“MPLA não teve visão e pensou na eternidade do petróleo”
O Ano de 2014 foi o mais difícil para a maioria dos angolanos que continuam excluídos do sistema, quer do ponto de vista político, como económico e financeiro.
Em declarações ao Novo Jornal sobre o ano prestes a finalizar, o porta-voz da UNITA, Alcides Sakala, lamentou que “o sistema político angolano tenha endurecido posições, assumindo-se como uma verdadeira ditadura africana de Partido/Estado, que procura exercer de forma brutal um poder absoluto”.
“Esta postura tem um alto preço a pagar, conforme as experiências de muitos países africanos, que se transforma em crise profunda, carregada de grande conflitualidade”, salientou.
Para o político, “neste endurecimento de posições de dirigentes do Partido/Estado verificou-se a tendência para se criarem novos conflitos, conforme declarações de alguns governadores provinciais, como foi o caso de Boavida Neto, governador do Bié”.
“Continuam a fazer discursos incendiários. Mais recentemente, foi a vez de Bento Bento e do ministro do Interior, que procuram criar um clima de medo, com a introdução da ideia da guerra”, lamentou.
Segundo Sakala, “a UNITA, com a sua experiência, inteligência e sentido de Estado, tem sabido distanciar-se deste discurso belicista, projectando para o futuro as suas ideias de paz, reconciliação, justiça social, transparência e respeito pelos direitos humanos”.
A UNITA, adiantou, lamenta a consolidação e a institucionalização da corrupção em Angola, evidenciando aquilo que diz ser o silêncio do Ministério Público e a impunidade de alguns dirigentes do partido maioritário.
“Está agora mais do que provado que a economia angolana, ancorada no petróleo, não tinha sustentabilidade, não tinha pernas para andar, para sobreviver à descida vertiginosa do preço do petróleo”, observou Alcides Sakala.
De acordo com o político, “o partido no poder não teve visão e pensou na eternidade do petróleo, alimentando o egoísmo dos seus dirigentes”.
“Os países com visão, produtores de petróleo, fizeram melhor em termos sociais, contrariamente a Angola, que está a mergulhar cada vez mais numa crise económica profunda, com consequências previsíveis”, deplorou.
Na opinião do porta-voz do principal partido na oposição, 2014 foi um ano em que as liberdades fundamentais, consagradas na Constituição, continuaram a ser negadas aos angolanos, como o direito de manifestação, sempre reprimida com violência.
“A censura passou a ser parte do quotidiano dos angolanos, pratica-da pelos órgãos públicos da comunicação social. Mesmo a cobertura em directo dos debates parlamentares continua a ser negada aos angolanos”, lembrou.
“Angola continua a ser o único país dos PALOP que ainda não tem autarquias e todos os indicadores sociais e políticos apontam para uma mudança breve no país, que terá nos jovens o sustentáculo desse processo”, enfatizou.
“Por isso”- continuou Sakala - “somos por uma transição de gerações pacífica para que os novos actores políticos trabalhem para a paz social, para a justiça social e para a aceitação do outro, num contexto de separação de poderes”.
NJ