Malanje: Polícia Mata e Gera Manifestação Violenta
Fonte: Maka Angola
Divulgação: Planalto De Malanje Rio Capôpa
19 de Janeiro, 2014
Por Ezequiel Fragoso
Dezenas de cidadãos incendiaram ontem, dia 18 de Janeiro de 2014, um patrulheiro da Polícia Nacional, na província de Malanje, em protesto contra a morte de três cidadãos.
O caso ocorreu por volta das 13h00 quando o referido patrulheiro, de marca Toyota Land-Cruiser, embateu contra uma motorizada de marca Yamaha, de 125 cilindradas, na Rua Governador Silva de Carvalho, tendo causado a morte imediata dos seus dois ocupantes.
De acordo com várias testemunhas oculares, que preferiram o anonimato por razões de segurança, os jovens circulavam na sua faixa de rodagem. O patrulheiro, que vinha em sentido contrário, viu-os sem capacetes e desviou o carro para a faixa de rodagem da motorizada, para bloqueá-la, e acabou por embater nela violentamente.
Maka Angola obteve, através das redes sociais, a fotografia do incidente que ora publica e mostra o patrulheiro na faixa contrária.
Dezenas de transeuntes, que circulavam pela avenida, acercaram-se do local do acidente.
Passada meia hora, os presentes solicitaram aos agentes da Polícia Nacional para retirarem os cadáveres da via pública e levarem-nos para a morgue do Hospital Regional de Malanje.
“A polícia ignorou o apelo e os cidadãos reagiram mal atirando pedras. A polícia deu conta que mal se podia defender e começou a fazer disparos. Atingiu uma mulher e piorou a situação”, disse uma das testemunhas.
Segundo os depoimentos recolhidos no local, em reacção, os populares atiraram gasolina para a viatura policial e incendiaram-na.
Para controlar o protesto, o comando local movimentou os efectivos Polícia de Intervenção Rápida (PIR), que dispersou os manifestantes com gás lacrimogéneo.
Uma das testemunhas disse ao Maka Angola que “a senhora alvejada acabou por morrer no Hospital Militar da 2ª Divisão de Infantaria de Malanje”. Este portal não pôde confirmar a informação junto do referido hospital ou de outras fontes. Sabe-se apenas que a referida mulher transportava água quando foi atingida.
Por sua vez, o comando provincial da Polícia Nacional em Malanje emitiu um comunicado de imprensa, no qual lamentou a morte imediata dos dois motociclistas. O comunicado referiu-se também à:
“destruição total por carbonização da viatura policial por acção marginal de um grupo de elementos, que para além deste, arremessaram objectos contundentes (pedras, garrafas e paus) contra agentes da autoridade, culminando com ferimento a quatro agentes, estando um deles em estado grave e a receber tratamento no hospital central de Malanje”.
“destruição total por carbonização da viatura policial por acção marginal de um grupo de elementos, que para além deste, arremessaram objectos contundentes (pedras, garrafas e paus) contra agentes da autoridade, culminando com ferimento a quatro agentes, estando um deles em estado grave e a receber tratamento no hospital central de Malanje”.
O referido comando, dirigido pelo comissário António José Bernardo, repudiou a reacção violenta dos cidadãos e apelou “a toda população a manter a calma, e em situações similares a preservar um comportamento cívico e de respeito às autoridades constituídas, recorrendo se necessário aos órgãos judiciais para resolução dos incidentes”.
“Já é uma prática, em Malanje, os patrulheiros da polícia mudarem de faixa, em sentido contrário, para bloquearem motociclistas com ou sem capacete. Muitas vezes eles ficam com as motorizadas para benefício pessoal”, queixou-se outra testemunha.
A 7 de Novembro passado, a polícia interditou a circulação de motorizadas na via principal de Malanje, a Avenida Comandante Dangereux,que faz parte da Estrada Nacional 230 que liga Luanda ao Leste do país.
Na altura, o porta-voz da polícia local, sub-inspector Junqueira António, disse à Angop que a medida visava “reduzir o índice de acidentes rodoviários que tem vitimado mortalmente utentes da referida avenida e causado avultados danos materiais, bem como estabelecer a disciplina junto dos motociclistas.”
Em reacção, no dia seguinte, a 8 de Novembro, os moto-taxistas realizaram uma manifestação, que degenerou em confronto com a polícia. O protesto causou dois feridos, dez viaturas destruídas e levou à detenção de dez manifestantes, segundo o correspondente local da Voz da América, Isaías Soares.
O comunicado de ontem da polícia, por omissão, indica a ausência de qualquer investigação oficial sobre a ocorrência.