Os “bajús” apertam o cerco a João Lourenço
Fonte: Correio Angolense
Reedição: Planalto de Malanje Rio Capopa
O MPLA vai a votos, em Agosto, com o compromisso de “Melhorar o que está bem e Corrigir o que está mal”. Melhorar o que está bem será uma empreitada gigantesca. Há muito, mas muito mesmo o que fazer.
Por Graças Campos
Mas, complicadíssimo mesmo é o repto de corrigir o que está mal. Aqui, coloca-se desde logo a questão da ordem de prioridades. Por onde começar?
A frequência com que se refere ao assunto sugere que, se eleito para presidente da República, a agenda de João Lourenço será encabeçada pela cruzada contra a corrupção.
Mas a corrupção, essa chaga endémica que dilacera o nosso País, é apenas um na imensidão dos males que têm de ser corrigidos. Associados à corrupção, atravessam o País males como a ineficiência do serviço público, o nepotismo, compadrio, amiguismo, opacidade, clientelismo, enfim, essa infinidade de “coisas” que transformaram Angola numa caricatura de país.
Se quer que os angolanos o tomem a sério, João Lourenço tem de “convocar” para o seu campo de batalha outra chaga que prosperou no consulado do Presidente José Eduardo dos Santos. Trata-se do culto à personalidade.
Com a tácita anuência do Presidente José Eduardo dos Santos, o culto à sua personalidade quase ganhou dignidade constitucional, tornou-se no modus vivendi de muitos de angolanos que à sombra dele acumularam fortunas. Foi com a cobertura do culto à personalidade de JES, que o comando de importantes instituições públicas caiu nas mãos de pessoas medíocres; foi graças a ele que muitos angolanos prosperam em actividades para as quais não têm as menores qualificações.
Em países sérios e decentes, entidades como Movimento Nacional Espontâneo e afins fariam os cidadãos corar de vergonha. Mas em Angola, elas são criadas e sustentadas com dinheiro público para servir um único fim: exaltação das virtudes, reais e imaginárias, de José Eduardo dos Santos.
Neste país, a formação técnica e académica não são garantia de bom emprego ou de remuneração decente. Já ser sabujo ou adulador profissional é o segredo que abre as portas do sucesso e das fortunas.
Repetindo: se quer que os angolanos o tomem a sério, João Lourenço tem de incluir também na sua agenda uma vigorosa e decidida cruzada contra o culto à personalidade.
Contudo, já emergem sinais sugerindo que o candidato do MPLA não tem os olhos virados para essa frente.
João Lourenço ainda não foi coroado, mas já há sinais de que convive tranquilamente com o culto à personalidade. As repetidas manifestações desse fenómeno em todas as capitais de província que tem visitado mostram que ao Presumível isso não incomoda particularmente.
Sempre na vanguarda de manifestações constrangedoras, a província de Malange tomou uma iniciativa reveladora de que, para algumas mentes, o culto à personalidade, encorajado por José Eduardo dos Santos, não é apenas para manter, mas para aperfeiçoar.
João Lourenço é apenas candidato, mas as autoridades de Malange já o tratam como se fosse presidente da República.
"Com o patrocínio do governo local, na cidade de Malange foi realizado recentemente um torneio de futebol infantil denominado “Taça Candengue de João Lourenço”. "
Neste momento, a Amangola, uma ONG liderada por Job Capapinha e que compartilha com o Movimento Nacional Espontâneo o mesmo objecto social, ou seja, a adulação ao líder circunstancial, promove em vários bairros de Luanda um torneio de futebol infantil também denominado “Troféu João Lourenço”.
Ou seja, João Lourenço nem sequer ainda foi eleito Presidente da República, mas os profissionais da adulação já estão em campo.
O perigo não está, apenas, na doutrinação das crianças, algumas das quais até podem ser levadas a acreditar que o futebol seja uma invenção do candidato do MPLA. O perigo está, também, no facto de o próprio João Lourenço poder afeiçoar-se à ideia de que é o melhor dos melhores de entre os angolanos e, à semelhança de José Eduardo dos Santos, vir a encorajar o culto à sua personalidade. Se se habitua à ideia, há o risco de que um dia desses JL tomar a adulação à sua pessoa como uma obrigação de todos os cidadãos angolanos.
É com João Lourenço ao leme que o MPLA acreditar ser possível arrancar o país do atraso em que se encontra. João Lourenço, diz-se, conduzirá o país ao desenvolvimento.
Ora, o desenvolvimento do país não se conseguirá com o endeusamento de João Lourenço. Com José Eduardo dos Santos o endeusamento foi um poderoso obstáculo ao desenvolvimento. Promoveu a mediocridade e, inversamente, afastou a competência e o conhecimento. Com José Eduardo dos Santos, os aduladores converteram-se nas principais estrelas do regime.
Estamos fartos disso.
Queremos viver num país em que João Lourenço, ou qualquer outro que venha a ser eleito presidente da República, se diferencie dos restantes cidadãos apenas pelas funções que exerce e não por quaisquer qualidades artificiais.
Precisamos de construir um país em que os servidores públicos, nomeadamente os ministros, não sejam tomados como simples bocas de aluguer ou moços de recados do presidente da República. Como acontece hoje.
Temos de construir um país em que os filhos ou netos não se sintam permanentemente constrangidos porque o seu pai ou avô, que é membro do Governo, não pode, sequer, tomar a iniciativa de mandar construir um chafariz ou uma retrete. Temos de rejeitar um país em que homens de barba rija, pais, avôs e até mesmo bisavôs assumem publicamente a sua incapacidade de estruturar um único pensamento sem a “sábia orientação” do seu chefe.
Precisamos de construir um país em que o presidente da República aceite que todos os cidadãos têm massa encefálica, que lhes permite discernir.
É o esforço colectivo que tirará o país do pântano em que se encontra. Nenhuma mente, por mais brilhante que seja, o fará sozinha.
A crença de que havia entre nós um “Messias” deu no que deu. Angola é o que é hoje porque alguns chico-espertos creditaram na dita “clarividência” de José Eduardo dos Santos soluções para tudo.
Pessoas sérias e sensatas aprendem com os próprios erros. Pretender que João Lourenço será o novo Messias é persistir no erro. E isso tem nome: burrice!
Se se deixar embevecer pelo discurso laudatório, João Lourenço abandonará, rapidamente, os desafios que se propõe, designadamente, a cruzada contra os corruptos.
No fundo, João Lourenço está a ser conduzido para uma armadilha em que, se se deixar apanhar, dificilmente se libertará.
É dever dos patriotas angolanos alertá-lo para os perigos dissimulados nesses súbitos surtos de adulação.
Aqueles que hoje arrastam despudoradamente as asas, descobrindo em João Lourenço qualidades que ele próprio desconhece, não tardarão em cobrar-lhe as contrapartidas. E essas manifestam-se, grosso modo, em exigências de bons e rentáveis empregos na administração pública e até mesmo em empresas privadas, em bolsas de estudo no estrangeiro, em casas em Angola e no estrangeiro, carros topo de gama, lugares cativos nos banquetes oficiais, além de drenagem permanente de dinheiro nas suas contas bancárias.
O Presidente José Eduardo dos Santos, graças a quem a bajulação quase ganhou dignidade de emprego honrado, ainda está em funções, mas para muitos oportunistas que ele catapultou já se trata de um produto fora de prazo, portanto descartado.
Na internet, por exemplo, circula um Vídeo em que três crianças cantarolam qualquer coisa como:
“Não dá muita volta
Xé,
Não dá muita volta
O Zedú já não está na moda
Não dá muita volta
Xé
Quem está na moda
É João Lourenço”
João Lourenço não se engane: os pais dessas inocentes crianças por certo que são pessoas que comeram à grande e à francesa sob o regime de José Eduardo dos Santos.
O bajulador tem uma única Pátria: o seu bem-estar.
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