Eu e o 'Jornal de Angola' | |
A citação que me motiva é esta: "Os turistas da Jamba e os seus filhos agora tentam sacar umas migalhas ao patrão Pinto Balsemão, considerado o mandante de todos os insultos e ataques à honra de altas figuras do Estado Angolano". Não vou relevar a parte referente ao "mandante", que o meu colega Henrique Monteiro já dissecou ontem no Expresso online. Vou ficar apenas pela primeira parte, pelos "turistas da Jamba e os seus filhos". O autor está obviamente a referir-se a Maria Antónia Palla e a mim, como seu filho. Primeiro, os problemas factuais. Maria Antónia Palla foi casada com o meu Pai, é Mãe do meu irmão António, mas dá-se o caso de eu ser filho do segundo casamento do meu pai. Não sou, portanto filho de Maria Antónia Palla. Mas atenção, é uma pessoa que admiro infinitamente e de quem gosto muito de ser familiar, no sentido mais lato e profundo do termo. Damo-nos muito bem e temos umas quantas divergências. Uma delas é sobre Jonas Savimbi e a Unita. Toda a gente sabe que Maria Antónia Palla é uma confessa admiradora de Jonas Savimbi e da Unita. As suas viagens à Jamba são públicas, os seus trabalhos estão todos publicados, a biografia de Savimbi pode ser lida por quem quiser. Coisas naturais numa mulher que nunca teve medo de dizer o que pensa nem de fazer o que lhe apetece, mesmo quando isso era arriscado ou condenável num país retrógrado, atávico e estupidamente conservador. Acontece que o mundo em que eu cresci não era a preto e branco. O meu pai, por exemplo, sempre foi um apoiante do MPLA. Foi amigo de Agostinho Neto, do Mário e do Joaquim Pinto de Andrade ou do Arménio Ferreira, e como bom militante do PCP nunca duvidou do seu apoio ao MPLA, mesmo quando o marxismo de Angola se dissolveu no ar. Eu sei que o "Jornal de Angola" tem dificuldades em perceber estas coisas. O maniqueísmo não se compadece com pessoas que pensem livremente, muito menos pela sua própria cabeça. Felizmente, pensar pela própria cabeça é a primeira regra em minha casa. Aprendi isso com o meu Pai e com a minha Mãe. Também fui aprendendo isso com a Maria Antónia nos muitos jantares ou festas de família que felizmente vamos tendo. Não peço ao "Jornal de Angola" que perceba estas coisas. Seria pedir-lhes demais. Mas acreditem numa coisa: nem todas as pessoas do mundo cabem numa etiqueta. Se quiserem dedicar-me mais textos ou insinuações, comprem uma resma de etiquetas. Vão precisar de muitas. |
Como sabe, quem costuma ler o Expresso, eu e o Daniel Oliveira somos de espetros políticos e ideológicos iguais e ambos fervorosos adeptos da UNITA, movimento que aliás tinha entre os seus quadros a única pessoa que me ameaçou diretamente de morte. Mas adiante...
Mais grave é o próprio editorial do Jornal dizer que "a cúpula portuguesa está a ser desleal em relação aos entendimentos que tem com Angola. A postura atual do Estado português representa uma verdadeira agressão a Angola". Mais grave porque nunca o diretor (ou alguém por ele) escreveria algo não devidamente sancionado; mas também porque - ao contrário do outro autor - José Ribeiro não é alguém que faça do insulto a arte de viver. Ao contrário do tal Álvaro Domingos, que me ataca a mim, ao Daniel e ao Expresso, devemos lê-lo com respeito.
Ora esta insistência de Angola só pode querer dizer uma coisa: que os angolanos querem o processo resolvido o mais depressa possível. E como seria estulto (e não próprio de alguém com dois dedos de testa) pensar que o arquivamento puro e simples, nestas circunstâncias, seria uma saída digna para o nosso Ministério Público, tal significa que querem rapidamente justificações, notificações, acusações.
E aqui está como me associo às pretensões angolanas. Venham as provas, o mais rápido possível. Separem os prevaricadores dos cidadãos honestos. Façam horas extra, ponham mais gente a trabalhar no processo, mas despachem-se.
Se para outra coisa não servir este desaguisado, que ao menos ajude a tornar a Justiça portuguesa mais rápida e ágil do que tem sido. Por que assim é, de facto, desesperante e já ninguém aguenta o tom de alguns escrevinhadores ao serviço do regime de Luanda, que ainda por cima parecem mais papistas do que o papa.
Por Henrique Monteiro
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