quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

PRETÓRIA: Morreu Mendes de Carvalho

Morreu Mendes de Carvalho


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Pretória – Morreu, aos 89 anos, por voltas das 8 horas da manhã desta quinta-feira, 13, na clínica Girrasol, em Luanda, o político e escritor Agostinho André Mendes de Carvalho, vítima de doença prolongada. O então ministro da Saúde se encontrava há mais de três meses em coma, devido a uma forte queda que sofreu em sua residência.

Fonte: Club-k.net
Divulgação: Planalto De Malanje Rio Capôpa
13.02.2014O Club-K sabe que,ainda em vida, o nacionalista recomendou aos seus familiares que fosse sepultado na sua terra natal, numa campa familiar, em Calomboloca, município de Icolo e Bengo, onde há poucos anos tivera construído uma residência para o efeito.De salientar que o histórico do MPLA foi inicialmente evacuado para África do Sul, onde ficou internado no "Kloof Hospital" cerca de três meses.
Logo após a quadra natalícia, um dos filhos, o almirante André Gaspar Mendes de Carvalho “Miau”, que esteve a lhe acompanhar durante a estadia em terras de Mandela, decidiu, após sugestão dos médicos, levar o veterano político de volta a Luanda.

Ainda na África do Sul, o nacionalista Mendes de Carvalho foi visitado pelo líder da coligação CASA-CE, Abel Chivukuvuku, num gesto de solidariedade e apresso.

Sob o pseudónimo literário de Uanhenga Xitu, Mendes de Carvalho publicou várias obras literárias (romances e crónicas) dentre os quais “Mestre ta moda” e “O Ministro”. A par isso foi enfermeiro durante muitos anos. Também cursou Ciências Políticas na Alemanha.

Em 1959, foi preso e considerado participante no “Processo dos 50”.  Foi enviado para a cadeia de Tarrafal, onde permaneceu cerca de oito anos. Após a independência, foi membro do Conselho da Revolução, Comissário (Governador) da Província de Luanda, Ministro da Saúde de Angola e embaixador de Angola na República da Polónia.
O antigo deputado na Assembleia Nacional pela bancada do MPLA foi uma das figuras mais respeitada, nos bastidores do seu partido, pela sua forma frontal de colocar os factos.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

LUANDA: Policia Nacional visita instalações da radio despertar








Polícia Nacional visita Instalações da Rádio Despertar
Fonte: www.unitaangola.org
Divulgação: Planalto De Malanje Rio capôpa
12.02.2014
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Uma delegação do Comando Provincial da Polícia Nacional de Luanda, visitou nesta quinta- feira, 12 de Fevereiro de 2014, as instalações da Rádio Despertar.

A delegação da Polícia Nacional dirigida pela Intendente e chefe de Gabinete de Comunicação e Imagem do Comando de Luanda, Engrácia Costa, visita a Rádio Despertar um dia depois desta estação emissora ter divulgado a morte de um jovem roboteiro no mercado do bombo, na zona da Estalagem em Viana, morto por um agente da Polícia Nacional destacado na esquadra policial do 14.

Engrácia que falava aos microfones da Comercial Despertar no final do encontro que manteve com o Director- Geral da Rádio, Emanuel Malaquias, disse que a sua visita enquadra-se no âmbito da estratégia de estreitamento de relações com os órgãos de comunicação social.

A Intendente, disse ainda ter gostado da visita “ gostamos da visita, e saímos daqui com uma boa impressão”, rematou. 
www.unitaangola.org

BANGKOK: Imagens da princesa da Tailândia consideradas de apoio á oposição

Imagens de princesa da Tailândia consideradas de apoio à oposição

Família real parece cada vez mais dividida na crise política – príncipe herdeiro é próximo do Governo.
Manifestantes da oposição congratularam-se com o que foi percebido como um apoio da mais jovem princesa da Tailândia
 NIR ELIAS/REUTERS
O Rei Bhumibol é o garante de unidade da Tailândia e todos têm medo do que poderá acontecer quando o monarca, de 86 anos e saúde frágil, morrer. A crise política que começou em Novembro exacerbou esse medo, mas o papel da monarquia é pouco discutido.
Nesta crise, os apelos à calma feitos pelo monarca não tiveram, para já, grande sucesso. Morreu uma dezena de pessoas e mais de 600 ficaram feridas em confrontos nas manifestações de contestação ao Governo. “O rei está frágil, o palácio não parece estar unido, e alguns membros da realeza parecem estar a alinhar abertamente com os manifestantes anti-governo”, disse à revista Time David Streuckfuss, um académico a viver na Tailândia.
 
A mais fortes atitude interpretadas como uma tomada de posição foi a publicação, pela princesa Chulabhorn Mahidol, a filha mais nova do Rei Bhumibol, de fotografias suas numa rede social. As fotografias mostram a princesa com fitas da cor da bandeira da Tailândia no cabelo e com uma pulseira com azul, branco e vermelho. As cores da bandeira têm sido usadas pelo movimento de oposição ao Governo da primeira-ministra Yingluck Shinawatra, e o seu uso pela princesa foi interpretado por analistas como um sinal de apoio à oposição.
 
“Foi visto como uma declaração de guerra”, disse um analista político próximo do Governo ao diário britânico The Independent. “Ela quis mostrar que estava do lado da oposição”, concordou o professor Patrick Jory, da Universidade de Queensland, Austrália.
 
Há quem defenda que a crise política no país tem, entre várias outras causas, um factor de intriga palaciana: a luta pela sucessão. São especulações, porque tudo o que diz respeito à sucessão não é falado abertamente na Tailândia, tanto pela reverência ao rei como pelas leis de crime de lesa-majestade. A revista Economist, por exemplo, já viu negada a distribuição na Tailândia por ter publicado artigos que discutiam questões reais e a sucessão do rei.
 
O príncipe herdeiro, Maha Chakri Sirindhorn, é visto com desconfiança pela população, que não vê com bons olhos o seu estilo de playboy e seu gosto pelo luxo – muitos preocupam-se também com a proximidade entre este e o antigo primeiro-ministro, Thaksin Shinawatra, irmão de Yingluck Shinawatra. Segundo a oposição, é Thaksim quem controla de facto o Governo desde o exílio em que se encontra depois de ter sido acusado por corrupção – a contestação actual começou aliás por ser um protesto contra uma lei de amnistia que permitiria o regresso de Thaksim, lei que foi entretanto retirada.
 
Muitos dentro do palácio preferiam que fosse a princesa Maha Chakri Sirindhorn a suceder ao rei, e a princesa que publicou as imagens será desta facção.
 
“As velhas elites nunca se preocuparam com a democracia”, diz Andrew MacGregor Marshall, jornalista e autor de um livro sobre a crise na Tailândia prestes a ser publicado.  O Parlamento tem o papel de aprovar a sucessão, assim, a facção que dominar o Parlamento pode ter uma hipótese de ganhar a batalha pelo trono que, para além do poder, envolve um património de mais de 21 mil milhões de euros, segundo uma estimativa da revista Forbes.
 
Numa altura em que o tribunal constitucional decretou que não houve irregularidades nas eleições legislativas realizadas no início de Fevereiro – esperando-se uma derrota para a oposição – o gesto da princesa foi saudado por manifestantes da oposição.
 

LISBOA: Quem é o dono atual da Soares da Costa

                        O ATUAL DONO DA SOARES DA COSTA
Fonte: Diário Econômico
Divulgação: Planalto De Malanje Rio capôpa
12.02.2014
O empresário angolano que hoje passa a ser o dono da Soares da Costa tem interesses nos mais diversos sectores.

Assume-se como independente do poder do Estado, mas não se livra de ser dado como um homem do regime.
Nascido em 20 de Março de 1947 em Calenga, província do Huambo, o angolano António Mosquito passa a partir de hoje a ‘chamar-se' também Soares da Costa, através da aquisição de 66,7% do grupo de construção civil criado pelo português José Soares da Costa em 1918.
Não sendo propriamente um desconhecido nos media portugueses, António Mosquito entrou de rompante nas primeiras páginas dos jornais em finais de Novembro do ano passado, quando deu a conhecer que acabava de fechar acordos de compra da maioria da Soares da Costa ao empresário Manuel Fino e de uma posição de controlo no Grupo Media (dono da Controlinveste), em parceria com Luís Montez (empresário e genro do Presidente da República Cavaco Silva, com 42,5% em conjunto).
Tido como um empresário razoavelmente distante do poder político angolano, António Mosquito não quis nunca seguir um percurso abertamente político - ao contrário de vários outros empresários angolanos, que transitaram da órbita do poder para o mundo empresarial de um momento para o outro, num quadro em que este transvase foi sempre a forma de atingir financiamento fácil. Mesmo assim - e apesar de a pesquisa sobre o perfil e o currículo do empresário ser um ladrilho com várias zonas em branco - Mosquito é apontado como um homem próximo do presidente angolano, José Eduardo dos Santos, que se quis rodear de homens de negócios não exclusivamente oriundos do interior do seu partido, o MPLA. Depois da guerra, interessava ter do lado do poder homens ligados etnicamente à UNITA.
Segundo algumas fontes, António Mosquito era, em Abril de 1974, gerente de uma fazenda de sisal situada na região do Cubal, a Oliveira Barros & Companhia, para onde o seu pai o havia levado ainda novo. Os donos da empresa retiraram-se para Portugal na sequência da Revolução, tendo deixado os interesses do negócio nas mãos do gerente - que aproveitou para aprender a gerir num ambiente de crescente instabilidade, que demoraria várias décadas a ser superado.
Interessado em dar passos mais sustentados no mundo dos negócios, Mosquito criou a Mbakasi & Filhos em 1980 - génese de um grupo que agregaria vários parentes e amigos do empresário e que em pouco tempo haveria de passar a ser conhecido por Grupo António Mesquita (GAM). Num país em guerra, conta o filho Horácio numa entrevista recente, o GAM rapidamente diversificou para a importação e comercialização de uma série de produtos, tanto de consumo como de transformação. Paralelamente, o empresário deixou as terras do Huambo e rumou para a capital, possivelmente em busca de menos exposição à guerra, mais consumo e melhores fontes de financiamento. A guerra, definitivamente, não lhe interessava: "algumas pessoas são generais e lutaram durante a guerra; eu também sou um general porque, na época da guerra, estava a dar algo mais ao meu país, em termos de comida, de trabalho, etc.", terá dito um dia.
Num país onde estava tudo por fazer (a guerra civil angolana durou de 1961 a 2002), a paz foi o esteio necessário para que a economia pudesse crescer. E quando Jonas Savimbi desapareceu, os empresários que já estavam no terreno foram os primeiros a poder usufruir das enormes quantidades de dinheiro proporcionadas pelo petróleo e pelos diamantes, que constituíam as principais riquezas do território.
A GAM entrou, como vários outros grupos empresariais, em regime de alta velocidade. Em pouco tempo agregou em seu torno interesses dos mais diversos sectores, onde se contam a importação de automóveis Audi e VW (em larga escala fornecidos ao Estado); a construção civil, em associação com os brasileiros da Odebrecht e os portugueses da Teixeira Duarte; a exploração petrolífera (desde 1998), através da Falcon Oil (que Mosquito comprou no Panamá e cujo nome resultou da vontade de o empresário comprar um avião Falcon), que chegou a estar quase na falência antes de agregar novos interesses ao inicial Bloco 33; a produção de cerveja, prevista para ser repartida com os franceses da Brasseries Internationales Holding); a exploração mineira (diamantes), concentrada na KSM-Kassypai Sociedade Mineira; e a banca, onde, em 2008, comprou 12% do Banco Caixa Geral Totta Angola (em parceria com a CGD). A criação de uma holding tornou-se uma necessidade: a GAM Holding, que hoje entra na Soares da Costa, está sediada no Luxemburgo. Segundo Horácio Mesquita, indústria, transportes, restauração, gás e energia e novas tecnologias fazem parte dos interesses de diversificação do grupo.
Neste quadro, a entrada na Soares da Costa afigura-se como natural: a diversificação é uma das últimas ‘modas' dos empresários angolanos e Portugal - apesar de todas as ameaças com que José Eduardo dos Santos tem envolvido as relações entre ambos os países - é o país mais procurado. Os conhecimentos adquiridos no sector, a posição que a construtora tem em Angola e as dificuldades de Manuel Fino em gerir uma dívida excessiva, tornavam-na um alvo evidente.
O contrário se passou com o ‘dossier' Controlinveste: num quadro em que o sector da comunicação social não dá dividendos assinaláveis (quando dá...), a posição que Mosquito pretendia era observada como mera forma de obter poder de influência.
Seja como for, dois ou três dias depois de ter anunciado o duplo negócio em Portugal, António Mosquito foi distinguido com o prémio angolano Sirius, para o melhor empreendedor de Angola.
Católico e mecenas de diversas instituições de caridade - para além de patrocinar clubes de futebol e outras agremiações da área do lazer - António Mosquito é referido pelos seus amigos como um homem interessado em desenvolver Angola a partir do anonimato possível, sem excessos de ostentação ou outras superficialidades. Do lado oposto - há sempre um lado oposto - é referido como um mulherengo que não olha a meios para atingir os seus fins.
Numa nota curricular que aparenta ter um carácter oficial, é atribuída a António Mosquito alguma predilecção por uma frase de alemão Friedrich Nietzsche, segundo o qual, "quando se tem um ‘porquê', não importam os ‘como'. O niilismo foi sempre um caminho difícil.

LISBOA: Unita disposta a protestar detenção e julgamento viciado de jornalista nas ruas de Luanda


UNITA ameaça protestar na rua contra detenção e condenação de jornalista em Angola

Fonte: Lusa
Divulgação: Planalto De Malanje Rio Capôpa
UNITA ameaça protestar na rua contra detenção e condenação de jornalista em Angola
O maior partido da oposição angolano, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) ameaçou hoje convocar uma manifestação para protestar contra a recente detenção e condenação de um jornalista.
A ameaça consta de um comunicado do Secretariado Executivo do Comité Permanente do partido, enviado à Lusa e em que considera ter-se verificado o que designou como "tamanha violação da legalidade".
Em causa está a detenção durante cinco dias e a condenação a seis meses de prisão, com pena suspensa, e ao pagamento de multa, de Queirós Chilúvia, diretor de informação da Rádio Despertar.
Queirós Chilúvia foi detido na tarde do passado dia 02, junto à Divisão Policial do Cacuaco, um dos distritos de Luanda, depois de ter procurado saber junto da Polícia Nacional a razão dos gritos que tinha ouvido, provenientes do interior das instalações.
O tribunal considerou justa a queixa apresentada pela polícia angolana, por o jornalista ter caluniado a corporação ao entrar em direto na emissão da rádio, que é apoiada pela UNITA, e relatado os factos a que assistiu.
No comunicado de hoje, a UNITA considera que "na árdua missão de cumprir com os pressupostos da Constituição e da Lei", os jornalistas "têm vindo a pagar o preço mais caro traduzido em agressões, prisões, exclusões e até assassinatos", porque, conclui aquele partido, "a separação de poderes e o equilíbrio de competências são um verdadeiro sonho num Estado que se diz democrático e de direito".
"Neste contexto, o Secretariado Executivo do Comité Permanente da UNITA exorta à Comunidade Nacional e Internacional que, em defesa da legalidade poderá fazer recurso à Constituição na base do artigo 47º - Direito à manifestação, buscando, assim, frustrar as incessantes prisões e multas ilegais bem como outras formas de agressão aos direitos e liberdades dos cidadãos", conclui o comunicado.
LUSA

LISBOA: Pode estar descansado: Não vamos ser devorados por nenhum buraco negro

Pode estar descansado: não vamos ser devorados por um buraco negro

Três cientistas do Instituto Superior Técnico de Lisboa quiseram ver se todos os astros acabam um dia em buracos negros, objectos tão densos e maciços que atraem tudo o que está à volta. Para tal, fizeram cálculos num supercomputador chamado Baltasar Sete-Sóis, onde a ciência também se encontrou com a literatura.
"Baltasar entrou logo atrás do padre, curioso, olhou em redor sem compreender o que via, talvez esperasse um balão, umas asas de pardal em maior, um saco de penas, e não teve mão que não duvidasse, Então é isto, e o padre Bartolomeu Lourenço respondeu, Há-de ser isto, e, abrindo uma arca, tirou um papel que desenrolou, onde se via o desenho de uma ave, a passarola seria, isso era Baltasar capaz de reconhecer, e porque à vista era o desenho de um pássaro, acreditou que todos aqueles materiais, juntos e ordenados nos lugares competentes, seriam capazes de voar", In Memorial do Convento, José SaramagoA pergunta de partida era: poderiam estrelas como o Sol, planetas como a Terra ou até astros mais pequenos como asteróides transformar-se em buracos negros, estivéssemos nós dispostos a esperar muito pacientemente milhões e milhões de anos até surgir essa evolução? A resposta é que o nosso Sol e a nossa Terra não se irão transformar nesses monstros supermaciços que sugam tudo o que está em redor – conclui agora uma equipa do Centro Multidisciplinar de Astrofísica (Centra) do Instituto Superior Técnico de Lisboa, depois de uma série de cálculos complexos no supercomputadorBaltasar Sete-Sóis, nome inspirado em Baltasar Mateus, o Sete-Sóis, personagem de José Saramago em Memorial do Convento.
À primeira vista, a interrogação que serviu de base ao trabalho até pode parecer desconcertante, no sentido em que a opinião unânime da comunidade científica já era a de que apenas as estrelas muito maciças – com pelo menos três vezes a massa do nosso Sol – se transformariam em buracos negros no final da sua vida. Assim sendo, só estas estrelas poderiam originar astros muito densos, com uma força gravítica tremenda que não deixaria escapar a matéria nem a luz, uma vez lá caídas.  
Quando tivessem consumido todo o combustível em reacções de fusão nuclear dos seus átomos, o que até aí sustinha estas estrelas gigantes, a gravidade exercida pela matéria acabaria por vencer outras forças de resistência e elas contrair-se-iam. Ou seja, a matéria colapsaria sobre si própria e estas estrelas tornar-se-iam extremamente compactas. Como a observação directa destes astros é impossível – são como um buraco negro no espaço –, a sua existência tem sido detectada através dos efeitos que causam na sua vizinhança, como devoradores de matéria e energia que são.
“Ao fim de 50 anos de estudos, acreditávamos que a Terra, o Sol e outros astros não colapsam porque existe uma pressão à superfície e dentro dos próprios astros, que é responsável pelo facto de não nos enfiarmos pelo planeta adentro”, explica ao PÚBLICO Vítor Cardoso, astrofísico do Centra. “No Sol, essa pressão surge maioritariamente da radiação que é gerada pela fusão nuclear que ocorre lá dentro. Mas quando uma estrela muito maior do que o Sol queimava todo combustível, acreditávamos que não ia aguentar o próprio peso e caía sobre si própria. Pensávamos que a única maneira de formar um buraco negro seria ter muita matéria e deixá-la cair sobre si mesma”, acrescenta o investigador português.
Mas em 2011, instalou-se a dúvida sobre esta unanimidade: os investigadores polacos Piotr Bizon e Andrzej Rostworowski, da Universidade Jaguelónica, em Cracóvia, pegaram nas equações de Einstein na sua teoria da relatividade geral (de 1915) e procuraram resolvê-las, para encontrar soluções que descrevessem matematicamente os buracos negros, o que exigiu o recurso a um supercomputador.
“As equações da relatividade são tremendamente complicadas de resolver e têm muitas soluções – tal como a ‘fórmula’ da biologia dá origem a muitos seres vivos diferentes”, explica Vítor Cardoso. “Só muito recentemente, a começar em 2005 ou 2006, é que conseguimos perceber como conseguir pôr os computadores a resolver as equações, em situações muito complexas.”
O artigo que os dois investigadores polacos publicaram, na revista Physical Review Letters, concluía que mesmo uma pequena quantidade de matéria acabaria transformada em buraco negro, se estivesse confinada num espaço. Por exemplo, se estivesse literalmente circunscrita numa caixa hermética.
“Mostraram que se conseguíssemos manter a matéria fechada numa caixa, de onde não pudesse sair, se esperássemos e olhássemos lá para dentro, iríamos ver um buraco negro. O tempo que teríamos de esperar dependeria da quantidade de matéria que se pusesse lá no início”, esclarece Vítor Cardoso. “Isso pode não parecer muito surpreendente, mas seria uma mudança completa de paradigma: não pensávamos que bastaria ter uma pequena quantidade de matéria para dar um buraco negro, desde que conseguisse estar fechada num certo sítio.”
A confirmar-se, esta mudança de paradigma levantaria novos problemas teóricos: “Seria de esperar que começassem a formar-se buracos negros em muitas circunstâncias”, refere o investigador.
Antes de mais, teriam logo surgido muitos buracos negros no início do Universo, nascido há 13.800 milhões de anos no Big Bang: “Havia muita matéria concentrada num sítio fechado, e pequeno naquela altura, que era o próprio Universo. Se a formação de buracos negros aconteceu no início do Universo, eles teriam sobrevivido e deveríamos ver esses buracos negros primordiais. Mas não os vemos.”
Suceder-se-iam outros problemas teóricos, mesmo na realidade com que contactamos todos os dias. Um exemplo: “Num planeta como a Terra, o mar mantém-se à superfície e não pode sair daí. Mas, nos resultados dos polacos, se estivéssemos dispostos a esperar muito tempo, mais cedo ou mais tarde veríamos a formação de um buraco negro: o mar daria, dentro dele, origem a um buraco negro. É um resultado estranho.”
A estranheza continuaria. Qualquer coisa de onde a matéria não pudesse sair acabaria por formar um buraco negro, como a crosta da Terra.
Ao longo dos 13.800 milhões de anos de evolução do Universo, a realidade já se encarregou de mostrar que estes casos drásticos de formação de buracos negros não devem acontecer. “Mas, infelizmente, não temos acesso ao início do Universo. A experiência do dia-a-dia é valiosa, mas tem limites. Se confiarmos muito nela, o Universo sempre foi como é agora. Não o veríamos a evoluir. O Sol esteve sempre ali, a Lua esteve sempre ali.”
Por isso, Vítor Cardoso, juntamente com o japonês Hirotada Okawa e o italiano Paolo Pani, todos do Centra, foram verificar até que ponto os buracos negros podem ser comuns. Fizeram-no através de simulações numéricas que encontrassem soluções para as complexas equações de Einstein, utilizando o supercomputador do grupo de investigação coordenado por Vítor Cardoso, oBaltasar Sete-Sóis.
“Repetimos os cálculos dos polacos para ver se o cenário tão drástico deles era generalizado”, explica o investigador. “Será que se forma sempre um buraco negro ou também pode formar-se uma estrela estável que não vai dar um buraco negro?”
Só que os três investigadores introduziram algum realismo nas suas simulações. Para tal, consideraram que a matéria nunca está perfeitamente fechada numa caixa: numa estrela como o nosso Sol, por exemplo, a matéria vai-se sempre libertando sob a forma de energia, o que poderia ser suficiente para impedir o nascimento de um buraco negro.
O que demonstraram, num artigo científico que será publicado na revistaPhysical Review D, é que um buraco negro apenas se forma em circunstâncias especiais. “Parece trivial, mas não é. O nosso trabalho veio demonstrar que, realmente, a teoria concorda com as observações. Isto explica a maior parte das coisas que vemos [no Universo]”, diz Vítor Cardoso.
Que circunstâncias especiais são então essas? “Em princípio, um buraco negro forma-se quando uma quantidade suficiente de massa está confinada numa zona suficientemente pequena”, explica outro dos autores do trabalho, Hirotada Okawa, num comunicado do Centra.
Nem sempre as condições especiais para esse confinamento estão assim reunidas. Por um lado, os astros com até três vezes a massa do Sol vão dissipando a sua energia, escapando ao destino de buracos negros. Por outro lado – e embora a matéria atraia matéria, através da força de gravidade –, também há outras forças que contrariam a gravidade, como a pressão exercida à superfície da Terra e que não nos deixa afundar chão adentro. Ou a pressão exercida em astros já maiores do que a Terra, como o Sol, sustido neste caso enquanto consome o seu combustível em reacções de fusão nuclear. Já agora, diga-se que quando o Sol ficar sem combustível e começar a morrer, daqui a uns 5000 milhões de anos, irá transformar-se numa anã-branca. Expelirá as camadas exteriores, restando um núcleo comprimido de pequenas dimensões e grande densidade, que ainda assim não será um buraco negro.
“Como existem forças repulsivas que actuam de forma a contrariar a força gravítica, este confinamento não acontece normalmente e não estamos rodeados de buracos negros formados a partir de sóis ou de planetas”, conclui Hirotada Okawa. “Descobrimos que, em casos realistas, pode ocorrer o colapso da matéria, mas não é assim tão fácil”, sublinha também Paolo Pani, no comunicado.
Portanto, aqui na Terra e nas proximidades não há o perigo de sermos engolidos por um buraco negro e o que se pensava sobre a sua formação de mantém-se, segundo os resultados da equipa em Portugal. “O nosso artigo demonstra que podemos estar descansados. A gravidade nem sempre ganha”, resume Vítor Cardoso.
Falta agora pôr debaixo dos holofotes o Baltasar Sete-Sóis – o supercomputador que passou cerca de dois meses a resolver as equações de Einstein, para que a equipa pudesse chegar a estas conclusões. Tornou-se uma realidade quando, em 2010, Vítor Cardoso ganhou um milhão de euros do Conselho Europeu de Investigação (ERC, na sigla em inglês). “[O dinheiro] era para estudar os segredos das equações de Einstein, incluindo os segredos sobre os buracos negros”, conta o investigador, que com cerca de 100 mil euros comprou o supercomputador.
Havia depois que lhe dar um nome. Como Vítor Cardoso e a sua mulher,designer, gostam dos livros de José Saramago, foram falar com Pilar del Río, que viveu com o escritor. O cientista e a designer disseram-lhe que tinham encontrado inspiração em Baltasar, o Sete-Sóis, personagem de Memorial do Convento que, ao perder a mão esquerda na guerra, foi mandado embora do exército. Encontrou trabalho no estaleiro do convento de Mafra, onde conhecerá Blimunda, e ajudará o padre Bartolomeu Lourenço a construir a passarola.
“É Baltasar Sete-Sóis que ajuda o padre Bartolomeu a construir o sonho: uma máquina voadora. Ele é que dá o trabalho para se construir essa máquina, apesar de ser outra pessoa que ia voar nela”, nota Vítor Cardoso. “No nosso caso, a máquina é que nos ajuda a resolver as equações, a máquina é uma amiga.”

LISBOA: Uma em cada 14 mulheres no mundo já foi vitima de abuso sexual

1 em cada 14 mulheres no mundo já foi vítima de abuso sexual

Fonte: Reuters/Lusa/TSF

Divulgação: Planalto De Malanje Rio capôpa

12.02.2014

Um estudo realizado em 56 países, e hoje publicado na revista The Lancet, indica que uma em cada 14 mulheres já foi, pelo menos uma vez, vítima de abuso sexual por parte de alguém que não o seu parceiro.
Reuters
1 em cada 14 mulheres no mundo já foi vítima de abuso sexual
A estimativa sugere que a situação varia muito de país para país, com a taxa de mulheres vítimas de abusos a atingir 20% na região central da África subsaariana, mas em média 7,2% das mulheres com 15 anos ou mais afirmam ter sido atacadas sexualmente pelo menos uma vez na vida.
«Descobrimos que a violência sexual é uma experiência comum para as mulheres em todo o mundo, e em algumas regiões é endémica, atingindo mais de 15% em quatro regiões. No entanto, as variações regionais precisam de ser interpretadas com cautela devido às diferenças na disponibilidade dos dados e nos níveis de denúncia», explicou Naeemah Abrahams, do Conselho de Investigação Médica da África do Sul, que liderou o trabalho com colegas da Escola de Higiene e Medicina tropical de Londres e com a Organização Mundial de saúde.
Após procurar estudos publicados ao longo de 13 anos (1998--2011) com dados sobre a prevalência global de violência sexual, os cientistas identificaram 77 estudos válidos, recolhendo dados sobre 412 estimativas em 56 países.
Os resultados mostram que as mais altas taxas de violência sexual surgem no centro da África subsaariana (21% na República Democrática do Congo), no sul da mesma região (17,4% na Namíbia, África do Sul e Zimbabué), e na Oceânia (16,4% na Nova Zelândia e Austrália).
Os países do Norte de África e Médio Oriente (4,5% na Turquia) e no sul da Ásia (3,3% na Índia e Bangladesh) registaram as taxas mais baixas.
Na Europa, os países de Leste (6,9% na Lituânia, Ucrânia e Azerbaijão) registaram uma prevalência muito mais baixa do que os do centro (10,7% na República Checa, Polónia, Sérvia e Montenegro e no Kosovo) e do que os do ocidente (11,5% na Suíça, Espanha, Suécia, Reino Unido, Dinamarca, Finlândia e Alemanha).
Os autores sublinham que estes dados deverão subestimar a verdadeira magnitude do problema por causa do estigma e da culpa associada à violência sexual, que leva as vítimas a não denunciar e prejudica a qualidade dos dados usados.
Lusa