Não sei se esta se resume a ser uma Carta Aberta ou fechada mas, seguramente, se não a ler no devido tempo, o fará no indevido e, tardiamente. E não o fará, não só por miopia de muitos dos seus assessores, mas, essencialmente, por preferir ser assassinado pelo elogio do que salvo pela crítica…
Por William Tonet
Caro Presidente,
Infelizmente esta tem sido a marca do seu consulado, que muitos legítima ou ilegitimamente a consideram como monarquia fascista institucionalizada num livro branco, muito diferente, por ser pior, que as monarquias modernas, que coabitam e não estrangulam a democracia.
Caro Presidente,
OSenhor é o meu pastor e diante Dele me ajoelharei, enquanto devoto da fé cristã e católica, mas indubitavelmente, nunca diante de um homem, seja ele quem for, ainda que nominalmente se confunda com os santos celestiais.
Caro Presidente,
Prefiro morrer na vertical, mesmo que humilhado e despojado de títulos, de uma qualquer ditadura. No caso vertente, a ditadura “Jessiana”, unipessoal que há mais de 38 anos de poder ininterrupto, castra a mente de muitos intelectuais, que preferem a submissão, a bajulação, a roubalheira do erário público e a corrupção institucional, que lhes garante a lagosta no prato, do que lutarem por ideais mais sublimes.
Caro Presidente,
Estou na rota daqueles que defendem, mesmo com apenas pirão e lombi e com ameaça da própria vida, a nobreza de valores como a ética e a moral, dignificando os institutos de Liberdade, Justiça e Democracia, para um dia, ver os raios solares iluminarem a nova aurora de que estão sedentos os mais de 20 milhões de pobres, excluídos durante os 42 anos da independência e domínio absoluto do MPLA.
Caro Presidente,
Com as devidas diferenças de idade, ambos partimos para os húmus libertários, nos Congos e conhecemos as agruras de viver fora dos seus, mas lutando por ideais de liberdade e oportunidades iguais para todos.
Caro Presidente,
Não sei as motivações que levaram, um de nós, a trair os ideais dos Programas Mínimo e Máximo do MPLA, transformando os proletários de visão social, em proprietários vorazes e capitalistas matumbos, indiferentes ao sofrimento do Povo e à eficiente gestão das finanças públicas, porque comprometidos com os seus umbigos. Responder-me-á, na certa, não ter conseguido resistir à voracidade da máquina do poder, que corrói e corrompe, com o calcinar da fraude dos tempos.
Caro Presidente,
Sei ser este status que, por vezes, lhe leva a fazer mal, destruir e “assassinar” até, a vida de muitos seus antigos companheiros de percurso. Alguns que lhe prestaram fidelidade canina, porque atirados, sem justa causa, à sarjeta da ingratidão, contam os dias para o ajuste de contas, numa esquina de um tempo qualquer. Os outros, oram por si, com pena, pois para além dos milhões e milhões de dólares, que o tornaram, tal como os filhos e familiares, bilionário e milionários, porque de suor alheio, o senhor é um homem pobre de espírito, sem paz interior, com medo até da própria sombra.
Caro Presidente,
Não sei, sincera e honestamente, em qual dos campos me enquadro… Mas acho ter o senhor consciência do mal que, deliberadamente, me vem fazendo, pelo simples facto de me indispor a idolatrar ou bajular líderes descomprometidos com o sentir e gemer dos povos, que dirigem e definham à fome, sem água, comida, saúde, educação, etc..
Caro Presidente,
Osenhor tem, no pedestal da sua estatura, consciência, ser um erro persistir na vergonhosa tese de não pagamento das dívidas que o seu gabinete tem para com a minha empresa desde 1991/2. Ela faz falta, por ser fruto de trabalho honesto, talvez palavra rara em certo dicionário, mas não bastante para me fazer claudicar ou mudar de rota. Nunca engrossarei o seu exército de bajuladores, nem que persista, também, na não resolução da minha legítima reforma militar.
Caro Presidente,
Faço parte, sem vergonha de o assumir publicamente, dos fiéis seguidores dos nobres ideais de Nito Alves, distantes daqueles de que, pejorativamente, o apodam. Não significa dizer que ele não tinha erros, tinha-os seguramente, até pelo facto do seu auto-didactismo de esquerda, cultivado no interior das florestas da 1.ª região e na ingenuidade de considerar Agostinho Neto como uma sumidade, quando era complexadamente medíocre, em muitas das suas acções e análises como líder. Por esta razão estou temperado, quanto às maldades do seu regime, que sem pejo me quer ver definhar à fome, retirando-me a possibilidade de trabalhar.
Caro Presidente,
Étriste o senhor ter medo da minha formação académica e competência profissional, ao ponto de violar acordos universitários, numa feroz perseguição institucional. Cobardemente, o senhor ou o seu regime, instrumentalizaram os órgãos da Universidade Agostinho Neto e do Ministério do Ensino Superior, para se virarem contra um homem só. Resisto, não lhe lambendo as botas, ainda assim.
Não tinha noção de a minha formação amedrontar tanto o seu regime, ao ponto de mobilizarem um procurador-geral adjunto da República, Adão Adriano, e um bastonário da Ordem de Advogados, Hermenegildo Cachimbombo, para o triste papel de virem pública e descaradamente, mentir, ao invés de aceitarem o repto para um debate em sede de Academia, sobre ciência jurídica, liberdade e gestão da coisa pública. Mas isso valeu-lhes promoção, sendo abjecta a de Cachimbombo, recentemente, nomeado como vogal do Conselho Superior da Magistratura do Ministério Público, condição incompatível com as actuais funções, por ter “vendido” os colegas, como se fosse um agente da Segurança de Estado e não representante de uma classe profissional.
Caro Presidente,
Omeu diploma mete medo a todos quantos tenham dúvidas da sua formação, principalmente, daqueles, que em mais de 42 anos de poder, com o dinheiro do petróleo e dos diamantes, não conseguiram fazer melhor do que o colono português, ao ponto de afastarem, ou mesmo matarem, outros brilhantes quadros, até mesmo do MPLA, por terem um comprometimento com a verdade e a gestão honesta.
O país precisa de gente, muita gente, da pouca formada, mas o senhor afasta-os, por não ter estatísticas outras que não a dos 0,5% de corruptos alojados nos corredores do poder, que na verdade não o adoram, adornam-no, face ao dinheiro que lhes permite ilicitamente ganhar.
Caro Presidente,
Faço-lhe, por isso, um apelo sincero, que por vezes o dinheiro cega a muitos dos que lhe são próximos. Se ama, verdadeiramente, os seus filhos, deixe-os ter um futuro tranquilo, sem responsabilidades, que lhes possam ser assacadas, depois da sua partida. Lembre-se que não é eterno. Tome a iniciativa providencial de os transferir da condição de PPE (Pessoas Politicamente Expostas) à frente do Fundo Soberano, da Sonangol e dos bancos comerciais. Para além doutros riscos, isso condiciona a recepção de dólares para mover a economia e beneficiar a maioria dos angolanos.
Caro Presidente,
Ainda assim o senhor é bafejado pela sorte, pois tem uma oposição que não age como deveria, daí eu próprio me ter desencantado com a política activa, colocando-me ao largo. Não sinto mais do que tristeza, quando deveria ter orgulho, pelos deputados, por estes não desempenharem o papel de soberania, que, paradoxalmente, a própria “constituição jessiana”, lhes confere. Eles e as lideranças partidárias, umas mais do que outras, resignam-se ante esse quadro dantesco, em nome das mordomias, quando a rua seria o local ideal de protesto da oposição para defesa das liberdades e da democracia.
Caro Presidente,
Continuo a bater-me por valores cônscio de os que traem princípios, não têm a nobreza de respeitar as leis e o direito, por isso habituei-me, a conviver com a boçalidade barroca de um regime, qual monarquia fascistóide, que se orgulha em degolar a competência dos adversários, ao invés de os confrontar com argumentos científicos e políticos superiores, na velha lógica dos covardes.
Caro Presidente,
Se nada de substantivo fizer, para além da sua fronteira ideológica; o MPLA, o senhor ajustará contas com a história, positivamente como ditador, numa versão africana de Luís XIV e Maquiavel, um mimo à dimensão dos piores ditadores e monarcas fascistas, principalmente face aos assassinatos do 27 de Maio de 1977 e outros ao longo do seu consulado, cujas impressões digitais têm identidade.