sexta-feira, 14 de março de 2014

LUANDA: Governador de Luanda reúne-se com "Zungueiras" e manifestação de sabado é suspensa

Governador de Luanda reúne-se com "zungueiras" e manifestação é suspensa

O Movimento Revolucionário suspendeu a manifestação prevista para sábado em resposta a um pedido do Governador
ZungueirasZungueiras
TAMANHO DAS LETRAS 

A situação das vendedeiras ambulantes, as chamadas zungueiras, em Luanda e a forma como as autoridades as têm tratado têm merecido fortes reacções a condenar a actuação da polícia e dos agentes das administrações municipais.

Além de serem agredidas, as zungueiras são detidas e cumprem até cinco dias de prisão, sem serem apresentadas ao tribunal como impõe a legislação.

Para piorar a situação, as autoridades apreendem as suas mercadorias que são levadas para centros de caridade, segundo a polícia, facto que tem suscitado muitas dúvidas.

A VOA tentou saber junto das administrações municipais sobre o destino das mercadorias mas recebemos a mesma informação.

No terreno, as zungueiras continuam a enfrentar o seu drama, narrado pelas próprias à Voz da América.

Entretanto, o Movimento Revolucionário, que marcou para este sábado uma manifestação em protesto às agressões contra as zungueiras, decidiu suspender o protesto em resposta a um pedido do Governador de Luanda.

Bento Francisco Bento pediu um prazo de 10 dias para resolver o problema das zungueiras e já amanhã, 14, irá receber as vendedeiras ambulantes na cidade desportivo.

LUANDA: Rádio Despertar confirma suspensão de Jornalista

Rádio Despertar confirma suspensão de jornalista

Emissora ligada à UNITA nega que suspensão seja tentativa de censura
TAMANHO DAS LETRAS
 
Fonte: Redacção VOA
Divulgação: Planalto De Malanje Rio Capôpa
A Rádio Despertar confirmou a suspensão do jornalista Elias Fernandes que acusa a administração de retaliação pelas entrevistas que fez.

A Rádio Despertar nega e acusa o jornalista de violar o “sigilo profissional”.

Elias Fernandes diz ter sido suspenso por ter entrevistado os jornalistas Domingos da Cruz eMakuta Nkondo, tidos como críticos das falhas da UNITA. Muito recentemente o jornalista e editor da Rádio Despertar tinha anunciado o abandono de um programa que dirigia por, alegadamente, lhe ter sido proibido convidar aquelas duas figuras.

Elias Fernandes considerou a atitude dos seus superiores reveladoras de censura instituída naquela estação de rádio ligada à UNITA, que já terá impedido jovens manifestantes de, num programa ao vivo, passarem mensagens críticas ao partido fundado por Jonas Savimbi.

Contactado pela Voz da América, o director da Rádio Despertar, Emanuel Malaquias, confirmou a suspensão do profissional mas por motivos diferentes aos evocados pelo visado.

“Ele está suspenso por ter revelado, nas redes sociais, conversas tratadas em reunião de trabalho, quebrando assim o sigilo profissional”,  disse Malaquias.

O director da Rádio Despertar acrescentou que o jornalista Elias Fernandes vai continuar suspenso até que se conheçam os resultados de uma sindicância ordenada contra si.

O secretário-geral adjunto do Sindicato dos Jornalistas Angolanos, Teixeira Cândido, já havia condenado, em declarações  à Voz da América, todos os casos de censura que possam ocorrer na comunicação social angolana, incluindo na Rádio Despertar.

quinta-feira, 13 de março de 2014

LUANDA: A retratação do sociólogo Paulo de carvalho - Por Raul Diniz

A retratação do sociólogo Paulo de Carvalho – Raul Diniz


Luanda - A retratação do sociólogo Paulo de Carvalho, vem dar razão ao que o Club-k. net trousse a publico e principalmente reforça o que foi dito pelo escritor e compatriota nosso José Eduardo(Agualusa) que não é o ditador.
 Fonte: Club-k.net
QUEM É QUEM
Pode o professor titular, catedrático, sociólogo consultor do Sebastião Martins, ou seja, lá como deseja ser tratado o professor da Universidade Agostinho Neto, o club-k. net não se comove com as delirantes afirmações ora publicadas como direito de resposta, nós apenas publicamos e ponto final. Porem as suas inquietantes afirmações que não são apenas pressagiosas, pois confirmam e autenticam a leitura e a forma de interpretação sobre democracia do ensaísta do regime Paulo de Carvalho.
Quem viveu em ditaduras como eu, sabe bem o que é uma ditadura e não o contrario, conheci o Portugal fascista continental e a ditadura implantada em Angola, e posso afirmar que em nada se compara com o miserável regime que o senhor tenta a todo custo branquear.
Só uma mente tão mesquinha como a de Paulo de Carvalho pode sair tão grande blasfêmia! Ao referir-se sobre o Rafael marques, o sociólogo funcionário consultor das secretas do regime pretendia que no passado, a prisão do ativista Rafael Marques, passa-se de lado e não fosse politicamente reivindicada dentro e fora das nossas fronteiras? Ainda bem que tudo correu ao contrario do que pretendia o sociólogo comprometido como regime, pois dessa maneira não só foi salva uma vida, como possibilitou igualmente o desabrochar o grande combatente pela democracia que hoje é o jornalista e ativista dos direitos humanos Rafael Marques.
Fica vergonhoso assistir-se um sociólogo como o senhor Paulo de carvalho querer parar o vento com as próprias mãos. Acredite ou não o teórico Paulo de Carvalho, que já é muito tarde para tentar branquear as ventas do regime, o senhor tem de parar rapidamente com essa desconexa máxima tão vergonhosa quando afirma que o país esta em mudança, pode dizer que tipo de mudança se esta a operar em Angola? O senhor quer dizer que mudança significa a eternização de JES e família no poder como acontece? Para o Club-k. net isso significa regressão e /ou inversão de valores! 
Se existe alguma mudança tem de existir uma origem imperativamente identificada com alteração de algo disfuncional como, por exemplo, uma ditadura que precisa ser reformada e/ou modificada! Outra vez tenho que lhe avivar a mente senhor sociólogo, nenhuma ditadura é reformável no mundo nem tão pouco aperfeiçoada nem mesmo modificada, toda ditadura assim como os ditadores têm de ser completamente demolidos e apeados do poder como aconteceu recentemente na Ucrânia.  Ou será que essa constância de mudança não tem principio nem terá para podermos todos em paz vivenciar os frutos da democracia sem trapaças nem trapaceiros?
Essa intencional mudança proposta pelo regime e delirantemente defendida pelo sociólogo Paulo de Carvalho está seriamente comprometida, pois nada em Angola funciona de forma a ajudar o povo a viver melhor. Também as constantes fraudes eleitorais que somam três, a impossibilidade de ter-se no país eleições autárquicas, e a permanência do regime a mais de três décadas no poder com um mesmo presidente a mais de trinta e quatro anos no poder absolutista, fica completamente impossibilitadas qualquer espécie de mudança na Angola politizada de hoje! Quer mais ou chega camarada Paulo de Carvalho?
A pergunta que nãos quer calar é a seguinte, quais são as mudanças assinaladas pelo letrado professor Paulo de Carvalho aconteceram na nossa terra, que se possa realçar por serem de tão elevado estimulo para orgulho da população que habita na angola profunda? Ah já sei, foi o aprofundamento da fome na Angola? Ou aconteceu algo historicamente importante como termos agua potável e energia elétrica distribuída em todo país? Talvez seja o grande feito de o regime ter conseguido produzir a filha do ditador angolano Isabel dos Santos como a primeira e única bilionária angolana e a maior de África!
Estou muito orgulhoso com esse feito da democracia a La Paulo de Carvalho e os angolanos no seu todo agradecemos esse feito histórico digno de ser notificado e constar no guines book! Pois não são todos os dias que se constituem por decreto presidencial uma bilionária sem nada terem feito de transcendental que justifique tamanha proeza de enfraquecimento fácil.
O P Carvalho sabe bem que em democracia não pode existir a pratica do cabritismo. Igualmente sabe que em democracia não se protela nem se defende a corrupção nem o nepotismo como acontece em Angola? Angola não é um estado de direito nem nunca existiu democracia plena nem fase embrionária, Angola não está a passar por nenhum processo de mudança desde 1992 a não ser que seja para piorar o sistema de controle e perseguição daqueles que como o Rafael marques se distanciam a cada dia mais e mais do sistema antidemocrático que o cidadão P Carvalho defende com tanto empenho.
Não aceitamos aqui no club-k. net que se fale tamanha patacoada como fez o senhor P Carvalho quando afirma, que em Angola existe democracia porque o Rafael Marques sai quando bem lhe apetece do seu país, isso não é assunto da conta do sociólogo PC, pois acredito que o professor dependa dos dinheiros de todos angolanos para sair do país, esse não é o caso do Rafael. Por outro lado, quero que saiba algo que nunca passou pela cabeça do sábio PC; Agostinho neto saiu de Angola para Portugal para estudar, regressou a Angola e foi-lhe dado trabalho muito bem remunerado para o comprarem como pode estar a acontecer consigo senhor lambe botas!
A ditadura salazarista sabia quem era Agostinho Neto, e ainda assim deixou-o a vontade para trabalhar isso quer dizer que o regime ditatorial do Portugal colonial era um regime democrático? Apesar de o regime colonial fascista poderia colocar-lhe uma série de impedimentos, mas não o fez.
Também Amílcar Cabral viajou para Portugal e depois para Angola onde até trabalhou e não houve impedimento algum por parte da ditadura salazarista em deixa-lo viajar a sua vontade de Angola para Portugal e Cabo-Verde até fugir e ser fuzilado pelos democratas do PAIGC, outros casos existiram com o de Graça Machel e do grande Nelson Mandela preso pelo pior dos regimes da terra logo depois do nazismo, ele não foi morto como poderia facilmente ter acontecido!
 Por isso fica difícil essa necessidade do senhor Paulo de carvalho apontar sempre o dedo em riste para aqueles que não aceitam coabitar em comunhão de bens com o regime despótico de Kopelipa e JES. Como o faz e bem p Rafael Marques dentre outros nacionalistas angolanos que até agora não desistiram do MPLA.
Senhor Paulo de Carvalho, se o Rafael Marques o incomoda assim tanto, eu posso marcar um encontro debate acadêmico entre os dois para falarem ambos aberta e publicamente sobre democracia. Aí o senhor sociólogo arregimentado Paulo de carvalho pode-se extirpar, pois o professor só entende mesmo é de como maquiar a ditadura!
Quanto ao Club-k. net  ter que fazer retificações como exige no seu texto publicado gentilmente por nós, isso não pode ser feito e nem vai acontecer. O senhor Paulo de Carvalho voluntariamente acabou por confirmar tudo que foi publicado pelo portal, por isso não vimos necessidade alguma de contrapô-lo sequer. 
O Club-k. net não existe para fazer a vontade do senhor Paulo de Carvalho, o club-k.net não vai em nada justificar-se nem tão pouco retratar-se uma vez que o senhor mesmo reconfirmou tudo que publicamos, olha senhor Paulo de Carvalho,  processe-me, e eu responderei caso o faça. E farei a minha defesa sem fugir a verdade, reconfirmarei tudo que foi escrito pelo Club-k. net sem tirar nem por nada.
Raul Diniz

LISBOA: De como o sociólogo Paulo de Carvalho mudou a história do Mundo - José Eduardo Agualusa

De como o sociólogo Paulo de Carvalho mudou a história do mundo – José Eduardo Agualusa

Fonte: Club-k.net

Divulgação: Planalto De Malanje Rio Capôpa
13.03.2014
Para sustentar essa sua convicção, Paulo de Carvalho contou um episódio ocorrido há tempos na Fundação Mário Soares, em Lisboa, em que o jornalista e ativista dos direitos humanos criticou o regime angolano, tendo-lhe o académico respondido: "Se em Angola houvesse um sistema ditatorial, tu, meu amigo Rafael Marques, não estarias aqui a falar para nós, estaríamos nós a chorar na tua campa".
A notícia é da agência Lusa e tem sido reproduzida em diversos meios de comunicação social desde a última quarta-feira. Vou partir do princípio que é verdade. Sendo verdade, o sociólogo Paulo de Carvalho abriu campo – com a sua arrojada linha de pensamento – para uma completa reinterpretação da História da Humanidade. Senão, vejamos: Agostinho Neto esteve nas mãos de Salazar. Contudo Salazar não o matou – logo, o regime salazarista foi uma democracia. Uma democracia exuberante, diga-se, pois Salazar também poderia ter morto, entre tantos outras importantes vozes contestárias, Álvaro Cunhal, Mário Soares, etc., etc..

Pinochet poderia ter mandado matar Pablo Neruda (adiantando-se alguns dias ao tumor na próstata do qual, efectivamente, morreu o grande poeta). Contudo, não o fez. Logo, o seu regime foi uma democracia.

Dllma Roussef, actual presidente do Brasil, foi presa, no início dos anos setenta, pelo regime militar que se instalou no seu pais em 1964. Contudo, os militares não a mataram. Logo, esse mesmo regime militar foi uma democracia. O assassinato dos jovens Isaías Cassule e Alves Camulingue, em Maio de 2012, pelos Serviços de Inteligência e Segurança do Estado (SINSE), é um pormenor que não parece incomodar o sociólogo Paulo de Carvalho. Segundo esta curiosa linha de pensamento, se um democrata consegue fazer ouvir a sua voz, sem ser morto, então existe democracia – isto mesmo que todas as outras vozes tenham sido silenciadas. Sim, Salazar matou Humberto Delgado (e tantos outros). Porém não matou Mário Soares. Então o salazarismo foi uma democracia. Sim, Pinochet assassinou o cantor e compositor Victor Jara. Porém, não assassinou Neruda. Logo, o regime de Pinochet foi uma democracia.

E a vergonha?! Não há vergonha?! Volto a ler a notícia da Lusa e sinto vergonha por ele, pelo sociólogo Paulo de Carvalho, sinto vergonha pelo Presidente José Eduardo dos Santos, sinto vergonha por toda essa gente que ousa apontar o dedo a um homem como Rafael Marques para lhe lembrar que ainda está vivo, que podia estar morto, mas que ainda está vivo, e que deve a vida ao espírito democrático de quem tem o poder para nos matar – e não o faz.

Nas democracias não se aponta o dedo a quem discorda de nós para lembrar que o pode fazer, que não morrerá por o estar fazendo. Nas democracias permitir que os outros discordem não é um gesto de tolerância (ou de ternura) – é a própria essência do sistema. A qualidade de uma democracia mede-se pela diversidade de opiniões livremente expressas. E é por isso que em Angola não temos uma democracia.

MAPUTO: Joaquim Chissano faz mea culpa por não ter desarmado a Renamo

Joaquim Chissano faz mea culpa por não ter desarmado a Renamo

O antigo presidente de Moçambique diz que o MDM tem mostrado alguma pujança mas ainda tem muito a fazer para alcançar a abrangência da Renamo.
Joaquim Chissano ex-Presidente de MoçambiqueJoaquim Chissano ex-Presidente de Moçambique
 
Joaquim Chissano assumiu ontem, 11, parte da culpa pelo facto da Renamo, o maior partido político na oposição, continuar com uma facção armada, contrariando o espírito do Acordo Geral de paz de Roma, que estabelecia o desarmamento total doentão movimento “rebelde”.

Na Grande Entrevista transmitida na Stv, Chissano considera que a conquista da paz foi o seu maior orgulho, mas assume que o não desarmamento da Renamo foi o seu “maior erro” ao longo da sua governação.

“Foi excesso de confiança termos permitido que a Renamo ficasse com armas. Quando começamos a agir, a Renamo já tinha criado uma filosofia para se manter com armas” disse Chissano durante a entrevista.

Mesmo após perceber a filosofia de Afonso Dlhakama, Chissano diz ter optado pela persuasão, ao invés da força, por forma a evitar que o país regressasse a um novo estágio de guerra.

“Nós não sabíamos quantos homens, quantas armas escondidas a Renamo tinha. Preferimos jogar com o tempo, com a persuasão, com aproximação, e isso durou esses anos todos”frisou o antigo chefe do Estado.

O antigo Presidente da República considera também que a Renamo ainda não esgotou a sua vitalidade política e é um partido a ter em conta nas próximas eleições, agendadas para 15 de Outubro.

Apesar do MDM ter mostrado alguma pujança nas últimas autarquias, ainda tem muito a fazer para alcançar a abrangência da Renamo, segundo Chissano:  “A Renamo tem ja uma certa máquina no terreno e eu penso que ainda há muita força da Renamo. Portanto nós devemos tomar isso em consideração”, disse Chissano durante a entrevista à Stv.

NOVA IORQUE: Prédio caí depois de explosão em Manhattan, Nova Iorque/USA

Prédio cai depois de explosão em Manhattan, Nova Iorque

Estados Unidos, Nova Iorque, Explosão de prédio em ManhattanEstados Unidos, Nova Iorque, Explosão de prédio em ManhattanFonte: VOADivulgação: Planalto De malanje Rio capôpa12.03.2014
TAMANHO DAS LETRAS 


Uma pessoa morreu, 20 estão feridas muitas outras estão desparecidas após a explosão e desabamento de um prédio em Manhattan, que provocou a queda de um outro esta manhã, 12, na cidade de Nova Iorque.

A explosão no prédio que se situa na rua 116 com a Park Avenue, no este de Harlem, fez estremecer muitos edifícios históricos ao redor e quebrou janelas dos mesmos.

As autoridades não confirmaram ainda as causas da explosão, que aconteceu junto à estação de metro e comboio Metro-North, em Nova Iorque, mas tudo indica que se deveu a um fuga de gás.

"Pensei que um comboio tinha explodido", disse Marisa Aquino, à estação NBC. Ela estava no seu apartamento na rua 115th Street entre Park e Lexington, quando ouviu a explosão. "Existem muitos bombeiros e muito fumo. Polícias e equipas de emergência e

quarta-feira, 12 de março de 2014

Ondjaki: Um dia Angola vai ter que se perguntar porque ficou tanto tempo o mesmo partido e o mesmo presidente no poder

Ondjaki: «Um dia Angola vai ter que se perguntar porque ficou tanto tempo o mesmo partido e o mesmo presidente no poder»

Fonte: Diário Digital
Divulgação: Planalto de Malanje Rio Caôpa
12.03.2014
Licenciado em Sociologia, Ondjaki desde cedo despertou para a Literatura. Os prémios depressa apareceram. Em 2007, recebeu o “Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco” com a obra “Os da minha rua”. Na Etiópia, foi galardoado com o prémio “Grinzane for best african writer”, em 2008. No Brasil, foi vencedor do “Prémio Jabuti”, na categoria juvenil, com o livro “AvóDezanove e o segredo soviético”.
O seu livro “Os Transparentes” ganhou o “Prémio José Saramago”, em 2013.
O Diário Digital entrevistou o autor na Póvoa de Varzim, durante o festival literário “Correntes d`Escritas”. Era cerca de uma da manhã, quando a conversa começou. Ondjaki tinha terminado um debate literário com Miguel Sousa Tavares, Manuel Jorge Marmelo, Rui Zink, Carlos Quiroga e Manuel Silva Ramos. A fila para lhe pedir um autógrafo e uma fotografia era extensa. Quando o autor conseguiu sair, já o auditório estava vazio e a Feira do Livro, adjacente ao auditório, fechada.
O Povo angolano sabe que a Senhora Ideologia [personagem de “Os Transparentes”] morreu?
Não sei se o povo angolano sabe. Não é que eu no meu livro matasse a Senhora Ideologia. O que no meu livro acontece é que finalmente se dá a notícia às pessoas de que a Senhora Ideologia já morreu. Mas realmente, para te responder à pergunta, eu não sei se o povo angolano sabe que a Senhora Ideologia já morreu.
Na minha opinião, em Angola a Ideologia morreu.
E foi substituída por o quê?
Não faço ideia, nem sei se quem a matou tinha a noção do que estava a fazer.
Fiquei com a sensação de que há mais uma violação da terra e da gente do que um esforço de desenvolvimento? É isto que se passa em Angola?
- Não sei se o povo está a ser violado ou violentado, mas o que há ali [“Os Transparentes”] – claro que o livro é uma ficção- é o ponto de vista da minha preocupação pessoal como autor- é uma tentativa de chamada de atenção para que, de facto, não se confunda o modernismo do cimento, ou até o modernismo do dinheiro e do petróleo com o desenvolvimento social. É verdade que um país como o nosso esteve 40 anos em guerra. Evidentemente que há reconstrução de pontes e de estradas, mas para mim seria preciso dar prioridade à reconstrução moral,  cívica, da cultura e da educação. Para mim, é onde o dinheiro devia estar a ser usado prioritariamente.  Onde eu vejo o dinheiro ser usado prioritariamente é no betão e na reconstrução de estradas. Muito bem, mas a reconstrução de uma ponte é ter dinheiro, que o governo angolano tem, chama o chinês e o chinês faz a ponte. Isto até nem precisa de muita planificação: chamar o engenheiro e os trabalhadores e fazem.

A reconstrução... não é bem uma reconstrução, é um reinvestimento na cultura e na educação, que também há, mas eu vejo mais a nível do cimento. Sim, há novas escolas. Sim, há novos postos de saúde. Sim, há novas universidades, mas a prioridade - repito- devia ser dada à qualidade do ensino e não aos prédios onde ensinam. É preciso repensar a qualidade dos professores que temos e do nível de ensino. O mesmo se aplica à cultura. E isto não é visível, porque não é como uma ponte que aparece daqui a 6 meses, mas talvez daqui a 6 anos ou daqui a 60 pudéssemos então- oxalá possamos- ver um país a renascer. Claro que os países se reinventam, e Angola está a renascer e está a reinventar-se. Eu acho é que tem de se pensar que maneira é que todos nós, cidadãos e políticos, queremos que Angola se reinvente. Como é que a queremos? Que Angola queremos nós, cidadãos, para o nosso futuro?
Está tudo a acontecer muito depressa…
Depressa é inevitável! O depressa está em todo o lado. Está em Nova Iorque, está em Joanesburgo e em nós também, mas o depressa tem de ser contrariado, o depressa não existe, o depressa não funciona. O depressa traz defeito. O depressa é perigoso...mas enfim… eu não sou político. É uma mera reflexão pela via da ficção.
A tua literatura é uma arma de combate social? 
Eu acho que não, ou seja eu não uso com essa intenção. É óbvio que o livro pode ter várias leituras; é óbvio que “Os Transparentes”, dentro destes livros que eu escrevi, é talvez o livro com uma carga política um bocado mais forte. Existe ali qualquer coisa de inquietação política, mais do que crítica ou outra coisa qualquer. O que eu quero transmitir é inquietação; a minha pessoal, acho que transmito a de algumas pessoas também, é a minha pessoal e assumo-a. O livro está assinado por mim.
Eu só chamo a atenção para coisas que eu gostaria que fossem passíveis de reflexão e de discussão aberta.
Em “Os Transparentes”, Luanda é a personagem principal?
Eu acho que sim. Acaba por ser. Não é a primeira vez. Há um livro chamado “Quantas madrugadas tem a noite” em que o pano de fundo e uma das personagens principais é a cidade. Aqui em “Os Transparentes” é mais evidente. Luanda aparece com os seus tentáculos e esses tentáculos são as pessoas, desde o vendedor de conchas ao ministro; desde a avó, que veio de Huambo e que vive em Luanda enclausurada numa outra língua que não é a dela, até ao menino que transporta baldes de água e lava os carros. Estas pessoas fazem uma certa Luanda. Evidentemente que outros escritores poderão optar por uma outra visão de Luanda.
Angola, tal como Luanda, é um país permanentemente em obras/reconstrução?
Ainda é e ainda será. Lá está! É preciso ver que a reconstrução está a ser feita a vários níveis: do ponto de vista de quem manda, que é o governo, mas do ponto de vista também de quem lá vive e tem o seu próprio conceito de reconstrução. Luanda, especificamente, é uma cidade que vive em função do dinheiro- e onde há dinheiro isso tende a acontecer; onde há menos dinheiro as pessoas vivem menos em função do dinheiro- ali há muito dinheiro e toda a gente gira em torno do dinheiro, seja o dólar seja o kwanza.

Isto é uma coisa que me deixa triste. É Natural? Bom, talvez, mas deixa-me triste; é uma outra Luanda em relação às luandas que já houve e às luandas que eu conheci antes. Havia menos dinheiro, ou pelo menos circulava menos dinheiro.
O ministro tem gelo enquanto a população sofre com a falta de água. É possível escrever sobre a classe média? Ela existe?
Está a aparecer devagar uma classe média. Não é, sociologicamente, a classe média típica, se analisarmos vários indicadores, porque a classe média não se faz só por valores monetários. Eu acho que, neste momento, se eu te falar de uma classe média, eu vou estar a falar exclusivamente no salário das pessoas. Nesse sentido, sim; há uma nova camada que está nos bancos, há uma nova camada que está a ganhar melhor. Isso vai ser a nossa classe média, mas é preciso atenção porque sociologicamente a classe média deveria compreender outros indicadores: aptidões intelectuais, aptidões sociais, acesso a determinado tipo de bens e de direitos. Isso não sei se existe porque está tudo muito ainda em função do dinheiro, tanto a oportunidade quanto o acesso. Isto complica. Não deveria ser só o dinheiro a permitir o acesso a determinado tipo de serviços ou de bens. A água é um exemplo: mesmo quem tem água em casa é porque tem tanques de água e quando a água vem, que não é todos os dias, armazena a água e depois tem água que parece corrente. Mas a água não vem todos os dias para toda a gente em Luanda. No caso de Luanda; já nem falo nas outras províncias. A meu ver, é uma das prioridades. Seria interessante ver um político ou governante dizer “Vocês já viram que já resolvemos o problema da água?” Isto para ele seria um trunfo político; para mim seria uma coisa normalíssima que os políticos estivessem preocupados. Num país com o número de rios que nós temos- há províncias com mais de 3 rios- seria incrível se conseguíssemos finalmente que a população… Eu até digo prioritariamente a água! Mais do que a luz porque a água faz mais falta a toda a gente.
Em “Os Transparentes” procura-se petróleo, mas falta água. A que se deve esta inversão de prioridades?Isto é na ficção. Não há petróleo “onshore”, digo eu… É simbólico, mas essa simbologia estende-se a muitos políticos no mundo que raramente adoptam como suas prioridades  as prioridades de quem conta com eles. É muito raro um político adoptar como prioridade aquilo que realmente faz falta. São outras agendas! Isto é incrível!
Estou a ouvir-te e, tirando alguns aspectos particulares, consigo identificar a Europa.
Claro! Estás a ver a França, estás a ver a Espanha, a Itália e estás a ver Portugal. Claro!
Angola teve uma guerra civil, houve uma “catarse” de sangue. Dá-me a sensação- obviamente que é ficção- de que há uma constante destruição e reconstrução na Luanda de “Os Transparentes”. É necessária uma nova catarse, uma nova forma de niilismo na transformação da sociedade angolana?
Não sei se a palavra é “Necessária”... Não sabemos muito bem o que vai acontecer. O partido que está no poder está no poder há muitos anos, a pessoa que está no poder como Presidente da República, por variadíssimas razões, está no poder há muitos anos. Angola vai ter que lidar com isso. Um dia, Angola vai ter de que repensar isso; vai ter que se perguntar porque ficou tanto tempo o mesmo partido e o mesmo presidente. É impossível que ninguém se pergunte. As pessoas se perguntam, muitas vezes…
A Literatura é a expressão de uma identidade. Parece-me que a literatura angolana já está consolidada…
Sim, mas é feita por um pequeno número de pessoas. Hoje o Ungulani, de Moçambique, estava a me dizer que nos nossos países o número activo de escritores face à dimensão populacional é curto. Angola neste momento deve estar com cerca de 18 a 20 milhões de habitantes.  Vamos admitir que sejam 200 [escritores], oficialmente. É pouco. 200 escritores para 20 milhões é pouco.

Não podemos mandar para a faculdade e desejar que sejam escritores. Não podemos controlar, mas podemos favorecer as condições para que apareçam, não é? As pessoas vivem em condições que não permite sonhar com o ser escritor. Neste momento, a juventude sonha com ser desportista ou cantor. E porquê? Porque são duas coisas que resolvem o problema das pessoas pela via do dinheiro, pela via da fama, pela via do encosto -encosto-me a este, encosto-me àquele. Escritor, algumas pessoas querem ser, pelo prestígio, mas não é uma carreira promissora.
Então não há uma crise de identidade em Angola?
Não, eu acho que não. De um modo de um geral, os angolanos sabem muito bem o que são; alguns estão equivocados, como noutras culturas. 
Eu prefiro pôr em questão e prefiro pensar sempre que não é possível falar em identidade angolana enquanto conceito fechado e que é bom que esse conceito seja arejado e que possamos reconstruir todos os anos, todas as décadas. Se há pessoas que estão convencidas que sabem exactamente o que é a identidade angolana...bom...essas pessoas têm o seu caminho a fazer.
Em “Os da minha rua“ usaste muitas memórias de infância?
Sim, sim…
E em “Os Transparentes”?
Quase nada.
Há pessoas que são baseadas em pessoas que conheço.
Essas histórias não são minhas; toda a gente conhece essas histórias. O meu trabalho é agrupar essas histórias e, claro, dar-lhe um traço de escrita, que é meu. Toda a gente em Luanda sabe daquelas histórias. Toda a gente.

Existem características tuas espalhadas pelas personagens, presentes principalmente em Odonato? Lembro-me do idealismo de Odonato e da frase que disseste na entrega do prémio Saramago “Na palavra cantil guardo a utopia, para que durante a vida eu possa não morrer de sede”; lembro-me também de PauloPausado e a sua mania em coleccionar pessoas estranhas e ouvir conversas…
Há coisas nossas que no momento certo precisamos de usar. Não é “agora vou fazer isto baseado em mim”, mas naturalmente uma ou outra coisa deve saltar; um ou outro personagem deverá falar-nos mais ao coração do que outros. Certamente não me identifico, como pessoa, com o ministro. Também não sei se com o Odonato...Eu conheço pessoas assim que acreditaram numa certa esquerda, a dada altura, e que são de esquerda ao contrário de outros que não sabem bem o que é; tanto não sabiam o que eram como ainda hoje não sabem. E tanto lhes faz. Eram hiper-comunistas, hiper-marxistas/leninistas, mas mal o sistema mudou foram se casar na Igreja. Eu não tenho nada contra uma pessoa que se case na igreja!

Não é como a esquerda italiana que tem a esquerda italiana católica. Em Angola, quando tu eras Marxista-Leninista, em princípio, não eras católico, mas até podia ser que se fosse, pois a pessoa estava escondida. Mas aqueles que diziam abertamente que não eram depois vão se casar pela igreja e depois têm 4 Mercedes em casa, no quintal! Esses que se diziam de extrema-esquerda, hiper-colectivistas e Marxistas-Leninistas! 4 Mercedes… acho que alguma coisa aqui não está bem. 

Odonato representa um bocadinho isso. Acho que o Odonato às vezes ainda diz isto: “Eu acreditei naquilo que me disseram; que era para todos, que era para dividir”. E de repente vê que não é nada disto. Isto é uma desilusão não só política como humana. Ele está todo destroçado. Ele não come, o filho desapareceu. Coitado! Também dei-lhe uma conjuntura não muito fácil. Ele tinha que ficar transparente, pois já não aguenta. Ele desaparece de si mesmo! É esta transparência.
Ele tem essa pureza, essa ingenuidade...
Sim, sim… eu achei-o excessivamente puro, no aspecto literário. Aquela pessoa não existe. Não pode existir. Na verdade, era eu que precisava dele para contar uma história e pu-lo assim. Acho que ele não existe.
E o filho Ciente? É um personagem simbólico? Não lhe deste esperança nenhuma. Ele não teve saída.
Não, não… Ele já estava condenado à partida. Na realidade, ele ajudou-me imenso para o pai ficar mais desesperado, ir à procura dele. O Odonato é um frustrado, de buscas frustradas, e tem um filho assim. O filho, não. O outro personagem, amigo do filho, que é um ladrão e que se chama ZéMesmo, é muito mais uma brincadeira simbólica do que o Ciente. O Ciente, simplesmente, ajuda o personagem do pai a dizer certas coisas e a fazer certas coisas.
E qual é o simbolismo de ZéMesmo?
Daqui a uns anos as pessoas vão perceber. [risos]
As personagens são adjectivadas com alcunhas que demonstram traços físicos ou de personalidade. Porquê esta manipulação lexical/semântica? 
Isso começou com “O Assobiador”, que é um livro já antigo, e achei interessante. Eu queria um livro em minúsculas porque dão uma certa fluidez no discurso e, ao mesmo tempo, uma certa confusão, que é Luanda. Então não me interessava muito estar preocupado com os pontos e os parágrafos, nem me interessava se a pessoa parava de ler, ou onde parava. Era isto. Essa estrutura gráfica era muito mais até para criar nos nomes uma coesão, pois não é preciso estar a separar e faz-me confusão. Gosto muito de ver os nomes todos juntos: HospitalMilitar, RádioNacional. É o fluxo de Luanda que não pára, ou pára com aquelas divisórias de capítulos que são pausas, na realidade.
No cinema [Os Transparentes], as imagens são dadas, mas os sons são feitos pelas pessoas. Qual o significado da parábola do cinema? 
Não sei se tem um significado. Era muito mais um sonho. Acho isso muito bonito. Porquê? Porque no teatro, que é uma arte muito mais humana na hora de ver- no cinema está lá uma tela fria, a gente olha e vê- temos tudo ali: 
A voz, a respiração, a falha, o suor do actor. 
E eu pensei que aquilo era uma maneira de inventar uma interacção que o cinema não tem. Tu tiras o som, ou o JoãoDevagar [tira o som], e dizes: “Não, não, não… Aqui, neste cinema, cada um vai fazer o som”. Apelar às pessoas a participarem nesse filme. Claro que pode ser o filme da vida, o filme da cidade. No meu caso, ele ainda faz uma coisa “pior”; depois põe um filme pornográfico, à noite. Mesmo no filme pornográfico as pessoas é que fazem os sons. Tu podes optar por fazer o som do filme pornográfico, mas também podes optar por outra coisa, ou seja tu interferes no filme, usas a imagem, mas interferes. E esse é o poder de criação de cada um. Nós podemos interferir mesmo naquilo que aparentemente já está destinado para ser assim.
O som parece-me ser muito importante na tua prosa: jazz, o cinema, a situação (pág. 214) em que o carteiro fica “a ouvir a orquestra de sons brandos que o prédio lhe trazia”. O que pensas que a mistura de línguas e dialectos traz à tua literatura? Dedicas especial atenção na construção dessa melodia?Não, à melodia propriamente não diria. Os projectos, às vezes, conseguem dizer-me que ritmo é que terão; ou seja, “O Assobiador”, como é muito mais lírico, muito mais calmo, muito mais delicado, tem um tipo de linguagem. O Madrugadas [Quantas madrugadas tem a noite], que já é de uma Luanda muito mais dura e rústica, tem outro tipo. E isto varia um pouco porque há zonas ligeiramente poéticas e há zonas mais duras. Por exemplo, o livro tem diálogos muito longos, de 4 ou 5 páginas, que é o que os luandeses fazem muito. É obrigatório falar, não podemos estar calados mesmo que não tenhamos nada para dizer. Às vezes as pessoas diziam-me “Este diálogo está um bocado extenso”; eu dizia “Desculpa lá, mas é mesmo assim. Não é para ser uma perfeição literária; isto aqui é para reflectir um bocado sobre o que se está a viver em Luanda”. Tive essa delicadeza- claro que não é fácil - em tentar dizer “Aqui fala-se à toa. Aqui fala-se por falar”, por um lado. Por outro, é uma homenagem às pessoas que estão sempre a criar! O diálogo é o teatro que os luandeses fazem todos os dias! Esse teatro acontece muito por via do diálogo. Tu vês em qualquer conversa que a pessoa tem necessidade de criar a palavra ou a acção. Ele está a contar-te uma coisa que não aconteceu. Parece uma obrigação. Isso eu acho muito interessante! 

Uma pessoa chega atrasada e conta-te uma história. Bom, está bem. É para se justificar. Mas é que não é só para se justificar! É porque ela acha mais interessante estar aqui cinco minutos contigo a inventar-te uma história do que simplesmente dizer-te a verdade, mas não é para se desculpar do atraso! É óbvio que chegou atrasada! Não! É porque já agora tem a oportunidade de te contar uma história inventada ou adaptada! Eu acho fantástico que as pessoas tenham a necessidade de teatralizar a própria realidade! O que os psicólogos dizem acerca disso? Podem dizer muita coisa por que o povo está sempre com necessidade aquilo que vive… Acho que isso pode dizer muito, não é? Quer efabular ou não está muito satisfeito com aquilo que vê. Ou os dois.
Esse “contar histórias”, essa oralidade ainda é base da passagem cultural?
Nas cidades, eu não sinto. Evidentemente que há espaços rurais que, felizmente, estão protegidos dessa invasão do ritmo tanto do tempo quanto do dinheiro. Ainda tem comunidades rurais- as chamadas comunidades étnicas- que preservam as suas tradições de maneira interessante: as festas da circuncisão, o modo como é pedido o casamento, o modo como os enterros são feitos, os cânticos para a colheita, os cânticos para apelar à chuva. Isso existe. 
Agora vivo no Rio, mas sou de Luanda, e não tenho acesso às histórias ditas tradicionais.
Eu gosto que essas histórias sejam contadas por pessoas que as conhecem bem porque se não cai-se no exotismo literário e eu não tenho paciência nenhuma para isso.
O que achas que se perde ou que se ganha na passagem dessa oralidade para a escrita?
S
ão universos que às vezes se encontram, mas são universos diferentes. Há histórias que foram feitas, e ainda são usadas há milhares de anos, para serem contadas oralmente. O aproveitamento que podemos fazer dessas histórias, dando-lhes um tratamento literário, é outro caminho. Vale a pena? Vale, se o escritor for bom vale a pena, mas é preciso não esquecer que há histórias que fazem e farão parte da tradição oral. Talvez morram porque as comunidades rurais e o espaço rural do mundo está a terminar.
Foste para o Rio de Janeiro há quanto tempo?
Estou lá há 6 anos.
A passagem do interior para o exterior mudou a tua visão?
Deve ter mudado. Há até o efeito da distância, o efeito da saudade, que nos torna mais críticos ou nos torna mais brandos. Eu procuro ficar numa linha divisória entre a procura da clareza da distância sem querer a frieza do desconhecimento, de não estar lá. Não quero essa frieza. Não quero-me armar em que sou o maior crítico agora que não estou lá. É muita delicada a fronteira entre: critico, porque acho que tenho de criticar, mas eu não estou lá então que direito tenho em criticar?
É uma dúvida que me assombra todos os dias.