Nome de Nito Alves: O Novo Alvo da Acusação Política de Golpe de Estado
Fernando Baptista foi hoje ouvido de manhã pelo Serviço de Investigação Criminal (SIC) sobre o ensino primário do seu filho, o preso político Manuel Baptista Chivonde Nito Alves, de 19 anos, bem como sobre o seu apelido.
“Fui interrogado pelo especialista Pedro João, na presença do superintendente Fernando Recheado. Queriam saber a origem do nome de Nito Alves, onde ele estudou deste a pré-classe até terminar o ensino primário”, disse o pai ao Maka Angola.
Segundo Fernando Baptista, o interrogatório teve a duração de uma hora e “baseou-se apenas na questão do nome e onde o miúdo fez o ensino primário”.
“O especialista João Pedro perguntou-me também se somos da família do comandante Nito Alves e respondi que não”, disse o pai.
O lendário comandante Alves Bernardo Baptista “Nito Alves”, foi fuzilado em Junho de 1977, após o massacre de milhares de cidadãos, pelas forças leais ao então presidente Agostinho Neto. Fora acusado politicamente de ter liderado uma tentativa de golpe de Estado, a 27 de Maio do mesmo ano, e não teve direito a julgamento. O actual presidente José Eduardo dos Santos, que liderou a comissão de inquérito sobre a tragédia, nunca apresentou provas de ter havido tentativa de golpe de Estado e entregou o seu relatório, que foi dado como “inconclusivo”.
Nito Alves, de 19 anos, encontra-se detido desde o dia 20 de Junho, sob acusação política de ter estado envolvido na preparação de um golpe de Estado contra o presidente José Eduardo dos Santos. Na realidade, o jovem encontrava-se num grupo de estudo, no momento da sua detenção em suposto flagrante, no qual se discutiam ideias sobre estratégias de não-violência, sobretudo no exercício do direito à manifestação, consagrado na Constituição.
Trata-se do processo que levou à detenção, no mesmo dia, dos activistas Afonso Matias “Mbanza Hamza”, Albano Bingobingo, Arante Kivuvu, Benedito Jeremias, Fernando Tomás “Nicola Radical”, Hitler Jessia Chiconda “Itler Samussuku”, Inocêncio Brito “Drux”, José Hata “Cheik Hata”, Luaty Beirão, Nelson Dibango, Nuno Álvaro Dala, Osvaldo Caholo e Sedrick de Carvalho. No dia seguinte, a 21 de Junho, as autoridades detiveram Domingos da Cruz, no posto fronteiriço de Santa Clara, quando se deslocava à Namíbia para tratamento médico. A 24 de Junho, o tenente Osvaldo Caholo foi detido na sua residência, e envolvido no mesmo processo.
Desde os seus 15 anos, Nito Alves tem sido alvo de cerrada perseguição política pela forma destemida como tem afrontado o regime do presidente José Eduardo dos Santos.
A 12 de Setembro de 2013, 15 operativos da Polícia Nacional e da segurança de Estado raptaram Nito Alves, então com 17 anos, e levaram-no para uma unidade policial desactivada, onde o ameaçaram de morte. A ocorrência deu-se na altura em que tentava levantar 20 camisolas que tinha mandado imprimir com o slogan “Zé-Dú/Fora/Nojento Ditador”.
Nito Alves passou dois meses na cadeia e o Ministério Público mudou os termos da acusação contra si por quatro vezes, todas relacionadas com o presidente. Acabou por ser julgado pelo crime de injúrias contra titular de órgão de soberania e foi absolvido em Julho de 2014.
Durante esse período, Nito Alves tem sido alvo de breves detenções arbitrárias e actos de tortura às mãos de agentes policiais.
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