Angolanos compraram o Diário de Noticias e tenho medo (1)
Fonte: DN
Divulgação: Planalto De Malanje Rio Capôpa
13.)$.2014Os angolanos compraram o meu jornal e tenho medo. Medo igual ao de andar de avião: o de um dia não poder andar de avião. Tenho medo de os angolanos terem comprado o DN, sublinharem a palavra "lusofonia" mas, depois, não voarem... Ficarem-se pelo comércio costeiro, abertura para a Europa ali, pitada da China acolá... Isso, coisas financeiras, é importante? É, até importantíssimo! Mas tão pouco.
Angolanos no DN é como se os brasileiros o comprassem. Como se houvesse amantes de Portugal a escrever em Luanda. E como se Lisboa não deixasse fechar, como o fez por ser tacanha e por falta de cem contos, o centenário O Heraldo de Goa... É cumprir-se um destino. Angolanos na mais importante casa da Avenida da Liberdade, que não é a loja Louis Vuitton, é amigos desavindos voltarem a conhecer-se.
Soltá-los da arrogância angolana e da ignorância portuguesa (e vice-versa). É mostrar, cá, que a mais coloquial rádio em português é feita por um mulato do musseque Marçal, Jorge Gomes, a falar com os luandenses presos em engarrafamentos.
É dizer, para lá, que os portugueses não são os miseráveis como às vezes os editoriais do Jornal de Angola apresentam, mas o pedreiro da Beira que na Huíla se encanta com o "obrigado!" com que é devolvido o seu "bom-dia!" Voando, este meu DN revelaria aos seus leitores o que eles nem imaginam: uma Luanda vital e empolgante, muito para lá da ganância dos ricos e da apatia dos vencidos. Ah, se o meu DN voar...
Por Ferreira Fernandes
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