocos Con 1, na Bacia do Congo, com duas empresas: a Servicab e a Prodoil. No Bloco Con 6, na Bacia do Congo, Mana Marta também se fez associada com uma terceira empresa, a Prodiam.
É o slogan do partido no poder que agora se coloca em questão: “Angola a crescer mais, a distribuir melhor”, entre a família presidencial e o MPLA. Quer Isabel ficar com tudo, ou o MPLA está a receber demais?
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