Sumiço' do líder de Angola provoca especulação no país
FLÁVIA MARREIRO
Folha de São PauloRadz Balumuka
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O presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, completou anteontem seis semanas no exterior, alimentando críticas de opositores, especulações sobre sua saúde e a leitura de analistas de que a ausência prolongada seria um "ensaio" de uma futura transição política.
Editoria de Arte/Folhapress |
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Segundo o site da Presidência, Santos, que completa 71 anos no dia 28, deixou Angola em 26 de junho rumo a Barcelona, na Espanha, em "visita de caráter privado".
Como em outras viagens "privadas" ao exterior do mandatário, não foram divulgadas nem agenda nem fotos de suas atividades.
Uma fonte da Presidência angolana afirmou à agência Lusa que Santos voltará "ainda esta semana".
Nas próximas semanas, o país vai abrigar o campeonato mundial de hóquei, e a presença de Santos é esperada.
O que chamou atenção desta vez foi a duração da estada fora. No poder desde 1979 --segundo líder mais longevo da África--, Santos não ficara mais que 15 dias ausente em outras ocasiões, segundo a imprensa local.
"Se estamos num Estado de Direito, que se explique se o motivo é a saúde, se são férias prolongadas. Os angolanos temos direito de saber", disse à FolhaAlcides Sakala, porta-voz da Unita, principal sigla da enfraquecida oposição angolana.
Os governistas do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) dizem que a oposição busca criar um "fato político". "Não existe essa controvérsia", diz João "Ju" Martins, porta-voz do MPLA. "É uma tentativa de despertar nas pessoas alguma intranquilidade."
Para o MPLA, o presidente pode se ausentar do país justamente porque há normalidade das instituições após a guerra civil (que durou até 2002) e sobretudo depois de sua reeleição, em 2012.
Santos costuma usar viagens à Europa para fazer revisões médicas. Ao que se sabe, ele está com boa saúde.
ENSAIO DE SUCESSÃO
O mandato de Santos vai até 2017. Em tese, ele poderia se candidatar a mais um mandato, mas até lá terá 75 anos, o que amplia o debate sobre sua transição.
Para José Kaliengue, diretor do jornal angolano "País", Santos pode ter a intenção de enviar sinais de "estabilidade" com a ausência maior que a habitual. "Este sinal seria associado ao fato de Manuel Vicente, o vice, estar interino sem sobressaltos no país."
Vicente, ex-presidente da poderosa estatal petroleira do país, é tido como uma das opções de Santos para sucedê-lo, embora se discuta se o tecnocrata teria aceitação unânime dentro do MPLA.
Outra aposta é um dos filhos do presidente, José Filomeno. Ele acaba de assumir o fundo soberano de Angola, nutrido pela renda do petróleo e com cerca de US$ 5,5 bilhões (R$ 12,5 bilhões).