quinta-feira, 10 de outubro de 2013

LISBOA: A questão Angola discutida em Portugal


A questão angolana
Por Pedro dos santos Guilherme
Divulgação: Radz Balumuka
Planalto De Malanje Rio Capôpa
09 de Outubro de 2013
Passaram seis tristes dias e Rui Machete não se demitiu. Não pediu desculpa. Nem percebeu o mal que fez ao País, ao Governo e às relações entre Angola e Portugal. Mas Machete, inimputável e incompetente, é apenas um rolamento na roda de trás do rolo compressor que é o maior tabu da economia portuguesa: Angola.
Machete disse o que disse. Pediu desculpa a Angola por processos judiciais portugueses, questões menores de papelada, disse. Mas fez mais: envergonhou os portugueses. Não por ser em Angola - podia ser na América, na Alemanha ou em Marte. Por se acocorar.

Quando um ministro presta vassalagem, rebaixa o país. Portugal é já um país em que os governantes portugueses são mandados por governadores estrangeiros, estamos humilhados nas mãos dos credores, somos menosprezados pela zomba ou pelo paternalismo de quem olha de longe. O que esperamos ao menos é que os maiores de nós sejam os melhores por nós. Que resgatem a honra dos portugueses. "Não fazer nada é ser vencido", disse de Gaulle. Mas esse era general.

Rui Machete, contudo, apenas disse numa rádio o que muitos diplomatas terão dito em Angola: pedir desculpa. As notícias de investigações judiciais em Portugal a membros da elite angolana criaram um sarilho na frente diplomática. E é verdade que esse incómodo tem razões fundadas.

Angola foi o Plano A de milhares de empresas portuguesas durante a crise. Muitas deram-se bem. Mas houve problemas, nos negócios, mas também com pessoas. Há em Angola dezenas de milhares de portugueses sem visto. Ilegais. Não se sabe quantos. Dez mil? 50 mil? 100 mil? O suficiente para ser um assunto de Estado. É por isso que qualquer ministro dos Negócios Estrangeiros tem de ter tacto e ser competente.

A questão não é o preconceito, que existe em muitas cabeças retrógradas - de cá e de lá. A questão é outra e é concreta. Nos negócios em Portugal, o problema só existe quando não se sabe a origem do dinheiro, não há transparência no financiamento ou na gestão. A Sonangol fartou-se de investir no BCP e participa numa gestão que é melhor hoje do que foi no passado com accionistas portugueses. Isabel dos Santos é a maior investidora individual em Portugal dos últimos anos, lidera empresas cotadas e já não se pendura em financiamentos a offshores remotas.

Não reconhecer a importância do investimento angolano é cegueira. O Negócios já escreveu que Mosquito salvou a construtora Soares da Costa. Que a Sonangol entrou na salvação do BCP. Que Carlos Silva é um gestor profissional. Que Isabel dos Santos é a sexta Mais Poderosa do país - numa lista em que quatro dos 50 Mais Poderosos na economia portuguesa são angolanos. Não é reconhecimento, é conhecimento. O mesmo conhecimento que nos leva noutros casos a duvidar da identidade dos investidores, da origem do dinheiro, da intenção de testas de ferro - ou da proibição da entrada em Luanda de jornalistas não alinhados.

Infelizmente, a "expressão infeliz" do ministro dos Negócios Estrangeiros atiçou fogos em Angola e arrelvou os terrenos portugueses onde vários poderes assentam as catapultas para a sucessão de José Eduardo dos Santos. Rui Machete perdeu uma boa oportunidade para estar calado. Uma, não, duas: ouvindo o seu contorcionismo no Parlamento, apetece dizer-lhe o que Jon Stewart disse há dias à secretária de Estado americana, Kathleen Sebelius, que o enrolava sobre o programa Obamacare: "Eu pareço-lhe estúpido?"

P.S.: Na semana passada, um jornal angolano on-line chamado Maka&Mambo escreveu:  "Pedro Santos Guerreiro (...) em tempos escreveu um editorial anti-Angola onde escrevia que 'no dia em que os angolanos comprassem a Cofina despedia-se'." É falso. Não escrevi um editorial anti-Angola nem a frase que entre aspas me é atribuída. Critiquei sim, pela opacidade em Portugal e linhas editoriais em Angola, a Newshold, empresa da família Madaleno

Uma das vantagens do meu trabalho é que todo ele está publicado. No editorial em questão, "O Canal do Panamá", de Dezembro de 2012, separei o trigo do joio, escrevendo que "não é Angola que dá mau nome à Newshold, é a Newshold que dá mau nome a Angola". E conclui que se esta empresa "um dia controlar a Cofina, o meu destino está traçado. Traçado por mim: obviamente, demito-me."

Lamento ter de voltar a este assunto. Não é uma bravata, é uma defesa da honra. Porque lamento ainda mais ser atacado em jornais sem ficha técnica, sem contactos, sem contraditório e sem assinatura nas notícias, que mentem e usam métodos de intimidação - comigo e com outros. Eu tenho a sorte de poder desmentir publicamente a insídia. Outros não.

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