O dia seguinte da manifestação da Unita - Reginaldo Silva
- Fonte: morrodamainga Divulgação: Planalto De Malanje Rio Capôpa
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O que se passou este fim-de-semana em Luanda e noutras cidades e vilas do país ainda não sei muito bem, em termos de referência, como vai marcar a longa e penosa transição angolana (mais de 20 anos) para um regime democrático devidamente consolidado e adulto, desiderato que, aparentemente, se está a distanciar do horizonte quando olhamos para o calendário local.
Gostaríamos todos de acreditar que o "País tem rumo" (já chega de instabilidade/ desorientação/desgovernação/medo/terror/propaganda), o que em termos mais consensuais só é possível se esta agenda tiver em conta antes de mais o facto de sermos uma sociedade civil e política que cada vez mais pensa pela cabeça dos seus membros e cada vez mais irá agir em conformidade com uma tal diversidade/pluralismo.
Tendo como pano de fundo o pesadelo das "primaveras", o uso da preventiva e repressiva força da violência institucional, assumida (e não assumida) no confronto com os manifestantes, parece ser apenas uma solução de contenção imediata, com todos os receios que se alimentam em relação ao efeito da bola de neve/dominó.
O que é facto, é que não se pode passar a vida toda a governar um país que quer ser democrático com tais receios, numa altura que o abismo da guerra foi transposto há mais de dez anos.
Por este "devagar", a imagem de Angola no exterior só pode estar a deteriorar-se a olhos vistos, por mais que se invista na sua cosmética.
Internamente já nem adianta fazer alguma pesquisa de opinião mais séria, para se concluir que os resultados não seriam positivos para a imagem do Governo.
Os "inquéritos populares" da média estatal com que se preenchem as "notícias" já não resolvem o assunto.
Por outro lado, deve ficar claro que a maior parte dos angolanos, mesmo que tenha sido vítima dela, não participou dessa guerra, que hoje continua a ser evocada como uma arma de permanente arremesso e condicionamento político.
Até quando?
Do alto do nosso morro felizmente continuamos a não divisar qualquer possibilidade deste país regressar aos seus tempos mais difíceis, isto é, aos tempos da guerra, mas também não conseguimos ver como é que Angola se irá democratizar para além da instrumentalizada CRA, a manter-se este garrote, em que só as forças rubro-negras da constelação M podem sair a rua e manifestar-se.
Assim sendo, digamos que neste preciso momento, o rumo que o país tem chama-se impasse, entenda-se, compasso de espera, leia-se, tempo para reflectir com alguma urgência e a máxima abrangência, interprete-se, necessidade de dialogar sem camisolas, em pé de igualdade e sem figuras totêmicas. É o que se aconselha para já, enquanto ainda estamos juntos e assim desejo que fiquemos para sempre, com o envolvimento de todas as forças vivas, mortas, desaparecidas, compradas e amedrontadas do país.
Angola não é propriedade de ninguém (por mais que a queiram privatizar), incluindo os partido
s e as suas lideranças, que quando chegam ao poder têm um mandato muito bem definido no tempo e nos objectivos, que normalmente nunca cumprem por acção e omissão.
A única legitimidade permanente e a todo o tempo que existe é a dos cidadãos, todos os cidadãos, pronunciarem-se sobre o rumo que o país deve ou não seguir...
Reginaldo Silva