terça-feira, 2 de maio de 2017

LUANDA: Em Luanda, Fiscais Roubam, Violam e Matam Indiscríminadamente as Vendedoras Conhecidas como Zungueiras

EM LUANDA, FISCAIS ROUBAM, VIOLAM E MATAM ZUNGUEIRAS


hcarneiro

O cidadão quando ouve falar de fiscal, em Luanda (capital de Angola), associa (por longa e dolorosa experiência) sem pestanejar a actividade deste agente público, à de um reles bandido ou delinquente comum, com a diferença do primeiro portar um colete, com insígnias Fiscalização, cartão de identificação e andar numa carrinha oficial.

Por Sílvio Van Dúnem e Victória Balundo
Tirando estes elementos de identificação do Estado, a prática quotidiana é de autênticos bandoleiros que actual num não-Estado, como se fizessem parte de uma ampla organização mafiosa de malandros da ladroagem pública e do público. E, se calhar, eles até pensam isso mesmo.
Na realidade eles parecem os “tentáculos militaris” do roubo organizado para favorecer a raia intermédia, instalada nos órgãos dos governos provinciais e municipais, ou uma força de reserva, para qualquer eventualidade de provocação, junto dos populares, numa guerra, eles são mais um exército disfarçado, pago pelos contribuintes que são as suas vítimas.

O fiscal & gatuno do governador unidos

Ofiscal deveria, num governo democrático e responsável, comprometido com a cidadania, ser um agente de autoridade pública que a lei municipal ou provincial incumbe de fiscalizar ou harmonizar a actividade dos cidadãos, no perímetro das cidades, cabendo-lhe fiscalizar, orientar, prevenir e aplicar coimas ou multas a todos quantos estiverem a prevaricar. Em Luanda e em Angola não é isso que acontece, para além de serem analfabetos, são gatunos e assassinos.
Os fiscais ROUBAM a mando do governador provincial, que numa situação normal deve ser responsabilizado, como mandante. No entanto, os executores e mandantes sabem que a situação não seria normal se Angola fosse aquilo que não é – um Estado de Direito. Mas como não, fazem da anormalidade a sua normalidade.
Um fiscal digno desse nome, tem a sua acção quotidiana, dominada pela ética, moral, respeito e conhecimento mínimo da lei, pelo que deve, didacticamente repreender a conduta ou prática menos correcta ou desordeira do munícipe para que as liberdades e os direitos individuais, em especial o de propriedade tanto a pública quanto a particular, consignados na Constituição de Angola, sejam exercidos em ambiente de transparência e leal concorrência.
Mas, fundamentalmente, o trabalho dos fiscais, não deve descurar os momentos dos países e Angola vive, um momento crítico, principalmente, face à desmobilização de milhares de militares, sem pensão de reforma, reservistas, desempregados, por encerramento diário de empresas, constituindo as mulheres a única fonte de receitas para manter o lar e as crianças na escola.
Quando um governo manda fiscais, ou agentes policiais, para o terreno, não pode deixar de ter em linha de conta pormenores importantes como a salvaguarda da sua imagem e seriedade, para não cavar recalcamento nos cidadãos. Infelizmente, quando se esperava outra postura, com a subida do general Higino Carneiro, como governador de Luanda, os seus agentes, parecem a sua “mão militar”, numa espécie de quadrilha qualificada de delinquentes e de gatunos, que roubam os pobres, como se para beneficiar o chefe, a quem as autoridades policiais ou do Ministério Público já deveriam abrir processos criminais.
A acção de um verdadeiro fiscal, num governo responsável e de cidadãos, centra-se na prática de exames, vistorias, perícias, verificações, avaliações, denúncias e a regular a actividade comercial ambulante dos cidadãos.
Nestes actos em repetidas resistências, podem contar com a colaboração da Polícia, nos casos de apreensão ou interdição de venda permanente, numa dada zona da cidade.

“Roubam-nos e ainda nos fo….”

zunga
“Eles são brutos. Batem-nos, arrastam-nos, roubam-nos, ´dormem´ connosco e até já mataram duas amigas minhas por causa de negócio. Esses fiscais do governo do MPLA são matadores”, denuncia a zungueira Maria Kambila.
Vendedora nas artérias principais e secundárias no eixo Luanda, Viana, ele levanta-se às 4h30 minutos da manhã e vem para a estrada acompanhada pelo marido ou um irmão até à estrada, onde espera pelas suas amigas: “A Tucha que vende sandes, ovo e às vezes fruta e a Rosa, que zunga, produtos de limpeza. Assim mesmo que nos juntamos já são 5 ou 5 h15 minutos e começamos a descer, chamando os clientes”.
Ela veio do Bié, onde o marido foi incorporado, com 15 anos no serviço militar obrigatório, “apanharam-no por ser já grande e julgaram que era mais velho. Assim mesmo, agarraram-no, foi para o Kuando Kubango e parou na 4 classe, portanto a sua vida foi só mesmo a tropa, não aprendeu lá mais nada”.
Os anos de vivência marital fê-la mãe, também, muito cedo; 16 anos e de lá para cá, não mais parou, “pois eu gosto de ter filhos e do meu marido”, diz com um brilho de alegria no rosto.
Apesar de ser uma mulher sofrida, pobre e batalhadora, considera-se feliz e aos 28 anos de idade, é mãe de oito (8) filhos. “Parecem muitos, mas se temos um bocado de pirão (funje) e conduto (acompanhante, pode ser ervas – lombi-, peixe ou carne), comemos uma vez por dia e quando não chega, tomamos pão com chá, mas eles estão na escola, com o bocado que fizemos.”
Ao falar no plural, questionámos se, afinal o parceiro trabalhava, ao que respondeu afirmativamente. “Ele vende um pouco de kapuka (bebida espirituosa caseira), para não ficar sem fazer nada e cigarros também”, esclarece.
Esta mulher batalhadora, que acorda todos os dias de madrugada, considera ser feliz, apesar e tudo… Fica triste, “quando nós, o povo que nos sacrificamos, para não estarmos todas na vida da p…, quando os fiscais nos rusgam, nos roubarem mesmo as coisas. Se não nos querem porquê que o governo não arranja serviço para os nossos maridos ou mesmo para nós? Isso um dia vai dar muito problema, pois o meu filho mais velho um dia já quis dar uma pancada num fiscal kapiqueno, li (lhe) salvou o outro que tinha arma”, recorda.
Maria Kambila, conta ainda que todo este seu sofrimento se deve ao facto de que “o marido era das FAPLA e foi desmobilizado em 1992, mas não ganha e não consegue trabalho, assim o pouco que ele arranja compramos negócio que eu tenho de zungar na cidade ou parar numa praça de rua”, justifica, esclarecendo, ter sido assaltada, pelos fiscais de Viana, do Cazenga e Ingombotas, por seis vezes e nunca conseguiu recuperar os seus produtos, “porque estes fiscais não prendem as coisas, não passam papel de multa. Eles roubam-nos e batem-nos”, lagrimeja, quando avança: “Uma minha amiga, depois de a roubarem, arrastaram-na num dos carros e foram dormir com ela numa geral. São mesmo porcos, mas um dia, esses fiscais da merda, vão pagar, por isso que estão a fazer às mulheres dos outros, por sermos povo e ninguém nos defender”.

“Até na rua pagamos taxa, mas ainda nos correm”

As mulheres, melhor, estas mulheres zungueiras ou vendedoras, como se quiser chamar, são mesmo uma espécie batalhadora e sofrida, que pelos filhos, marido e família, fazem de tudo, arriscam a vida, para com a sua actividade levarem um pequeno lucro que lhes permita transformar em pão. Diariamente pagam aos fiscais da administração uma taxa entre 50 e 100,00, que não sabem para o que servem, já que não arranjam a rua, nem colocam urinóis.
Quando se depara, com elas, nas bermas das estradas, estendendo um pano ou colocando a bacia ou balde, para, independentemente, dos riscos montarem bancada, como o fazem, na rua conhecida como das Pedrinhas, na Terra Nova. Elas sabem, que os fiscais do Governo, não são sensíveis ao drama das populações e que o governo não elabora estudos sociológicos para interpretar esse fenómeno, pese as informações de violações e mortes causados pelos seus agentes no desempenho (musculado) das acções quotidianas de fiscalização.
Joana Maria há 16 anos marca de forma aleatória a bancada nesta via e fá-lo num exercício de senta/levanta, seguido de frenética correria de 100 ou 600 metros para salvar, não à pele, qual atleta, mas o produto do lucro, qual “Bíblia Familiar”, quando chegam os fiscais e “sem nos perguntar começam só a correr connosco, “atoamente”, para nos roubar os produtos, porque não podemos ficar aqui, mas então se no mercado não tem lugar, vamos mais aonde, meu Deus”, lamenta.
Ela tem quatro (4) filhos para alimentar, como mãe e pai, “pois o meu marido fugiu e esse é o meu refúgio. Tenho todos os dias de lutar para pagar as propinas da escola dos meus filhos, para pôr comida na mesa, mas passamos por muita coisa neste mercado da pista, que só Deus sabe”, asseverou.
Mas nessa luta desigual, nem sempre escapam as garras dos fiscais, pois quando nos apanham ou nos batem, roubando o produto ou levam-nos com os produtos e nos fecham lá, no serviço deles, às vezes mesmo, por três dias, ficamos presas a fazer serviço de limpeza, até nas celas e às vezes de noite uns mais bandidos nos obrigam a se dormir, para nos fazer soltar e como temos filhos, às vezes caímos mesmo em meio campo”, conta, desesperada Domingas Ngola.
Pese estas dificuldades de terem de “rivalizar” com o lixo dos moradores, dos armazéns e delas, não desistem de arriscar a vida e estão sempre preparadas, nesses frenético “senta e corre”, para receber os fiscais e agentes policiais da Administração do Rangel, “que não querem saber se temos ou não emprego, se os nossos maridos recebem pensão ou estão connosco. É só chegar e nos recebem os negócios, muitas vezes jogando-os fora ou levam em suas casas para o sustento dos filhos deles, prejudicando os nossos. É só Deus”, concluiu.

“Exploram-nos mesmo, porque são corruptos”


As zungueiras/vendedoras da rua dos Lotes do Caputo, contígua ao Mercado dos Congolenses, são ainda mais ousadas, no sofrimento e no enfrentamento do perigo, pois não tendo espaço no interior da praça, nem no largo frontal, decidiram montar barricada, nas vias laterais e circunvizinhas, num desafio à sobrevivência.
Estas mulheres, verdadeiras heroínas, batem-se em nome do estômago e da dignidade humana, ao resistirem ao alistamento, no cada vez mais numeroso exército “forçado” da prostituição, servindo ainda de tampão, para os filhos não se alistarem nas milícias da delinquência e droga, que controlam os bairros pobres da periferia e das zonas urbanas.
Domingas António tem noção de correr riscos, do local não ser apropriado, para a venda, que deveria ter uma bancada num mercado público, mas tem a realidade na frente. Os mercados escasseiam, os empregos também e a fome aperta. A FOME é o grande obstáculo a transpor, daí constituir a divisa do risco consciente.
A zungueira não está aqui, por querer desafiar os homens, mas por necessidade de trabalhar para ter um bocado para comprar comida e roupa de fardo para os filhos, “mas os fiscais não nos entendem, eles querem as estradas bonitas, sem se importarem se as pessoas estão feias devido à fome”.
Domingas adianta ainda que, “quando nos agarram, somos obrigadas a pagar para não ficarmos detidas ou para termos de volta os nossos negócios”, esclareceu, adiantando que “na semana passada, agarraram uma zungueira que o próprio comandante queria violar. A mesma foi até ao Comando Provincial de Luanda, mas ninguém a ajudou a resolver a situação”.
O país enfrenta uma forte crise económica, um desemprego galopante, que não pode deixar os actuais governantes insensíveis, uma vez exigirem medidas realistas, ligadas fundamentalmente, a sobrevivência condigna dos mais pobres, face a sua própria má política económica. A violência e as medidas administrativas paliativas, não resolvem os problemas, pelo contrário, podem agravá-los, com a criação de “crateras” no interior das pessoas. “Os fiscais devem parar de dar corrida as zungueiras porque, aqui encontram-se mães que são ao mesmo tempo pais, que sustentam as famílias”, apelou.
E olhando para o futuro, mesmo sabendo não haver oportunidades iguais, mostrou porque está na rua. “Os nossos filhos não têm empregos, assim como os nossos maridos. Como é que vamos sobreviver com essa crise? São muitos maus-tratos que nós enfrentamos todos os dias nessa via, que montamos a praça”, justifica Domingas António, com os olhos esbugalhados.
É verdade que todos, absolutamente, todos gostaríamos que a realidade fosse diferente, nas grandes cidades, principalmente, na cosmopolita Luanda, com uma população aproximada de 7,1 milhões de habitantes, mas entre a beleza do betão e a delinquência e prostituição ostensiva, face à falta de empregos quer oficiais como privados, preferimos as zungueiras e ambulantes a interpelarem do que um delinquente em cada semáforo ou esquina à luz do dia.

LUANDA: Kabila e Inácio: Mais dois Jovens Assassinados pela SIC, a Policia do Regime

KABILA E INÁCIO: MAIS DOIS JOVENS ASSASSINADOS PELO SIC


Maka Angola tem em curso uma investigação sobre os assassínios que as forças da autoridade, protagonizadas pelo SIC, têm vindo a perpetrar sistematicamente desde há um ano. Ao todo, recolheu-se informação sobre mais de duas centenas de casos. As execuções sumárias tornaram-se uma realidade sistemática, por vezes até aplaudida por parte da população. As vítimas são normalmente jovens acusados de delinquência, muitos com penas cumpridas. Mas nem sempre. Casos houve em que os agentes ou colaboradores do SIC mataram absolutos inocentes, por vezes jovens falsamente acusados por terceiros, por motivos de vingança, ciúme ou simples vontade de matar.
Em qualquer das situações, estas forças da autoridade — bem como os respectivos responsáveis políticos — revelam o mais puro desprezo pela lei e uma total ausência de sentido humanitário. Executam jovens indefesos em vez de os levarem à justiça; desferem tiros à queima-roupa sobre indivíduos desarmados e indefesos; matam sem sequer fazerem perguntas, à frente seja de quem for, incluindo familiares e crianças; matam até nomes que não constam das suas “listas”, por mero engano. A vida, para estas supostas forças da lei, vale menos que nada.
Na tentativa de estancar estes crimes em série, escrevemos às autoridades competentes, informando-as da investigação e da futura publicação do relatório completo.
Mas o recente caso de assassínio de Kabila e Inácio demonstra que não existe vontade imediata de travar estes crimes de Estado. É então preciso denunciar, divulgar, chamar a atenção para estes homicídios brutais e injustos, para os travar de vez. Estamos do lado da lei. Defendemos o Estado de Direito. Se o ministro do Interior (responsável máximo do SIC) permitir que as forças da autoridade executem condenações — para mais condenações à morte — que será do futuro dos nossos sofisticados ladrões que, empoleirados no poder, saqueiam os cofres do Estado?
Mendik Pedro Samuel “Kabila” residia em Caxito, província do Bengo, e deslocava-se regularmente a Luanda para visitar os pais e irmãos no bairro Malueca, município de Cacuaco, e, em particular, a mulher e a filha, residentes no bairro do Golfe. Em 20 de Abril passado, visitou primeiro os pais, dirigindo-se depois ao Golfe, em companhia do amigo Inácio Fernando Romão, ao encontro da esposa e da filha, junto de quem jantou.
Os pais e irmãos contactaram com Kabila pela última vez depois do jantar, quando este telefonou ao irmão (Guilherme Pedro Samuel “Gui”) para saber da veracidade de uma mensagem que entretanto recebera de fonte não especificada. Segundo essa falsa mensagem, o irmão Matondo, de 18 anos, fora capturado. A família explica que, tal como tem acontecido com outros jovens por todo o bairro, o adolescente “está a ser procurado pela DNIC [SIC], para ser abatido”. Em 2014, Matondo estivera detido duas vezes, num total de seis dias, por suspeita de furto.
Por volta das 4h00, uma vendedeira de pão viu dois corpos a serem despejados de uma viatura minivan JinBei (pintada de azul e branco) por dois indivíduos. Os corpos foram atirados na lama, num beco ao lado de uma padaria, no desvio de Malueca. A vendedeira alertou a vizinhança.
A família de Kabila acorreu ao local e deparou-se com o seu cadáver e o de Inácio, identificando sinais de que tinham estado amarrados e haviam sido torturados. Gui notou que o seu irmão Kabila tinha sido injectado com um líquido no braço esquerdo, que provocara bolhas na pele.
De acordo com a mãe de Kabila, Eva Paulina, um dos três investigadores do SIC presentes no local informou-a apenas de que os defuntos “são gatunos e mereceram morrer”.
Por sua vez, o pai de Inácio, Fernando Romão, conta que os três investigadores lhe pediram que os acompanhasse até ao quintal da padaria, para anotarem os dados de identificação do seu filho e da família. “Um deles tirou a mochila das costas, tirou de lá um caderno de apontamentos e tirou também fotografias. Mostrou-mas e disse-me: ‘Esses [jovens] são perigosos, um deles estava fugido, mas já está a ser procurado e faltam esses [para serem eliminados]’”.
“Vi também as fotografias do Inácio e do Kabila [enquanto vivos] e perguntei porquê”, prossegue Fernando Romão. “Eles responderam-me que eram da investigação criminal e perguntaram-me se eu queria julgá-los ou se eram eles quem tinha o direito e o poder de julgar.”
“Então, perguntei-lhes se tinham sido eles a matar o meu filho e o amigo Kabila. Responderam-me que eu estava a acusar a autoridade e estava estressado. Disseram-me que a polícia não mata. Prende e entrega ao Ministério Público”, acrescenta.
Fernando Romão viu dez fotos e afirma que “esses que faltam [para serem eliminados]” são oito.
“Então fiquei a saber que foram eles [elementos do SIC] que mataram o meu filho e o seu amigo. Entreguei-lhe os dados que me pediram, meteram o caderno e as fotografias na mochila e saímos do quintal”, conclui.
Conceição Pedro Samuel, irmã de Kabila, sublinha que três agentes do SIC, afectos à Esquadra do Alfa-5, foram depois a casa da namorada do irmão mais novo de Kabila (Luís Pedro Samuel “Matondo”), informando-a de que “já matámos o teu cunhado, só falta o teu namorado”.
Dois dias mais tarde, quando foram à morgue para levantar os cadáveres e realizar o funeral, os familiares passaram por novo episódio envolvendo o SIC. Conceição Pedro Samuel recorda a troca de palavras que tiveram com o médico legista porque o SIC havia registado no seu relatório de remoção de cadáveres que os jovens foram mortos a tiro. O médico exigia dos familiares explicações sobre aquela inverdade oficial.
Por sua vez, “os homens do SIC, lá na morgue, perguntaram de que é que o meu filho morreu? Respondi-lhes que quem sabia já estava morto [o filho] e que eu não tinha presenciado o homicídio. Então, insistiram que eu, como pai, sabia por que o meu filho morreu”, relata Fernando Romão.
Os investigadores informaram ainda o pai de Inácio sobre o conteúdo do relatório que traziam consigo, no qual o filho e o amigo eram descritos como delinquentes.
Antecedentes e roubo policial
Por ter defendido que o filho era bem-educado e “limpo” enquanto cidadão, os agentes acusaram Fernando Romão de irrealismo. O pai explica que Inácio esteve de facto detido durante um ano (foi libertado em Junho de 2016), por suspeita de furto, mas que o suposto crime nunca foi devidamente explicado à família nem esclarecido perante ninguém.
“Um dia, a polícia e a DNIC [SIC] apareceram-me aqui em casa com o meu filho algemado e bem torturado, todo ensanguentado. Nem sequer conseguia abrir os olhos, de tão inflamados que estavam. Perguntei-lhes qual era o crime e disseram-me que ele foi apanhado a fazer um assalto mas não podiam revelar mais nada, porque era segredo de justiça. Fiquei sem saber o que tinha sido assaltado”, recorda. E acrescenta que o seu filho foi indicado por um desconhecido que havia sido bastante torturado e obrigado a indicar alguém.
Conceição Pedro Samuel, irmã de Kabila, conta ter sido detida nesse mesmo dia pelos mesmos agentes do SIC, às 4h00 da madrugada, sem contudo se lembrar da data: “Eu estava em casa havia dois dias, depois de ter passado três semanas no Hospital do Cajueiro, onde o meu filho de sete meses esteve internado. O Inácio, depois de levar tanta porrada que lhe abriram a cabeça, deu o nome do meu irmão Kabila. Como não o encontraram, deram-me bofetadas e levaram-me a mim e ao meu bebé.”
“Levaram-me a casa da minha irmã, onde os polícias roubaram o plasma [televisor], a botija de gás e o computador do cunhado dela. Ficaram a girar comigo o dia todo, passei também pela Divisão do Rangel e depois abandonaram-me distante de casa”, acrescenta Conceição Pedro Samuel.
Já na Divisão do Rangel, onde o Inácio havia sido torturado, os agentes solicitaram ao pai que comprasse medicamentos para salvar a vida do filho, que entretanto perdera os movimentos nas mãos devido à tortura. “Arranjei o enfermeiro que o observou e, durante quinze dias, fui à esquadra todos os dias para lhe fazer massagens até ele recuperar os movimentos. Depois de ele melhorar, foi julgado e condenado.”
“Perguntei ao juiz por que o condenou a um ano de prisão? Não havia provas, testemunhas, nem mesmo a polícia que o prendeu. No MPLA não há nada disso, provas. Isso era no tempo colonial”, lamenta.
Entretanto, entre 2015 e 2016, Kabila passou mais de um ano em prisão preventiva, na Comarca de Viana. Na altura, segundo a família, foi detido por um colaborador do SIC (ligado às Esquadras do Bom Pastor, Alfa-5 e Asa Branca). “Esse Francisco [o referido colaborador] queria a motorizada do meu irmão, que estava devidamente legalizada, e passou a usá-la como sua”, denuncia a irmã.
“O meu irmão foi condenado pelo Tribunal Municipal de Cacuaco sem que tivesse aparecido um único queixoso, nem mesmo a polícia a informar sobre o crime que ele tinha cometido. Obrigaram-nos a pagar 150 mil kwanzas de caução e mais 30 mil kwanzas ao homem que o foi tirar da cela”, prossegue.

sexta-feira, 28 de abril de 2017

NOVA PALHAÇADA. DITADURA CENSURA MÚSICAS E POEMAS


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A Administração Geral Tributária (AGT), do Ministério das Finanças, procedeu a uma audiência bizarra, com “julgamento ad-hoc”, para justificar a apreensão de 881 CDs de música e poesia falada, provenientes de Portugal.

Por Rafael Marques de Morais (*)
Segundo o auto de apreensão a que o Maka Angola teve acesso, a AGT considera subversivo o conteúdo dos CDs.
Com 23 faixas musicais e de poesia falada, o álbum “15+2+Nós” junta artistas angolanos, portugueses, moçambicanos e brasileiros, num tributo aos 15 activistas angolanos detidos em 2015, sob a repugnante acusação de preparação de golpe de Estado e tentativa de assassinato do presidente José Eduardo dos Santos.
A acusação foi promovida pessoal e publicamente pelo procurador-geral da República, general João Maria de Sousa. No banco dos réus, num julgamento considerado de “palhaçada”, sentaram-se também, em 2016, as activistas Laurinda Gouveia e Rosa Conde, que se encontravam em liberdade. Perante a falta de provas, o infame Januário Domingos condenou os 17 por “associação de malfeitores”.
“E assim vivemos trancados nessa masmorra infernal/ porque o poder executivo interfere no judicial/ resultado: inocentes encarcerados/ veredictos encomendados/ crimes omitidos/ e o povo vive trancado no próprio medo/ pagando com a própria vida a factura desses bandidos”, cantam os Fat Soldiers e Raf Tag, na terceira faixa do álbum, intitulada “Angola vai mal”.
“Tratando-se de mercadoria proibida conforme o artigo 53º quadro 1/18 das Instruções Preliminares da Pauta, Decreto-Lei n.º 1/14, de 30 de Janeiro, foi a mesma apreendida”, lê-se no auto de apreensão assinado pelo actuante Miguel Manuel Domingos, da Delegação Aduaneira das Encomendas Postais.
O auto, com data de 17 de Fevereiro de 2017, apenas foi agora dado a conhecer e entregue ao co-produtor do CD, Harvey Madiba, que passou dois meses às voltas, em vãs tentativas para desalfandegar a mercadoria.
De acordo com o analista jurídico do Maka Angola, Rui Verde, “o Auto de Apreensão é nulo, pois invoca uma norma legal que não existe. O Decreto-Lei n.º 1/14, de 30 de Janeiro, não existe no ordenamento jurídico angolano. Aliás, desde a entrada em vigor da Constituição que a figura do Decreto-Lei foi extinta”. Rui Verde nota que “apenas existem decretos-lei com data anterior a 2010. Nunca com data de 2014. Logo, em primeiro lugar, há uma inexistência formal”.
Em segundo lugar, “um esforço interpretativo permite-nos considerar como possível que o Auto de Apreensão se refere à Rectificação n.º 1/14, publicada no Diário da República de 30 de Janeiro de 2014, que é feita pelo presidente da República ao Decreto Legislativo Presidencial n.º 10/13, de 22 de Novembro. “Nessa rectificação, encontram-se umas ‘Instruções Preliminares da Pauta Aduaneira’ e um artigo 53.º que proíbe a importação de artigos mencionados num Quadro I. Nesse Quadro I existe um n.º 18 que se refere a “Material de propaganda subversiva, por exemplo: livros, DVD e CD contendo música, imagens ou outras informações que incitem a violência, distúrbios, agitação social, etc.”, refere o jurista.
O co-produtor executivo do álbum, Harvey Madiba, conta que, antes de receber o Auto de Apreensão, o chefe da Delegação Aduaneira da Alfândega no Terminal de Cargas, Anlide Lufuangula, lhes “deu a conhecer que a mercadoria está apreendida, por conteúdo subversivo que representa riscos para o Estado angolano”.
De acordo com o produtor, Anlide Lufuangula examinou o conteúdo “subversivo” no seu gabinete, tendo ouvido três faixas do álbum. Estavam presentes, para além de Harvey Madiba e do activista Jang Nómada, que o acompanhava, o comandante da Polícia Fiscal, destacado no local, identificado apenas como comandante Sapalo, duas juristas por si convocadas mas “que se recusaram a ser identificadas”, e um funcionário da AGT identificado apenas como Segunda.
“Dissemos que isso era um julgamento contra as liberdades de expressão e de criação e que estávamos em desvantagem porque eles tinham ali as juristas”, nota o representante dos músicos.
Em declarações ao Maka Angola, o delegado da AGT confirma que “nós ouvimos as músicas em conjuntos e ficámos esclarecidos”. Anlide Lufuangula adianta que, em caso de dúvidas, os activistas “podem apresentar recurso”. Quanto à aplicação de um decreto-lei inexistente para fundamentar a apreensão dos CDs, e sobre o “carácter subversivo” das músicas, o delegado afirma que qualquer informação adicional deverá ser solicitada por escrito.
“Nos iludiram com a teoria de que a água não tem cor, cheiro nem sabor/ Quanto à cor vai à torneira lá de casa e verás a existência da cor/ e com uma variação de bairro para bairro/ pois ela vem vestida em 40 tons de múkua/ mas levantámos as mãos a dizer que está tudo bem (…)”, reclama Pedro Bélgio , no seu poema falado “40 Tons de Múkua”.
“O senhor Anlide Lufuangula e o seu colega queriam que nós explicássemos o que significa ‘40 Tons de Múkua’, porque eles acham que o título tem uma mensagem codificada de subversão”, revela Harvey Madiba. A múcua, ou múkua, é a fruta do imbondeiro.
De seguida, o censor da AGT procedeu à examinação da segunda prova do “crime”, a faixa “Já chega”, de Mac D. “Governantes gatunos, já chega/ assassinatos, já chega/ falta de emprego, já chega/ vossa riqueza ilícita, chega”, canta Mac D.
“Sinceramente, a nossa juventude sofre mais/ não finjam que não sabem do que a gente é capaz/ não finjam mesmo/quando a hora chegar/ quando as cabeças estiverem levantadas e os punhos no ar / quando quebrarmos os grilhões / aí entenderão”, vaticina o rapper Mac D.
Harvey Madiba explica que o delegado da AGT — feito juiz em tribunal ad-hoc — lhe perguntou se havia ditadura em Angola. “Eu respondi que o comportamento do chefe da AGT é um exemplo da ditadura que se vive neste país”, conta.
Finalmente, ouviu-se a faixa “Angola vai mal”, dos Fat Soldiers e Raf Tag, a terceira a passar pela censura de Anlide Lufuangula.
“Nos ministérios ocorre um mistério evidente/ o dinheiro desaparece assim misteriosamente/ e tudo é orquestrado por um dinossauro/ que tem a filha sortuda com galinhas de ovos de ouro”, cantam os rappers.
“O Sr. Lufuangula perguntou-nos se achávamos ético chamar o presidente de dinossauro. Nós dissemos que o dinossauro é um animal pré-histórico, com muito poder. Também explicámos que a filha é a nossa irmã Isabel, que ficou rica a vender ovos, como ela própria afirmou numa entrevista”, recorda Harvey Madiba.
Segundo os activistas, após a sessão ad-hoc de censura, Anlide Lufuangula deu como comprovado o “carácter subversivo” dos conteúdos musicais, aconselhou os jovens a terem mais calma e “pediu-nos para não falarmos à imprensa sobre o sucedido”.
Rui Verde enfatiza que “os CDs só poderiam ser apreendidos se os rappers incitassem efectivamente à violência ou a distúrbios. Não se podem apreender CDs por conterem músicas críticas ao presidente e à governação. A Constituição e a Lei não permitem tal. Nem mesmo a lei invocada pelas autoridades”.
Fazem parte do elenco de artistas angolanos MCK, o poeta falante Fridolim Kamolakamwe, Mona Dya Kidi, Kool Kleva, Kid MC, Dr. Romeu e Sanguinário. Do Brasil, contribuem DJ Preto, Pamelloza e Gog. De Moçambique, o álbum conta com um total de dez artistas, incluindo Milton Gulli, Ângelo Comé e Bruno Huca, que interpretam, em estilo marrabenta, a faixa “Angola ninguém te enrola”. De Portugal vem, em trova, o hino “Liberdade já”, pela voz de Joana Alegre e Bernardo Fesch.
“Depois do encontro com o chefe da AGT, dois agentes da Polícia Nacional, fardados, levaram-nos para um canto, mesmo lá no Terminal de Cargas, para sermos revistados. Queriam revistar-nos a nu. Irritámo-nos, e só depois o comandante ordenou o cancelamento da revista a nu.”
(*) Maka Angola
Título: Folha 8

LUANDA: Nova Radio Folha 8-A Voz da Liberdade

A VOZ DA LIBERDADE


radiof8

Ainda em fase experimental, a Rádio Folha 8 aí está a dar o seu contributo para que Angola venha a ser uma Democracia e um Estado de Direito. Sob o lema “A voz da liberdade e da democracia”, pode ser escuta em radiof8.net.


ARádio F8 é (tal como os restantes meios do Folha 8) um órgão de informação generalista, independente, nacionalista, vocacionada para a defesa e divulgação da verdade, dando voz a quem a não tem e prioridade ao que for de interesse público.
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LUANDA: Manipulação da Imprensa Estatal a Favor do MPLA

MANIPULAÇÃO DA IMPRENSA ESTATAL A FAVOR DO MPLA


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Um grupo de cidadãos angolanos anunciou a interposição de uma acção popular junto do Tribunal de Luanda, contra a comunicação social pública, denunciando o “favorecimento” ao MPLA, partido no poder em Angola, “em detrimento dos outros partidos”.

Aacção tem como pano de fundo a cobertura noticiosa das acções partidárias no âmbito da pré-campanha para as eleições gerais de Agosto, foi remetida ao Tribunal Provincial de Luanda no dia 20 de Abril e visa sobretudo a Televisão Pública de Angola (TPA), a Rádio Nacional de Angola (RNA) e o Jornal de Angola.
Uma das integrantes deste grupo, Albertina Navemba, afirmou que os referidos órgãos “enveredaram por uma postura que vicia completamente o processo eleitoral”.
“Porque em primeiro lugar estão a desrespeitar aquilo que está estipulado na Constituição, no artigo 17.º, no que toca ao tratamento imparcial pela imprensa pública dos partidos políticos bem como do próprio artigo da lei dos partidos políticos, no artigo 7.º, em que os órgãos públicos de comunicação social devem tratar de forma igual todos os atores políticos”, apontou.
Para Albertina Navemba, o tratamento “diferenciado” que a TPA, RNA e o Jornal de Angola dão aos partidos políticos na oposição, “favorecendo” o MPLA, “configura-se num desrespeito a lei” por serem “património público e de contribuição dos cidadãos angolanos”.
Os mesmos argumentos têm sido utilizados nas últimas semanas pelos partidos da oposição, que contestam nomeadamente a cobertura às acções do vice-presidente do MPLA e cabeça-de-lista às eleições gerais de 23 de Agosto.
“Não é o MPLA nem muito menos o seu candidato que os sustenta. Eles devem algum respeito aos cidadãos angolanos, devem respeito à Constituição da República e é neste sentido que, juntando, então algumas provas fundamentais que nortearam a sua postura em termos de tempo de antena para favorecer o partido no poder, decidimos mover esta acção”, explicou Albertina Navemba.
A acção, disse ainda, foi assinada por vários cidadãos anónimos e figuras conhecidas da sociedade angolana, entre elas deputados à Assembleia Nacional que anseiam por “independência do tribunal” no tratamento do caso.
“Pensamos que numa altura crucial do processo eleitoral, numa altura em Angola dá sinais de transição e mudança precisamos é de ter órgãos que se destaquem e que se afastem um bocadinho das decisões das ordens superiores e de algumas mãos inviáveis”, sustentou.
Segundo Albertina Navemba, a responsabilidade “não deve ser imputada aos jornalistas nem muito menos a algumas direcções”, mas sim a quem “governa Angola”.
“O Presidente da República vai sair e pensamos que ele deve sim tomar algumas posições em termos de dar liberdade aos tribunais para tratarem dos casos que são remetidos aos tribunais”, concluiu.

LUANDA: Sem O Fundo Monetário Internacional Mas com o... FMI

SEM O FMI MAS COM O… FMI


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O recurso a financiamento do Fundo Monetário Internacional (FMI) “não faz parte da agenda” de Angola, garante o ministro das Finanças, Archer Mangueira (foto). “Não faz parte da nossa agenda. O nosso plano de endividamento foi aprovado, divulgado e é público”, disse o ministro. Até Março, Angola já tinha angariado 1.000 milhões de euros em dívida pública emitida em 2017, com juros de 24% a um ano.

Recorrer a financiamento do FMI permitiria ter acesso a taxas de juro mais baixas, mas implicaria um maior controlo do organismo internacional sobre as contas do país.
Archer Mangueira esteve em Washington para participar nas reuniões de primavera do FMI e do Banco Mundial e teve encontros com vários investidores internacionais.
“Estamos a tratar da execução desse plano [de endividamento], que ainda prevê a captação de recursos externos acima de 2,8 mil milhões de dólares para fazer face aos projectos de investimento que temos em 2017. Está a correr muito bem”, disse.
Angola enfrenta desde finais de 2014 uma crise financeira e económica, com a forte quebra das receitas com a exportação de petróleo devido à redução da cotação internacional do barril de crude, tendo em curso várias medidas de austeridade.
Archer Mangueira acordou com o FMI e com o Banco Mundial um alargamento da assistência técnica ao país. “Recorremos à sua assistência técnica para um conjunto de domínios em que reconhecemos necessitar de reforçar as nossas capacidades técnicas e de desenho de políticas”, explicou o ministro, dando como exemplo a colaboração com o Instituto Nacional de Estatística.

Trabalhar com bancos correspondentes

Angola espera levantar a suspensão de acordos com bancos estrangeiros para correspondentes bancários para compra de dólares ainda este ano, disse o ministro das Finanças de Angola, Archer Mangueira.
“Estamos a trabalhar nesse sentido. Já começa a haver um bom ambiente, mas todo esse processo passa por fortalecer as nossas instituições. Estamos a impor junto das instituições financeiras bancárias e não bancárias um conjunto de regras para que estejamos alinhados com as regras de boa governação definidas internacionalmente”, explicou o ministro.
A conjuntura de crise petrolífera levou a uma forte quebra na entrada de divisas no país e a limitações no acesso a moeda estrangeira aos balcões dos bancos, dificultando as importações.
Além disso, devido à suspensão de acordos com bancos estrangeiros para correspondentes bancários para compra de dólares desde 2016, a banca angolana apenas consegue comprar divisas ao Banco Nacional de Angola, no caso euros.
“Também temos apelado aos bancos e instituições que não devemos optar por uma política de exclusão para os países onde as instituições ainda têm alguma fragilidade própria do seu desenvolvimento. É um trabalho em curso, mas temos estado a ter um bom feedback”, disse o ministro.
“Ainda agora tive uma reunião com um banco de primeira linha que se predispôs a ajudar as instituições angolanas nesse sentido”, acrescentou o ministro.
O ministro também confirmou que o BNA vai eleger uma elite de cinco ou seis bancos comerciais, entre os 28 a operar em Angola, que ficarão com 80% das divisas que o banco central vai colocar no mercado primário, mas disse que se “está a fazer um bicho-de-sete-cabeças em relação a isso”.
“Hoje, as grandes operações comerciais estão concentradas em não mais de sete bancos, por várias razões. Os clientes desses bancos fazem operações nos bancos que eles escolhem, porque cumprem os requisitos que são impostos por esses bancos. O que temos estado a fazer num momento de escassez é um ajustamento na afectação de divisas aos bancos que já têm concentradas nas suas carteiras as maiores operações comerciais”, explicou o ministro.
Archer Mangueira garantiu que “o novo quadro tenta privilegiar uma maior transparência e menor discricionariedade na atribuição de divisas e uma observação de um conjunto de critérios objectivos que vão sustentar a racionalização da aceitação de divisa”.

PIB cresceu entre 0,1% e 0,6%

OProduto Interno Bruto (PIB) de Angola cresceu entre 0,1% e 0,6% no ano passado, disse também o ministro das Finanças, argumentando que quase não houve investimento público.
“Estivemos a discutir com o FMI a aferição desses números. Estamos no início do segundo trimestre, período em que esses dados são tornados definitivos, mas será entre 0,6 e 0,1%”, disse o ministro.
O responsável, disse ainda que o défice orçamental do último ano ficará entre os 3,6 e os 4%.
“É o número que se tem estado a encaixar entre as contas fiscais apuradas pelo tesouro nacional e pelo FMI, não há grande disparidade”, disse. O governante atribui o fraco crescimento à ausência de investimento público causada pela crise petrolífera.
“Entre 2014 e 2016, o país praticamente não realizou investimentos. A actividade produtiva paralisou. A economia petrolífera teve uma crise, não só devido ao preço [do barril de petróleo], mas também devido a problemas na sua produção, e Angola ainda tem uma economia muito dependente da sua economia petrolífera”, explicou Archer Mangueira.
O Governo angolano prevê, no entanto, uma acentuada subida do crescimento para este ano. O executivo prevê que a economia cresça 2,1% em 2017, apesar de o FMI prever um aumento de apenas 1,2%.
O ministro disse que “à medida que a situação no país foi melhorando houve uma maior sensibilidade dos mercados e uma maior captação de recursos de poupança externa para realizar investimentos” que explicam este crescimento.
“Há um conjunto de projectos que já estão em execução, desde o último trimestre de 2016, e que vão prosseguir em 2017. São investimentos bastante significativos, em termos nominais e reais, que vão impulsionar o desenvolvimento e justificar a avaliação do sector real da economia”, garantiu o ministro.
Segundo o responsável, os investimentos serão feitos no sector da energia, das águas, agricultura, estradas, e comunicações.