Zenú: A Esperança do Desespero
Em 2012, quando Manuel Vicente foi designado vice-presidente de Angola, os fala-baratos do costume apressaram-se a anunciar que ali estava o futuro presidente, um homem de gosto requintado, que bebia vinho francês, um gestor de topo com a capacidade de um Jack Welch, que tinha tornado a Sonangol uma das referências petrolíferas mundiais. A pátria abria a boca de espanto perante tão egrégia luminária.
Rapidamente, entre os próprios que designaram Vicente, foi-se desconstruindo a grosseira ficção. Afinal, sob o comando de Manuel Vicente, a Sonangol tornou-se um paquiderme frouxo à beira da falência, fruto de uma gestão descuidada; e o gosto refinado pelos vinhos transformou-se em anedota, quando se soube que Vicente mandava o jacto a Paris buscar as melhores colheitas, mas não dava boleia a ninguém para não perturbar a temperatura do vinho… Vicente assumiu o posto de ajudante social do presidente, para ir aos locais aonde este não quer ou não pode ir.
A realidade é que a aposta da família real angolana sempre foi que José Filomeno dos Santos “Zenú” sucedesse ao pai José no trono, logo que este considerasse que era tempo para isso. Kabila não sucedera a Kabila? E, nos EUA, Bush não sucedera, passado um interregno, a Bush? Então porque é que Santos não sucederia a Santos?
Zenú representava a Angola moderna e de sucesso, quando esta crescia a dois dígitos. Tinha porte de “Mestre do Universo”, rodeava-se de jovens ambiciosos que conduziam carros desportivos brilhantes. Era o símbolo da nova e próspera Angola. Tal como a irmã, formara-se em Inglaterra (também Bashar Al-Assad, o ditador da Síria, é filho do ditador-presidente Hafez Al-Assad, e tirou o curso de oftalmologista em Inglaterra, e no entanto…).
Para fazer o seu tirocínio, Zenú ficou a comandar o famoso Fundo Soberano de Angola - nomeado por José Eduardo dos Santos, o pai. Tirando os anúncios propagandísticos, até ao momento, o que se sabe é que constituiu um Fundo Hoteleiro. Não parece que fazer hotéis seja uma prioridade absoluta para Angola, onde aliás o sector privado poderia tranquilamente investir. Fora os hotéis, o que aparece são intenções… aliás, muitas e amplas intenções. Estranhamente, os investimentos do Fundo parecem limitar-se a construções de longo prazo, não incidindo sobre instrumentos com liquidez. Ora, sabendo-se o risco e a má gestão que os investimentos públicos têm tido, torna-se quase aterrorizador olhar para a estratégia de investimento do Fundo, devido à incerteza e ao risco. Sobretudo quando não há nada para ver de concreto.
E na actual crise, o Fundo não tem cumprido nenhuma função, contrariando assim um dos seus objectivos estatutários, que é a “salvaguarda contra quaisquer eventos futuros que possam ter impacto na economia nacional”. (decreto presidencial 107/13, de 28 de Junho). Estamos numa crise séria e com impacto… Dá ideia que o Fundo é um fiasco, mas só perante números reais de 2015 se poderá confirmar esta conclusão.
Zenú é a esperança do desespero em que se encontra o regime, o qual sustentou a sua legitimidade política nos resultados crescentes da economia, que se esperava que viessem a beneficiar todos. O problema é que o crescimento não beneficiou todos e agora há crise, e ninguém espera que Zenú ajude a resolver nada.
Zenú espera nas margens, como esperava Gamal Mubarak no Egipto para suceder ao pai Hosni Mubarak. Tal como para Mubarak, o tempo foge-lhe, e nada há para apresentar.
A esperança do regime vai ser outro desespero.