A Propaganda Isabelina em Tempo de Crise
Isabel dos Santos continua a sua saga, afanando-se na construção da imagem de uma mulher empresária que vai mudar a face de Angola. Desta vez, anunciou no Instagram que o Plano Director Metropolitano de Luanda, dirigido por ela, ganhou o prémio da British Expertise International na categoria de Melhor Projecto de Planeamento Internacional.
Em primeiro lugar, esta organização, como a própria Isabel sublinha, atribui prémios a empresas britânicas. Passo a citar: os prémios British Expertise “têm por objectivo laurear as empresas de serviços britânicas que trabalham a uma escala internacional”. Portanto, ou Isabel é agora uma empresa britânica… ou o que foi premiado foi uma empresa britânica que participa no projecto… a qual se calhar lhe pertence.
No entanto, isto não é o mais importante. O importante é referir que esta organização, a British Expertise, é uma empresa privada de consultoria e aconselhamento, especializada em criar redes de negócios, e que organiza uns jantares de black tie no Royal Garden Hotel, em Kensington, Londres, pagos a €200,00 por cabeça e regados a champanhe, no decorrer dos quais entregam prémios distribuídos por 12 categorias. Trata-se, por isso, de uma legítima empresa de negócios, que criou estes prémios como exercício de relações públicas, mas não tem o estatuto de qualquer academia ou instituto científico ou técnico.
O mais curioso é que, enquanto a 11 de Abril passado, no belo jantar chique, eram entregues os prémios em Inglaterra aos ingleses que trabalham com Isabel dos Santos, no dia 14 eram recebidos no Palácio da Cidade Alta os empresários britânicos David Wyne-Morgan e Lord Charles Vivian. Será, naturalmente, uma coincidência. Lord Vivian lidera a Bell Pottinger Geopolitical, uma empresa de relações públicas especializada em comunicação estratégica internacional.
Portanto, o que temos até ao momento é uma campanha de relações públicas muito bem montada por peritos internacionais, que visa trazer legitimidade técnica e empresarial a Isabel dos Santos. As simple as that.
Mas esta questão levanta uma outra, ligada ao Masterplan para Luanda. Afirma-se que este visa preparar uma área metropolitana para 13 milhões de pessoas na capital angolana. Ora, 13 milhões de pessoas corresponde hoje a metade da população do país. Talvez daqui a uns anos corresponda a um terço. De uma forma ou de outra, é um número absolutamente disparatado. Qualquer planeamento territorial deveria ser integrado a nível nacional e preferir a recolocação nas províncias dos refugiados de guerra que vieram para Luanda. O desenvolvimento macrocefálico de Luanda é um erro grave. As grandes cidades africanas, como Lagos ou Cairo, tornam-se repositórios de pobreza, crime e insalubridade cada vez mais difíceis de gerir. Pelo mesmo caminho irá Luanda enquanto megalópole.
A aposta em Luanda, em detrimento de uma aposta nacional, equilibrada e sustentável, é uma falha na política de ordenamento do território e na política ambiental. A riqueza de Angola está justamente na sua diversidade, na diferença de climas, no relevo, nas várias culturas e etnias, tudo unido pela língua e por um sentido histórico nacional. Qualquer projecto urbanístico deveria fugir à criação de cidades paquidermes, ao invés de as fomentar.
Portanto, a vantagem destas campanhas de relações públicas levadas a cabo por Isabel dos Santos é que chamam a atenção para os problemas e erros de planeamento estratégico. Numa cidade em que nem o lixo se consegue recolher, de que forma se pretende alojar o dobro da população?
Seria muito mais interessante ver um projecto de desenvolvimento para as Lundas, ou para o Sul do país, onde a seca está a levar ao desespero populações inteiras. Era melhor isto do que andar a brincar aos faraós em Luanda.
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