Renamo resume eleições como "fantochada" mas pede diálogo
Reclamar uma repetição das últimas eleições gerais ou promover a formação de um governo de unidade em Moçambique são cenários equacionados pela Renamo, que se diz agora apostada num processo de diálogo com “os irmãos do Governo”. O que o maior partido da oposição moçambicana parece excluir nesta altura é um retorno à violência. À posição assumida este sábado por Afonso Dhlakama a Frelimo reage com cautela: haverá resposta quando houver convite.
As eleições da passada quarta-feira em Moçambique resumiram-se, na perspetiva do presidente da Renamo, a uma “fantochada”. Mas “não é preciso violência”, adverte Afonso Dhlakama. Para quem o horizonte imediato da vida política daquele país africano terá de passar por negociações.
Foi esta a postura hoje assumida pelo líder da principal formação política da oposição moçambicana durante uma conferência de imprensa. Ocasião para Dhlakama prometer que “nunca mais” haverá “tiros”. O que não significa que a Resistência Nacional Moçambicana opte pelo silêncio, diante do que considera ser um processo eivado de irregularidades.
Ainda assim é “cedo” para que se perceba “o que vai acontecer”, de acordo com o dirigente partidário, que não põe de parte a eventual exigência de uma nova votação, ou mesmo de um processo com vista à composição de um executivo de unidade nacional.
“Como vou aceitar uma coisa que está errada? Estaria a matar a democracia”, vincou este sábado o número um da Renamo, em declarações recolhidas pela agência Lusa.
“Não estamos preocupados com propaganda na rádio e na televisão, em que aparecem pessoas e dar parabéns a [Filipe] Nyusi [candidato da Frelimo à Presidência]. Isso é propaganda barata”, atirou Afonso Dhlakama, para depois criticar “alguns estrangeiros” – desde logo a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral - por terem “vergonhosamente” caucionado a transparência do processo eleitoral.
“Isto é extremamente perigoso. O nosso continente é conhecido por dirigentes corrutos, ladrões, criminosos”, acentuou Dhlakama, referindo-se ao que descreveu como “um clube de amizade” de formações políticas africanas que “não querem abandonar o poder”.
Números oficiais divulgados na sexta-feira, quando estavam contados os votos de um terço das assembleias, davam a vitória à Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) e ao seu candidato presidencial Filipe Nyusi, com perto de 61 por cento. Afonso Dhlakama e a Renamo obtinham pouco mais de 30 por cento dos sufrágios. O Movimento Democrático de Moçambique, de Daviz Simango, era terceiro com aproximadamente sete por cento dos votos.
Os mais de dez milhões de eleitores moçambicanos foram convocados na semana passada a pronunciar-se em eleições presidenciais, legislativas e provinciais. O processo envolveu três candidatos à Presidência e três dezenas de partidos ou alianças.
“A vontade dos eleitores”
Dhlakama voltaria ainda a lançar para cima da mesa a necessidade de apurar o número de eleitores que não puderam exercer o seu direito de voto por falta de cadernos eleitorais, ou obter uma justificação para as disparidades nos horários de funcionamento das assembleias. O líder da Renamo apontaria como exemplos de “fraudes” a alegada descoberta de urnas com votos prévios em prol do candidato da Frelimo na Beira, Ilha de Moçambique, Quelimane e Tete.O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, exortou este sábado o povo moçambicano a conservar uma “atmosfera calma” enquanto decorre o apuramento dos votos nas eleições gerais.
“Não é surpresa para nós, mas não podemos desistir porque é uma luta pela democracia para o nosso povo e as populações têm de ser explicadas (sic) e terem perspetiva de futuro. Por isso, vamos conversar”, rematou.
Também ouvido pela Lusa, o porta-voz da Frelimo Damião José tratou entretanto de sublinhar que ainda “não houve nenhum contacto” por parte do partido de Afonso Dhlakama.
“Não sabemos se poderá haver e, se houver, a resposta será dada nessa altura. Mas temos que respeitar o princípio do jogo democrático, quando ganhamos ou perdemos”, redarguiu o porta-voz, lembrando, adiante, que, nas autárquicas de 2013, a Frelimo cumprimentou o Movimento Democrático de Moçambique pela conquista de quatro municípios ao partido no poder.
“O importante é que todos os concorrentes respeitem aquilo que foi a vontade dos eleitores. Cabe aos políticos terem a maturidade necessária para reconhecer quando perdem e ir preparando os próximos pleitos eleitorais”, concluiu Damião José.
RTP
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