Que fez Angola aos 468 biliões de dólares do petróleo? Lisboa – Com as prateleiras vazias em várias cidades do país e filas à porta de mercados e supermercados para comprar bens essenciais, é difícil de acreditar que Angola tenha encaixado 468 mil milhões de dólares durante o “boom” petrolífero dos últimos 13 anos. Muitos se perguntam agora: para onde foi este dinheiro?
Fonte: AM/Paulo Guilherme
12/02/2016
Enquanto o Jornal de Angola faz (quinta-feira) manchete com a aprovação de “Programas dirigidos para o aumento da produção na Agricultura e Indústria” – ilustrada com uma foto do presidente José Eduardo dos Santos, a realidade, fora de Luanda, parece ser mais complicada.
Segundo a DW África, a falta de alimentos está a “gerar desespero e revolta em Cabinda”. “O acesso aos produtos já é limitado e as filas para comprar alimentos aumentam diariamente.
Um vídeo partilhado nas redes sociais mostra um grupo de populares a invadir um estabelecimento para tentar obter alimentos básicos. Em Benguela, relatos de grupos de populares de madrugada à porta de armazéns. Mesmo a agência oficial Angop relata a escassez de produtos básicos, como arroz, fuba de milho, açúcar e óleo no Namibe. No Africa Monitor Intelligence, damos conta da escassez em muitos supermercados. Mesmo os de cadeias detidas por elementos da elite e/ou ligados a empresas de distribuição influentes.
Como pode um país que encaixou quase 500 mil milhões de dólares nos últimos anos estar a restringir importações para poupar divisas? Para onde foi o dinheiro?
"O sentimento geral em Angola é que o dinheiro do petróleo ou foi mal gasto ou foi gasto no estrangeiro, e que muito pouco contribuiu para criar postos de trabalho ou para o desenvolvimento de comunidades locais ", diz a antropóloga social Cristina Udelsmann Rodrigues, num artigo para o Instituto Africano Nórdico.
Os anos de crescimento económico após os acordos de paz de 2002 levaram à criação de “uma classe de novos ricos dispostos a gastar sua riqueza em carros de luxo, casamentos caros e viagens de compras para Europa e EUA”, refere o artigo do IAN.
Luanda passou a ser conhecida como a cidade mais cara do mundo para expatriados. Apesar de alguns investimentos na economia local, a crise de preços de petróleo em 2014 apanha o país totalmente dependente da indústria petrolífera. As receitas e as divisas começaram a escassear e os “kinguilas” (cambistas) devolta às ruas de Luanda trouxeram de volta memória do passado da guerra. Os bancos deixaram de emitir cartões de crédito para uso no exterior.
"A falta de moeda estrangeira está a afetar a todos em Angola de uma maneira ou outra. Os ricos têm parado viajar para o exterior, e os pobres têm dificuldade em comprar produtos importados como arroz, carne ou medicina em mercados locais como os preços sobem ", diz Udelsmann Rodrigues.
De um ponto de vista otimista, esta pode ser a oportunidade de que Angola precisava. Um choque que obriga o país a virar-se para a criação de riqueza fora do petróleo, diversificando a economia e gerando mais empregos.
Muitos angolanos “esperam que o financiamento internacional para o desenvolvimento, há muito em baixa, possa ser reactivado, uma vez que os líderes angolanos, humilhados pela recessão económica, podem não ser mais capazes de resistir a ofertas de ajuda do FMI e outros”.
Para Udelsmann Rodrigues, a crise é também uma lembrança da capacidade de a sociedade angolana se adaptar a novas realidades. "As pessoas se adaptam. Se uma fonte de renda desaparece, eles buscam diferentes maneiras de ganhar a vida".
Enquanto o Jornal de Angola faz (quinta-feira) manchete com a aprovação de “Programas dirigidos para o aumento da produção na Agricultura e Indústria” – ilustrada com uma foto do presidente José Eduardo dos Santos, a realidade, fora de Luanda, parece ser mais complicada.
Segundo a DW África, a falta de alimentos está a “gerar desespero e revolta em Cabinda”. “O acesso aos produtos já é limitado e as filas para comprar alimentos aumentam diariamente.
Um vídeo partilhado nas redes sociais mostra um grupo de populares a invadir um estabelecimento para tentar obter alimentos básicos. Em Benguela, relatos de grupos de populares de madrugada à porta de armazéns. Mesmo a agência oficial Angop relata a escassez de produtos básicos, como arroz, fuba de milho, açúcar e óleo no Namibe. No Africa Monitor Intelligence, damos conta da escassez em muitos supermercados. Mesmo os de cadeias detidas por elementos da elite e/ou ligados a empresas de distribuição influentes.
Como pode um país que encaixou quase 500 mil milhões de dólares nos últimos anos estar a restringir importações para poupar divisas? Para onde foi o dinheiro?
"O sentimento geral em Angola é que o dinheiro do petróleo ou foi mal gasto ou foi gasto no estrangeiro, e que muito pouco contribuiu para criar postos de trabalho ou para o desenvolvimento de comunidades locais ", diz a antropóloga social Cristina Udelsmann Rodrigues, num artigo para o Instituto Africano Nórdico.
Os anos de crescimento económico após os acordos de paz de 2002 levaram à criação de “uma classe de novos ricos dispostos a gastar sua riqueza em carros de luxo, casamentos caros e viagens de compras para Europa e EUA”, refere o artigo do IAN.
Luanda passou a ser conhecida como a cidade mais cara do mundo para expatriados. Apesar de alguns investimentos na economia local, a crise de preços de petróleo em 2014 apanha o país totalmente dependente da indústria petrolífera. As receitas e as divisas começaram a escassear e os “kinguilas” (cambistas) devolta às ruas de Luanda trouxeram de volta memória do passado da guerra. Os bancos deixaram de emitir cartões de crédito para uso no exterior.
"A falta de moeda estrangeira está a afetar a todos em Angola de uma maneira ou outra. Os ricos têm parado viajar para o exterior, e os pobres têm dificuldade em comprar produtos importados como arroz, carne ou medicina em mercados locais como os preços sobem ", diz Udelsmann Rodrigues.
De um ponto de vista otimista, esta pode ser a oportunidade de que Angola precisava. Um choque que obriga o país a virar-se para a criação de riqueza fora do petróleo, diversificando a economia e gerando mais empregos.
Muitos angolanos “esperam que o financiamento internacional para o desenvolvimento, há muito em baixa, possa ser reactivado, uma vez que os líderes angolanos, humilhados pela recessão económica, podem não ser mais capazes de resistir a ofertas de ajuda do FMI e outros”.
Para Udelsmann Rodrigues, a crise é também uma lembrança da capacidade de a sociedade angolana se adaptar a novas realidades. "As pessoas se adaptam. Se uma fonte de renda desaparece, eles buscam diferentes maneiras de ganhar a vida".