terça-feira, 2 de maio de 2017

LUANDA: Kabila e Inácio: Mais dois Jovens Assassinados pela SIC, a Policia do Regime

KABILA E INÁCIO: MAIS DOIS JOVENS ASSASSINADOS PELO SIC


Maka Angola tem em curso uma investigação sobre os assassínios que as forças da autoridade, protagonizadas pelo SIC, têm vindo a perpetrar sistematicamente desde há um ano. Ao todo, recolheu-se informação sobre mais de duas centenas de casos. As execuções sumárias tornaram-se uma realidade sistemática, por vezes até aplaudida por parte da população. As vítimas são normalmente jovens acusados de delinquência, muitos com penas cumpridas. Mas nem sempre. Casos houve em que os agentes ou colaboradores do SIC mataram absolutos inocentes, por vezes jovens falsamente acusados por terceiros, por motivos de vingança, ciúme ou simples vontade de matar.
Em qualquer das situações, estas forças da autoridade — bem como os respectivos responsáveis políticos — revelam o mais puro desprezo pela lei e uma total ausência de sentido humanitário. Executam jovens indefesos em vez de os levarem à justiça; desferem tiros à queima-roupa sobre indivíduos desarmados e indefesos; matam sem sequer fazerem perguntas, à frente seja de quem for, incluindo familiares e crianças; matam até nomes que não constam das suas “listas”, por mero engano. A vida, para estas supostas forças da lei, vale menos que nada.
Na tentativa de estancar estes crimes em série, escrevemos às autoridades competentes, informando-as da investigação e da futura publicação do relatório completo.
Mas o recente caso de assassínio de Kabila e Inácio demonstra que não existe vontade imediata de travar estes crimes de Estado. É então preciso denunciar, divulgar, chamar a atenção para estes homicídios brutais e injustos, para os travar de vez. Estamos do lado da lei. Defendemos o Estado de Direito. Se o ministro do Interior (responsável máximo do SIC) permitir que as forças da autoridade executem condenações — para mais condenações à morte — que será do futuro dos nossos sofisticados ladrões que, empoleirados no poder, saqueiam os cofres do Estado?
Mendik Pedro Samuel “Kabila” residia em Caxito, província do Bengo, e deslocava-se regularmente a Luanda para visitar os pais e irmãos no bairro Malueca, município de Cacuaco, e, em particular, a mulher e a filha, residentes no bairro do Golfe. Em 20 de Abril passado, visitou primeiro os pais, dirigindo-se depois ao Golfe, em companhia do amigo Inácio Fernando Romão, ao encontro da esposa e da filha, junto de quem jantou.
Os pais e irmãos contactaram com Kabila pela última vez depois do jantar, quando este telefonou ao irmão (Guilherme Pedro Samuel “Gui”) para saber da veracidade de uma mensagem que entretanto recebera de fonte não especificada. Segundo essa falsa mensagem, o irmão Matondo, de 18 anos, fora capturado. A família explica que, tal como tem acontecido com outros jovens por todo o bairro, o adolescente “está a ser procurado pela DNIC [SIC], para ser abatido”. Em 2014, Matondo estivera detido duas vezes, num total de seis dias, por suspeita de furto.
Por volta das 4h00, uma vendedeira de pão viu dois corpos a serem despejados de uma viatura minivan JinBei (pintada de azul e branco) por dois indivíduos. Os corpos foram atirados na lama, num beco ao lado de uma padaria, no desvio de Malueca. A vendedeira alertou a vizinhança.
A família de Kabila acorreu ao local e deparou-se com o seu cadáver e o de Inácio, identificando sinais de que tinham estado amarrados e haviam sido torturados. Gui notou que o seu irmão Kabila tinha sido injectado com um líquido no braço esquerdo, que provocara bolhas na pele.
De acordo com a mãe de Kabila, Eva Paulina, um dos três investigadores do SIC presentes no local informou-a apenas de que os defuntos “são gatunos e mereceram morrer”.
Por sua vez, o pai de Inácio, Fernando Romão, conta que os três investigadores lhe pediram que os acompanhasse até ao quintal da padaria, para anotarem os dados de identificação do seu filho e da família. “Um deles tirou a mochila das costas, tirou de lá um caderno de apontamentos e tirou também fotografias. Mostrou-mas e disse-me: ‘Esses [jovens] são perigosos, um deles estava fugido, mas já está a ser procurado e faltam esses [para serem eliminados]’”.
“Vi também as fotografias do Inácio e do Kabila [enquanto vivos] e perguntei porquê”, prossegue Fernando Romão. “Eles responderam-me que eram da investigação criminal e perguntaram-me se eu queria julgá-los ou se eram eles quem tinha o direito e o poder de julgar.”
“Então, perguntei-lhes se tinham sido eles a matar o meu filho e o amigo Kabila. Responderam-me que eu estava a acusar a autoridade e estava estressado. Disseram-me que a polícia não mata. Prende e entrega ao Ministério Público”, acrescenta.
Fernando Romão viu dez fotos e afirma que “esses que faltam [para serem eliminados]” são oito.
“Então fiquei a saber que foram eles [elementos do SIC] que mataram o meu filho e o seu amigo. Entreguei-lhe os dados que me pediram, meteram o caderno e as fotografias na mochila e saímos do quintal”, conclui.
Conceição Pedro Samuel, irmã de Kabila, sublinha que três agentes do SIC, afectos à Esquadra do Alfa-5, foram depois a casa da namorada do irmão mais novo de Kabila (Luís Pedro Samuel “Matondo”), informando-a de que “já matámos o teu cunhado, só falta o teu namorado”.
Dois dias mais tarde, quando foram à morgue para levantar os cadáveres e realizar o funeral, os familiares passaram por novo episódio envolvendo o SIC. Conceição Pedro Samuel recorda a troca de palavras que tiveram com o médico legista porque o SIC havia registado no seu relatório de remoção de cadáveres que os jovens foram mortos a tiro. O médico exigia dos familiares explicações sobre aquela inverdade oficial.
Por sua vez, “os homens do SIC, lá na morgue, perguntaram de que é que o meu filho morreu? Respondi-lhes que quem sabia já estava morto [o filho] e que eu não tinha presenciado o homicídio. Então, insistiram que eu, como pai, sabia por que o meu filho morreu”, relata Fernando Romão.
Os investigadores informaram ainda o pai de Inácio sobre o conteúdo do relatório que traziam consigo, no qual o filho e o amigo eram descritos como delinquentes.
Antecedentes e roubo policial
Por ter defendido que o filho era bem-educado e “limpo” enquanto cidadão, os agentes acusaram Fernando Romão de irrealismo. O pai explica que Inácio esteve de facto detido durante um ano (foi libertado em Junho de 2016), por suspeita de furto, mas que o suposto crime nunca foi devidamente explicado à família nem esclarecido perante ninguém.
“Um dia, a polícia e a DNIC [SIC] apareceram-me aqui em casa com o meu filho algemado e bem torturado, todo ensanguentado. Nem sequer conseguia abrir os olhos, de tão inflamados que estavam. Perguntei-lhes qual era o crime e disseram-me que ele foi apanhado a fazer um assalto mas não podiam revelar mais nada, porque era segredo de justiça. Fiquei sem saber o que tinha sido assaltado”, recorda. E acrescenta que o seu filho foi indicado por um desconhecido que havia sido bastante torturado e obrigado a indicar alguém.
Conceição Pedro Samuel, irmã de Kabila, conta ter sido detida nesse mesmo dia pelos mesmos agentes do SIC, às 4h00 da madrugada, sem contudo se lembrar da data: “Eu estava em casa havia dois dias, depois de ter passado três semanas no Hospital do Cajueiro, onde o meu filho de sete meses esteve internado. O Inácio, depois de levar tanta porrada que lhe abriram a cabeça, deu o nome do meu irmão Kabila. Como não o encontraram, deram-me bofetadas e levaram-me a mim e ao meu bebé.”
“Levaram-me a casa da minha irmã, onde os polícias roubaram o plasma [televisor], a botija de gás e o computador do cunhado dela. Ficaram a girar comigo o dia todo, passei também pela Divisão do Rangel e depois abandonaram-me distante de casa”, acrescenta Conceição Pedro Samuel.
Já na Divisão do Rangel, onde o Inácio havia sido torturado, os agentes solicitaram ao pai que comprasse medicamentos para salvar a vida do filho, que entretanto perdera os movimentos nas mãos devido à tortura. “Arranjei o enfermeiro que o observou e, durante quinze dias, fui à esquadra todos os dias para lhe fazer massagens até ele recuperar os movimentos. Depois de ele melhorar, foi julgado e condenado.”
“Perguntei ao juiz por que o condenou a um ano de prisão? Não havia provas, testemunhas, nem mesmo a polícia que o prendeu. No MPLA não há nada disso, provas. Isso era no tempo colonial”, lamenta.
Entretanto, entre 2015 e 2016, Kabila passou mais de um ano em prisão preventiva, na Comarca de Viana. Na altura, segundo a família, foi detido por um colaborador do SIC (ligado às Esquadras do Bom Pastor, Alfa-5 e Asa Branca). “Esse Francisco [o referido colaborador] queria a motorizada do meu irmão, que estava devidamente legalizada, e passou a usá-la como sua”, denuncia a irmã.
“O meu irmão foi condenado pelo Tribunal Municipal de Cacuaco sem que tivesse aparecido um único queixoso, nem mesmo a polícia a informar sobre o crime que ele tinha cometido. Obrigaram-nos a pagar 150 mil kwanzas de caução e mais 30 mil kwanzas ao homem que o foi tirar da cela”, prossegue.

sexta-feira, 28 de abril de 2017

NOVA PALHAÇADA. DITADURA CENSURA MÚSICAS E POEMAS


nos-15

A Administração Geral Tributária (AGT), do Ministério das Finanças, procedeu a uma audiência bizarra, com “julgamento ad-hoc”, para justificar a apreensão de 881 CDs de música e poesia falada, provenientes de Portugal.

Por Rafael Marques de Morais (*)
Segundo o auto de apreensão a que o Maka Angola teve acesso, a AGT considera subversivo o conteúdo dos CDs.
Com 23 faixas musicais e de poesia falada, o álbum “15+2+Nós” junta artistas angolanos, portugueses, moçambicanos e brasileiros, num tributo aos 15 activistas angolanos detidos em 2015, sob a repugnante acusação de preparação de golpe de Estado e tentativa de assassinato do presidente José Eduardo dos Santos.
A acusação foi promovida pessoal e publicamente pelo procurador-geral da República, general João Maria de Sousa. No banco dos réus, num julgamento considerado de “palhaçada”, sentaram-se também, em 2016, as activistas Laurinda Gouveia e Rosa Conde, que se encontravam em liberdade. Perante a falta de provas, o infame Januário Domingos condenou os 17 por “associação de malfeitores”.
“E assim vivemos trancados nessa masmorra infernal/ porque o poder executivo interfere no judicial/ resultado: inocentes encarcerados/ veredictos encomendados/ crimes omitidos/ e o povo vive trancado no próprio medo/ pagando com a própria vida a factura desses bandidos”, cantam os Fat Soldiers e Raf Tag, na terceira faixa do álbum, intitulada “Angola vai mal”.
“Tratando-se de mercadoria proibida conforme o artigo 53º quadro 1/18 das Instruções Preliminares da Pauta, Decreto-Lei n.º 1/14, de 30 de Janeiro, foi a mesma apreendida”, lê-se no auto de apreensão assinado pelo actuante Miguel Manuel Domingos, da Delegação Aduaneira das Encomendas Postais.
O auto, com data de 17 de Fevereiro de 2017, apenas foi agora dado a conhecer e entregue ao co-produtor do CD, Harvey Madiba, que passou dois meses às voltas, em vãs tentativas para desalfandegar a mercadoria.
De acordo com o analista jurídico do Maka Angola, Rui Verde, “o Auto de Apreensão é nulo, pois invoca uma norma legal que não existe. O Decreto-Lei n.º 1/14, de 30 de Janeiro, não existe no ordenamento jurídico angolano. Aliás, desde a entrada em vigor da Constituição que a figura do Decreto-Lei foi extinta”. Rui Verde nota que “apenas existem decretos-lei com data anterior a 2010. Nunca com data de 2014. Logo, em primeiro lugar, há uma inexistência formal”.
Em segundo lugar, “um esforço interpretativo permite-nos considerar como possível que o Auto de Apreensão se refere à Rectificação n.º 1/14, publicada no Diário da República de 30 de Janeiro de 2014, que é feita pelo presidente da República ao Decreto Legislativo Presidencial n.º 10/13, de 22 de Novembro. “Nessa rectificação, encontram-se umas ‘Instruções Preliminares da Pauta Aduaneira’ e um artigo 53.º que proíbe a importação de artigos mencionados num Quadro I. Nesse Quadro I existe um n.º 18 que se refere a “Material de propaganda subversiva, por exemplo: livros, DVD e CD contendo música, imagens ou outras informações que incitem a violência, distúrbios, agitação social, etc.”, refere o jurista.
O co-produtor executivo do álbum, Harvey Madiba, conta que, antes de receber o Auto de Apreensão, o chefe da Delegação Aduaneira da Alfândega no Terminal de Cargas, Anlide Lufuangula, lhes “deu a conhecer que a mercadoria está apreendida, por conteúdo subversivo que representa riscos para o Estado angolano”.
De acordo com o produtor, Anlide Lufuangula examinou o conteúdo “subversivo” no seu gabinete, tendo ouvido três faixas do álbum. Estavam presentes, para além de Harvey Madiba e do activista Jang Nómada, que o acompanhava, o comandante da Polícia Fiscal, destacado no local, identificado apenas como comandante Sapalo, duas juristas por si convocadas mas “que se recusaram a ser identificadas”, e um funcionário da AGT identificado apenas como Segunda.
“Dissemos que isso era um julgamento contra as liberdades de expressão e de criação e que estávamos em desvantagem porque eles tinham ali as juristas”, nota o representante dos músicos.
Em declarações ao Maka Angola, o delegado da AGT confirma que “nós ouvimos as músicas em conjuntos e ficámos esclarecidos”. Anlide Lufuangula adianta que, em caso de dúvidas, os activistas “podem apresentar recurso”. Quanto à aplicação de um decreto-lei inexistente para fundamentar a apreensão dos CDs, e sobre o “carácter subversivo” das músicas, o delegado afirma que qualquer informação adicional deverá ser solicitada por escrito.
“Nos iludiram com a teoria de que a água não tem cor, cheiro nem sabor/ Quanto à cor vai à torneira lá de casa e verás a existência da cor/ e com uma variação de bairro para bairro/ pois ela vem vestida em 40 tons de múkua/ mas levantámos as mãos a dizer que está tudo bem (…)”, reclama Pedro Bélgio , no seu poema falado “40 Tons de Múkua”.
“O senhor Anlide Lufuangula e o seu colega queriam que nós explicássemos o que significa ‘40 Tons de Múkua’, porque eles acham que o título tem uma mensagem codificada de subversão”, revela Harvey Madiba. A múcua, ou múkua, é a fruta do imbondeiro.
De seguida, o censor da AGT procedeu à examinação da segunda prova do “crime”, a faixa “Já chega”, de Mac D. “Governantes gatunos, já chega/ assassinatos, já chega/ falta de emprego, já chega/ vossa riqueza ilícita, chega”, canta Mac D.
“Sinceramente, a nossa juventude sofre mais/ não finjam que não sabem do que a gente é capaz/ não finjam mesmo/quando a hora chegar/ quando as cabeças estiverem levantadas e os punhos no ar / quando quebrarmos os grilhões / aí entenderão”, vaticina o rapper Mac D.
Harvey Madiba explica que o delegado da AGT — feito juiz em tribunal ad-hoc — lhe perguntou se havia ditadura em Angola. “Eu respondi que o comportamento do chefe da AGT é um exemplo da ditadura que se vive neste país”, conta.
Finalmente, ouviu-se a faixa “Angola vai mal”, dos Fat Soldiers e Raf Tag, a terceira a passar pela censura de Anlide Lufuangula.
“Nos ministérios ocorre um mistério evidente/ o dinheiro desaparece assim misteriosamente/ e tudo é orquestrado por um dinossauro/ que tem a filha sortuda com galinhas de ovos de ouro”, cantam os rappers.
“O Sr. Lufuangula perguntou-nos se achávamos ético chamar o presidente de dinossauro. Nós dissemos que o dinossauro é um animal pré-histórico, com muito poder. Também explicámos que a filha é a nossa irmã Isabel, que ficou rica a vender ovos, como ela própria afirmou numa entrevista”, recorda Harvey Madiba.
Segundo os activistas, após a sessão ad-hoc de censura, Anlide Lufuangula deu como comprovado o “carácter subversivo” dos conteúdos musicais, aconselhou os jovens a terem mais calma e “pediu-nos para não falarmos à imprensa sobre o sucedido”.
Rui Verde enfatiza que “os CDs só poderiam ser apreendidos se os rappers incitassem efectivamente à violência ou a distúrbios. Não se podem apreender CDs por conterem músicas críticas ao presidente e à governação. A Constituição e a Lei não permitem tal. Nem mesmo a lei invocada pelas autoridades”.
Fazem parte do elenco de artistas angolanos MCK, o poeta falante Fridolim Kamolakamwe, Mona Dya Kidi, Kool Kleva, Kid MC, Dr. Romeu e Sanguinário. Do Brasil, contribuem DJ Preto, Pamelloza e Gog. De Moçambique, o álbum conta com um total de dez artistas, incluindo Milton Gulli, Ângelo Comé e Bruno Huca, que interpretam, em estilo marrabenta, a faixa “Angola ninguém te enrola”. De Portugal vem, em trova, o hino “Liberdade já”, pela voz de Joana Alegre e Bernardo Fesch.
“Depois do encontro com o chefe da AGT, dois agentes da Polícia Nacional, fardados, levaram-nos para um canto, mesmo lá no Terminal de Cargas, para sermos revistados. Queriam revistar-nos a nu. Irritámo-nos, e só depois o comandante ordenou o cancelamento da revista a nu.”
(*) Maka Angola
Título: Folha 8

LUANDA: Nova Radio Folha 8-A Voz da Liberdade

A VOZ DA LIBERDADE


radiof8

Ainda em fase experimental, a Rádio Folha 8 aí está a dar o seu contributo para que Angola venha a ser uma Democracia e um Estado de Direito. Sob o lema “A voz da liberdade e da democracia”, pode ser escuta em radiof8.net.


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LUANDA: Manipulação da Imprensa Estatal a Favor do MPLA

MANIPULAÇÃO DA IMPRENSA ESTATAL A FAVOR DO MPLA


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Um grupo de cidadãos angolanos anunciou a interposição de uma acção popular junto do Tribunal de Luanda, contra a comunicação social pública, denunciando o “favorecimento” ao MPLA, partido no poder em Angola, “em detrimento dos outros partidos”.

Aacção tem como pano de fundo a cobertura noticiosa das acções partidárias no âmbito da pré-campanha para as eleições gerais de Agosto, foi remetida ao Tribunal Provincial de Luanda no dia 20 de Abril e visa sobretudo a Televisão Pública de Angola (TPA), a Rádio Nacional de Angola (RNA) e o Jornal de Angola.
Uma das integrantes deste grupo, Albertina Navemba, afirmou que os referidos órgãos “enveredaram por uma postura que vicia completamente o processo eleitoral”.
“Porque em primeiro lugar estão a desrespeitar aquilo que está estipulado na Constituição, no artigo 17.º, no que toca ao tratamento imparcial pela imprensa pública dos partidos políticos bem como do próprio artigo da lei dos partidos políticos, no artigo 7.º, em que os órgãos públicos de comunicação social devem tratar de forma igual todos os atores políticos”, apontou.
Para Albertina Navemba, o tratamento “diferenciado” que a TPA, RNA e o Jornal de Angola dão aos partidos políticos na oposição, “favorecendo” o MPLA, “configura-se num desrespeito a lei” por serem “património público e de contribuição dos cidadãos angolanos”.
Os mesmos argumentos têm sido utilizados nas últimas semanas pelos partidos da oposição, que contestam nomeadamente a cobertura às acções do vice-presidente do MPLA e cabeça-de-lista às eleições gerais de 23 de Agosto.
“Não é o MPLA nem muito menos o seu candidato que os sustenta. Eles devem algum respeito aos cidadãos angolanos, devem respeito à Constituição da República e é neste sentido que, juntando, então algumas provas fundamentais que nortearam a sua postura em termos de tempo de antena para favorecer o partido no poder, decidimos mover esta acção”, explicou Albertina Navemba.
A acção, disse ainda, foi assinada por vários cidadãos anónimos e figuras conhecidas da sociedade angolana, entre elas deputados à Assembleia Nacional que anseiam por “independência do tribunal” no tratamento do caso.
“Pensamos que numa altura crucial do processo eleitoral, numa altura em Angola dá sinais de transição e mudança precisamos é de ter órgãos que se destaquem e que se afastem um bocadinho das decisões das ordens superiores e de algumas mãos inviáveis”, sustentou.
Segundo Albertina Navemba, a responsabilidade “não deve ser imputada aos jornalistas nem muito menos a algumas direcções”, mas sim a quem “governa Angola”.
“O Presidente da República vai sair e pensamos que ele deve sim tomar algumas posições em termos de dar liberdade aos tribunais para tratarem dos casos que são remetidos aos tribunais”, concluiu.

LUANDA: Sem O Fundo Monetário Internacional Mas com o... FMI

SEM O FMI MAS COM O… FMI


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O recurso a financiamento do Fundo Monetário Internacional (FMI) “não faz parte da agenda” de Angola, garante o ministro das Finanças, Archer Mangueira (foto). “Não faz parte da nossa agenda. O nosso plano de endividamento foi aprovado, divulgado e é público”, disse o ministro. Até Março, Angola já tinha angariado 1.000 milhões de euros em dívida pública emitida em 2017, com juros de 24% a um ano.

Recorrer a financiamento do FMI permitiria ter acesso a taxas de juro mais baixas, mas implicaria um maior controlo do organismo internacional sobre as contas do país.
Archer Mangueira esteve em Washington para participar nas reuniões de primavera do FMI e do Banco Mundial e teve encontros com vários investidores internacionais.
“Estamos a tratar da execução desse plano [de endividamento], que ainda prevê a captação de recursos externos acima de 2,8 mil milhões de dólares para fazer face aos projectos de investimento que temos em 2017. Está a correr muito bem”, disse.
Angola enfrenta desde finais de 2014 uma crise financeira e económica, com a forte quebra das receitas com a exportação de petróleo devido à redução da cotação internacional do barril de crude, tendo em curso várias medidas de austeridade.
Archer Mangueira acordou com o FMI e com o Banco Mundial um alargamento da assistência técnica ao país. “Recorremos à sua assistência técnica para um conjunto de domínios em que reconhecemos necessitar de reforçar as nossas capacidades técnicas e de desenho de políticas”, explicou o ministro, dando como exemplo a colaboração com o Instituto Nacional de Estatística.

Trabalhar com bancos correspondentes

Angola espera levantar a suspensão de acordos com bancos estrangeiros para correspondentes bancários para compra de dólares ainda este ano, disse o ministro das Finanças de Angola, Archer Mangueira.
“Estamos a trabalhar nesse sentido. Já começa a haver um bom ambiente, mas todo esse processo passa por fortalecer as nossas instituições. Estamos a impor junto das instituições financeiras bancárias e não bancárias um conjunto de regras para que estejamos alinhados com as regras de boa governação definidas internacionalmente”, explicou o ministro.
A conjuntura de crise petrolífera levou a uma forte quebra na entrada de divisas no país e a limitações no acesso a moeda estrangeira aos balcões dos bancos, dificultando as importações.
Além disso, devido à suspensão de acordos com bancos estrangeiros para correspondentes bancários para compra de dólares desde 2016, a banca angolana apenas consegue comprar divisas ao Banco Nacional de Angola, no caso euros.
“Também temos apelado aos bancos e instituições que não devemos optar por uma política de exclusão para os países onde as instituições ainda têm alguma fragilidade própria do seu desenvolvimento. É um trabalho em curso, mas temos estado a ter um bom feedback”, disse o ministro.
“Ainda agora tive uma reunião com um banco de primeira linha que se predispôs a ajudar as instituições angolanas nesse sentido”, acrescentou o ministro.
O ministro também confirmou que o BNA vai eleger uma elite de cinco ou seis bancos comerciais, entre os 28 a operar em Angola, que ficarão com 80% das divisas que o banco central vai colocar no mercado primário, mas disse que se “está a fazer um bicho-de-sete-cabeças em relação a isso”.
“Hoje, as grandes operações comerciais estão concentradas em não mais de sete bancos, por várias razões. Os clientes desses bancos fazem operações nos bancos que eles escolhem, porque cumprem os requisitos que são impostos por esses bancos. O que temos estado a fazer num momento de escassez é um ajustamento na afectação de divisas aos bancos que já têm concentradas nas suas carteiras as maiores operações comerciais”, explicou o ministro.
Archer Mangueira garantiu que “o novo quadro tenta privilegiar uma maior transparência e menor discricionariedade na atribuição de divisas e uma observação de um conjunto de critérios objectivos que vão sustentar a racionalização da aceitação de divisa”.

PIB cresceu entre 0,1% e 0,6%

OProduto Interno Bruto (PIB) de Angola cresceu entre 0,1% e 0,6% no ano passado, disse também o ministro das Finanças, argumentando que quase não houve investimento público.
“Estivemos a discutir com o FMI a aferição desses números. Estamos no início do segundo trimestre, período em que esses dados são tornados definitivos, mas será entre 0,6 e 0,1%”, disse o ministro.
O responsável, disse ainda que o défice orçamental do último ano ficará entre os 3,6 e os 4%.
“É o número que se tem estado a encaixar entre as contas fiscais apuradas pelo tesouro nacional e pelo FMI, não há grande disparidade”, disse. O governante atribui o fraco crescimento à ausência de investimento público causada pela crise petrolífera.
“Entre 2014 e 2016, o país praticamente não realizou investimentos. A actividade produtiva paralisou. A economia petrolífera teve uma crise, não só devido ao preço [do barril de petróleo], mas também devido a problemas na sua produção, e Angola ainda tem uma economia muito dependente da sua economia petrolífera”, explicou Archer Mangueira.
O Governo angolano prevê, no entanto, uma acentuada subida do crescimento para este ano. O executivo prevê que a economia cresça 2,1% em 2017, apesar de o FMI prever um aumento de apenas 1,2%.
O ministro disse que “à medida que a situação no país foi melhorando houve uma maior sensibilidade dos mercados e uma maior captação de recursos de poupança externa para realizar investimentos” que explicam este crescimento.
“Há um conjunto de projectos que já estão em execução, desde o último trimestre de 2016, e que vão prosseguir em 2017. São investimentos bastante significativos, em termos nominais e reais, que vão impulsionar o desenvolvimento e justificar a avaliação do sector real da economia”, garantiu o ministro.
Segundo o responsável, os investimentos serão feitos no sector da energia, das águas, agricultura, estradas, e comunicações.

LUANDA: Presidente da República Aprova "Electricidade-Fantasma para Cabinda

PRESIDENTE APROVA “ELECTRICIDADE-FANTASMA” PARA CABINDA


Um banco, sem nenhuma agência além da sede, aloja no seu escritório uma empresa-fantasma. O presidente da República atribui a essa entidade-fantasma uma concessão para construir e operar uma Central Termoeléctrica, que deverá custar mais de 200 milhões de dólares.
Foi precisamente isto que aconteceu com o Decreto Presidencial n.º 25/17, de 17 de Fevereiro passado, através do qual José Eduardo dos Santos atribuiu à Vavita Power S.A. a concessão no regime de construção, operação e transmissão para instalação da Central Termoeléctrica BI-Combustível de 100 Megawatts, em Cabinda. A concessão é válida por 25 anos renováveis.
De acordo com o decreto presidencial, a energia futuramente produzida tem a garantia de compra através de um CAE (Contrato de Aquisição de Energia) pela RNT (Rede Nacional de Transporte) E.P.
Apesar de o decreto presidencial não especificar o valor do projecto, há termos comparativos. Por exemplo, a Rectificação n.º 7/15 ao Despacho Presidencial n.º 225/14, de 27 de Novembro, aprovou o projecto de emergência para “o aumento da capacidade de geração termoeléctrica de Malembo, em Cabinda, para 95 Megawatts, avaliado em 164 milhões de dólares. A central foi inaugurada em 2012, com um custo de 91.8 milhões euros (equivalente a 98.5 milhões de dólares ao câmbio actual) e uma capacidade de produção de 35 Megawatts, em cada uma das duas turbinas com um sistema duplo (diesel e gás)”. Portanto, em cinco anos, para produzir 95 Megawatts, em Malembo, o governo já gastou mais de 262.5 milhões de dólares.
Onde está o gato?
Primeiro, o que é a Vavita Power S.A.? Esta sociedade anónima foi estabelecida a 24 de Setembro de 2015, tendo como objecto social “a prestação de serviços de gestão e consultoria, estudos de mercado, promoção imobiliária, compra e venda de imóveis”. Nada no seu objecto social indicava qualquer apetência específica pela electricidade ou construção de centrais térmicas.
Entretanto, pouco mais de um ano após a sua constituição e sem qualquer registo de actividade que seja do conhecimento público, a Vavita procedeu à alteração do seu objecto social. Na segunda escritura, lavrada a 5 de Dezembro de 2016, a empresa passa a chamar-se Vavita Power [Electricidade] S.A. e introduz no seu objecto social a produção de electricidade e actividades conexas. Isto é, dois meses antes de ser emitido o Decreto Presidencial de Fevereiro de 2017, esta empresa, que nada tinha a ver com electricidade, passa a dedicar-se ao sector termoeléctrico.
Passados dois meses da alteração dos estatutos da empresa-fantasma, o presidente atribui-lhe a concessão da Central Termoeléctrica BI-Combustível de 100 Megawatts.
O gato escondido
O gato esconde-se no endereço da sede da empresa: Avenida Comandante Gika, n.º 150, em Luanda. Trata-se nem mais nem menos do que o endereço do Banco Kwanza Invest (BKI), criado por José Filomeno dos Santos, actual presidente do Fundo Soberano e filho do presidente da República. Actualmente, o sócio maioritário nominal do BKI, com 85 por cento do capital, é o seu sócio e mentor Jean-Claude Bastos de Morais.
Este mesmo endereço também serviu de sede para a Kijinga S.A., a empresa-fantasma usada em 2015 para desviar US$ 100 milhões de dólares do Fundo Soberano para uma conta domiciliada no BKI.
Através do escritório de advogados e de gestão de reputação de imagem Schillings, baseado em Inglaterra, Jean-Claude Bastos negou ter qualquer participação na Vavita Power S.A.
A 3 de Abril, a Schillings informou que, no presente momento, Jean-Claude Bastos de Morais não tem pessoalmente qualquer interesse ou participação nesta empresa, embora esteja ciente do projecto.
Mais tarde, a 13 de Abril, a Schillings, em nova resposta, declarou o seguinte: “Deixámos claro na nossa anterior carta que o nosso cliente não tem qualquer participação na Vavita Power S.A., nem directamente nem indirectamente.” Na mesma comunicação, acrescentam que, a existir, qualquer documento que comprove que Jean-Claude é sócio da Vavita é falso.
A 20 de Abril, depois de confrontada com a necessidade de fornecer uma prova cabal de que Jean-Claude não tinha qualquer interesse no capital da Vavita, a Schillings reiterou que o cliente não é accionista da Vavita Power S.A., acrescentando que, sendo o Maka Angola a alegar que Jean-Claude é accionista da Vavita, seria sua a tarefa de provar essa qualidade. Por uma questão de princípio, declararam então, Jean-Claude não tinha de provar o contrário.
Finalmente, a 23 de Abril, a Schillings fez saber: “Tivemos a oportunidade de receber instruções do nosso cliente [Jean-Claude Bastos de Morais] sobre a terceira questão do vosso e-mail de 7 de Abril de 2017, e confirmar que não há qualquer relação entre a Vavita e o Banco Kwanza Invest.”
Quem são os seis sócios nominais da Vavita Power S.A., e que ligações têm ao BKI, a Jean-Claude Bastos de Morais e a Cabinda?
1. Manuela Ganga, de nacionalidade suíça, é actualmente directora-geral da empresa suíça Uniqua Consulting Gmbh, que, com o universo de empresas de Jean-Claude Bastos de Morais, presta “consultoria” ao Fundo Soberano de Angola e, em 2014, recebeu 5.8 milhões de dólares pela “consultoria” nesse mesmo ano. Também é directora-geral da Fábrica de Sabão no Cazenga, em Luanda, um projecto social idealizado por Jean-Claude Bastos de Morais e apadrinhado pelo Fundo Soberano de Angola. Manuela Ganga foi também secretária do Conselho de Administração do Banco Kwanza Invest, funcionária da empresa Quantum Global e secretária pessoal de Jean-Claude Bastos de Morais. É companheira de Jean-Claude Bastos de Morais, com quem tem um filho.
2. Júlia Germana Bastos é prima directa de Jean-Claude Bastos de Morais e funcionária da Chevron, que opera em Cabinda.
3. Catarina Isabel Froufe Gomes da Costa, cidadã portuguesa, é a jurista colocada no chamado “family office” de Jean-Claude Bastos de Morais, que controla todos os seus negócios em Angola, e também funciona na Avenida Comandante Gika, n.º 150, a sede do Banco Kwanza Invest.
4. Gilberto de Jesus Cabral Pires é sócio de Jean-Claude Bastos de Morais e José Filomeno dos Santos na Benguela Development S.A., uma das beneficiárias do Fundo Soberano de Angola, dirigido pelo último sócio. O trio detém outras sociedades em conjunto.
5. Manuel Nunes Barata é assessor do secretário provincial do Ordenamento do Território, Urbanismo e Ambiente de Cabinda. É assessor para as Relações Institucioniais da Caioporto e membro da comissão de acompanhamento das obras do Porto de Caio, atribuída a Jean-Claude Bastos de Morais, como adiante se explica. Barata é tio de Jean-Claude Bastos de Morais.
6. Margarida Buca Quinta é amiga pessoal de Manuela Ganga e ex-funcionária do Banco Kwanza Invest.
Analisemos agora a argamassa que liga a estrutura accionista da Vavita Power S.A. a Jean-Claude Bastos de Morais. Três dos sócios nominais — Gilberto de Jesus Cabral Pires, Júlia Germana Bastos e Margarida Buca Quinta — são sócios de Jean-Claude Bastos de Morais na empresa Caioporto, onde formam o número mínimo necessário para constituir sociedade anónima, cada um com 0,025 por cento das acções. A outra sócia nominal da Caioporto, com 0,025 por cento, é a jurista Joana Filipe Lima da Silva Simplício de Oliveira, de nacionalidade portuguesa, que é praticamente a responsável pelas questões jurídicas do chamado “family office” de Jean-Claude Bastos de Morais, na sede do Banco Kwanza Invest e, por conseguinte, supervisora de Catarina Isabel Froufe Gomes da Costa.
E qual é a ligação entre o Caioporto e a Vavita? Primeiro, ambas foram criadas tendo como sede o mesmo endereço: Avenida Comandante Gika, n.º150, Luanda. Repetindo, é o mesmo endereço do Banco Kwanza Invest.
Segundo, o decreto presidencial é esclarecedor. Atribui a concessão de construção da termoeléctrica em função da entrada em funcionamento do Pólo Industrial de Fútila e do Porto de Caio, que o presidente prevê para 2017. E o projecto é aprovado “tendo em conta a imperiosidade de um aumento da capacidade de produção e oferta de energia eléctrica à província de Cabinda”.
É a Jean-Claude Bastos de Morais que o presidente José Eduardo dos Santos atribuiu também, em 2012, a construção e concessão, por 60 anos, de um porto de águas profundas em Cabinda. Através da empresa-fantasma Caioporto S.A., detida por si em 99.9 por cento, Jean-Claude Bastos de Morais obteve a concessão, com a promessa de que o futuro investimento seria totalmente privado.
Em Dezembro passado, José Eduardo dos Santos deu cobertura à incapacidade da Caioporto S.A. através do Decreto Presidencial n.º 238/16, segundo o qual o Estado passou a ser o financiador da construção do porto. Basicamente, o Estado assumiu o investimento de 85 por cento dos US$ 831 milhões, através da sua inclusão numa linha de crédito concedida pela China.
Como é possível Jean-Claude Bastos de Morais nada ter a ver, directa ou indirectamente, com a Vavita?
O presidente é a lei!
O decreto presidencial indica claramente que a adjudicação da obra e concessão de gestão da central termoeléctrica em Cabinda não obedeceu a qualquer concurso público.

Vista panorâmica da cidade de Cabinda.
Qualquer contratação efectuada pelo Estado está sujeita à Lei da Contratação Pública. “Essa lei estabelece que a contratação pública, designadamente as concessões, está sujeita a procedimentos formais com vista a assegurar a transparência, igualdade e concorrência nas ofertas, e assim melhorar a procura do interesse público”, refere o analista jurídico Rui Verde.
Entretanto, a Schillings esclarece que o seu cliente “acredita que todos os procedimentos legais foram cumpridos e não tem conhecimento de qualquer irregularidade”. Afirma também que Jean-Claude Bastos de Morais acredita que a Vavita “tem toda a competência e capacidade para executar as tarefas com que se confronta”.
Por sua vez, Rui Verde reitera que “o decreto presidencial pura e simplesmente ignora a Lei da Contratação Pública. Desse modo, a concessão é ilegal”.
De acordo com o jurista, a Lei da Contratação Pública reconhece a aplicação de leis especiais em casos como o da electricidade.
No seu decreto, José Eduardo dos Santos recorre à Lei Geral da Electricidade. No artigo 18.º n.º 2, a referida lei determina que “a adjudicação das concessões é precedida de concurso público ou concurso limitado por prévia qualificação, realizados nos termos da legislação aplicável”. Também esse articulado foi descartado pelo presidente.
Curiosamente, nota o jurista, “o próprio decreto presidencial menciona o artigo 18.º, n.º 1”. Segundo esse artigo: “a aprovação das concessões, bem como a sua atribuição são da competência do Titular do Poder Executivo“.
“Dá vontade de rir. O decreto menciona a primeira parte do artigo e ‘esquece-se’ da segunda parte. Sim, o presidente tem o poder de aprovar as concessões, mas a sua adjudicação tem de obedecer a um concurso público. A lei é muito clara”, afirma Rui Verde.
A intricada teia de interesses comerciais tecida pelo presidente, a sua família, amigos e parceiros de negócios destina-se, especificamente, a encobrir os verdadeiros proprietários das empresas envolvidas no saque desenfreado de Angola. É só juntar as pontas soltas.