terça-feira, 1 de abril de 2014

LUANDA: Lopo do Nascimento diz que o país não tem sector privado como se diz

Lopo do Nascimento diz que o país não tem “sector privado como se diz”

Fonte: O País
Divulgação: Planalto De Malanje Rio Capôpa
01.04.2014
    Lopo do Nascimento diz que o país não tem “sector privado como se diz”
O ex-primeiro-ministro da I República e ex-deputado do MPLA, Lopo do Nascimento, considerou em Luanda que o país não conta com um sector privado como se diz. Lopo do Nascimento fez esta afirmação quando intervinha no workshop ’Agenda de Desenvolvimento de Infra-estruturas de Angola: como o Banco Africano de Desenvolvimento pode ser determinante na transformação de Angola’, evento co-organizado pelo BAD com o apoio do Ministério das Finanças.
Lopo do Nascimento, que falava na qualidade de empresário convidado, confrontou o representante deste banco africano, Sptime Martin, com o desafio do investimento no capital humano a par da boa execução dos programas.
‘Seria fundamental que este aumento da taxa de execução, e da boa execução, fosse feito e que também fosse introduzida a necessidade de investimento no capital humano’, disse, adiantando que ‘o BAD deve participar no investimento do capital humano porque sem capital humano a gente pode fazer tudo mas as coisas não ficam nas nossas mãos, ficam nas mãos dos outros e o BAD, como é um banco africano, deve fazer com que em África fique alguma coisa’.
O empresário chamou ainda a atenção para a entrada do capital privado, embora entenda que ‘é preciso ter um pouco mais de comedimento nesta questão da entrada dos privados, porque é evidente que o BAD, como um banco continental, tem as suas regras que são gerais para todos, mas é preciso olhar para o pais onde se está’. ‘Aqui fala-se muito em privado, privado, mas o privado em Angola começou a ser falado em 1990, e começou a ser executado praticamente depois de 2002. Então, se vocês como BAD pedem a participação dos privados, eu tenho uma empresa, criei há pouco tempo, evidentemente não posso ser pré-seleccionado. Por quê? Porque antes não era possível criar essa empresa’, referiu. Lopo do Nascimento citou como exemplo o facto de a sua família ter criado uma empresa, em 1919, a qual com o Estado Novo foi encerrada, contribuindo para que hoje não tenha uma família de empresários. ‘Vou lhes dar um exemplo: a minha família criou uma empresa em 1919, no tempo colonial, que produzia e exportava café. Quando veio o Estado Novo, em 1920, a empresa foi encerrada porque os negros não podiam ter empresas. Se aquela empresa não tivesse sido encerrada, hoje nós eramos uma família de empresários. Mas não foi assim. A história do país não é esta’, referiu.
Nascimento criticou os critérios do BAD relativos aos anos que os empresários têm de ter para conseguir acesso aos financiamentos, o que, na sua óptica, não contribui para que os angolanos tenham alguma coisa. ‘Estão a vir com critérios de que o empresário tem que ter tantos anos, se o senhor pedir a um empresário angolano que participe, que tenha uma empresa com mais de 10 anos de trabalho, não vai encontrar empresas nessas condições. O Estado vai pagar, vai ter a obra, mas os angolanos não vão beneficiar de nada’, disse.
Estabilidade dos países
Para Lopo do Nascimento, a estabilidade dos países resulta da situação dos seus habitantes e não de critérios como o PIB. ‘A estabilidade dos países resulta da situação dos seus habitantes. Não é de critérios de PIB. É a situação dos habitantes que torna os Estados estáveis ou não estáveis, porque se as pessoas não tiverem nada a perder ou a ganhar o país não é estável’, adiantou. Precisou que um país só é estável quando as pessoas têm algo a perder, ‘quando dizem eu vou perder e o meu filho não vai à escola, eu não vou ter o meu emprego. Agora, se o meu filho não vai à escola, não vou ter emprego, não tenho rendimento para ele, não há estabilidaede. Pode haver o PIB que se quiser e eu acho que é preciso que nós, os paises africanos, comecemos a ter uma nova visão das coisas e é preciso que o BAD veja bem esta questão dos privados em Angola, porque não há. Vamos ser excluídos. E quando as pessoas se sentem excluídas não estão para garantir estabilidade nenhuma’.
Lopo do Nascimento colocou estas e outras questões à mesa, numa sessão em que estiveram presentes os ministros das Finanças, Armando Manuel, e João Baptista Borges, da Energia e Águas.
IMPRENSA RETIRADA DA SALA
Diante da evidência e frontalidade de alguns recados de Lopo do Nascimento, um caso insólito e até mesmo incompreensível, foi notado com a atitude do assessor de imprensa do Ministério das Finanças, o também jornalista da Radio Nacional de Angola (RNA), Amílcar Xavier, que num tom menos cortes impediu os jornalistas presentes na sala de continuarem a realizar o seu trabalho, principalmente o repórter do semanário OPAIS, quando o ex-deputado do MPLA intervinha.
Amílcar Xavier alegou que, por orientação do ministro das Finanças, os jornalistas não deviam permanecer na sala. “ O ministro disse que nesta parte a imprensa não podia estar. Compreenda o meu trabalho, estou como assessor”, indicou, atitude esta que indignou alguns presentes que presenciaram a cena e principal- mente o jornalista visado.
O PAIS

LUANDA: Sonangol- Faltam encontrar 1.5 mil milhões de USD para acertar contas segundo FMI

Sonangol: Faltam encontrar 1,5 mil milhões USD para acertar contas segundo FMI

Fonte: Expansão
Divulgação: Planalto De malanje Rio Capôpa
01.04.2014
    Sonangol: Faltam encontrar 1,5 mil milhões USD para acertar contas segundo FMI

O FMI diz que o grupo de trabalho encarregado de encontrar 3,14 biliões Kz nas contas orçamentais entre 2007 e 2010 já apurou 95% do montante, ou seja, faltam 150 mil milhões Kz ou 1,5 mil milhões USD.
O grupo de trabalho técnico encarregado de estudar o "mistério" dos 31,4 mil milhões USD (cerca de 3,14 biliões Kz) "desaparecidos" das contas orçamentais no período 2007-2010 já identificou mais de 95% dos valores em causa, o que significa que falta apurar o "paradeiro" de apenas 1,5 mil milhões USD, revela o relatório do FMI referente à segunda monitorização pós-programa.
Os 31,4 mil milhões USD representam, basicamente, uma discrepância entre a receita, a despesa e o financiamento externo registados pelo Ministério das Finanças e o financiamento interno ao Governo, com base em dados do banco central.
Perante a situação, no final de 2011, as autoridades iniciaram um processo para identificar as "grandes discrepâncias", sendo que os seus "esforços resultaram em revisões das contas que poderiam explicar a maior parte (mais de 95%) das discrepâncias" de 31,4 mil milhões USD, encontradas na quinta avaliação ao acordo Stand By no âmbito do qual o FMI concedeu um empréstimo de 1,4 mil milhões USD para ajuda à balança de pagamentos angolana.
O FMI explica que um relatório da reconciliação entre a Sonangol e o Estado, elaborado em Junho de 2012, indicava que a discrepância principalmente pelas operações parafiscais da Sonangol eram as receitas do petróleo transferidas para linhas de crédito externas, as despesas de capital por vários ministérios, subsídios à refinaria e até prestação de serviços para a frota aérea do Governo.
Neste momento, refere o documento, o processo de reconciliação para o período 2007-2010 está em curso, sendo que o grupo de trabalho liderado pelo Ministério das Finanças "está a verificar cada operação parafiscal da Sonangol" e que este processo "envolve uma longa verificação de facturas e contratos individuais, principalmente relacionados com a habitação (centralidades) e sector industrial.
O FMI adianta que a análise foi concluída pelo grupo de trabalho em 2013 e que "as autoridades se comprometeram a enviar um rascunho do relatório de reconciliação, quando concluído".
Para evitar novas discrepâncias, o FMI aconselha as autoridades angolanas a fazer as transferências das receitas de petróleo da Sonangol para o Estado de uma forma célere e completa. Uma necessidade que se torna cada vez mais urgente face à "acentuada deterioração do saldo orçamental e riscos para a receita não petrolífera" nos próximos anos.
O FMI diz mesmo que as transferências atempadas e completas das receitas petrolíferas da Sonangol para o Estado "são fundamentais" e aconselha a implementação de uma contabilidade e relatórios separados relativos às receitas e balanços para a concessionária "por forma a promover a transparência e a responsabilidade pela prestação de contas".
Este método poderia passar, segundo o relatório, por um sistema de reembolso das despesas da concessionária baseado nos custo incorridos, de forma a reduzir a perda de recursos orçamentais. A organização internacional congratula-se por as autoridades angolanas terem dado "um passo na direcção certa em 2013 por terem reduzido o reembolso automático das concessionárias à Sonangol para 7% das receitas de cada concessionária quando em 2012 eram de 10%".
Em Março de 2011 foi criado um grupo de trabalho de alto nível, através do Decreto Presidencial 58/11, para conciliar, numa base mensal, as transferências de receitas do petróleo para o Tesouro. O grupo - formado pelo Ministério das Finanças, Ministério do Petróleo, Banco Nacional de Angola e Sonangol - refere uma diferença nos relatórios de 2011, 2012 e de Janeiro a Junho do ano passado entre a receita de petróleo a que o Estado tem direito e o valor efectivamente depositado.
António José Gouveia
Expansao

segunda-feira, 31 de março de 2014

PARIS: Pela primeira vez paris será presidida por uma mulher, a socialista Anne Hidalgo

Paris presidida pela primeira mulher: Anne Hidalgo

A capital francesa elegeu a sua primeira presidente municipal, a socialista Anne Hidalgo, apesar dos socialistas do presidente François Hollande terem sido vitimados nas urnas na segunda volta das eleições municipais deste fim-de-semana.

Fonte: VOA
Divulgação: Planalto De Malanje Rio Capôpa
01.04.2014
Anne Hidalgo,sorri ao ser anunciado que ganhara no domingo a Camara de Paris
Anne Hidalgo,sorri ao ser anunciado que ganhara no domingo a Camara de Paris
TAMANHO DAS LETRAS 

Sempre se esperou uma campanha renhida entre as duas rivais à presidência de Paris - Anne Hidalgo, socialista nascida em Espanha, e a sua opositora, Nathalie Kosciusko-Morizet, de centro-direita.

Apesar dos seus pergaminhos terem sido questionados, por não ter raízes parisienses e ser de origem humilde, no final os eleitores da capital francesa colocaram de lado o snobismo e elegeram Anne Hidalgo, uma socialista de 54 anos, para a Câmara de Paris, isto num dia em que os socialistas sofreram pesadas  baixas nas urnas devido a fraca popularidade do presidente François Hollande.

Hidalgo é descrita como uma socialista feminista da velha escola e passou 13 anos como vice-presidente camarária do actual presidente da edilidade.

A sua imagem de aparatchick parecia ser uma desvantagem para ela, mas a sua atitude séria e as promessas de impulsionar a habitação social e assistência infantil no centro da cidade podem ter decidido a balança a seu favor em tempos de dificuldades económicas.

Nascida perto de Cadiz, no sudoeste espanhol, em 1959, Hidalgo foi para franca em pequena e cresceu num subúrbio operário de Lyon.

Em casa falava em espanhol com os pais, e em francês com a irmã. Aos 14 anos tornou-se cidadã francesa e adoptou um Ana à francesa, Anne.

Trabalhou como inspectora e tornou-se depois conselheira do antigo Ministro do Trabalho Martine Aubry, o homem que arquitectou a semana laboral de 35 horas.
Entra no partido Socialista já na casa dos 30, quando Lionel Jospin dirigia o partido.
Com a eleição de Hollande, o nome de Hidalgo chegou a ser mencionado para um cargo ministerial, mas ela optou por permanecer na câmara municipal de Paris e esperar a sua oportunidade.

A sua rival relacionou-a com os imigrantes da península Ibérica, que se tornavam porteiros em edifícios da capital. Hidalgo contra-atacou e descreveu Kosciusko-Morizet como parte da casta privilegiada sem ligação ao mundo real.

A candidata de centro-direita favorecia a eliminação de postos de trabalho municipais e usar o dinheiro em investimentos turísticos no centro de Paris.

Hidalgo por seu lado foi eleita com a promessa de maior investimento na habitação, transporte e espaços verdes, para inverter a tendência da classe media e operária de viver nos subúrbios de Paris.

sábado, 29 de março de 2014

LUANDA: Angola poderá intervir no Congo, diz George Chicoty

Angola pode intervir no Congo, diz George Chikoty

Intervenção só se forças da ONU e congolesas forem incapazes de lidar com os rebelde
George Chikoty, Ministro das Relações Exteriores de Angola
George Chikoty, Ministro das Relações Exteriores de Angola

TAMANHO DAS LETRAS 
Fonte: VOA/Arão Ndipa
Divulgação: Planalto De Malanje Rio capôpa
O ministro angolano das Relações Exteriores, George Chikoty, admitiu esta semana a possibilidade das forças armadas angolanas intervirem no conflito vigente na região dos Grandes Lagos, caso os grupos rebeldes não cessem as hostilidades contra as populações.

Chikoty manifestou-se contudo convencido que as actuais forças internacionais ali estacionadas serão capazes de lidar com a situação notando que há já no Congo a força da MONUSCO e ainda uma brigada de intervenção com um mandato de combater activamente os rebeldes.

 “Se não for suficiente vai-se mobilizar mais tropas e se o compromisso implica todos os países que participam e se Angola participar então também terá que o fazer embora de momento isso não esteja implícito,” disse o ministro.

O chefe da diplomacia angolana falava á margem da cimeira dos Grandes Lagos realizada esta semana em Luanda e durante a qual o Presidente Eduardo dos Santos disse que se necessário força terá que ser usada para desmantelar os grupos rebeldes que actuam na Republica Democrática do Congo e que o presidente angolano disse serem uma força de desestabilização da região”.

Dos Santos que  falava em Luanda, na qualidade de presidente interino da Conferência Internacional para os Grandes Lagos, exortou os rebeldes congoleses a abraçarem a via pacífica para a solução das diferenças políticas que os opõe ao Governo legítimo da RDC.

José  Eduardo dos Santos admitiu, no entanto, uso da força militar contra os rebeldes, “se necessário”, sob o argumento de que a situação actual está a ameaçar a estabilidade da região.

“Não podemos permitir que grupos rebeldes ponham em causa a estabilidade dos governos legítimos”, disse.

Para nos falar sobre o assunto, ouvimos não só George Chicoty, ministro das relações exteriores, como também Emílio Guerra, embaixador de Angola na RDC e Victor Aleixo, analista político.

MAPUTO: Simango cr´tica poderes da presidência

Maputo: Simango critica poderes da presidência

Líder do Movimento Democrático de Moçambique deverá ser nomeado candidato à presidencia pelo seu partido
Fonte VOA
Divulgação: Planalto De Malanje Rio Capôpa
30.03.2014
Davis Simango,  líder do MDM
Davis Simango, líder do MDM

TAMANHO DAS LETRAS
 

 O Presidente da Câmara da Beira e do Movimento Democrático de Moçambique  e provável candidato à presidência, Daviz Simango  condenou a concentração de poderes na presidência da republica afirmando que isso contribui para a corrupção e miséria.

Simango falava no Conselho Nacional do seu partido em Chimoio na província central da Manica que deverá escolher o seu candidato às eleições presidenciais deste ano.

Simango, é para já o único pré-candidato às eleições presidenciais de 15 de outubro pelo partido, disse hoje fonte da terceira força parlamentar.

O MDM, reunido hoje e domingo no II Conselho Nacional na cidade de Chimoio, Manica, centro de Moçambique, deverá nomear o seu candidato até Domingo, para disputar as eleições presidenciais de 15 de Outubro com Filipe Nyusi, da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), e provavelmente, Afonso Dlhakama, líder da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo).

Daviz Simango, 50 anos é filho de um fundador da Frelimo, Uria Simango (executado num campo de reeducação, após a independência).

Além da eleição do candidato às presidenciais de 15 de Outubro, o II Conselho Nacional do MDM vai discutir os relatórios do gabinete de eleições, sobre as autárquicas passadas, e da sua bancada na Assembleia da República, e também preparar as candidaturas aos 11 círculos eleitorais do país.

Simango, disse ao Conselho Nacional  que os entraves da administração do país para um desenvolvimento socioeconómico e político saudáveis, se devem à estrutura constitucional vigente, do regime presidencialista, que atribui amplos poderes ao Presidente da Republica (PR), deixando a massa "refém de um núcleo governativo".

O responsável disse que a governação em Moçambique tornou-se na "arte de engordar" poucos com a miséria de muitos, sustentando que a redução de poderes, que o MDM defende, pretende virar a "inoperância da política" que está a levar a população ao desespero, miséria, fome e morte.

Segundo Daviz Simango, o MDM preconiza a redução do poder do PR, implementando o princípio de limitação de mandatos dos poderes executivos, legislativos e judiciários, que inclui libertar os juízes e procuradores da interferência do poder político, além do ajustamento de algumas instituições.

O II Conselho Nacional do MDM deverá analisar e deliberar sobre importantes matérias, que incluem a nomeação do seu candidato presidencial, que serão a base de preparação plena, organizada, programada e prevenida nas próximas eleições gerais (presidenciais, legislativas e das assembleias provinciais).

 Recorde-se que nas municipais de 2013, o MDM aumentou de dois para quatro o número de autarquias sob sua gestão, incluindo três das principais cidades pais - Beira (Sofala), Quelimane (Zambézia) e Nampula.

CABUL: Uma historia de amor geradora de morte no Afaganistão

Uma história de amor e morte no Afeganistão
Fonte: MSN/Informação
Divulgação: Planalto De Malanje Rio capôpa
29.03.2014
Uma história de amor e morte no Afeganistão - 1 (© Mauricio Lima/The New York Times)
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Mohammad Zaman, cuja filha declarou publicamente seu amor a um homem de outra seita e agora está vivendo em um abrigo para mulheres por medo de que a família a mate, na sala de casa com os filhos, em Bamian, Afeganistão

sexta-feira, 28 de março de 2014

LUANDA: A "Incompreensível" nomeação de Kundi Paihama - Por Rafael Marques de Morais

A “Incompreensível” Nomeação de Kundi Paihama
Por Rafael Marques de Morais 
Fonte Maka Angola
Divulgação: Planalto De Malanje Rio Capôpa
27 de Março, 2014
Há dias, o presidente da República de Angola nomeou o general Kundi Paihama para o cargo de governador do Huambo, a segunda província de maior importância geo-estratégica do país.

Aos 70 anos, Kundi Paihama é uma das grandes figuras da velha guarda do regime. Nem o facto de se encontrar em idade de reforma, nem o seu historial de incompetência crónica e de envolvimento em negócios escusos demoveram José Eduardo dos Santos desta nomeação.

Perplexidade

O Huambo é a segunda província de maior importância em termos de estratégia geopolítica, a seguir à de Luanda. Concentra o maior grupo étnico-linguístico do país, os ovimbundu. Já os portugueses, no seu desespero por manter Angola como colónia, sonhavam em instalar ali a capital do império: a Nova Lisboa. Em 1975, a UNITA e a FNLA decidiram que ali se situaria a capital da “República Democrática de Angola”, afrontando a decisão unilateral de independência do MPLA, em Luanda.

Perante a relevância desta província, há três elementos que suscitam incredulidade face à escolha do presidente. Kundi Paihama está em idade de reforma, personifica a incompetência crónica e está envolvido em negócios escusos. Por essas três razões, esperava-se que o presidente passasse este dirigente veterano, que tem ocupado cargos políticos desde 1976, à reforma.

Em Agosto passado, em entrevista à Rádio LAC, Kundi Paihama afirmou: “O meu sonho é viver nas lavras, no campo, e dedicar-me à agricultura. Isso sim, um dia que sair do governo, é o que eu farei sem dúvidas.” Irá cuidar das lavras aos 80 ou 85 anos?

As resistências do Huambo e as contas do presidente

Cada vez mais, o governo tem de responder às expectativas de uma população mais jovem e exigente, sobretudo nos domínios da educação, do emprego e da habitação. Mas Kundi Paihama, em contrapartida, simboliza o monolitismo político e a governação dos anos 70 e 80. Não tem nem dinamismo, nem ferramentas intelectuais e técnicas para enfrentar os desafios actuais.

Do ponto de vista partidário, o presidente parece ter apostado em destruir a base de apoio do seu partido (MPLA) nessa região. Primeiro, manteve-a nos últimos dois anos praticamente sem governador, desde que o estado de saúde do então titular, Faustino Muteka, se deteriorou. A seguir, nomeou-lhe um outro dinossauro político.

Ao longo da sua carreira como dirigente político-partidário, o general Kundi Paihama conquistou, por mérito próprio, a reputação de um dos mais agressivos porta-vozes do MPLA na região centro-sul. Populista nato, construiu durante a guerra uma retórica discursiva anti-savimbista e contra a UNITA, com grandes resultados belicistas.

O presidente confiou-lhe a direcção da campanha eleitoral do MPLA nas eleições de 1992. A UNITA, apesar de ter realizado uma campanha desastrosa, ganhou folgadamente na região.

Em 2012, passados dez anos de paz, Paihama afirmou-se como o único dirigente do MPLA a manter um discurso marcadamente belicista. Chegou mesmo a ameaçar massacres para os que se opusessem ao MPLA ou o presidente. “Vão ser varridos”, disse Kundi Paihama no comício que presidiu a 4 de Agosto, no Estádio da Ombaka, em Benguela.

 
A disponibilidade de Kundi Paihama para a violência política pode ser o seu maior trunfo nas cogitações do presidente sobre os tempos que se avizinham. De outro modo, não se compreende a aposta nesta figura sinistra.

A onda de insatisfação das populações contra o MPLA, no Huambo, é extremamente elevada. Kundi Paihama parece ser a figura certa apenas para criar um ambiente de terror, que subjugue a população local.

Mas quem é afinal Kundi Paihama?

Como governante, Kundi Paihama revelou-se um incapaz. Sistematicamente, tem mascarado a sua incompetência com uma arrogância e atitudes musculadas inqualificáveis. Desde a independência, já serviu como ministro nos seguintes pelouros: Interior, Segurança de Estado, Esfera de Inspecção e Controlo Estatal, Defesa e Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria (este último exercido até à sua nomeação para governador). Ao longo da sua carreira, serviu também como governador das províncias de Cunene, Benguela, Luanda e Huíla.

A forma como o Kundi Paihama se firmou como dirigente é prosaica. Em 1976, o presidente Agostinho Neto decidiu nomear um indivíduo da etnia kwanhama para comissário provincial (governador) do Cunene. O nome de Paihama, que trabalhava como funcionário da Repartição de Registos e Notariado do município do Tômbwa, na província de Moçâmedes (hoje Namibe), foi proposto. Segundo uma fonte conhecedora da sua trajectória, Kundi Paihama informou Agostinho Neto de que não era kwanhama. É handa, natural do Kipungo, no município de Huíla. Agostinho Neto perguntou-lhe se falava a língua dos kwanhamas, ao que respondeu afirmativamente. Assim foi nomeado e empossado, mantendo-se como dirigente desde então.

Enquanto comissário provincial, nas suas deslocações ao interior do Cunene, Kundi Paihama passou a fazer-se acompanhar de um batalhão independente conhecido como “Onças da montanha”, fundado e inicialmente liderado pelos comandantes Armando José Augusto Mateus “Mandinho” (falecido em 2007, com a patente de brigadeiro), Matias (falecido), Francisco Wapota Kalambo “Canhão” (actual sub-comissário da Polícia Nacional) e Ernesto Hanhamuke. Em 1981, quando foi nomeado para dirigir a província de Benguela, requisitou a transferência dos “Onças da montanha” para esta província, como uma força militar sob sua dependência. Adoptou a mesma estratégia aquando da sua transferência para outros postos. Nos anos 80, os “Onças da montanha” destacaram-se em várias operações militares, particularmente em Benguela, sempre como força controlada por um civil, Kundi Paihama, que a colocava ao “serviço da nação” e para outras missões.

Foi a partir dessa relação com os “Onças da montanha” que Kundi Paihama construiu uma imagem de comandante militar que na realidade nunca foi. Como soldado, serviu apenas no exército português.

O presidente ofereceu-lhe a patente de coronel das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), em 1988, após ter frequentado um curso de oficiais, em 1987, mas sem que alguma vez tivesse servido no Exército ou em qualquer outro corpo das Forças Armadas. As promoções deste civil nas FAPLA não se ficaram por aqui. Em 1991, o presidente agraciou-o com a patente de major-general e, no ano seguinte, promoveu-o a general do Exército. Ser promovido a general do Exército – eis um grande feito para um homem que nunca prestou juramento à bandeira.

Trapalhada nos Negócios e Conflitos de Interesses

Na entrevista à Rádio LAC, em Agosto passado, Kundi Paihama falou sobre a sua riqueza. “Tudo que tenho é do meu trabalho”, disse,
“o que é preciso é não roubar, cada um deve comer de acordo com o suor de seu rosto. Desafio a procurarem o meu dinheiro no exterior, o meu dinheiro não sai de Angola.”

Em Dezembro de 2011, o sócio português de Kundi Paihama na Plurijogos, detentora dos Casinos de Angola, intentou uma acção criminal (processo n.º 439/2011-04) contra uma suposta alteração falsificada da estrutura accionista da empresa. António Ferreira, que detinha 70 por cento das acções, passou a sócio minoritário, com 20 porcento, enquanto o general, que detinha apenas 20 por cento, passou a ser favorecido com as acções falsificadas. O processo, segundo o queixoso, foi ratificado numa assembleia-geral da empresa em que esteve ausente.

No ano seguinte, 2012, Kundi Paihama apresentou uma queixa, na Direcção Nacional de Investigação Criminal (DNIC), contra António Ferreira, por alegado desvio de US $25 milhões da Plurijogos, segundo o semanário O País. Em entrevista à revista portuguesa Lux, na altura, o advogado do general, Rui Machado, afirmou que o general teria perdido mais de US $100 milhões, por via de alegadas fraudes e outros crimes financeiros cometidos por António Ferreira. Notícias recentes dão conta da reconciliação entre os dois sócios e a sua co-liderança na exploração dos jogos do azar em Angola.

Apesar das constantes denúncias de violação da Lei da Probidade, concernente à proibição de os dirigentes exercerem cumulativamente cargos em empresas privadas, Kundi Paihama mantém-se como presidente da Assembleia-Geral do Banco Angolano de Negócios e Comércio (BANC), de que é sócio maioritário.

Essa prática tem sido promovida pelo próprio presidente da República. A 6 de Novembro passado, José Eduardo dos Santos nomeou André Luís Brandão para o cargo de secretário do presidente da República para os Assuntos de Contratação Pública. André Luís Brandão continua a exercer cumulativamente o cargo de vice-presidente do Conselho de Administração do Banco Keve.

Por outro lado, Kundi Paihama continua a ser mantido como general no activo, enquanto exerce cumulativamente uma função partidária, como membro do Bureau Político do MPLA.

O presidente, no poder há quase 35 anos, parece precisar da companhia de outros veteranos. Talvez isso o ajude a assegurar que se mantém no cargo por tempo indeterminado.

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