quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

LISBOA: Quem é o dono atual da Soares da Costa

                        O ATUAL DONO DA SOARES DA COSTA
Fonte: Diário Econômico
Divulgação: Planalto De Malanje Rio capôpa
12.02.2014
O empresário angolano que hoje passa a ser o dono da Soares da Costa tem interesses nos mais diversos sectores.

Assume-se como independente do poder do Estado, mas não se livra de ser dado como um homem do regime.
Nascido em 20 de Março de 1947 em Calenga, província do Huambo, o angolano António Mosquito passa a partir de hoje a ‘chamar-se' também Soares da Costa, através da aquisição de 66,7% do grupo de construção civil criado pelo português José Soares da Costa em 1918.
Não sendo propriamente um desconhecido nos media portugueses, António Mosquito entrou de rompante nas primeiras páginas dos jornais em finais de Novembro do ano passado, quando deu a conhecer que acabava de fechar acordos de compra da maioria da Soares da Costa ao empresário Manuel Fino e de uma posição de controlo no Grupo Media (dono da Controlinveste), em parceria com Luís Montez (empresário e genro do Presidente da República Cavaco Silva, com 42,5% em conjunto).
Tido como um empresário razoavelmente distante do poder político angolano, António Mosquito não quis nunca seguir um percurso abertamente político - ao contrário de vários outros empresários angolanos, que transitaram da órbita do poder para o mundo empresarial de um momento para o outro, num quadro em que este transvase foi sempre a forma de atingir financiamento fácil. Mesmo assim - e apesar de a pesquisa sobre o perfil e o currículo do empresário ser um ladrilho com várias zonas em branco - Mosquito é apontado como um homem próximo do presidente angolano, José Eduardo dos Santos, que se quis rodear de homens de negócios não exclusivamente oriundos do interior do seu partido, o MPLA. Depois da guerra, interessava ter do lado do poder homens ligados etnicamente à UNITA.
Segundo algumas fontes, António Mosquito era, em Abril de 1974, gerente de uma fazenda de sisal situada na região do Cubal, a Oliveira Barros & Companhia, para onde o seu pai o havia levado ainda novo. Os donos da empresa retiraram-se para Portugal na sequência da Revolução, tendo deixado os interesses do negócio nas mãos do gerente - que aproveitou para aprender a gerir num ambiente de crescente instabilidade, que demoraria várias décadas a ser superado.
Interessado em dar passos mais sustentados no mundo dos negócios, Mosquito criou a Mbakasi & Filhos em 1980 - génese de um grupo que agregaria vários parentes e amigos do empresário e que em pouco tempo haveria de passar a ser conhecido por Grupo António Mesquita (GAM). Num país em guerra, conta o filho Horácio numa entrevista recente, o GAM rapidamente diversificou para a importação e comercialização de uma série de produtos, tanto de consumo como de transformação. Paralelamente, o empresário deixou as terras do Huambo e rumou para a capital, possivelmente em busca de menos exposição à guerra, mais consumo e melhores fontes de financiamento. A guerra, definitivamente, não lhe interessava: "algumas pessoas são generais e lutaram durante a guerra; eu também sou um general porque, na época da guerra, estava a dar algo mais ao meu país, em termos de comida, de trabalho, etc.", terá dito um dia.
Num país onde estava tudo por fazer (a guerra civil angolana durou de 1961 a 2002), a paz foi o esteio necessário para que a economia pudesse crescer. E quando Jonas Savimbi desapareceu, os empresários que já estavam no terreno foram os primeiros a poder usufruir das enormes quantidades de dinheiro proporcionadas pelo petróleo e pelos diamantes, que constituíam as principais riquezas do território.
A GAM entrou, como vários outros grupos empresariais, em regime de alta velocidade. Em pouco tempo agregou em seu torno interesses dos mais diversos sectores, onde se contam a importação de automóveis Audi e VW (em larga escala fornecidos ao Estado); a construção civil, em associação com os brasileiros da Odebrecht e os portugueses da Teixeira Duarte; a exploração petrolífera (desde 1998), através da Falcon Oil (que Mosquito comprou no Panamá e cujo nome resultou da vontade de o empresário comprar um avião Falcon), que chegou a estar quase na falência antes de agregar novos interesses ao inicial Bloco 33; a produção de cerveja, prevista para ser repartida com os franceses da Brasseries Internationales Holding); a exploração mineira (diamantes), concentrada na KSM-Kassypai Sociedade Mineira; e a banca, onde, em 2008, comprou 12% do Banco Caixa Geral Totta Angola (em parceria com a CGD). A criação de uma holding tornou-se uma necessidade: a GAM Holding, que hoje entra na Soares da Costa, está sediada no Luxemburgo. Segundo Horácio Mesquita, indústria, transportes, restauração, gás e energia e novas tecnologias fazem parte dos interesses de diversificação do grupo.
Neste quadro, a entrada na Soares da Costa afigura-se como natural: a diversificação é uma das últimas ‘modas' dos empresários angolanos e Portugal - apesar de todas as ameaças com que José Eduardo dos Santos tem envolvido as relações entre ambos os países - é o país mais procurado. Os conhecimentos adquiridos no sector, a posição que a construtora tem em Angola e as dificuldades de Manuel Fino em gerir uma dívida excessiva, tornavam-na um alvo evidente.
O contrário se passou com o ‘dossier' Controlinveste: num quadro em que o sector da comunicação social não dá dividendos assinaláveis (quando dá...), a posição que Mosquito pretendia era observada como mera forma de obter poder de influência.
Seja como for, dois ou três dias depois de ter anunciado o duplo negócio em Portugal, António Mosquito foi distinguido com o prémio angolano Sirius, para o melhor empreendedor de Angola.
Católico e mecenas de diversas instituições de caridade - para além de patrocinar clubes de futebol e outras agremiações da área do lazer - António Mosquito é referido pelos seus amigos como um homem interessado em desenvolver Angola a partir do anonimato possível, sem excessos de ostentação ou outras superficialidades. Do lado oposto - há sempre um lado oposto - é referido como um mulherengo que não olha a meios para atingir os seus fins.
Numa nota curricular que aparenta ter um carácter oficial, é atribuída a António Mosquito alguma predilecção por uma frase de alemão Friedrich Nietzsche, segundo o qual, "quando se tem um ‘porquê', não importam os ‘como'. O niilismo foi sempre um caminho difícil.

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