A utopia da mudança do MPLA - Telmo Vaz Pereira
Brasil - É utópico pensar que o MPLA faça a partir do seu interior a mudança das práticas desenvolvidas até hoje. Isso é quase como a impossibilidade de se remover o céu e a terra. Não nos esqueçamos - pondo os pés na terra -, que o MPLA capturou o país durante 38 anos, e ninguém do MPLA abdicará voluntária e livremente dos privilégios adquiridos, sobretudo na posição em que se encontram as suas elites, que saqueiam e enriquecem desmesuradamente. Quanto mais ricos, mais milionários querem ficar, e quando são milionários mais multimilionários se querem tornar numa escala inimaginável. O presidente e família, assim como os generais, ministros e políticos do regime, são exemplo disso.
Fonte: facebook
Divulgação: Planalto De Malanje Rio Capôpa
28/11/2013
A presunção real de que são os donos exclusivos ou absolutos do país, jamais largarão, razão pela qual jamais se adaptarão a um sistema democrático, depois de 38 anos de regime de partido único arrogante e intimidatório. Isso é como esperar que os irmãos Castro de Cuba sejam um dia democratas, ou que Ceausesco fizesse uma reforma democrática na Roménia, ou até que o general Kim Jong-un procedesse a uma profunda democratização da Coreia do Norte.
Além disso, as duas últimas eleições havidas em Angola (e a mudança da Constituição para permitir que não houvessem eleições presidenciais com sufrágio directo e universal, que possibilitou que Eduardo dos Santos fosse presidente sem ser eleito) demonstram claramente que o MPLA está preparado para a "mexicanização" do regime, transformando-se o MPLA igual ao velho PRI. Trata-se daquilo que Vargas Llosa chamou uma vez de "ditadura perfeita": o regime implantado no México pelo Partido Revolucionário Institucional (PRI), no poder entre 1929 e 2000 (71 anos).
O regime, de facto, era sui-generis, tal como o do MPLA: embora formalmente democrático, com eleições, alguma liberdade partidária e de imprensa, na prática submetia toda a vida política e institucional do país ao tacão do PRI, que controlava a máquina burocrática e administrativa do Estado, e uma corrupção generalizada. Os sociólogos denominavam tal situação de "regime de Partido-Estado".
Ora, o MPLA controla os tribunais e juízes, controla através do seu governo as forças de segurança, controla a informação e a imprensa, controla a administração do Estado, etc etc, e não se sabe onde termina a esfera de acção do partido e onde começa a do governo. O MPLA estará continuadamente no poder através de fraudes eleitorais sofisticadas, e os votos são também comprados pelas "ofertas" de bens de consumo dispendiosos e volumosos às populações muito carenciadas, através dos seus representantes tradicionais - os sobas, que indicam sob essa pressão a direcção do voto nas suas comunidades nas campanhas eleitorais, e tudo com o dinheiro do Estado, proveniente do petróleo e dos diamantes, com os infindáveis "sacos azuis" não contabilizados nas contas da administração pública e das empresas estatais, nomeadamente a Endiama e a Sonangol.
Acresce a tudo isto, um sistema generalizado e piramidal de corrupção não combatida, que começa pelo presidente e vai descendo até ao simples funcionário de qualquer repartição ou um mero polícia, por forma a contemplar e permitir o alargamento da base social de apoio do MPLA. Com um regime assim edificado e onde o critério do mérito é inexistente, o MPLA jamais mudará voluntariamente para absorver os verdadeiros valores democráticos. Em Moçambique, a Frelimo, partido irmão do MPLA, que seguiu idêntico percurso e com os mesmos métodos, tem feito o mesmo e a Renamo cansou-se de lutar apenas com inúteis regras democráticas e parlamentares - quando essas mesmas regras não são respeitadas pelo poder vigente -, para abraçar outras formas de luta que possam abalar o regime, sobretudo pela assumida desobediência dos seus líderes.
Gandhi ensinou aos indianos, e também aos africanos que nunca levaram a peito essa teoria e práxis política (situação que descambou em guerras civis), que o protesto e a resistência na não cooperação política, económica, social e moral para com a força opressora, culmina na chamada desobediência civil. Aqui a particularidade reside no não recurso ao mecanismo da violência. Cabe à oposição (ainda) não corrompida pelo MPLA, de tomar a iniciativa para uma viragem de legítimos e diferenciados processos políticos contra o opressor.
Como a democracia do MPLA é a fingir, remova-se de vez o verniz do fingimento e que se deixe de pactuar em definitivo com a DITADURA e os seus crimes. Os deputados do MPLA ficariam então como sempre quiseram estar: como partido único, tal como nos velhos tempos do «sovietismo», sob o 'olhar silencioso de Lenine'. Assim, deixariam de ter a "boca cheia de democracia", porque a farsa chegava ao fim. Com uma oposição parlamentar que eles não respeitam e respectivos opositores que encaram como inimigos e não como adversários políticos, eles teriam que lidar sem a muleta da oposição que lhes tem servido muito bem para se dizerem democratas na sua propaganda retórica. Então, há que partir as muletas para eles começarem a coxear.